Cinco meses após ser aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a federação que uniu o PSDB e Cidadania chega à reta final das eleições rachada nos principais Estados e já se prepara para um debate interno sobre a posição do colegiado em um eventual 2° turno na disputa presidencial.
Nas federações partidárias, as siglas que se uniram são obrigadas a operar de forma unitária nos quatro anos seguintes às eleições. Isso vale no Congresso Nacional, Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais e nas respectivas eleições, sob pena de sofrerem punições.
Em caso de “divórcio”, o consórcio pode perder prerrogativas de atuação no Legislativo e até mesmo acesso ao Fundo Eleitoral.
Quando PSDB e Cidadania decidiram se unir, os dois partidos ainda planejavam ter uma candidatura própria enquanto tentavam aparar arestas regionais. Unidos no palanque de Simone Tebet (MDB-MS) na disputa pelo Palácio do Planalto, os dois partidos vivem um casamento de fachada e estão em trincheiras diferentes em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Distrito Federal.
“A gente está sendo engolido pelo PSDB”, disse ao Estadão a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF). O Distrito Federal registrou a crise mais grave da federação, que formalmente lançou o senador tucano Izalci Lucas para disputar o governo.
Casada com o empresário bolsonarista Luis Felipe Belmonte, Paula afirma que Izalci mantém uma candidatura “isolada”. “Ele me cobrou R$ 2,1 milhões para que eu pudesse aparecer na TV. Não aceitei. Temos até um documento. Eu ainda teria de colocar a imagem dele. Izalci está sozinho”, afirmou a parlamentar. Procurado, o senador não retornou à reportagem até o momento.
No Paraná, a federação está em tese neutra na disputa pelo governo estadual, mas o Cidadania está fazendo campanha para Ratinho Jr, governador e candidato à reeleição.
Na corrida pelo Senado, os dois partidos também estão divididos entre Sérgio Moro (UB) e Álvaro Dias (Podemos). No Rio de Janeiro, o PSDB indicou o ex-prefeito César Maia (PSDB) como vice de Marcelo Freixo (PSB), mas o Cidadania faz campanha para Rodrigo Neves (PDT).
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Já em Minas Gerais, o Cidadania apoia o governador Romeu Zema (Novo) apesar de o PSDB ter lançado a candidatura de Marcus Pestana. A legenda foi até convidada pelo Novo para compor a chapa do atual governador com o jornalista Eduardo Costa como vice, mas ele desistiu da candidatura.
Presidente do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire admite que houve um “grave equívoco” no Distrito Federal, mas minimiza a divisão nos demais Estados. “Temos divisões em alguns Estados, mas elas são frutos de acertos políticos anteriores à federação. No nível nacional, não há divergências. O casamento vai sobreviver”, disse o dirigente.
No momento em que várias lideranças tucanas declaram ou sinalizam apoio a Lula em um eventual 2° turno, Freire se antecipa e afirma que, caso Simone não seja vitoriosa, a federação vai estar na oposição seja quem for o eleito.