Os mata-mosquitos responsáveis pelo combate à dengue na cidade do Rio de Janeiro só visitaram metade dos domicílios cariocas neste ano e, com isso, não garantiram até agora o mínimo de 80% de cobertura determinada pelo Ministério da Saúde para evitar que uma nova epidemia da doença ocorra neste verão. O alerta é feito pelo coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue da Fundação Nacional de Saúde, Giovanini Coelho. A deficiência no trabalho dos agentes de controle da doença e o aumento da infestação do mosquito Aedes aegypti aumentam as chances de o Rio repetir a epidemia do início do ano, que causou 87 mortes no Estado. "As condições estão colocadas. Se tem mosquito, e o trabalho de controle não está bom, a cidade tem grandes possibilidades de ter problemas graves mais uma vez", afirma. Coelho aponta outro indicador negativo. Segundo ele, o ministério determinou que os municípios devem fazer seis ciclos de visitas anuais, o que significa que cada domicílio receberia um agente seis vezes por ano. Mas até agora, época em que os municípios deveriam estar completando o quinto ciclo do ano, o Rio só fez dois. Ou seja, além de visitar menos prédios do que o determinado, o número das vistorias também é inferior ao recomendado. "Estes são dois indicadores de que a coisa não vai bem no Rio", ataca Coelho. Além disso, a Secretaria Municipal da Saúde admite que os níveis de infestação do mosquito na cidade estão acima dos considerados seguros e que, em alguns bairros, essa taxa até cresceu em relação ao ano passado. A cidade tinha, em setembro, uma infestação média de 2,35% (de cada cem domicílios, 2,35 tinham o mosquito), mas o recomendável é que ela não ultrapasse 1%. Em alguns bairros, esse índice se aproxima dos 5% e é muito superior ao do mês de setembro de 2001. Este é o caso de seis bairros da zona norte. Eles são: Piedade, Riachuelo, Pilares, Engenho de Dentro, Encantado e Maria da Graça. Todos tinham índices menores no ano passado e cresceram este ano. A secretaria não divulgou qual era a taxa média de infestação na cidade toda no ano passado. Mas o responsável pelo programa de controle, Mauro Blanco, ressalta que, em algumas regiões, houve queda, o que mostra que o trabalho de combate ao mosquito está funcionando. Um exemplo é a Tijuca, um dos bairros mais afetados pela última epidemia, que agora está com infestação abaixo de 1%. "Em vários lugares, a taxa está caindo. E o que podemos dizer é que estamos concentrando nossas ações nessas regiões com mais mosquitos", afirma Blanco. Para o secretário municipal de Saúde, Mauro Marzochi, não há riscos de o Rio viver uma nova epidemia de dengue em 2002. "Não acredito que teremos graves problemas este ano. O número de casos até pode aumentar, porque temos pessoas circulando e trazendo o vírus a todo o momento e é muito difícil erradicar o mosquito, mas nós intensificamos as ações, e a infestação está mais controlada", diz.