Procuradoria apura morte de Marighella


Pela primeira vez o caso será investigado e a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, alvo de um procedimento por crime na ditadura

Por Marcelo Godoy

Um homem se aproximou de um Fusca estacionado na Alameda Casa Branca, nos Jardins. Abriu a porta, empurrou o banco do carona e sentou-se atrás. Na frente estavam dois frades com os quais começou a falar até ser interrompido, abruptamente, por homens que escancararam as portas do carro e arrancaram os religiosos de lá, jogando-os no chão. Após semanas de uma caçada violenta, a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury estava diante do fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella. Bastou um gesto e a fuzilaria começou. Era 4 de novembro de 1969. Só agora, 47 anos depois, o Ministério Público Federal (MPF) abriu uma investigação sobre a morte do guerrilheiro.

Morte de Marighella

1 | 5

Fusca

2 | 5

Inédito

3 | 5

Marighella

4 | 5

Bell Air

5 | 5

Esquina

Essa é ainda a primeira vez que a equipe de policiais do delegado Fleury, do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que foi o símbolo da repressão na ditadura, será investigada por um crime político. Fleury comandou a operação que matou Marighella. Ela foi realizada por 43 homens, entre civis e militares. A decisão de apurar é do procurador da República Andrey Borges de Mendonça, que já começou a tomar depoimentos de testemunhas.

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“É sempre importante que a verdade seja descoberta”, disse o procurador aposentado Hélio Bicudo, que denunciou Fleury pelos crimes comuns em ações do Esquadrão da Morte – bando de policiais que executava bandidos nos anos 1960 e 1970.

Uma das testemunhas ouvidas pelo procurador foi o jornalista do Estado José Maria Mayrink, o primeiro repórter a chegar ao local da emboscada que vitimou Marighella. Mayrink conhecia os dominicanos Yves do Amaral Lesbaupin, o Frei Ivo, e Fernando de Brito. Eram Ivo e Fernando que esperavam Marighella no Fusca quando o Dops o encurralou. Eles haviam sido presos dias antes e obrigados a participar da cilada.

“Quem matou o Marighella foi o Tralli (o investigador José Carlos Tralli)”, disse o investigador R.A., de 68 anos, um dos policiais que participaram da ação. Após Marighella, a polícia mataria por engano mais duas pessoas – na época, ela culpou supostos seguranças de Marighella. O protético Friedrich Adolf Rohmann não respeitou o bloqueio do Dops e entrou com seu Buick na Alameda Casa Branca. As dezenas de disparos mataram Rohmann e a investigadora Estela Morato. Ela estava no Chevrolet Bell Air do delegado Romeu Tuma, então chefe do Serviço Secreto do Dops. Ele emprestara o carro para substituir um veículo que apresentara defeito (mais informações nesta página). Os tiros ainda feriram o delegado Rubens Cardoso de Mello Tucunduva.

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Execução. Para o jornalista Ivan Seixas, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, a investigação do MPF é importante para que se “saiba o que aconteceu”. “É fundamental investigar essa história.” Naquele dia, contou Seixas, quatro quarteirões estavam cercados por policiais.

Marighella ia se encontrar com os frades. Ele não sabia que os dois haviam sido presos. Estava desarmado e sozinho. “Houve uma execução, e o Estado é responsável por ela”, afirmou Seixas. O MPF deve ouvir os depoimentos de Ivo e de Fernando. Também vai ouvir antigos militantes da ALN que foram torturados por Fleury em busca de informações que levassem até Marighella, como o economista Paulo de Tarso Venceslau. Também vai ouvir os policiais e militares envolvidos.

“Vão ter de fazer muita diligência em cemitério e em mesa branca”, disse o investigador R.A.. Dos delegados da operação, Raul Ferreira, o Raul Pudim, Tucunduva e Fleury já estão mortos. Também morreram investigadores como Tralli e José Campos Correa Filho, o Campão. Laudos e documentos do Dops também serão analisados.

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A iniciativa dos procuradores da República se baseia no argumento de que, como esses delitos foram crimes contra a humanidade, eles são imprescritíveis e insuscetíveis de graça ou anistia. Quase duas dezenas de denúncias já foram feitas pelo MPF à Justiça Federal contra agentes da ditadura. Em todas, a Justiça decidiu que as ações não podem prosperar em razão da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que manteve a Lei de Anistia, de 1979.Pontos-chave da luta contra Vargas até a emboscada:

Estado Novo

Carlos Marighella entrou para o Partido Comunista do Brasil em 1934. Em 1936, foi preso no Rio e torturado pela polícia política do ex-presidente Getúlio Vargas.Constituinte

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Em 1946 foi eleito deputado federal pelo PCB na Bahia e participou da elaboração da Constituição de 1946. Teve o mandado cassado em 1948.Luta armada

Em 1967, acontece a ruptura com o PCB. Defende a luta armada contra a ditadura. Escreve o Minimanual do Guerrilheiro Urbano e é morto em 1969.

Um homem se aproximou de um Fusca estacionado na Alameda Casa Branca, nos Jardins. Abriu a porta, empurrou o banco do carona e sentou-se atrás. Na frente estavam dois frades com os quais começou a falar até ser interrompido, abruptamente, por homens que escancararam as portas do carro e arrancaram os religiosos de lá, jogando-os no chão. Após semanas de uma caçada violenta, a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury estava diante do fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella. Bastou um gesto e a fuzilaria começou. Era 4 de novembro de 1969. Só agora, 47 anos depois, o Ministério Público Federal (MPF) abriu uma investigação sobre a morte do guerrilheiro.

Morte de Marighella

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Fusca

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Inédito

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Marighella

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Bell Air

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Esquina

Essa é ainda a primeira vez que a equipe de policiais do delegado Fleury, do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que foi o símbolo da repressão na ditadura, será investigada por um crime político. Fleury comandou a operação que matou Marighella. Ela foi realizada por 43 homens, entre civis e militares. A decisão de apurar é do procurador da República Andrey Borges de Mendonça, que já começou a tomar depoimentos de testemunhas.

“É sempre importante que a verdade seja descoberta”, disse o procurador aposentado Hélio Bicudo, que denunciou Fleury pelos crimes comuns em ações do Esquadrão da Morte – bando de policiais que executava bandidos nos anos 1960 e 1970.

Uma das testemunhas ouvidas pelo procurador foi o jornalista do Estado José Maria Mayrink, o primeiro repórter a chegar ao local da emboscada que vitimou Marighella. Mayrink conhecia os dominicanos Yves do Amaral Lesbaupin, o Frei Ivo, e Fernando de Brito. Eram Ivo e Fernando que esperavam Marighella no Fusca quando o Dops o encurralou. Eles haviam sido presos dias antes e obrigados a participar da cilada.

“Quem matou o Marighella foi o Tralli (o investigador José Carlos Tralli)”, disse o investigador R.A., de 68 anos, um dos policiais que participaram da ação. Após Marighella, a polícia mataria por engano mais duas pessoas – na época, ela culpou supostos seguranças de Marighella. O protético Friedrich Adolf Rohmann não respeitou o bloqueio do Dops e entrou com seu Buick na Alameda Casa Branca. As dezenas de disparos mataram Rohmann e a investigadora Estela Morato. Ela estava no Chevrolet Bell Air do delegado Romeu Tuma, então chefe do Serviço Secreto do Dops. Ele emprestara o carro para substituir um veículo que apresentara defeito (mais informações nesta página). Os tiros ainda feriram o delegado Rubens Cardoso de Mello Tucunduva.

Execução. Para o jornalista Ivan Seixas, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, a investigação do MPF é importante para que se “saiba o que aconteceu”. “É fundamental investigar essa história.” Naquele dia, contou Seixas, quatro quarteirões estavam cercados por policiais.

Marighella ia se encontrar com os frades. Ele não sabia que os dois haviam sido presos. Estava desarmado e sozinho. “Houve uma execução, e o Estado é responsável por ela”, afirmou Seixas. O MPF deve ouvir os depoimentos de Ivo e de Fernando. Também vai ouvir antigos militantes da ALN que foram torturados por Fleury em busca de informações que levassem até Marighella, como o economista Paulo de Tarso Venceslau. Também vai ouvir os policiais e militares envolvidos.

“Vão ter de fazer muita diligência em cemitério e em mesa branca”, disse o investigador R.A.. Dos delegados da operação, Raul Ferreira, o Raul Pudim, Tucunduva e Fleury já estão mortos. Também morreram investigadores como Tralli e José Campos Correa Filho, o Campão. Laudos e documentos do Dops também serão analisados.

A iniciativa dos procuradores da República se baseia no argumento de que, como esses delitos foram crimes contra a humanidade, eles são imprescritíveis e insuscetíveis de graça ou anistia. Quase duas dezenas de denúncias já foram feitas pelo MPF à Justiça Federal contra agentes da ditadura. Em todas, a Justiça decidiu que as ações não podem prosperar em razão da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que manteve a Lei de Anistia, de 1979.Pontos-chave da luta contra Vargas até a emboscada:

Estado Novo

Carlos Marighella entrou para o Partido Comunista do Brasil em 1934. Em 1936, foi preso no Rio e torturado pela polícia política do ex-presidente Getúlio Vargas.Constituinte

Em 1946 foi eleito deputado federal pelo PCB na Bahia e participou da elaboração da Constituição de 1946. Teve o mandado cassado em 1948.Luta armada

Em 1967, acontece a ruptura com o PCB. Defende a luta armada contra a ditadura. Escreve o Minimanual do Guerrilheiro Urbano e é morto em 1969.

Um homem se aproximou de um Fusca estacionado na Alameda Casa Branca, nos Jardins. Abriu a porta, empurrou o banco do carona e sentou-se atrás. Na frente estavam dois frades com os quais começou a falar até ser interrompido, abruptamente, por homens que escancararam as portas do carro e arrancaram os religiosos de lá, jogando-os no chão. Após semanas de uma caçada violenta, a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury estava diante do fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella. Bastou um gesto e a fuzilaria começou. Era 4 de novembro de 1969. Só agora, 47 anos depois, o Ministério Público Federal (MPF) abriu uma investigação sobre a morte do guerrilheiro.

Morte de Marighella

1 | 5

Fusca

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Inédito

3 | 5

Marighella

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Bell Air

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Esquina

Essa é ainda a primeira vez que a equipe de policiais do delegado Fleury, do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que foi o símbolo da repressão na ditadura, será investigada por um crime político. Fleury comandou a operação que matou Marighella. Ela foi realizada por 43 homens, entre civis e militares. A decisão de apurar é do procurador da República Andrey Borges de Mendonça, que já começou a tomar depoimentos de testemunhas.

“É sempre importante que a verdade seja descoberta”, disse o procurador aposentado Hélio Bicudo, que denunciou Fleury pelos crimes comuns em ações do Esquadrão da Morte – bando de policiais que executava bandidos nos anos 1960 e 1970.

Uma das testemunhas ouvidas pelo procurador foi o jornalista do Estado José Maria Mayrink, o primeiro repórter a chegar ao local da emboscada que vitimou Marighella. Mayrink conhecia os dominicanos Yves do Amaral Lesbaupin, o Frei Ivo, e Fernando de Brito. Eram Ivo e Fernando que esperavam Marighella no Fusca quando o Dops o encurralou. Eles haviam sido presos dias antes e obrigados a participar da cilada.

“Quem matou o Marighella foi o Tralli (o investigador José Carlos Tralli)”, disse o investigador R.A., de 68 anos, um dos policiais que participaram da ação. Após Marighella, a polícia mataria por engano mais duas pessoas – na época, ela culpou supostos seguranças de Marighella. O protético Friedrich Adolf Rohmann não respeitou o bloqueio do Dops e entrou com seu Buick na Alameda Casa Branca. As dezenas de disparos mataram Rohmann e a investigadora Estela Morato. Ela estava no Chevrolet Bell Air do delegado Romeu Tuma, então chefe do Serviço Secreto do Dops. Ele emprestara o carro para substituir um veículo que apresentara defeito (mais informações nesta página). Os tiros ainda feriram o delegado Rubens Cardoso de Mello Tucunduva.

Execução. Para o jornalista Ivan Seixas, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, a investigação do MPF é importante para que se “saiba o que aconteceu”. “É fundamental investigar essa história.” Naquele dia, contou Seixas, quatro quarteirões estavam cercados por policiais.

Marighella ia se encontrar com os frades. Ele não sabia que os dois haviam sido presos. Estava desarmado e sozinho. “Houve uma execução, e o Estado é responsável por ela”, afirmou Seixas. O MPF deve ouvir os depoimentos de Ivo e de Fernando. Também vai ouvir antigos militantes da ALN que foram torturados por Fleury em busca de informações que levassem até Marighella, como o economista Paulo de Tarso Venceslau. Também vai ouvir os policiais e militares envolvidos.

“Vão ter de fazer muita diligência em cemitério e em mesa branca”, disse o investigador R.A.. Dos delegados da operação, Raul Ferreira, o Raul Pudim, Tucunduva e Fleury já estão mortos. Também morreram investigadores como Tralli e José Campos Correa Filho, o Campão. Laudos e documentos do Dops também serão analisados.

A iniciativa dos procuradores da República se baseia no argumento de que, como esses delitos foram crimes contra a humanidade, eles são imprescritíveis e insuscetíveis de graça ou anistia. Quase duas dezenas de denúncias já foram feitas pelo MPF à Justiça Federal contra agentes da ditadura. Em todas, a Justiça decidiu que as ações não podem prosperar em razão da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que manteve a Lei de Anistia, de 1979.Pontos-chave da luta contra Vargas até a emboscada:

Estado Novo

Carlos Marighella entrou para o Partido Comunista do Brasil em 1934. Em 1936, foi preso no Rio e torturado pela polícia política do ex-presidente Getúlio Vargas.Constituinte

Em 1946 foi eleito deputado federal pelo PCB na Bahia e participou da elaboração da Constituição de 1946. Teve o mandado cassado em 1948.Luta armada

Em 1967, acontece a ruptura com o PCB. Defende a luta armada contra a ditadura. Escreve o Minimanual do Guerrilheiro Urbano e é morto em 1969.

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