BRASÍLIA – O PT vai apoiar o que chama de “forças antibolsonaristas” no segundo turno das eleições municipais. Nas cidades onde foi derrotado na primeira rodada da disputa, como em Belo Horizonte (MG), o partido orientará o voto e participação em campanhas de candidatos que se opõem ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo que o nome seja de direita. A estratégia será discutida nesta terça-feira, 8, em reunião da Executiva Nacional do PT.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, avalia que a campanha do candidato do PSOL, Guilherme Boulos também deve ir atrás dos eleitores de Pablo Marçal (PRTB), que ficou em terceiro lugar, com 1.719.274 votos. A disputa da capital paulista é o confronto mais difícil para o campo da esquerda. Pesquisas de intenção de voto indicam que o prefeito Ricardo Nunes (MDB), adversário de Boulos, tende a herdar boa parte do espólio de Marçal.
“A eleição em São Paulo será fratricida e a gente tem de disputar esse eleitor. Não podemos deixá-lo largado”, disse Gleisi. “O Nunes foi mal para o segundo turno e agora vão jogar pesado contra nós”, completou a presidente do PT.
Na avaliação da deputada, nem todos os que optaram por Marçal são bolsonaristas. “Tem pessoas que votaram nele não pela questão ideológica, mas, sim, pelo estilo mais anarquista”, observou ela.
Marçal apresentou um laudo médico falso, a dois dias da votação, para sustentar que Boulos consumia drogas. Na disputa mais acirrada dos últimos tempos em São Paulo, uma diferença de apenas 56 mil votos separou Boulos de Marçal.
O balanço do primeiro turno e as apostas do PT para a segunda rodada dominarão a reunião da Executiva Nacional do PT, nesta terça-feira. Na capital mineira, por exemplo, o partido recomenda o apoio ao prefeito Fuad Noman (PSD), que concorre à reeleição e tem como adversário o deputado Bruno Engler (PL), aliado de Bolsonaro.
O deputado Rogério Correia, candidato derrotado do PT, ficou em sexto lugar na eleição em Belo Horizonte. Saiu magoado com a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha. Dias antes do primeiro turno, Correia disse ao Estadão que o vereador Álvaro Damião (União Brasil), vice na chapa de Fuad, é um fervoroso “anti-Lula”.
Mas o acordo entre o PT e o PSD de Gilberto Kassab – que em São Paulo respalda a candidatura de Nunes – tem na mira as eleições de 2026. Lula também quer apoiar um nome do PSD – o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco – ao governo de Minas, segundo maior colégio eleitoral do País. Em contrapartida, tenta fechar uma aliança com o PSD para sua campanha a novo mandato, daqui a dois anos.
Neste primeiro turno, o PT elegeu 248 prefeitos, em todo o País, e sofreu derrotas importantes. Nas eleições de 2020, a sigla conquistou 183 prefeituras, mas, após trocas partidárias, chegou a 265, como consta de documento produzido no mês passado pelo Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE).
Das quatro capitais onde agora disputa o segundo turno, o PT tem mais chance de vitória em Fortaleza, de acordo com pesquisas. Lá, Evandro Leitão, que trocou o PDT pelo PT, enfrenta o bolsonarista André Fernandes (PL), investigado por participar dos ataques de 8 de janeiro de 2023. As outras capitais onde o PT concorre são Porto Alegre, Natal e Cuiabá.
Lula desembarcará nesta sexta-feira, 11, em Fortaleza, para entregar moradias do Minha Casa, Minha Vida e o comitê de Leitão espera que ele faça agora um aceno maior para a campanha. A cúpula do PDT até hoje critica o presidente por ter ido à convenção que oficializou o nome do petista, quando o prefeito da cidade, José Sarto, filiado ao partido, disputava novo mandato. O PDT compõe a base de sustentação do governo Lula no Congresso. Sarto ficou em terceiro lugar e foi o primeiro prefeito da capital cearense a não ser reeleito no cargo.
De Fortaleza, Lula seguirá no sábado, 12, para Belém, onde participará da festa do Círio de Nazaré. Com o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) fora do embate, o presidente vai apoiar Igor Normando (MDB), primo em segundo grau do governador do Pará, Helder Barbalho, contra Éder Mauro, expoente do PL.
Gleisi discorda da avaliação de que o PT teve desempenho desastroso neste primeiro turno. “Quando a esquerda foi a grande vencedora das eleições municipais?”, perguntou a presidente do PT. “Quem sempre fez mais votos nas eleições locais foram partidos de centro para a direita porque é onde eles têm força política.”
O PL de Bolsonaro, porém, passou de 4,7 milhões de votos para prefeito, em 2020, para 15,7 milhões nesta primeira rodada da disputa, um crescimento de 236,2%. O PT, por sua vez, saiu de 6,9 milhões para 8,9 milhões de votos.
“Eu não estou dizendo que a gente não tenha problema nem tapando o sol com a peneira. Sei que teremos de virar a estratégia para combater a direita. Mas também não acho que o nosso resultado tenha sido uma catástrofe”, afirmou Gleisi.
A deputada elogiou a declaração de voto de Tabata Amaral (PSB) em Boulos e espera que ela grave vídeo e compareça a atos de campanha. Tabata, porém, resiste a subir no palanque do candidato. Há pedidos para que o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Empreendedorismo, Márcio França, do PSB, tentem convencê-la a mudar de ideia.
Partido cobra fatura de Eduardo Leite
Em Porto Alegre, o PT vai cobrar a fatura do apoio dado ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), quando ele era candidato, em 2022. A disputa do segundo turno na capital gaúcha é entre o prefeito Sebastião Melo (MDB) e a deputada Maria do Rosário (PT).
Agora, Lula e seu partido querem que Leite ajude na campanha da petista. O PL de Bolsonaro está no páreo em nove das quinze capitais que terão segundo turno: Belo Horizonte, Belém, Manaus, Goiânia, João Pessoa, Aracaju , Palmas, Cuiabá e Fortaleza. Nas duas últimas, enfrenta o PT de Lula.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, disse estar disposto a conversar com o PT para que o partido entre na campanha de Sandro Mabel (União Brasil) à Prefeitura de Goiânia. O adversário de Mabel é Fred Rodrigues (PL), candidato de Bolsonaro. Adriana Accorsi (PT) saiu do primeiro turno em terceiro lugar, com 24,44% dos votos.
Em Cuiabá, Gleisi acha possível fazer uma “frente com a direita responsável” para eleger Lúdio Cabral (PT) e derrotar o candidato bolsonarista Abílio Brunini (PL). Rafaela Fávaro, filha do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), é vice na chapa do petista Lúdio.