A derrota do tucano Rodrigo Garcia em sua tentativa de reeleição ao governo de São Paulo, no ano passado, segue provocando prejuízos ao PSDB. Sem o comando do Palácio dos Bandeirantes pela primeira vez em 28 anos e com parte dos filiados paulistas em pé de guerra com a direção nacional, o partido já perdeu cerca de um terço dos prefeitos eleitos em 2020 no Estado - 60, de uma lista que ainda pode aumentar. PL, Republicanos, PP e PSD atraem os tucanos com promessas de apoio e recursos.
A última baixa foi conhecida nesta segunda, 22. É de Roger Gasques, prefeito de Álvaro Machado, cidade com pouco mais de 25 mil habitantes na região de Presidente Prudente. Agora no PP, ele segue o exemplo de outros gestores tucanos do interior paulista que decidiram buscar siglas mais competitivas e alinhadas a um discurso conservador que atrai o eleitorado local, já de olho nas eleições de 2024.
Assim como Gasques, o prefeito de Catanduva, padre Osvaldo Rosa, decidiu migrar para o PL e ainda comandar o diretório municipal da sigla na cidade. Aliado de Jair Bolsonaro, Rosa fez campanha pela reeleição do ex-presidente e também apoiou a candidatura do hoje governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A lista de desfiliações recentes inclui ainda o prefeito de Mirassol, Edson Antonio Ermenegildo, a caminho do PSD, e pode aumentar com Luiz Fernando Machado, de Jundiaí – que já negocia filiação ao PL –, e também com Jorge Seba, de Votuporanga.
O cenário atual é bastante diferente do vivido pela sigla em 2019, às vésperas da última eleição municipal. Naquele ano, com o então governador João Doria (sem partido) à frente do governo, o PSDB atraiu lideranças e elegeu um total de 179 prefeitos no Estado. Para 2022, a baixa representatividade nacional – são apenas 14 deputados federais e 3 senadores –, deixará o partido com uma fatia mais magra dos fundos partidário e eleitoral. Ou seja: menos recurso para dividir entre as candidaturas.
À frente da cidade mais populosa comandada pelo PSDB, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, citou ao Estadão mais um motivo para que o que o partido continue perdendo importante nomes: o fato de, segundo ele, a atual executiva nacional não colocar de forma clara quais são suas pautas prioritárias. “O partido vive uma instabilidade gerencial, minando as diretrizes que por anos foram referências na política do País”, disse.
prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando
Segundo Morando, a desfiliação nesta segunda, 22, do ex-deputado federal Marcus Pestana (MG) expande ainda mais o cenário conturbado dentro da legenda sobre o posicionamento partidário em âmbito nacional. Aliado de Doria - que venceu o atual presidente da sigla, Eduardo Leite, nas prévias presidenciais de 2021, mas não foi lançado candidato -, o prefeito relaciona a desfiliação de prefeitos à forma como o governador gaúcho chegou ao comando nacional.
“Foi um golpe à democracia do partido. Uma ata mantida em segredo, sem registro, coloca em dúvida a legitimidade do processo. A mensagem captada pelos filiados e militantes com essa movimentação não agradou, porque não representa a história do PSDB”, afirmou Morando, que tentou, mas não conseguiu anular na Justiça a eleição da executiva nacional que consagrou o governador do Rio Grande do Sul presidente do partido.
A definição da nova direção ainda levou à saída da senadora Mara Gabrilli, agora filiada ao PSD. Tucana desde 2003, a parlamentar deixou a sigla em janeiro depois de reiteradas críticas às decisões internas. Em agosto do ano passado, Mara afirmou ao Estadão que o PSDB tinha um “futuro obscuro pela frente”. Com a decisão de Mara, o PSDB de São Paulo está sem representantes do Senado.
Contra-ataque
Já a ala próxima a Leite avalia que o diretório estadual paulista, ainda sob o comando de aliados de Doria, tem responsabilidade na crise. Sem o governo estadual, os prefeitos descontentes teriam se sentido abandonados às vésperas de um ano eleitoral e, por isso, optado por trocar de sigla. Mas, segundo a direção nacional tucana, haverá uma espécie de contra-ataque a partir de junho, quando lideranças ligadas a Leite atuarão mais fortemente em São Paulo para impedir desfiliações e, ao mesmo tempo, firmar o compromisso com quadros importantes no Estado.
Estão nessa lista, por exemplo, o prefeito de Jacareí, Izaias Santana; os ex deputados federais Eduardo Cury e Samuel Moreira, e os ex prefeitos Barjas Negri (Piracicaba) e Fernando Fernandes (Taboão da Serra). A cúpula nacional ainda abriu diálogo com a deputada federal Tabata Amaral (PSB) para fazer da parlamentar eventual candidata da legenda à Prefeitura de São Paulo em 2024.
A negociação tem o aval de Leite e de aliados preocupados com o potencial eleitoral do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Há duas possibilidades colocadas à mesa: ou Tabata se filia ao PSDB, conforme desejo antigo do partido, ou o partido apoiaria a candidatura da deputada pelo PSB. Neste caso, os tucanos indicariam o vice.
A estratégia consolida ainda a percepção de que Garcia também deixará os quadros do partido. O ex-governador passou a ser cotado como alternativa da centro-direita para a eleição na capital paulista.