BRASÍLIA – O líder do PT na Câmara, Odair Cunha (MG), afirmou que a tendência da bancada é de compor com as forças políticas que levaram o presidente Arthur Lira (PP-AL) ao poder. Os parlamentares petistas realizaram uma reunião nesta terça-feira, 15, sobre a sucessão no comando da Casa. A eleição da Mesa Diretora será em fevereiro de 2025.
As declarações de Odair são mais uma sinalização do PT à candidatura do líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), que tem o apoio de Lira para assumir o comando da Câmara - em setembro, o petista havia dito que levaria à bancada o nome de Motta. De acordo com ele, a maioria dos deputados da sigla prefere permanecer no “blocão” de partidos criado por Lira.
“O PT está discutindo qual é a tese que nós vamos decidir: se nós vamos decidir pela permanência no blocão, ou se vamos produzir um novo bloco aqui na Casa. Essa é a discussão central”, disse Odair, ao sair da reunião.
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“E nessa tese de permanência, nós temos uma candidatura que significa a convergência dessas forças políticas, que é o Hugo Motta. Então esse é um debate que está posto e vamos aprofundar. Estamos em processo de consultas”, emendou.
O “blocão” a que Odair se refere é a aliança de 20 partidos que foi formada em 2023 para apoiar a reeleição de Lira. O bloco incluiu o PT e o PL, e só ficaram de fora o PSOL e o Novo. Mas a decisão só será tomada depois do segundo turno das eleições municipais. “Temos tempo. O tempo está a nosso favor”, disse Odair.
Segundo o líder do PT, o partido não quer uma disputa acirrada na Câmara e rechaça um embate entre governo e oposição. Contudo, segundo relatos, a bancada se preocupa com o espaço que terá na direção da Câmara e sobre qual a viabilidade de fato de cada postulante, ou seja, quem poderá garantir a maioria dos votos.
Deputados de uma ala do partido consideram viável a aliança alternativa entre o líder do PSD, Antonio Brito (BA), e o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA). Essa dupla tem se apresentado como mais governista que o líder do Republicanos, que tem apoio do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para um setor da bancada, há um temor de que Motta prolongue o “modo Lira” de gerenciar a Casa, com falta de previsibilidade das pautas e concentração de poderes em poucos deputados. Há uma avaliação, ainda, de que o governo se beneficia com a indefinição da sucessão, porque uma consolidação precoce em torno de Motta poderia inviabilizar negociações de interesse do Planalto.
Odair afirmou que o PT quer um presidente da Câmara que dialogue de forma institucional com o governo e garanta a participação “democrática” e “civilizada” dos deputados. Quem comanda a Casa, segundo ele, tem que ser “árbitro”. Além disso, o foco do partido é dar estabilidade ao governo.
“Isso implica numa movimentação em relação às forças que trouxeram o presidente Arthur Lira à presidência da Casa. Nossa compreensão é de que este processo de construção que o presidente Arthur Lira vem coordenando é pela manutenção desse blocão”, disse.
“Nossa percepção geral é que a maioria da bancada tende pela candidatura da convergência, pela permanência no Blocão. Nós não queremos acirrar um processo de disputa aqui na casa. Nossa compreensão mais geral é de que a presidência da Casa não é para ser da oposição ou da situação”, emendou.
Como mostrou o Estadão/Broadcast, Motta negocia com o PT a 1ª Secretaria da Casa, caso seja eleito, em troca do apoio do partido Lula. Hoje, os petistas ocupam a 2ª Secretaria, com a deputada Maria do Rosário (RS).
Elmar e Brito, contudo, ofereceram a 1ª Vice-Presidência aos petistas. “Oferece (cargo) quem pode dar. Então nós precisamos checar se quem está oferecendo pode entregar aquilo que oferece”, minimizou Odair.
Em setembro, Odair anunciou nas redes sociais que Lira havia escolhido Motta como seu candidato. A postagem do petista ocorreu após um almoço em comemoração ao aniversário do líder do Republicanos.
Brito e Elmar, contudo, decidiram continuar na disputa pelo comando da Casa e fizeram uma aliança contra Motta e Lira - a ideia é que o candidato entre eles que tiver mais chances de ganhar assuma a candidatura mais para frente.
Elmar era considerado o favorito de Lira, por ser seu amigo pessoal. Nos bastidores, contudo, deputados diziam que o presidente da Câmara preferia Motta. Quando Marcos Pereira (SP),1º vice-presidente da Câmara na atual Legislatura e presidente do Republicanos, desistiu de concorrer e declarou apoio a Motta, Lira viu o caminho aberto para impulsionar o deputado paraibano.
Elmar e Brito reforçaram a aliança ao comparecerem juntos a pelo menos dois eventos recentes. No fim de semana, os dois participaram de celebrações do Círio de Nazaré, em Belém (PA), na companhia do ministro do Turismo, Celso Sabino, integrante do União. Na semana passada, chegaram lado a lado em festa do deputado Igor Timo (PSD-MG), em Brasília.
Em um casamento na Itália, Motta posou ao lado de outros líderes da Câmara e do presidente do PP, Ciro Nogueira, um dos principais opositores do governo Lula.