PSDB terá debandada de vereadores com briga interna e indefinição sobre apoio a Nunes nas eleições


Prazo para troca de partido antes das eleições abre nesta quinta-feira, 7; aposta é que maior parte da bancada tucana deixe o partido diante da incerteza sobre a disputa municipal e o atraso na montagem da chapa

Por Samuel Lima
Atualização:

A janela partidária para as eleições municipais de 2024, que abre nesta quinta-feira, 7 de março, deve inaugurar uma debandada do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo. O Estadão apurou que ao menos quatro vereadores, dos oito em exercício, já decidiram abandonar o partido antes da disputa de outubro.

Interlocutores, porém, apostam que as baixas podem chegar a seis ou sete nomes, incluindo na conta de potenciais dissidentes o vereador licenciado Carlos Bezerra Júnior, que está há mais de 20 anos no PSDB e atualmente responde pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do município. Ele não atendeu a reportagem.

A bancada tucana na capital reclama da falta de diálogo com a executiva nacional, chefiada hoje pelo ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, da demora na montagem da chapa para o Legislativo e da indefinição sobre o apoio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). O grupo defende a composição sob o argumento de que o governo do emedebista representa a continuidade do trabalho de Bruno Covas.

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Sob uma perspectiva mais pragmática, citam ainda a falta de protagonismo do partido em São Paulo e a previsão nada otimista de que a sigla não deve eleger mais do que dois ou três parlamentares este ano. Em 2020, foram oito vereadores eleitos, resultado que já ficou abaixo dos anos anteriores, mesmo com a vitória de Covas na disputa pela prefeitura.

O vereador Fábio Riva (PSDB), líder do governo Ricardo Nunes na Câmara Municipal de São Paulo Foto: André Bueno/CMSP
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Fábio Riva, líder do governo na Câmara, irá para o MDB, mesmo partido do prefeito. João Jorge, o primeiro a puxar a fila, além de Aurélio Nomura e Sandra Santana, também estão de mudança. As conversas envolvem, além do MDB, o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, e o União Brasil do presidente da Câmara, Milton Leite. Podemos e PL surgem como alternativas.

Os demais integrantes preferiram não comentar o assunto ou não foram localizados. Até mesmo o líder do PSDB na Câmara e vice-presidente da comissão provisória no diretório municipal, Gilson Barreto, é tido como uma possível saída entre colegas; seu gabinete vem negando pedidos de entrevista desde o começo de fevereiro.

Sobrevivência política

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Entre os vereadores consultados pela reportagem, existe a percepção de que disputar a eleição pelo PSDB é um risco, e que o partido está numa luta contra o tempo para montar uma chapa minimamente competitiva para o Legislativo municipal. O problema é que o diretório municipal teve três presidentes diferentes em cerca de três meses, o que atrasou todo o processo. O prazo de filiação para um candidato disputar a eleição termina em 5 de abril.

O PSDB nacional nomeou uma comissão provisória em outubro do ano passado, destituindo Fernando Alfredo, mas este só deixou o posto em dezembro. Em janeiro, o novo presidente, Orlando Faria, renunciou ao cargo e virou coordenador político da campanha de Tabata Amaral (PSB) pela prefeitura de São Paulo. O terceiro presidente foi escolhido uma semana atrás: o ex-senador José Aníbal, que tem agora a missão de consultar lideranças e definir qual será a posição do PSDB em relação à disputa pelo comando da capital. Ele conversou com a bancada na terça-feira, 5.

Uma regra interna do partido determina ainda que, para as cidades com mais de 100 mil habitantes, a indicação para a configuração das disputas municipais deve obrigatoriamente passar pelo crivo da executiva nacional.

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Aníbal disse ao Estadão que está em “fase de apuração” e não poderia “fazer uma síntese sem conversar antes com a maioria”, mas ressaltou que não pode “abrir mão de que o PSDB tenha protagonismo nesta eleição”, seja compondo com outro candidato ou lançando um nome próprio. Não há prazo para definição. Segundo ele, a decisão vai levar “o tempo que for necessário, mas que seja o quanto antes”.

O ex-senador José Aníbal, o governador gaúcho, Eduardo Leite, e o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo Foto: Kiko Scartezini/PSDB

O vereador João Jorge, o primeiro a anunciar publicamente que deixaria o PSDB, ainda em janeiro, diz que, nas atuais circunstâncias, é “suicídio eleitoral” permanecer na chapa. Outros partidos já estariam em fase final de formação da lista de candidatos. “O prazo (de filiação) termina no começo de abril, e ninguém vai arriscar. É loucura”. O parlamentar critica ainda a indefinição sobre o apoio a Nunes. “Não se lança candidato a prefeito de São Paulo do dia para a noite.”

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O recorte da eleição passada também não ajuda: mesmo vencendo a disputa pela prefeitura com Bruno Covas, o PSDB teve cinco cadeiras a menos do que em 2008, por exemplo. O total de votos retraiu 40% em quatro anos na capital paulista, somando todos os candidatos a vereador e os votos de legenda (quando o eleitor digita apenas o número do partido na urna).

A avaliação de que uma nova queda no desempenho estaria a caminho representa uma ameaça principalmente para os vereadores que foram eleitos com uma margem mais apertada, ou seja, mais para baixo na lista de 2020. Esse é o caso de Aurélio Nomura, Sandra Santana e Fábio Riva — além de Gilson Barreto, que terminou como primeiro suplente do PSDB, mas exerceu um mandato inteiro no lugar de Eduardo Tuma, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Município.

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Mesmo quem manifesta o desejo de ficar no partido não garante a permanência por esse motivo. O vereador Xexéu Tripoli afirmou que pretende decidir apenas no último momento com base na formação da chapa. A sua previsão, nada otimista, é que o PSDB só consiga eleger de dois a três vereadores este ano. Ele também faz coro às reclamações sobre o atraso no procedimento e a indefinição sobre apoiar ou não o prefeito.

Falta de diálogo

Outra reclamação recorrente entre os parlamentares é que não houve diálogo com as lideranças nacionais ao longo do mandato. Nesse sentido, uma entrevista do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), ao jornal O Globo, depois de o prefeito Ricardo Nunes comparecer ao ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, foi encarada como a “gota d’água”.

O governador gaúcho sustentou que, apesar de ter dado continuidade ao governo Covas, a associação de Nunes a Bolsonaro “destoa do que o PSDB está buscando representar” nacionalmente, que seria uma alternativa ao cenário de polarização no Brasil. “O esforço é no sentido de ter uma candidatura própria”, declarou Leite, rejeitando uma aliança com o prefeito.

“Esqueceu de combinar com a bancada”, critica a vereadora Sandra Santana, argumentando que Nunes deu continuidade ao “projeto político” do PSDB na capital e que gestores indicados pelo partido estão presentes nos vários escalões da administração municipal. “Seria até uma insanidade não apoiá-lo.”

“Eduardo Leite só vem ‘turistar’ aqui em São Paulo e quer opinar, sem ouvir quem vive aqui diariamente, que são os vereadores e os deputados. Veremos quem está certo na história. Quem vem aqui e assiste de camarote ou quem vive a realidade da cidade todos os dias”, responde Fábio Riva. “Se fosse só uma decisão minha, ou de dois ou três parlamentares… Mas é toda uma bancada de deputados estaduais e de vereadores da capital. Será que a direção partidária está no caminho certo?”

Para Riva, o adiamento da definição pode ser uma estratégia para fragmentar o grupo que defende compor com o prefeito e facilitar a decisão de lançar um candidato próprio na capital paulista. Outros vereadores não acreditam que uma posição seja firmada tão cedo e que, a cada dia que passa, um eventual apoio perde mais peso político.

Janela para troca de partidos antes das eleições de 2024 altera a composição da Câmara de São Paulo Foto: Marcio Fernandes/Estadão

A referência aos deputados se deve a uma reunião da bancada da federação PSDB-Cidadania na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), na semana passada. Segundo o deputado Barros Munhoz, cinco parlamentares do PSDB e três do Cidadania concordaram que ter um nome na disputa de São Paulo este ano não é uma boa ideia. “O PSDB está tão fragilizado que lançar uma candidatura própria vai ser vexaminoso. Precisamos ser sérios e responsáveis. Não temos força para isso. O que fizeram com o partido é uma barbaridade”, opina.

Lideranças da legenda, por outro lado, falam em um esforço de pacificação da sigla e em retomar o protagonismo. Em 26 de fevereiro, elegeram uma chapa única para a executiva estadual, unindo aliados paulistas do governador gaúcho, Eduardo Leite, e simpatizantes do ex-governador de São Paulo João Doria. Sem acordo, a escolha do presidente ficou para esta quarta-feira, 6, véspera da abertura do prazo de 30 dias para troca de partido a fim de disputar o pleito em outubro. Na reunião, o partido elegeu o ex-deputado estadual Marco Vinholi.

A janela partidária para as eleições municipais de 2024, que abre nesta quinta-feira, 7 de março, deve inaugurar uma debandada do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo. O Estadão apurou que ao menos quatro vereadores, dos oito em exercício, já decidiram abandonar o partido antes da disputa de outubro.

Interlocutores, porém, apostam que as baixas podem chegar a seis ou sete nomes, incluindo na conta de potenciais dissidentes o vereador licenciado Carlos Bezerra Júnior, que está há mais de 20 anos no PSDB e atualmente responde pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do município. Ele não atendeu a reportagem.

A bancada tucana na capital reclama da falta de diálogo com a executiva nacional, chefiada hoje pelo ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, da demora na montagem da chapa para o Legislativo e da indefinição sobre o apoio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). O grupo defende a composição sob o argumento de que o governo do emedebista representa a continuidade do trabalho de Bruno Covas.

Sob uma perspectiva mais pragmática, citam ainda a falta de protagonismo do partido em São Paulo e a previsão nada otimista de que a sigla não deve eleger mais do que dois ou três parlamentares este ano. Em 2020, foram oito vereadores eleitos, resultado que já ficou abaixo dos anos anteriores, mesmo com a vitória de Covas na disputa pela prefeitura.

O vereador Fábio Riva (PSDB), líder do governo Ricardo Nunes na Câmara Municipal de São Paulo Foto: André Bueno/CMSP

Fábio Riva, líder do governo na Câmara, irá para o MDB, mesmo partido do prefeito. João Jorge, o primeiro a puxar a fila, além de Aurélio Nomura e Sandra Santana, também estão de mudança. As conversas envolvem, além do MDB, o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, e o União Brasil do presidente da Câmara, Milton Leite. Podemos e PL surgem como alternativas.

Os demais integrantes preferiram não comentar o assunto ou não foram localizados. Até mesmo o líder do PSDB na Câmara e vice-presidente da comissão provisória no diretório municipal, Gilson Barreto, é tido como uma possível saída entre colegas; seu gabinete vem negando pedidos de entrevista desde o começo de fevereiro.

Sobrevivência política

Entre os vereadores consultados pela reportagem, existe a percepção de que disputar a eleição pelo PSDB é um risco, e que o partido está numa luta contra o tempo para montar uma chapa minimamente competitiva para o Legislativo municipal. O problema é que o diretório municipal teve três presidentes diferentes em cerca de três meses, o que atrasou todo o processo. O prazo de filiação para um candidato disputar a eleição termina em 5 de abril.

O PSDB nacional nomeou uma comissão provisória em outubro do ano passado, destituindo Fernando Alfredo, mas este só deixou o posto em dezembro. Em janeiro, o novo presidente, Orlando Faria, renunciou ao cargo e virou coordenador político da campanha de Tabata Amaral (PSB) pela prefeitura de São Paulo. O terceiro presidente foi escolhido uma semana atrás: o ex-senador José Aníbal, que tem agora a missão de consultar lideranças e definir qual será a posição do PSDB em relação à disputa pelo comando da capital. Ele conversou com a bancada na terça-feira, 5.

Uma regra interna do partido determina ainda que, para as cidades com mais de 100 mil habitantes, a indicação para a configuração das disputas municipais deve obrigatoriamente passar pelo crivo da executiva nacional.

Aníbal disse ao Estadão que está em “fase de apuração” e não poderia “fazer uma síntese sem conversar antes com a maioria”, mas ressaltou que não pode “abrir mão de que o PSDB tenha protagonismo nesta eleição”, seja compondo com outro candidato ou lançando um nome próprio. Não há prazo para definição. Segundo ele, a decisão vai levar “o tempo que for necessário, mas que seja o quanto antes”.

O ex-senador José Aníbal, o governador gaúcho, Eduardo Leite, e o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo Foto: Kiko Scartezini/PSDB

O vereador João Jorge, o primeiro a anunciar publicamente que deixaria o PSDB, ainda em janeiro, diz que, nas atuais circunstâncias, é “suicídio eleitoral” permanecer na chapa. Outros partidos já estariam em fase final de formação da lista de candidatos. “O prazo (de filiação) termina no começo de abril, e ninguém vai arriscar. É loucura”. O parlamentar critica ainda a indefinição sobre o apoio a Nunes. “Não se lança candidato a prefeito de São Paulo do dia para a noite.”

O recorte da eleição passada também não ajuda: mesmo vencendo a disputa pela prefeitura com Bruno Covas, o PSDB teve cinco cadeiras a menos do que em 2008, por exemplo. O total de votos retraiu 40% em quatro anos na capital paulista, somando todos os candidatos a vereador e os votos de legenda (quando o eleitor digita apenas o número do partido na urna).

A avaliação de que uma nova queda no desempenho estaria a caminho representa uma ameaça principalmente para os vereadores que foram eleitos com uma margem mais apertada, ou seja, mais para baixo na lista de 2020. Esse é o caso de Aurélio Nomura, Sandra Santana e Fábio Riva — além de Gilson Barreto, que terminou como primeiro suplente do PSDB, mas exerceu um mandato inteiro no lugar de Eduardo Tuma, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Município.

Mesmo quem manifesta o desejo de ficar no partido não garante a permanência por esse motivo. O vereador Xexéu Tripoli afirmou que pretende decidir apenas no último momento com base na formação da chapa. A sua previsão, nada otimista, é que o PSDB só consiga eleger de dois a três vereadores este ano. Ele também faz coro às reclamações sobre o atraso no procedimento e a indefinição sobre apoiar ou não o prefeito.

Falta de diálogo

Outra reclamação recorrente entre os parlamentares é que não houve diálogo com as lideranças nacionais ao longo do mandato. Nesse sentido, uma entrevista do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), ao jornal O Globo, depois de o prefeito Ricardo Nunes comparecer ao ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, foi encarada como a “gota d’água”.

O governador gaúcho sustentou que, apesar de ter dado continuidade ao governo Covas, a associação de Nunes a Bolsonaro “destoa do que o PSDB está buscando representar” nacionalmente, que seria uma alternativa ao cenário de polarização no Brasil. “O esforço é no sentido de ter uma candidatura própria”, declarou Leite, rejeitando uma aliança com o prefeito.

“Esqueceu de combinar com a bancada”, critica a vereadora Sandra Santana, argumentando que Nunes deu continuidade ao “projeto político” do PSDB na capital e que gestores indicados pelo partido estão presentes nos vários escalões da administração municipal. “Seria até uma insanidade não apoiá-lo.”

“Eduardo Leite só vem ‘turistar’ aqui em São Paulo e quer opinar, sem ouvir quem vive aqui diariamente, que são os vereadores e os deputados. Veremos quem está certo na história. Quem vem aqui e assiste de camarote ou quem vive a realidade da cidade todos os dias”, responde Fábio Riva. “Se fosse só uma decisão minha, ou de dois ou três parlamentares… Mas é toda uma bancada de deputados estaduais e de vereadores da capital. Será que a direção partidária está no caminho certo?”

Para Riva, o adiamento da definição pode ser uma estratégia para fragmentar o grupo que defende compor com o prefeito e facilitar a decisão de lançar um candidato próprio na capital paulista. Outros vereadores não acreditam que uma posição seja firmada tão cedo e que, a cada dia que passa, um eventual apoio perde mais peso político.

Janela para troca de partidos antes das eleições de 2024 altera a composição da Câmara de São Paulo Foto: Marcio Fernandes/Estadão

A referência aos deputados se deve a uma reunião da bancada da federação PSDB-Cidadania na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), na semana passada. Segundo o deputado Barros Munhoz, cinco parlamentares do PSDB e três do Cidadania concordaram que ter um nome na disputa de São Paulo este ano não é uma boa ideia. “O PSDB está tão fragilizado que lançar uma candidatura própria vai ser vexaminoso. Precisamos ser sérios e responsáveis. Não temos força para isso. O que fizeram com o partido é uma barbaridade”, opina.

Lideranças da legenda, por outro lado, falam em um esforço de pacificação da sigla e em retomar o protagonismo. Em 26 de fevereiro, elegeram uma chapa única para a executiva estadual, unindo aliados paulistas do governador gaúcho, Eduardo Leite, e simpatizantes do ex-governador de São Paulo João Doria. Sem acordo, a escolha do presidente ficou para esta quarta-feira, 6, véspera da abertura do prazo de 30 dias para troca de partido a fim de disputar o pleito em outubro. Na reunião, o partido elegeu o ex-deputado estadual Marco Vinholi.

A janela partidária para as eleições municipais de 2024, que abre nesta quinta-feira, 7 de março, deve inaugurar uma debandada do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo. O Estadão apurou que ao menos quatro vereadores, dos oito em exercício, já decidiram abandonar o partido antes da disputa de outubro.

Interlocutores, porém, apostam que as baixas podem chegar a seis ou sete nomes, incluindo na conta de potenciais dissidentes o vereador licenciado Carlos Bezerra Júnior, que está há mais de 20 anos no PSDB e atualmente responde pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do município. Ele não atendeu a reportagem.

A bancada tucana na capital reclama da falta de diálogo com a executiva nacional, chefiada hoje pelo ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, da demora na montagem da chapa para o Legislativo e da indefinição sobre o apoio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). O grupo defende a composição sob o argumento de que o governo do emedebista representa a continuidade do trabalho de Bruno Covas.

Sob uma perspectiva mais pragmática, citam ainda a falta de protagonismo do partido em São Paulo e a previsão nada otimista de que a sigla não deve eleger mais do que dois ou três parlamentares este ano. Em 2020, foram oito vereadores eleitos, resultado que já ficou abaixo dos anos anteriores, mesmo com a vitória de Covas na disputa pela prefeitura.

O vereador Fábio Riva (PSDB), líder do governo Ricardo Nunes na Câmara Municipal de São Paulo Foto: André Bueno/CMSP

Fábio Riva, líder do governo na Câmara, irá para o MDB, mesmo partido do prefeito. João Jorge, o primeiro a puxar a fila, além de Aurélio Nomura e Sandra Santana, também estão de mudança. As conversas envolvem, além do MDB, o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, e o União Brasil do presidente da Câmara, Milton Leite. Podemos e PL surgem como alternativas.

Os demais integrantes preferiram não comentar o assunto ou não foram localizados. Até mesmo o líder do PSDB na Câmara e vice-presidente da comissão provisória no diretório municipal, Gilson Barreto, é tido como uma possível saída entre colegas; seu gabinete vem negando pedidos de entrevista desde o começo de fevereiro.

Sobrevivência política

Entre os vereadores consultados pela reportagem, existe a percepção de que disputar a eleição pelo PSDB é um risco, e que o partido está numa luta contra o tempo para montar uma chapa minimamente competitiva para o Legislativo municipal. O problema é que o diretório municipal teve três presidentes diferentes em cerca de três meses, o que atrasou todo o processo. O prazo de filiação para um candidato disputar a eleição termina em 5 de abril.

O PSDB nacional nomeou uma comissão provisória em outubro do ano passado, destituindo Fernando Alfredo, mas este só deixou o posto em dezembro. Em janeiro, o novo presidente, Orlando Faria, renunciou ao cargo e virou coordenador político da campanha de Tabata Amaral (PSB) pela prefeitura de São Paulo. O terceiro presidente foi escolhido uma semana atrás: o ex-senador José Aníbal, que tem agora a missão de consultar lideranças e definir qual será a posição do PSDB em relação à disputa pelo comando da capital. Ele conversou com a bancada na terça-feira, 5.

Uma regra interna do partido determina ainda que, para as cidades com mais de 100 mil habitantes, a indicação para a configuração das disputas municipais deve obrigatoriamente passar pelo crivo da executiva nacional.

Aníbal disse ao Estadão que está em “fase de apuração” e não poderia “fazer uma síntese sem conversar antes com a maioria”, mas ressaltou que não pode “abrir mão de que o PSDB tenha protagonismo nesta eleição”, seja compondo com outro candidato ou lançando um nome próprio. Não há prazo para definição. Segundo ele, a decisão vai levar “o tempo que for necessário, mas que seja o quanto antes”.

O ex-senador José Aníbal, o governador gaúcho, Eduardo Leite, e o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo Foto: Kiko Scartezini/PSDB

O vereador João Jorge, o primeiro a anunciar publicamente que deixaria o PSDB, ainda em janeiro, diz que, nas atuais circunstâncias, é “suicídio eleitoral” permanecer na chapa. Outros partidos já estariam em fase final de formação da lista de candidatos. “O prazo (de filiação) termina no começo de abril, e ninguém vai arriscar. É loucura”. O parlamentar critica ainda a indefinição sobre o apoio a Nunes. “Não se lança candidato a prefeito de São Paulo do dia para a noite.”

O recorte da eleição passada também não ajuda: mesmo vencendo a disputa pela prefeitura com Bruno Covas, o PSDB teve cinco cadeiras a menos do que em 2008, por exemplo. O total de votos retraiu 40% em quatro anos na capital paulista, somando todos os candidatos a vereador e os votos de legenda (quando o eleitor digita apenas o número do partido na urna).

A avaliação de que uma nova queda no desempenho estaria a caminho representa uma ameaça principalmente para os vereadores que foram eleitos com uma margem mais apertada, ou seja, mais para baixo na lista de 2020. Esse é o caso de Aurélio Nomura, Sandra Santana e Fábio Riva — além de Gilson Barreto, que terminou como primeiro suplente do PSDB, mas exerceu um mandato inteiro no lugar de Eduardo Tuma, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Município.

Mesmo quem manifesta o desejo de ficar no partido não garante a permanência por esse motivo. O vereador Xexéu Tripoli afirmou que pretende decidir apenas no último momento com base na formação da chapa. A sua previsão, nada otimista, é que o PSDB só consiga eleger de dois a três vereadores este ano. Ele também faz coro às reclamações sobre o atraso no procedimento e a indefinição sobre apoiar ou não o prefeito.

Falta de diálogo

Outra reclamação recorrente entre os parlamentares é que não houve diálogo com as lideranças nacionais ao longo do mandato. Nesse sentido, uma entrevista do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), ao jornal O Globo, depois de o prefeito Ricardo Nunes comparecer ao ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, foi encarada como a “gota d’água”.

O governador gaúcho sustentou que, apesar de ter dado continuidade ao governo Covas, a associação de Nunes a Bolsonaro “destoa do que o PSDB está buscando representar” nacionalmente, que seria uma alternativa ao cenário de polarização no Brasil. “O esforço é no sentido de ter uma candidatura própria”, declarou Leite, rejeitando uma aliança com o prefeito.

“Esqueceu de combinar com a bancada”, critica a vereadora Sandra Santana, argumentando que Nunes deu continuidade ao “projeto político” do PSDB na capital e que gestores indicados pelo partido estão presentes nos vários escalões da administração municipal. “Seria até uma insanidade não apoiá-lo.”

“Eduardo Leite só vem ‘turistar’ aqui em São Paulo e quer opinar, sem ouvir quem vive aqui diariamente, que são os vereadores e os deputados. Veremos quem está certo na história. Quem vem aqui e assiste de camarote ou quem vive a realidade da cidade todos os dias”, responde Fábio Riva. “Se fosse só uma decisão minha, ou de dois ou três parlamentares… Mas é toda uma bancada de deputados estaduais e de vereadores da capital. Será que a direção partidária está no caminho certo?”

Para Riva, o adiamento da definição pode ser uma estratégia para fragmentar o grupo que defende compor com o prefeito e facilitar a decisão de lançar um candidato próprio na capital paulista. Outros vereadores não acreditam que uma posição seja firmada tão cedo e que, a cada dia que passa, um eventual apoio perde mais peso político.

Janela para troca de partidos antes das eleições de 2024 altera a composição da Câmara de São Paulo Foto: Marcio Fernandes/Estadão

A referência aos deputados se deve a uma reunião da bancada da federação PSDB-Cidadania na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), na semana passada. Segundo o deputado Barros Munhoz, cinco parlamentares do PSDB e três do Cidadania concordaram que ter um nome na disputa de São Paulo este ano não é uma boa ideia. “O PSDB está tão fragilizado que lançar uma candidatura própria vai ser vexaminoso. Precisamos ser sérios e responsáveis. Não temos força para isso. O que fizeram com o partido é uma barbaridade”, opina.

Lideranças da legenda, por outro lado, falam em um esforço de pacificação da sigla e em retomar o protagonismo. Em 26 de fevereiro, elegeram uma chapa única para a executiva estadual, unindo aliados paulistas do governador gaúcho, Eduardo Leite, e simpatizantes do ex-governador de São Paulo João Doria. Sem acordo, a escolha do presidente ficou para esta quarta-feira, 6, véspera da abertura do prazo de 30 dias para troca de partido a fim de disputar o pleito em outubro. Na reunião, o partido elegeu o ex-deputado estadual Marco Vinholi.

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