PSOL de Boulos termina eleições no grupo de siglas nanicas de esquerda sem prefeituras


Legenda disputou 210 prefeituras no País e, assim como PSTU, PCB, PCO e UP, não elegeu ninguém; presidente psolista, Paula Coradi, atribui resultado ao uso da máquina e ao repasse de emendas parlamentares, mas vê saldo positivo

Por Hugo Henud e Vinícius Novais
Atualização:

O PSOL não apenas deixou de eleger o deputado federal Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo, o maior colégio eleitoral do País — onde ele foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB) — como também não conquistou nenhuma das outras 209 prefeituras que disputou nas eleições municipais de 2024. Assim, o partido obteve desempenho semelhante ao de siglas menores de esquerda, como PSTU, PCB, PCO e UP, que também terminaram a disputa sem cargos no Executivo municipal.

Dessas candidaturas lançadas pelo PSOL, 200 foram derrotadas no primeiro turno. Das 14 capitais onde a sigla concorreu, em 11 os candidatos nem sequer chegaram à fase final da disputa. Além de Boulos, só três alcançaram o segundo lugar: Paulo Lemos (PSOL), derrotado por Dr. Furlan (MDB) em Macapá; Kleber Rosa (PSOL), superado por Bruno Reis (União Brasil) em Salvador; e Marquito (PSOL), que perdeu para Topázio Neto (PSD) em Florianópolis. Todos foram vencidos por prefeitos reeleitos.

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Com esse desempenho, o PSOL lidera entre as siglas que não conseguiram eleger governantes municipais nestas eleições, sendo o partido com o maior número de candidaturas entre aqueles sem vitórias. Ao lado dele estão legendas menores do campo político da esquerda, como o PCO, com 43 candidatos; o PSTU, com 37; o UP, com 22; e o PCB, com 9, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A presidente do PSOL, Paula Coradi, atribui o desempenho aquém do esperado de sua sigla ao uso da máquina pública pelas prefeituras em busca de reeleição e ao repasse de recursos por meio de emendas parlamentares, principalmente por deputados federais do Centrão. “Foi uma disputa eleitoral muito difícil”, afirma.

Apesar de não conquistar prefeituras, Coradi considera que houve um “saldo positivo” para a sigla, que, segundo ela, conseguiu projetar e consolidar novas lideranças nas Câmaras Municipais, citando como exemplo a eleição da vereadora Amanda Paschoal em São Paulo.

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No segundo turno, o PSOL concentrou seus esforços nas disputas em São Paulo e Petrópolis, no Rio de Janeiro, com o objetivo de conquistar ao menos duas prefeituras nestas eleições. Com os resultados desfavoráveis em ambas as cidades, porém, a sigla encerrou a eleição sem vitórias.

A disputa em São Paulo foi tratada como prioridade para o PSOL, que destinou R$ 35 milhões à campanha de Boulos, o maior valor investido entre todas as suas candidaturas. Mesmo assim, o candidato foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB), reeleito com 59,35% dos votos contra 40,65% do psolista.

Guilherme Boulos (PSOL) durante coletiva de imprensa após resultado da final da apuração do 2º turno, em que ele perdeu para Ricardo Nunes (MDB) Foto: Taba Benedicto/ Estadão
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Em Petrópolis, Yuri Moura também perdeu, com Hingo Hammes (PP) conquistando 74,70% dos votos. Eleito na cidade da região serrana do Rio de Janeiro, Hammes foi o candidato a ganhar com mais folga no segundo turno. Já em Belém, o prefeito Edmilson Rodrigues, também do PSOL, tentou a reeleição, mas terminou em terceiro lugar no primeiro turno, com apenas 9,78% dos votos válidos.

Veja a lista de candidatos do PSOL que concorreram a prefeito:

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Histórico do partido

Fundado em 2005 como uma dissidência do PT, o PSOL construiu um histórico gradual de conquistas municipais. Em 2012, o partido elegeu seu primeiro prefeito, número que subiu para dois em 2016 e, em 2020, para cinco, incluindo Edmilson Rodrigues em Belém. Em 2024, no entanto, o partido enfrentou uma série de reveses e não conseguiu eleger nenhum chefe de Executivo municipal.

Durante a corrida eleitoral, o partido tinha apenas Rodrigues concorrendo à reeleição em Belém. A partir de 2025, a capital do Pará será comandada por Igor Normando (MDB), que obteve 421.485 votos (56,36%) no segundo turno.

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Em 2022, o partido passou a integrar uma federação com a Rede Sustentabilidade, permitindo que ambos atuem como um só por, no mínimo, quatro anos, o que aumenta a capacidade de sobreviver à cláusula de barreira — que restringe o acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita para partidos que não atingem um percentual mínimo de votos.

Confira a seguir a íntegra da entrevista da presidente do PSOL, Paula Coradi, ao Estadão.

O PSOL lançou 210 candidaturas para prefeito, mas não conseguiu conquistar nenhuma prefeitura. Como a senhora avalia esse cenário e quais fatores contribuíram para um desempenho abaixo do esperado?

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A gente avalia que esse processo eleitoral foi muito marcado pelo uso da máquina pública. Esse foi um ponto muito evidente nestas eleições, tanto por parte do Centrão, que direcionou muitos recursos para suas regiões eleitorais, quanto pelo uso descarado da máquina pública, especialmente nas prefeituras em busca de reeleição. Foi uma disputa eleitoral muito difícil, tivemos uma perda significativa com a não reeleição de Edmilson Rodrigues.

Apesar disso, embora o PSOL não tenha conquistado nenhuma prefeitura, avançamos nas nossas candidaturas majoritárias. Em Florianópolis, por exemplo, em 2020 alcançamos 20% dos votos com uma coligação ampla de esquerda; agora, apenas com a Rede, conseguimos 25% dos votos. Em Salvador, também ficamos em segundo lugar, com 10%. Avaliamos isso como um crescimento. Além disso, protagonizamos a maior disputa eleitoral do País, em São Paulo, com Guilherme Boulos, que representou uma candidatura de muito destaque e posicionou o PSOL como uma alternativa de esquerda, mostrando que o partido tem capacidade de competir em disputas futuras.

Em São Paulo, como a senhora avalia a candidatura de Boulos e o apoio do PT?

Sobre São Paulo, é importante reconhecer, em um nível mais profundo de análise, que o verdadeiro “vencedor” na cidade foi o conjunto de votos de abstenção, nulos e brancos. Esses votos tiveram mais expressão e superaram a votação do próprio Nunes. Isso revela um desafio político não apenas para o campo da esquerda, mas também para todos repensarem nossas formas de participação e reafirmarem a democracia como um valor fundamental. Reflete a crise política que se estende no Brasil há pelo menos uma década e que faz parte de uma tendência mundial.

Sobre a candidatura de Guilherme Boulos, enfrentamos muitas dificuldades nessa eleição, como o uso muito intenso da máquina pública, tanto do município quanto do Estado de São Paulo. Foi uma utilização muito forte desses recursos públicos. Ainda assim, entendemos que, embora não tenhamos vencido, Guilherme Boulos saiu dessa disputa como uma liderança consolidada para o próximo ciclo da esquerda no Brasil. Acreditamos que, apesar da derrota, Guilherme se firmou como uma figura importante na renovação política da esquerda, mostrando-se como uma grande liderança. Saímos desse processo de cabeça erguida.

Como a senhora analisa as declarações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que afirmou, sem apresentar provas, que o PCC orientou votos em Boulos?

Bem, nossa opinião é que se trata de um absurdo. O que o Tarcísio fez ontem foi crime eleitoral, não tem outro nome, não há outra forma de descrever; foi um abuso de poder político. Essa é a forma como a extrema direita encara os processos eleitorais, o que faz parte dessa crise política que mencionei, a crise que estamos vivendo. Então, além de enfrentarmos a máquina da prefeitura, enfrentamos a máquina de mentiras, de fake news, e essa maneira pela qual a extrema direita tem operado na política brasileira, sempre reforçando o descrédito.

Tivemos um falso laudo médico a dois dias das eleições e, o mais grave, um governador de um Estado importante como São Paulo cometendo crime eleitoral e abuso de poder político no dia da eleição. Essa é uma tática deles, de sempre questionar e lançar dúvidas sobre o modelo de democracia que temos. Esse método da extrema direita é totalmente repudiado por nós; o que Tarcísio fez não tem outro nome além de crime eleitoral. Já acionamos o TRE, entramos com uma queixa-crime e vamos até o fim, não só contra Tarcísio, mas também contra Pablo Marçal.

E, projetando 2026, como a senhora vê o partido e o próprio Boulos?

Acredito que, nessas eleições, conseguimos projetar muitas lideranças. Nossas candidaturas à vereança estão entre as mais votadas em várias capitais, como aqui em São Paulo, onde Amanda Paschoal foi eleita; ela foi a sexta mais votada do Brasil e a mulher mais votada do País.

Acredito que, para 2026, saímos desse processo eleitoral com um saldo positivo, com grande renovação dos nossos quadros políticos e com a capacidade de apresentar essas novas figuras e lideranças para o próximo ciclo eleitoral. Na militância do PSOL, sentimos que Boulos foi um grande líder nesse processo, que não esmoreceu em nenhum momento e demonstrou muita capacidade de liderança. Ele mostrou que tem condições de liderar o próximo ciclo que enfrentaremos nos próximos anos no Brasil.

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O PSOL não apenas deixou de eleger o deputado federal Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo, o maior colégio eleitoral do País — onde ele foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB) — como também não conquistou nenhuma das outras 209 prefeituras que disputou nas eleições municipais de 2024. Assim, o partido obteve desempenho semelhante ao de siglas menores de esquerda, como PSTU, PCB, PCO e UP, que também terminaram a disputa sem cargos no Executivo municipal.

Dessas candidaturas lançadas pelo PSOL, 200 foram derrotadas no primeiro turno. Das 14 capitais onde a sigla concorreu, em 11 os candidatos nem sequer chegaram à fase final da disputa. Além de Boulos, só três alcançaram o segundo lugar: Paulo Lemos (PSOL), derrotado por Dr. Furlan (MDB) em Macapá; Kleber Rosa (PSOL), superado por Bruno Reis (União Brasil) em Salvador; e Marquito (PSOL), que perdeu para Topázio Neto (PSD) em Florianópolis. Todos foram vencidos por prefeitos reeleitos.

Com esse desempenho, o PSOL lidera entre as siglas que não conseguiram eleger governantes municipais nestas eleições, sendo o partido com o maior número de candidaturas entre aqueles sem vitórias. Ao lado dele estão legendas menores do campo político da esquerda, como o PCO, com 43 candidatos; o PSTU, com 37; o UP, com 22; e o PCB, com 9, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A presidente do PSOL, Paula Coradi, atribui o desempenho aquém do esperado de sua sigla ao uso da máquina pública pelas prefeituras em busca de reeleição e ao repasse de recursos por meio de emendas parlamentares, principalmente por deputados federais do Centrão. “Foi uma disputa eleitoral muito difícil”, afirma.

Apesar de não conquistar prefeituras, Coradi considera que houve um “saldo positivo” para a sigla, que, segundo ela, conseguiu projetar e consolidar novas lideranças nas Câmaras Municipais, citando como exemplo a eleição da vereadora Amanda Paschoal em São Paulo.

No segundo turno, o PSOL concentrou seus esforços nas disputas em São Paulo e Petrópolis, no Rio de Janeiro, com o objetivo de conquistar ao menos duas prefeituras nestas eleições. Com os resultados desfavoráveis em ambas as cidades, porém, a sigla encerrou a eleição sem vitórias.

A disputa em São Paulo foi tratada como prioridade para o PSOL, que destinou R$ 35 milhões à campanha de Boulos, o maior valor investido entre todas as suas candidaturas. Mesmo assim, o candidato foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB), reeleito com 59,35% dos votos contra 40,65% do psolista.

Guilherme Boulos (PSOL) durante coletiva de imprensa após resultado da final da apuração do 2º turno, em que ele perdeu para Ricardo Nunes (MDB) Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Em Petrópolis, Yuri Moura também perdeu, com Hingo Hammes (PP) conquistando 74,70% dos votos. Eleito na cidade da região serrana do Rio de Janeiro, Hammes foi o candidato a ganhar com mais folga no segundo turno. Já em Belém, o prefeito Edmilson Rodrigues, também do PSOL, tentou a reeleição, mas terminou em terceiro lugar no primeiro turno, com apenas 9,78% dos votos válidos.

Veja a lista de candidatos do PSOL que concorreram a prefeito:

Histórico do partido

Fundado em 2005 como uma dissidência do PT, o PSOL construiu um histórico gradual de conquistas municipais. Em 2012, o partido elegeu seu primeiro prefeito, número que subiu para dois em 2016 e, em 2020, para cinco, incluindo Edmilson Rodrigues em Belém. Em 2024, no entanto, o partido enfrentou uma série de reveses e não conseguiu eleger nenhum chefe de Executivo municipal.

Durante a corrida eleitoral, o partido tinha apenas Rodrigues concorrendo à reeleição em Belém. A partir de 2025, a capital do Pará será comandada por Igor Normando (MDB), que obteve 421.485 votos (56,36%) no segundo turno.

Em 2022, o partido passou a integrar uma federação com a Rede Sustentabilidade, permitindo que ambos atuem como um só por, no mínimo, quatro anos, o que aumenta a capacidade de sobreviver à cláusula de barreira — que restringe o acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita para partidos que não atingem um percentual mínimo de votos.

Confira a seguir a íntegra da entrevista da presidente do PSOL, Paula Coradi, ao Estadão.

O PSOL lançou 210 candidaturas para prefeito, mas não conseguiu conquistar nenhuma prefeitura. Como a senhora avalia esse cenário e quais fatores contribuíram para um desempenho abaixo do esperado?

A gente avalia que esse processo eleitoral foi muito marcado pelo uso da máquina pública. Esse foi um ponto muito evidente nestas eleições, tanto por parte do Centrão, que direcionou muitos recursos para suas regiões eleitorais, quanto pelo uso descarado da máquina pública, especialmente nas prefeituras em busca de reeleição. Foi uma disputa eleitoral muito difícil, tivemos uma perda significativa com a não reeleição de Edmilson Rodrigues.

Apesar disso, embora o PSOL não tenha conquistado nenhuma prefeitura, avançamos nas nossas candidaturas majoritárias. Em Florianópolis, por exemplo, em 2020 alcançamos 20% dos votos com uma coligação ampla de esquerda; agora, apenas com a Rede, conseguimos 25% dos votos. Em Salvador, também ficamos em segundo lugar, com 10%. Avaliamos isso como um crescimento. Além disso, protagonizamos a maior disputa eleitoral do País, em São Paulo, com Guilherme Boulos, que representou uma candidatura de muito destaque e posicionou o PSOL como uma alternativa de esquerda, mostrando que o partido tem capacidade de competir em disputas futuras.

Em São Paulo, como a senhora avalia a candidatura de Boulos e o apoio do PT?

Sobre São Paulo, é importante reconhecer, em um nível mais profundo de análise, que o verdadeiro “vencedor” na cidade foi o conjunto de votos de abstenção, nulos e brancos. Esses votos tiveram mais expressão e superaram a votação do próprio Nunes. Isso revela um desafio político não apenas para o campo da esquerda, mas também para todos repensarem nossas formas de participação e reafirmarem a democracia como um valor fundamental. Reflete a crise política que se estende no Brasil há pelo menos uma década e que faz parte de uma tendência mundial.

Sobre a candidatura de Guilherme Boulos, enfrentamos muitas dificuldades nessa eleição, como o uso muito intenso da máquina pública, tanto do município quanto do Estado de São Paulo. Foi uma utilização muito forte desses recursos públicos. Ainda assim, entendemos que, embora não tenhamos vencido, Guilherme Boulos saiu dessa disputa como uma liderança consolidada para o próximo ciclo da esquerda no Brasil. Acreditamos que, apesar da derrota, Guilherme se firmou como uma figura importante na renovação política da esquerda, mostrando-se como uma grande liderança. Saímos desse processo de cabeça erguida.

Como a senhora analisa as declarações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que afirmou, sem apresentar provas, que o PCC orientou votos em Boulos?

Bem, nossa opinião é que se trata de um absurdo. O que o Tarcísio fez ontem foi crime eleitoral, não tem outro nome, não há outra forma de descrever; foi um abuso de poder político. Essa é a forma como a extrema direita encara os processos eleitorais, o que faz parte dessa crise política que mencionei, a crise que estamos vivendo. Então, além de enfrentarmos a máquina da prefeitura, enfrentamos a máquina de mentiras, de fake news, e essa maneira pela qual a extrema direita tem operado na política brasileira, sempre reforçando o descrédito.

Tivemos um falso laudo médico a dois dias das eleições e, o mais grave, um governador de um Estado importante como São Paulo cometendo crime eleitoral e abuso de poder político no dia da eleição. Essa é uma tática deles, de sempre questionar e lançar dúvidas sobre o modelo de democracia que temos. Esse método da extrema direita é totalmente repudiado por nós; o que Tarcísio fez não tem outro nome além de crime eleitoral. Já acionamos o TRE, entramos com uma queixa-crime e vamos até o fim, não só contra Tarcísio, mas também contra Pablo Marçal.

E, projetando 2026, como a senhora vê o partido e o próprio Boulos?

Acredito que, nessas eleições, conseguimos projetar muitas lideranças. Nossas candidaturas à vereança estão entre as mais votadas em várias capitais, como aqui em São Paulo, onde Amanda Paschoal foi eleita; ela foi a sexta mais votada do Brasil e a mulher mais votada do País.

Acredito que, para 2026, saímos desse processo eleitoral com um saldo positivo, com grande renovação dos nossos quadros políticos e com a capacidade de apresentar essas novas figuras e lideranças para o próximo ciclo eleitoral. Na militância do PSOL, sentimos que Boulos foi um grande líder nesse processo, que não esmoreceu em nenhum momento e demonstrou muita capacidade de liderança. Ele mostrou que tem condições de liderar o próximo ciclo que enfrentaremos nos próximos anos no Brasil.

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O PSOL não apenas deixou de eleger o deputado federal Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo, o maior colégio eleitoral do País — onde ele foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB) — como também não conquistou nenhuma das outras 209 prefeituras que disputou nas eleições municipais de 2024. Assim, o partido obteve desempenho semelhante ao de siglas menores de esquerda, como PSTU, PCB, PCO e UP, que também terminaram a disputa sem cargos no Executivo municipal.

Dessas candidaturas lançadas pelo PSOL, 200 foram derrotadas no primeiro turno. Das 14 capitais onde a sigla concorreu, em 11 os candidatos nem sequer chegaram à fase final da disputa. Além de Boulos, só três alcançaram o segundo lugar: Paulo Lemos (PSOL), derrotado por Dr. Furlan (MDB) em Macapá; Kleber Rosa (PSOL), superado por Bruno Reis (União Brasil) em Salvador; e Marquito (PSOL), que perdeu para Topázio Neto (PSD) em Florianópolis. Todos foram vencidos por prefeitos reeleitos.

Com esse desempenho, o PSOL lidera entre as siglas que não conseguiram eleger governantes municipais nestas eleições, sendo o partido com o maior número de candidaturas entre aqueles sem vitórias. Ao lado dele estão legendas menores do campo político da esquerda, como o PCO, com 43 candidatos; o PSTU, com 37; o UP, com 22; e o PCB, com 9, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A presidente do PSOL, Paula Coradi, atribui o desempenho aquém do esperado de sua sigla ao uso da máquina pública pelas prefeituras em busca de reeleição e ao repasse de recursos por meio de emendas parlamentares, principalmente por deputados federais do Centrão. “Foi uma disputa eleitoral muito difícil”, afirma.

Apesar de não conquistar prefeituras, Coradi considera que houve um “saldo positivo” para a sigla, que, segundo ela, conseguiu projetar e consolidar novas lideranças nas Câmaras Municipais, citando como exemplo a eleição da vereadora Amanda Paschoal em São Paulo.

No segundo turno, o PSOL concentrou seus esforços nas disputas em São Paulo e Petrópolis, no Rio de Janeiro, com o objetivo de conquistar ao menos duas prefeituras nestas eleições. Com os resultados desfavoráveis em ambas as cidades, porém, a sigla encerrou a eleição sem vitórias.

A disputa em São Paulo foi tratada como prioridade para o PSOL, que destinou R$ 35 milhões à campanha de Boulos, o maior valor investido entre todas as suas candidaturas. Mesmo assim, o candidato foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB), reeleito com 59,35% dos votos contra 40,65% do psolista.

Guilherme Boulos (PSOL) durante coletiva de imprensa após resultado da final da apuração do 2º turno, em que ele perdeu para Ricardo Nunes (MDB) Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Em Petrópolis, Yuri Moura também perdeu, com Hingo Hammes (PP) conquistando 74,70% dos votos. Eleito na cidade da região serrana do Rio de Janeiro, Hammes foi o candidato a ganhar com mais folga no segundo turno. Já em Belém, o prefeito Edmilson Rodrigues, também do PSOL, tentou a reeleição, mas terminou em terceiro lugar no primeiro turno, com apenas 9,78% dos votos válidos.

Veja a lista de candidatos do PSOL que concorreram a prefeito:

Histórico do partido

Fundado em 2005 como uma dissidência do PT, o PSOL construiu um histórico gradual de conquistas municipais. Em 2012, o partido elegeu seu primeiro prefeito, número que subiu para dois em 2016 e, em 2020, para cinco, incluindo Edmilson Rodrigues em Belém. Em 2024, no entanto, o partido enfrentou uma série de reveses e não conseguiu eleger nenhum chefe de Executivo municipal.

Durante a corrida eleitoral, o partido tinha apenas Rodrigues concorrendo à reeleição em Belém. A partir de 2025, a capital do Pará será comandada por Igor Normando (MDB), que obteve 421.485 votos (56,36%) no segundo turno.

Em 2022, o partido passou a integrar uma federação com a Rede Sustentabilidade, permitindo que ambos atuem como um só por, no mínimo, quatro anos, o que aumenta a capacidade de sobreviver à cláusula de barreira — que restringe o acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita para partidos que não atingem um percentual mínimo de votos.

Confira a seguir a íntegra da entrevista da presidente do PSOL, Paula Coradi, ao Estadão.

O PSOL lançou 210 candidaturas para prefeito, mas não conseguiu conquistar nenhuma prefeitura. Como a senhora avalia esse cenário e quais fatores contribuíram para um desempenho abaixo do esperado?

A gente avalia que esse processo eleitoral foi muito marcado pelo uso da máquina pública. Esse foi um ponto muito evidente nestas eleições, tanto por parte do Centrão, que direcionou muitos recursos para suas regiões eleitorais, quanto pelo uso descarado da máquina pública, especialmente nas prefeituras em busca de reeleição. Foi uma disputa eleitoral muito difícil, tivemos uma perda significativa com a não reeleição de Edmilson Rodrigues.

Apesar disso, embora o PSOL não tenha conquistado nenhuma prefeitura, avançamos nas nossas candidaturas majoritárias. Em Florianópolis, por exemplo, em 2020 alcançamos 20% dos votos com uma coligação ampla de esquerda; agora, apenas com a Rede, conseguimos 25% dos votos. Em Salvador, também ficamos em segundo lugar, com 10%. Avaliamos isso como um crescimento. Além disso, protagonizamos a maior disputa eleitoral do País, em São Paulo, com Guilherme Boulos, que representou uma candidatura de muito destaque e posicionou o PSOL como uma alternativa de esquerda, mostrando que o partido tem capacidade de competir em disputas futuras.

Em São Paulo, como a senhora avalia a candidatura de Boulos e o apoio do PT?

Sobre São Paulo, é importante reconhecer, em um nível mais profundo de análise, que o verdadeiro “vencedor” na cidade foi o conjunto de votos de abstenção, nulos e brancos. Esses votos tiveram mais expressão e superaram a votação do próprio Nunes. Isso revela um desafio político não apenas para o campo da esquerda, mas também para todos repensarem nossas formas de participação e reafirmarem a democracia como um valor fundamental. Reflete a crise política que se estende no Brasil há pelo menos uma década e que faz parte de uma tendência mundial.

Sobre a candidatura de Guilherme Boulos, enfrentamos muitas dificuldades nessa eleição, como o uso muito intenso da máquina pública, tanto do município quanto do Estado de São Paulo. Foi uma utilização muito forte desses recursos públicos. Ainda assim, entendemos que, embora não tenhamos vencido, Guilherme Boulos saiu dessa disputa como uma liderança consolidada para o próximo ciclo da esquerda no Brasil. Acreditamos que, apesar da derrota, Guilherme se firmou como uma figura importante na renovação política da esquerda, mostrando-se como uma grande liderança. Saímos desse processo de cabeça erguida.

Como a senhora analisa as declarações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que afirmou, sem apresentar provas, que o PCC orientou votos em Boulos?

Bem, nossa opinião é que se trata de um absurdo. O que o Tarcísio fez ontem foi crime eleitoral, não tem outro nome, não há outra forma de descrever; foi um abuso de poder político. Essa é a forma como a extrema direita encara os processos eleitorais, o que faz parte dessa crise política que mencionei, a crise que estamos vivendo. Então, além de enfrentarmos a máquina da prefeitura, enfrentamos a máquina de mentiras, de fake news, e essa maneira pela qual a extrema direita tem operado na política brasileira, sempre reforçando o descrédito.

Tivemos um falso laudo médico a dois dias das eleições e, o mais grave, um governador de um Estado importante como São Paulo cometendo crime eleitoral e abuso de poder político no dia da eleição. Essa é uma tática deles, de sempre questionar e lançar dúvidas sobre o modelo de democracia que temos. Esse método da extrema direita é totalmente repudiado por nós; o que Tarcísio fez não tem outro nome além de crime eleitoral. Já acionamos o TRE, entramos com uma queixa-crime e vamos até o fim, não só contra Tarcísio, mas também contra Pablo Marçal.

E, projetando 2026, como a senhora vê o partido e o próprio Boulos?

Acredito que, nessas eleições, conseguimos projetar muitas lideranças. Nossas candidaturas à vereança estão entre as mais votadas em várias capitais, como aqui em São Paulo, onde Amanda Paschoal foi eleita; ela foi a sexta mais votada do Brasil e a mulher mais votada do País.

Acredito que, para 2026, saímos desse processo eleitoral com um saldo positivo, com grande renovação dos nossos quadros políticos e com a capacidade de apresentar essas novas figuras e lideranças para o próximo ciclo eleitoral. Na militância do PSOL, sentimos que Boulos foi um grande líder nesse processo, que não esmoreceu em nenhum momento e demonstrou muita capacidade de liderança. Ele mostrou que tem condições de liderar o próximo ciclo que enfrentaremos nos próximos anos no Brasil.

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O PSOL não apenas deixou de eleger o deputado federal Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo, o maior colégio eleitoral do País — onde ele foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB) — como também não conquistou nenhuma das outras 209 prefeituras que disputou nas eleições municipais de 2024. Assim, o partido obteve desempenho semelhante ao de siglas menores de esquerda, como PSTU, PCB, PCO e UP, que também terminaram a disputa sem cargos no Executivo municipal.

Dessas candidaturas lançadas pelo PSOL, 200 foram derrotadas no primeiro turno. Das 14 capitais onde a sigla concorreu, em 11 os candidatos nem sequer chegaram à fase final da disputa. Além de Boulos, só três alcançaram o segundo lugar: Paulo Lemos (PSOL), derrotado por Dr. Furlan (MDB) em Macapá; Kleber Rosa (PSOL), superado por Bruno Reis (União Brasil) em Salvador; e Marquito (PSOL), que perdeu para Topázio Neto (PSD) em Florianópolis. Todos foram vencidos por prefeitos reeleitos.

Com esse desempenho, o PSOL lidera entre as siglas que não conseguiram eleger governantes municipais nestas eleições, sendo o partido com o maior número de candidaturas entre aqueles sem vitórias. Ao lado dele estão legendas menores do campo político da esquerda, como o PCO, com 43 candidatos; o PSTU, com 37; o UP, com 22; e o PCB, com 9, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A presidente do PSOL, Paula Coradi, atribui o desempenho aquém do esperado de sua sigla ao uso da máquina pública pelas prefeituras em busca de reeleição e ao repasse de recursos por meio de emendas parlamentares, principalmente por deputados federais do Centrão. “Foi uma disputa eleitoral muito difícil”, afirma.

Apesar de não conquistar prefeituras, Coradi considera que houve um “saldo positivo” para a sigla, que, segundo ela, conseguiu projetar e consolidar novas lideranças nas Câmaras Municipais, citando como exemplo a eleição da vereadora Amanda Paschoal em São Paulo.

No segundo turno, o PSOL concentrou seus esforços nas disputas em São Paulo e Petrópolis, no Rio de Janeiro, com o objetivo de conquistar ao menos duas prefeituras nestas eleições. Com os resultados desfavoráveis em ambas as cidades, porém, a sigla encerrou a eleição sem vitórias.

A disputa em São Paulo foi tratada como prioridade para o PSOL, que destinou R$ 35 milhões à campanha de Boulos, o maior valor investido entre todas as suas candidaturas. Mesmo assim, o candidato foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB), reeleito com 59,35% dos votos contra 40,65% do psolista.

Guilherme Boulos (PSOL) durante coletiva de imprensa após resultado da final da apuração do 2º turno, em que ele perdeu para Ricardo Nunes (MDB) Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Em Petrópolis, Yuri Moura também perdeu, com Hingo Hammes (PP) conquistando 74,70% dos votos. Eleito na cidade da região serrana do Rio de Janeiro, Hammes foi o candidato a ganhar com mais folga no segundo turno. Já em Belém, o prefeito Edmilson Rodrigues, também do PSOL, tentou a reeleição, mas terminou em terceiro lugar no primeiro turno, com apenas 9,78% dos votos válidos.

Veja a lista de candidatos do PSOL que concorreram a prefeito:

Histórico do partido

Fundado em 2005 como uma dissidência do PT, o PSOL construiu um histórico gradual de conquistas municipais. Em 2012, o partido elegeu seu primeiro prefeito, número que subiu para dois em 2016 e, em 2020, para cinco, incluindo Edmilson Rodrigues em Belém. Em 2024, no entanto, o partido enfrentou uma série de reveses e não conseguiu eleger nenhum chefe de Executivo municipal.

Durante a corrida eleitoral, o partido tinha apenas Rodrigues concorrendo à reeleição em Belém. A partir de 2025, a capital do Pará será comandada por Igor Normando (MDB), que obteve 421.485 votos (56,36%) no segundo turno.

Em 2022, o partido passou a integrar uma federação com a Rede Sustentabilidade, permitindo que ambos atuem como um só por, no mínimo, quatro anos, o que aumenta a capacidade de sobreviver à cláusula de barreira — que restringe o acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita para partidos que não atingem um percentual mínimo de votos.

Confira a seguir a íntegra da entrevista da presidente do PSOL, Paula Coradi, ao Estadão.

O PSOL lançou 210 candidaturas para prefeito, mas não conseguiu conquistar nenhuma prefeitura. Como a senhora avalia esse cenário e quais fatores contribuíram para um desempenho abaixo do esperado?

A gente avalia que esse processo eleitoral foi muito marcado pelo uso da máquina pública. Esse foi um ponto muito evidente nestas eleições, tanto por parte do Centrão, que direcionou muitos recursos para suas regiões eleitorais, quanto pelo uso descarado da máquina pública, especialmente nas prefeituras em busca de reeleição. Foi uma disputa eleitoral muito difícil, tivemos uma perda significativa com a não reeleição de Edmilson Rodrigues.

Apesar disso, embora o PSOL não tenha conquistado nenhuma prefeitura, avançamos nas nossas candidaturas majoritárias. Em Florianópolis, por exemplo, em 2020 alcançamos 20% dos votos com uma coligação ampla de esquerda; agora, apenas com a Rede, conseguimos 25% dos votos. Em Salvador, também ficamos em segundo lugar, com 10%. Avaliamos isso como um crescimento. Além disso, protagonizamos a maior disputa eleitoral do País, em São Paulo, com Guilherme Boulos, que representou uma candidatura de muito destaque e posicionou o PSOL como uma alternativa de esquerda, mostrando que o partido tem capacidade de competir em disputas futuras.

Em São Paulo, como a senhora avalia a candidatura de Boulos e o apoio do PT?

Sobre São Paulo, é importante reconhecer, em um nível mais profundo de análise, que o verdadeiro “vencedor” na cidade foi o conjunto de votos de abstenção, nulos e brancos. Esses votos tiveram mais expressão e superaram a votação do próprio Nunes. Isso revela um desafio político não apenas para o campo da esquerda, mas também para todos repensarem nossas formas de participação e reafirmarem a democracia como um valor fundamental. Reflete a crise política que se estende no Brasil há pelo menos uma década e que faz parte de uma tendência mundial.

Sobre a candidatura de Guilherme Boulos, enfrentamos muitas dificuldades nessa eleição, como o uso muito intenso da máquina pública, tanto do município quanto do Estado de São Paulo. Foi uma utilização muito forte desses recursos públicos. Ainda assim, entendemos que, embora não tenhamos vencido, Guilherme Boulos saiu dessa disputa como uma liderança consolidada para o próximo ciclo da esquerda no Brasil. Acreditamos que, apesar da derrota, Guilherme se firmou como uma figura importante na renovação política da esquerda, mostrando-se como uma grande liderança. Saímos desse processo de cabeça erguida.

Como a senhora analisa as declarações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que afirmou, sem apresentar provas, que o PCC orientou votos em Boulos?

Bem, nossa opinião é que se trata de um absurdo. O que o Tarcísio fez ontem foi crime eleitoral, não tem outro nome, não há outra forma de descrever; foi um abuso de poder político. Essa é a forma como a extrema direita encara os processos eleitorais, o que faz parte dessa crise política que mencionei, a crise que estamos vivendo. Então, além de enfrentarmos a máquina da prefeitura, enfrentamos a máquina de mentiras, de fake news, e essa maneira pela qual a extrema direita tem operado na política brasileira, sempre reforçando o descrédito.

Tivemos um falso laudo médico a dois dias das eleições e, o mais grave, um governador de um Estado importante como São Paulo cometendo crime eleitoral e abuso de poder político no dia da eleição. Essa é uma tática deles, de sempre questionar e lançar dúvidas sobre o modelo de democracia que temos. Esse método da extrema direita é totalmente repudiado por nós; o que Tarcísio fez não tem outro nome além de crime eleitoral. Já acionamos o TRE, entramos com uma queixa-crime e vamos até o fim, não só contra Tarcísio, mas também contra Pablo Marçal.

E, projetando 2026, como a senhora vê o partido e o próprio Boulos?

Acredito que, nessas eleições, conseguimos projetar muitas lideranças. Nossas candidaturas à vereança estão entre as mais votadas em várias capitais, como aqui em São Paulo, onde Amanda Paschoal foi eleita; ela foi a sexta mais votada do Brasil e a mulher mais votada do País.

Acredito que, para 2026, saímos desse processo eleitoral com um saldo positivo, com grande renovação dos nossos quadros políticos e com a capacidade de apresentar essas novas figuras e lideranças para o próximo ciclo eleitoral. Na militância do PSOL, sentimos que Boulos foi um grande líder nesse processo, que não esmoreceu em nenhum momento e demonstrou muita capacidade de liderança. Ele mostrou que tem condições de liderar o próximo ciclo que enfrentaremos nos próximos anos no Brasil.

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O PSOL não apenas deixou de eleger o deputado federal Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo, o maior colégio eleitoral do País — onde ele foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB) — como também não conquistou nenhuma das outras 209 prefeituras que disputou nas eleições municipais de 2024. Assim, o partido obteve desempenho semelhante ao de siglas menores de esquerda, como PSTU, PCB, PCO e UP, que também terminaram a disputa sem cargos no Executivo municipal.

Dessas candidaturas lançadas pelo PSOL, 200 foram derrotadas no primeiro turno. Das 14 capitais onde a sigla concorreu, em 11 os candidatos nem sequer chegaram à fase final da disputa. Além de Boulos, só três alcançaram o segundo lugar: Paulo Lemos (PSOL), derrotado por Dr. Furlan (MDB) em Macapá; Kleber Rosa (PSOL), superado por Bruno Reis (União Brasil) em Salvador; e Marquito (PSOL), que perdeu para Topázio Neto (PSD) em Florianópolis. Todos foram vencidos por prefeitos reeleitos.

Com esse desempenho, o PSOL lidera entre as siglas que não conseguiram eleger governantes municipais nestas eleições, sendo o partido com o maior número de candidaturas entre aqueles sem vitórias. Ao lado dele estão legendas menores do campo político da esquerda, como o PCO, com 43 candidatos; o PSTU, com 37; o UP, com 22; e o PCB, com 9, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A presidente do PSOL, Paula Coradi, atribui o desempenho aquém do esperado de sua sigla ao uso da máquina pública pelas prefeituras em busca de reeleição e ao repasse de recursos por meio de emendas parlamentares, principalmente por deputados federais do Centrão. “Foi uma disputa eleitoral muito difícil”, afirma.

Apesar de não conquistar prefeituras, Coradi considera que houve um “saldo positivo” para a sigla, que, segundo ela, conseguiu projetar e consolidar novas lideranças nas Câmaras Municipais, citando como exemplo a eleição da vereadora Amanda Paschoal em São Paulo.

No segundo turno, o PSOL concentrou seus esforços nas disputas em São Paulo e Petrópolis, no Rio de Janeiro, com o objetivo de conquistar ao menos duas prefeituras nestas eleições. Com os resultados desfavoráveis em ambas as cidades, porém, a sigla encerrou a eleição sem vitórias.

A disputa em São Paulo foi tratada como prioridade para o PSOL, que destinou R$ 35 milhões à campanha de Boulos, o maior valor investido entre todas as suas candidaturas. Mesmo assim, o candidato foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB), reeleito com 59,35% dos votos contra 40,65% do psolista.

Guilherme Boulos (PSOL) durante coletiva de imprensa após resultado da final da apuração do 2º turno, em que ele perdeu para Ricardo Nunes (MDB) Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Em Petrópolis, Yuri Moura também perdeu, com Hingo Hammes (PP) conquistando 74,70% dos votos. Eleito na cidade da região serrana do Rio de Janeiro, Hammes foi o candidato a ganhar com mais folga no segundo turno. Já em Belém, o prefeito Edmilson Rodrigues, também do PSOL, tentou a reeleição, mas terminou em terceiro lugar no primeiro turno, com apenas 9,78% dos votos válidos.

Veja a lista de candidatos do PSOL que concorreram a prefeito:

Histórico do partido

Fundado em 2005 como uma dissidência do PT, o PSOL construiu um histórico gradual de conquistas municipais. Em 2012, o partido elegeu seu primeiro prefeito, número que subiu para dois em 2016 e, em 2020, para cinco, incluindo Edmilson Rodrigues em Belém. Em 2024, no entanto, o partido enfrentou uma série de reveses e não conseguiu eleger nenhum chefe de Executivo municipal.

Durante a corrida eleitoral, o partido tinha apenas Rodrigues concorrendo à reeleição em Belém. A partir de 2025, a capital do Pará será comandada por Igor Normando (MDB), que obteve 421.485 votos (56,36%) no segundo turno.

Em 2022, o partido passou a integrar uma federação com a Rede Sustentabilidade, permitindo que ambos atuem como um só por, no mínimo, quatro anos, o que aumenta a capacidade de sobreviver à cláusula de barreira — que restringe o acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita para partidos que não atingem um percentual mínimo de votos.

Confira a seguir a íntegra da entrevista da presidente do PSOL, Paula Coradi, ao Estadão.

O PSOL lançou 210 candidaturas para prefeito, mas não conseguiu conquistar nenhuma prefeitura. Como a senhora avalia esse cenário e quais fatores contribuíram para um desempenho abaixo do esperado?

A gente avalia que esse processo eleitoral foi muito marcado pelo uso da máquina pública. Esse foi um ponto muito evidente nestas eleições, tanto por parte do Centrão, que direcionou muitos recursos para suas regiões eleitorais, quanto pelo uso descarado da máquina pública, especialmente nas prefeituras em busca de reeleição. Foi uma disputa eleitoral muito difícil, tivemos uma perda significativa com a não reeleição de Edmilson Rodrigues.

Apesar disso, embora o PSOL não tenha conquistado nenhuma prefeitura, avançamos nas nossas candidaturas majoritárias. Em Florianópolis, por exemplo, em 2020 alcançamos 20% dos votos com uma coligação ampla de esquerda; agora, apenas com a Rede, conseguimos 25% dos votos. Em Salvador, também ficamos em segundo lugar, com 10%. Avaliamos isso como um crescimento. Além disso, protagonizamos a maior disputa eleitoral do País, em São Paulo, com Guilherme Boulos, que representou uma candidatura de muito destaque e posicionou o PSOL como uma alternativa de esquerda, mostrando que o partido tem capacidade de competir em disputas futuras.

Em São Paulo, como a senhora avalia a candidatura de Boulos e o apoio do PT?

Sobre São Paulo, é importante reconhecer, em um nível mais profundo de análise, que o verdadeiro “vencedor” na cidade foi o conjunto de votos de abstenção, nulos e brancos. Esses votos tiveram mais expressão e superaram a votação do próprio Nunes. Isso revela um desafio político não apenas para o campo da esquerda, mas também para todos repensarem nossas formas de participação e reafirmarem a democracia como um valor fundamental. Reflete a crise política que se estende no Brasil há pelo menos uma década e que faz parte de uma tendência mundial.

Sobre a candidatura de Guilherme Boulos, enfrentamos muitas dificuldades nessa eleição, como o uso muito intenso da máquina pública, tanto do município quanto do Estado de São Paulo. Foi uma utilização muito forte desses recursos públicos. Ainda assim, entendemos que, embora não tenhamos vencido, Guilherme Boulos saiu dessa disputa como uma liderança consolidada para o próximo ciclo da esquerda no Brasil. Acreditamos que, apesar da derrota, Guilherme se firmou como uma figura importante na renovação política da esquerda, mostrando-se como uma grande liderança. Saímos desse processo de cabeça erguida.

Como a senhora analisa as declarações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que afirmou, sem apresentar provas, que o PCC orientou votos em Boulos?

Bem, nossa opinião é que se trata de um absurdo. O que o Tarcísio fez ontem foi crime eleitoral, não tem outro nome, não há outra forma de descrever; foi um abuso de poder político. Essa é a forma como a extrema direita encara os processos eleitorais, o que faz parte dessa crise política que mencionei, a crise que estamos vivendo. Então, além de enfrentarmos a máquina da prefeitura, enfrentamos a máquina de mentiras, de fake news, e essa maneira pela qual a extrema direita tem operado na política brasileira, sempre reforçando o descrédito.

Tivemos um falso laudo médico a dois dias das eleições e, o mais grave, um governador de um Estado importante como São Paulo cometendo crime eleitoral e abuso de poder político no dia da eleição. Essa é uma tática deles, de sempre questionar e lançar dúvidas sobre o modelo de democracia que temos. Esse método da extrema direita é totalmente repudiado por nós; o que Tarcísio fez não tem outro nome além de crime eleitoral. Já acionamos o TRE, entramos com uma queixa-crime e vamos até o fim, não só contra Tarcísio, mas também contra Pablo Marçal.

E, projetando 2026, como a senhora vê o partido e o próprio Boulos?

Acredito que, nessas eleições, conseguimos projetar muitas lideranças. Nossas candidaturas à vereança estão entre as mais votadas em várias capitais, como aqui em São Paulo, onde Amanda Paschoal foi eleita; ela foi a sexta mais votada do Brasil e a mulher mais votada do País.

Acredito que, para 2026, saímos desse processo eleitoral com um saldo positivo, com grande renovação dos nossos quadros políticos e com a capacidade de apresentar essas novas figuras e lideranças para o próximo ciclo eleitoral. Na militância do PSOL, sentimos que Boulos foi um grande líder nesse processo, que não esmoreceu em nenhum momento e demonstrou muita capacidade de liderança. Ele mostrou que tem condições de liderar o próximo ciclo que enfrentaremos nos próximos anos no Brasil.

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