Quatro anos depois, chapas vitoriosas unindo PT e PL acumulam divórcios e têm repetição improvável


Partidos que rivalizam hoje no plano nacional fecharam apoio a um candidato do outro em 170 cidades nas eleições municipais de 2020, com vitórias nas urnas em 83

Por Samuel Lima

A polarização entre os partidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no plano nacional coloca à prova costuras políticas nos municípios feitas há quatro anos. Se em 2020 as alianças de ocasião renderam vitórias de algum candidato das duas legendas em 83 cidades, incluindo 21 em que o prefeito era de uma sigla e o vice da outra, o acordo ganha contornos bem mais improváveis este ano.

A lista de apoios diretos dentro das coligações engloba cidades como Diadema e Araraquara, em São Paulo. Nelas, José de Filippi Júnior (PT) e Edinho Silva (PT), respectivamente, venceram os pleitos com apoio do PL. Os dois partidos descartam repetir a aliança em 2024. O PL deve apoiar o candidato de oposição Taka Yamauchi (MDB) em Diadema, que é presidente da SPObras na capital paulista, e aposta em Dr. Lapena, nome próprio da sigla, em Araraquara.

Apesar de o presidente do PL em São Paulo ser o mesmo nos dois pleitos, José Tadeu Candelária, seu grupo político não vê margem para negociações do tipo atualmente. O motivo é claro: a guinada à direita do partido a partir da entrada de Bolsonaro e seus aliados, no meio dos mandatos municipais. “Presumo que não tenha nenhuma”, respondeu o deputado federal Antônio Carlos Rodrigues (PL) sobre possíveis focos de aliança entre PT e PL no Estado.

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Rodrigues é representante de uma ala mais antiga, o chamado “PL raiz”, que costuma adotar uma postura mais pragmática e por vezes rivaliza internamente com o núcleo bolsonarista. O tensionamento mais recente envolve uma norma editada pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, proibindo que seus integrantes apoiem candidatos de outros partidos em 2024. Parlamentares reclamam que nem Bolsonaro segue a regra.

Marcelo Delaroli (PL), prefeito de Itaboraí/RJ, segundo da esq. para dir., fez campanha com os petistas Washington Quaquá, Fabiano Horta e Lourival Casula, vice-prefeito, à dir., nas eleições de 2020. Foto: @marcelodelaroli via Instagram

Do outro lado do balcão, o acordo também é mal visto por conta da dita radicalização do partido que hoje abriga Bolsonaro. “Não existe qualquer chance. O PL de 2020 não tinha esse viés atual, era um partido de centro. É impossível se imaginar o PT se coligando com um partido que agora está na extrema direita”, afirma o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT), pré-candidato em São Bernardo do Campo e político influente no ABC paulista.

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Na sua cidade, o PL também apoiou um candidato do PT em 2020: o atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Ele, no entanto, acabou derrotado pelo prefeito Orlando Morando (PSDB). Em 2024, o partido de Valdemar dá sinais de apoio ao deputado federal Alex Manente (Cidadania) e pode indicar para vice na chapa o vereador bolsonarista Paulo Chuchu, ex-assessor de Eduardo Bolsonaro. Recentemente, o político assumiu o comando do diretório municipal, rifando aliados de Morando. Já o atual prefeito tenta emplacar a sobrinha, Flávia, filiada ao União Brasil.

PT e PL até ensaiaram uma aproximação em municípios como Maracanaú (CE), com diálogo aberto entre o deputado federal Júnior Mano (PL) e o deputado estadual Júlio Cesar Filho (PT), dois pré-candidatos de oposição. A cidade é governada há 20 anos pelo grupo do atual prefeito, Roberto Pessoa (União Brasil), e não tem segundo turno. O movimento, porém, esfriou e recebeu veto público do presidente estadual da sigla, Carmelo Neto, que é mais próximo de Bolsonaro. Neto diz que a pré-candidata oficial é a deputada estadual Dra. Silvana.

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Outra grande cidade em que o PT contou com o apoio do PL para conquistar a prefeitura foi Lauro de Freitas, na Bahia, cidade vizinha da capital Salvador. A prefeita Moema Gramacho (PT), em segundo mandato, pretende fazer um sucessor, enquanto o PL ensaiou lançar o deputado estadual Leandro de Jesus, mas recuou para compor com a oposicionista Débora Régis, do União Brasil. O diretório estadual é controlado por João Roma, ex-ministro da Cidadania no governo Bolsonaro.

Em tese, o PT não barra automaticamente acordos com o PL. Resolução aprovada pelo diretório nacional em agosto do ano passado veda somente apoio a candidatos alinhados com o bolsonarismo, sem especificar filiação partidária. Valdemar, por sua vez, afirmou publicamente que “não existe nenhuma hipótese de coligação com o PT” nas eleições municipais de 2024. Ainda assim, a restrição pode ser driblada com acenos ao polo oposto, como a retirada de candidaturas ou declarações de apoio no segundo turno.

Divórcio na prefeitura

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A situação é mais delicada em locais onde os partidos efetivamente formaram chapas. Em Itaboraí (RJ), por exemplo, o atual prefeito, Marcelo Delaroli (PL), e o vice-prefeito, Lourival Casula (PT), estão rompidos há cerca de dois anos. A chapa improvável foi costurada em 2020 pelo grupo do deputado federal Washington Quaquá, hoje pré-candidato a prefeito na vizinha Maricá (RJ).

Delaroli fez campanha aberta para Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022 e participou de manifestações convocadas pelo ex-presidente. Agora, em outubro, pode enfrentar a deputada estadual Zeidan (PT) caso confirme a tentativa de reeleição em Itaboraí. O PL também se prepara para entrar na briga em Maricá contra o PT, que governa a cidade por quatro mandatos consecutivos. O candidato mais provável da sigla é o vereador bolsonarista Ricardo Netuno (PL).

O Estadão não conseguiu contato com todas as 21 prefeituras que tiveram uma chapa formada por PT e PL eleita em 2020. Segundo informado pela gestão, Trindade do Sul (RS), município de base agrícola na região Norte do Estado, é um exemplo de município em que o prefeito Segalla (PT) e o vice Narciso Rossatto (PL) ainda atuam juntos, mas não há garantia de que a composição se repita nas eleições de outubro. Os políticos não concederam entrevista.

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A reportagem identificou ainda que ao menos duas chapas eleitas unindo candidatos de PT e PL concorreram sub judice e depois foram impugnadas pela Justiça Eleitoral, em João Dourado (BA) e Presidente Castello Branco (SC). Também há casos de abandono dos partidos pelos quais foram eleitos — como em Gameleira (PE), cujo prefeito, Dr. Leandro, trocou o PL pelo PSD a convite do ministro da Pesca, André de Paula.

O mapa de 170 alianças nas eleições de 2020 considera apenas municípios em que candidatos de PT ou PL encabeçaram as chapas, o que restringe o levantamento a apenas apoios diretos. Minas Gerais é o Estado com mais alianças do tipo (21), seguido de Bahia (18), Santa Catarina (17), Piauí (16) e Pará (13). Proporcionalmente, dividindo pela quantidade total de municípios, outros destaques na lista foram o Acre (2) e o Rio Grande do Norte (12).

Alegando cumprir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não disponibiliza mais a relação de prefeitos e suas respectivas filiações atuais. As definições de acordos para as eleições de 2024 ocorrem durante as convenções partidárias, realizadas obrigatoriamente no período entre 20 de julho e 5 de agosto. O prazo para registro da candidatura se encerra no dia 15 do mesmo mês. Somente com base nessa informação poderá ser verificado se efetivamente houve veto a coligações dentro dos partidos.

A polarização entre os partidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no plano nacional coloca à prova costuras políticas nos municípios feitas há quatro anos. Se em 2020 as alianças de ocasião renderam vitórias de algum candidato das duas legendas em 83 cidades, incluindo 21 em que o prefeito era de uma sigla e o vice da outra, o acordo ganha contornos bem mais improváveis este ano.

A lista de apoios diretos dentro das coligações engloba cidades como Diadema e Araraquara, em São Paulo. Nelas, José de Filippi Júnior (PT) e Edinho Silva (PT), respectivamente, venceram os pleitos com apoio do PL. Os dois partidos descartam repetir a aliança em 2024. O PL deve apoiar o candidato de oposição Taka Yamauchi (MDB) em Diadema, que é presidente da SPObras na capital paulista, e aposta em Dr. Lapena, nome próprio da sigla, em Araraquara.

Apesar de o presidente do PL em São Paulo ser o mesmo nos dois pleitos, José Tadeu Candelária, seu grupo político não vê margem para negociações do tipo atualmente. O motivo é claro: a guinada à direita do partido a partir da entrada de Bolsonaro e seus aliados, no meio dos mandatos municipais. “Presumo que não tenha nenhuma”, respondeu o deputado federal Antônio Carlos Rodrigues (PL) sobre possíveis focos de aliança entre PT e PL no Estado.

Rodrigues é representante de uma ala mais antiga, o chamado “PL raiz”, que costuma adotar uma postura mais pragmática e por vezes rivaliza internamente com o núcleo bolsonarista. O tensionamento mais recente envolve uma norma editada pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, proibindo que seus integrantes apoiem candidatos de outros partidos em 2024. Parlamentares reclamam que nem Bolsonaro segue a regra.

Marcelo Delaroli (PL), prefeito de Itaboraí/RJ, segundo da esq. para dir., fez campanha com os petistas Washington Quaquá, Fabiano Horta e Lourival Casula, vice-prefeito, à dir., nas eleições de 2020. Foto: @marcelodelaroli via Instagram

Do outro lado do balcão, o acordo também é mal visto por conta da dita radicalização do partido que hoje abriga Bolsonaro. “Não existe qualquer chance. O PL de 2020 não tinha esse viés atual, era um partido de centro. É impossível se imaginar o PT se coligando com um partido que agora está na extrema direita”, afirma o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT), pré-candidato em São Bernardo do Campo e político influente no ABC paulista.

Na sua cidade, o PL também apoiou um candidato do PT em 2020: o atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Ele, no entanto, acabou derrotado pelo prefeito Orlando Morando (PSDB). Em 2024, o partido de Valdemar dá sinais de apoio ao deputado federal Alex Manente (Cidadania) e pode indicar para vice na chapa o vereador bolsonarista Paulo Chuchu, ex-assessor de Eduardo Bolsonaro. Recentemente, o político assumiu o comando do diretório municipal, rifando aliados de Morando. Já o atual prefeito tenta emplacar a sobrinha, Flávia, filiada ao União Brasil.

PT e PL até ensaiaram uma aproximação em municípios como Maracanaú (CE), com diálogo aberto entre o deputado federal Júnior Mano (PL) e o deputado estadual Júlio Cesar Filho (PT), dois pré-candidatos de oposição. A cidade é governada há 20 anos pelo grupo do atual prefeito, Roberto Pessoa (União Brasil), e não tem segundo turno. O movimento, porém, esfriou e recebeu veto público do presidente estadual da sigla, Carmelo Neto, que é mais próximo de Bolsonaro. Neto diz que a pré-candidata oficial é a deputada estadual Dra. Silvana.

Outra grande cidade em que o PT contou com o apoio do PL para conquistar a prefeitura foi Lauro de Freitas, na Bahia, cidade vizinha da capital Salvador. A prefeita Moema Gramacho (PT), em segundo mandato, pretende fazer um sucessor, enquanto o PL ensaiou lançar o deputado estadual Leandro de Jesus, mas recuou para compor com a oposicionista Débora Régis, do União Brasil. O diretório estadual é controlado por João Roma, ex-ministro da Cidadania no governo Bolsonaro.

Em tese, o PT não barra automaticamente acordos com o PL. Resolução aprovada pelo diretório nacional em agosto do ano passado veda somente apoio a candidatos alinhados com o bolsonarismo, sem especificar filiação partidária. Valdemar, por sua vez, afirmou publicamente que “não existe nenhuma hipótese de coligação com o PT” nas eleições municipais de 2024. Ainda assim, a restrição pode ser driblada com acenos ao polo oposto, como a retirada de candidaturas ou declarações de apoio no segundo turno.

Divórcio na prefeitura

A situação é mais delicada em locais onde os partidos efetivamente formaram chapas. Em Itaboraí (RJ), por exemplo, o atual prefeito, Marcelo Delaroli (PL), e o vice-prefeito, Lourival Casula (PT), estão rompidos há cerca de dois anos. A chapa improvável foi costurada em 2020 pelo grupo do deputado federal Washington Quaquá, hoje pré-candidato a prefeito na vizinha Maricá (RJ).

Delaroli fez campanha aberta para Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022 e participou de manifestações convocadas pelo ex-presidente. Agora, em outubro, pode enfrentar a deputada estadual Zeidan (PT) caso confirme a tentativa de reeleição em Itaboraí. O PL também se prepara para entrar na briga em Maricá contra o PT, que governa a cidade por quatro mandatos consecutivos. O candidato mais provável da sigla é o vereador bolsonarista Ricardo Netuno (PL).

O Estadão não conseguiu contato com todas as 21 prefeituras que tiveram uma chapa formada por PT e PL eleita em 2020. Segundo informado pela gestão, Trindade do Sul (RS), município de base agrícola na região Norte do Estado, é um exemplo de município em que o prefeito Segalla (PT) e o vice Narciso Rossatto (PL) ainda atuam juntos, mas não há garantia de que a composição se repita nas eleições de outubro. Os políticos não concederam entrevista.

A reportagem identificou ainda que ao menos duas chapas eleitas unindo candidatos de PT e PL concorreram sub judice e depois foram impugnadas pela Justiça Eleitoral, em João Dourado (BA) e Presidente Castello Branco (SC). Também há casos de abandono dos partidos pelos quais foram eleitos — como em Gameleira (PE), cujo prefeito, Dr. Leandro, trocou o PL pelo PSD a convite do ministro da Pesca, André de Paula.

O mapa de 170 alianças nas eleições de 2020 considera apenas municípios em que candidatos de PT ou PL encabeçaram as chapas, o que restringe o levantamento a apenas apoios diretos. Minas Gerais é o Estado com mais alianças do tipo (21), seguido de Bahia (18), Santa Catarina (17), Piauí (16) e Pará (13). Proporcionalmente, dividindo pela quantidade total de municípios, outros destaques na lista foram o Acre (2) e o Rio Grande do Norte (12).

Alegando cumprir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não disponibiliza mais a relação de prefeitos e suas respectivas filiações atuais. As definições de acordos para as eleições de 2024 ocorrem durante as convenções partidárias, realizadas obrigatoriamente no período entre 20 de julho e 5 de agosto. O prazo para registro da candidatura se encerra no dia 15 do mesmo mês. Somente com base nessa informação poderá ser verificado se efetivamente houve veto a coligações dentro dos partidos.

A polarização entre os partidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no plano nacional coloca à prova costuras políticas nos municípios feitas há quatro anos. Se em 2020 as alianças de ocasião renderam vitórias de algum candidato das duas legendas em 83 cidades, incluindo 21 em que o prefeito era de uma sigla e o vice da outra, o acordo ganha contornos bem mais improváveis este ano.

A lista de apoios diretos dentro das coligações engloba cidades como Diadema e Araraquara, em São Paulo. Nelas, José de Filippi Júnior (PT) e Edinho Silva (PT), respectivamente, venceram os pleitos com apoio do PL. Os dois partidos descartam repetir a aliança em 2024. O PL deve apoiar o candidato de oposição Taka Yamauchi (MDB) em Diadema, que é presidente da SPObras na capital paulista, e aposta em Dr. Lapena, nome próprio da sigla, em Araraquara.

Apesar de o presidente do PL em São Paulo ser o mesmo nos dois pleitos, José Tadeu Candelária, seu grupo político não vê margem para negociações do tipo atualmente. O motivo é claro: a guinada à direita do partido a partir da entrada de Bolsonaro e seus aliados, no meio dos mandatos municipais. “Presumo que não tenha nenhuma”, respondeu o deputado federal Antônio Carlos Rodrigues (PL) sobre possíveis focos de aliança entre PT e PL no Estado.

Rodrigues é representante de uma ala mais antiga, o chamado “PL raiz”, que costuma adotar uma postura mais pragmática e por vezes rivaliza internamente com o núcleo bolsonarista. O tensionamento mais recente envolve uma norma editada pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, proibindo que seus integrantes apoiem candidatos de outros partidos em 2024. Parlamentares reclamam que nem Bolsonaro segue a regra.

Marcelo Delaroli (PL), prefeito de Itaboraí/RJ, segundo da esq. para dir., fez campanha com os petistas Washington Quaquá, Fabiano Horta e Lourival Casula, vice-prefeito, à dir., nas eleições de 2020. Foto: @marcelodelaroli via Instagram

Do outro lado do balcão, o acordo também é mal visto por conta da dita radicalização do partido que hoje abriga Bolsonaro. “Não existe qualquer chance. O PL de 2020 não tinha esse viés atual, era um partido de centro. É impossível se imaginar o PT se coligando com um partido que agora está na extrema direita”, afirma o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT), pré-candidato em São Bernardo do Campo e político influente no ABC paulista.

Na sua cidade, o PL também apoiou um candidato do PT em 2020: o atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Ele, no entanto, acabou derrotado pelo prefeito Orlando Morando (PSDB). Em 2024, o partido de Valdemar dá sinais de apoio ao deputado federal Alex Manente (Cidadania) e pode indicar para vice na chapa o vereador bolsonarista Paulo Chuchu, ex-assessor de Eduardo Bolsonaro. Recentemente, o político assumiu o comando do diretório municipal, rifando aliados de Morando. Já o atual prefeito tenta emplacar a sobrinha, Flávia, filiada ao União Brasil.

PT e PL até ensaiaram uma aproximação em municípios como Maracanaú (CE), com diálogo aberto entre o deputado federal Júnior Mano (PL) e o deputado estadual Júlio Cesar Filho (PT), dois pré-candidatos de oposição. A cidade é governada há 20 anos pelo grupo do atual prefeito, Roberto Pessoa (União Brasil), e não tem segundo turno. O movimento, porém, esfriou e recebeu veto público do presidente estadual da sigla, Carmelo Neto, que é mais próximo de Bolsonaro. Neto diz que a pré-candidata oficial é a deputada estadual Dra. Silvana.

Outra grande cidade em que o PT contou com o apoio do PL para conquistar a prefeitura foi Lauro de Freitas, na Bahia, cidade vizinha da capital Salvador. A prefeita Moema Gramacho (PT), em segundo mandato, pretende fazer um sucessor, enquanto o PL ensaiou lançar o deputado estadual Leandro de Jesus, mas recuou para compor com a oposicionista Débora Régis, do União Brasil. O diretório estadual é controlado por João Roma, ex-ministro da Cidadania no governo Bolsonaro.

Em tese, o PT não barra automaticamente acordos com o PL. Resolução aprovada pelo diretório nacional em agosto do ano passado veda somente apoio a candidatos alinhados com o bolsonarismo, sem especificar filiação partidária. Valdemar, por sua vez, afirmou publicamente que “não existe nenhuma hipótese de coligação com o PT” nas eleições municipais de 2024. Ainda assim, a restrição pode ser driblada com acenos ao polo oposto, como a retirada de candidaturas ou declarações de apoio no segundo turno.

Divórcio na prefeitura

A situação é mais delicada em locais onde os partidos efetivamente formaram chapas. Em Itaboraí (RJ), por exemplo, o atual prefeito, Marcelo Delaroli (PL), e o vice-prefeito, Lourival Casula (PT), estão rompidos há cerca de dois anos. A chapa improvável foi costurada em 2020 pelo grupo do deputado federal Washington Quaquá, hoje pré-candidato a prefeito na vizinha Maricá (RJ).

Delaroli fez campanha aberta para Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022 e participou de manifestações convocadas pelo ex-presidente. Agora, em outubro, pode enfrentar a deputada estadual Zeidan (PT) caso confirme a tentativa de reeleição em Itaboraí. O PL também se prepara para entrar na briga em Maricá contra o PT, que governa a cidade por quatro mandatos consecutivos. O candidato mais provável da sigla é o vereador bolsonarista Ricardo Netuno (PL).

O Estadão não conseguiu contato com todas as 21 prefeituras que tiveram uma chapa formada por PT e PL eleita em 2020. Segundo informado pela gestão, Trindade do Sul (RS), município de base agrícola na região Norte do Estado, é um exemplo de município em que o prefeito Segalla (PT) e o vice Narciso Rossatto (PL) ainda atuam juntos, mas não há garantia de que a composição se repita nas eleições de outubro. Os políticos não concederam entrevista.

A reportagem identificou ainda que ao menos duas chapas eleitas unindo candidatos de PT e PL concorreram sub judice e depois foram impugnadas pela Justiça Eleitoral, em João Dourado (BA) e Presidente Castello Branco (SC). Também há casos de abandono dos partidos pelos quais foram eleitos — como em Gameleira (PE), cujo prefeito, Dr. Leandro, trocou o PL pelo PSD a convite do ministro da Pesca, André de Paula.

O mapa de 170 alianças nas eleições de 2020 considera apenas municípios em que candidatos de PT ou PL encabeçaram as chapas, o que restringe o levantamento a apenas apoios diretos. Minas Gerais é o Estado com mais alianças do tipo (21), seguido de Bahia (18), Santa Catarina (17), Piauí (16) e Pará (13). Proporcionalmente, dividindo pela quantidade total de municípios, outros destaques na lista foram o Acre (2) e o Rio Grande do Norte (12).

Alegando cumprir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não disponibiliza mais a relação de prefeitos e suas respectivas filiações atuais. As definições de acordos para as eleições de 2024 ocorrem durante as convenções partidárias, realizadas obrigatoriamente no período entre 20 de julho e 5 de agosto. O prazo para registro da candidatura se encerra no dia 15 do mesmo mês. Somente com base nessa informação poderá ser verificado se efetivamente houve veto a coligações dentro dos partidos.

A polarização entre os partidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no plano nacional coloca à prova costuras políticas nos municípios feitas há quatro anos. Se em 2020 as alianças de ocasião renderam vitórias de algum candidato das duas legendas em 83 cidades, incluindo 21 em que o prefeito era de uma sigla e o vice da outra, o acordo ganha contornos bem mais improváveis este ano.

A lista de apoios diretos dentro das coligações engloba cidades como Diadema e Araraquara, em São Paulo. Nelas, José de Filippi Júnior (PT) e Edinho Silva (PT), respectivamente, venceram os pleitos com apoio do PL. Os dois partidos descartam repetir a aliança em 2024. O PL deve apoiar o candidato de oposição Taka Yamauchi (MDB) em Diadema, que é presidente da SPObras na capital paulista, e aposta em Dr. Lapena, nome próprio da sigla, em Araraquara.

Apesar de o presidente do PL em São Paulo ser o mesmo nos dois pleitos, José Tadeu Candelária, seu grupo político não vê margem para negociações do tipo atualmente. O motivo é claro: a guinada à direita do partido a partir da entrada de Bolsonaro e seus aliados, no meio dos mandatos municipais. “Presumo que não tenha nenhuma”, respondeu o deputado federal Antônio Carlos Rodrigues (PL) sobre possíveis focos de aliança entre PT e PL no Estado.

Rodrigues é representante de uma ala mais antiga, o chamado “PL raiz”, que costuma adotar uma postura mais pragmática e por vezes rivaliza internamente com o núcleo bolsonarista. O tensionamento mais recente envolve uma norma editada pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, proibindo que seus integrantes apoiem candidatos de outros partidos em 2024. Parlamentares reclamam que nem Bolsonaro segue a regra.

Marcelo Delaroli (PL), prefeito de Itaboraí/RJ, segundo da esq. para dir., fez campanha com os petistas Washington Quaquá, Fabiano Horta e Lourival Casula, vice-prefeito, à dir., nas eleições de 2020. Foto: @marcelodelaroli via Instagram

Do outro lado do balcão, o acordo também é mal visto por conta da dita radicalização do partido que hoje abriga Bolsonaro. “Não existe qualquer chance. O PL de 2020 não tinha esse viés atual, era um partido de centro. É impossível se imaginar o PT se coligando com um partido que agora está na extrema direita”, afirma o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT), pré-candidato em São Bernardo do Campo e político influente no ABC paulista.

Na sua cidade, o PL também apoiou um candidato do PT em 2020: o atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Ele, no entanto, acabou derrotado pelo prefeito Orlando Morando (PSDB). Em 2024, o partido de Valdemar dá sinais de apoio ao deputado federal Alex Manente (Cidadania) e pode indicar para vice na chapa o vereador bolsonarista Paulo Chuchu, ex-assessor de Eduardo Bolsonaro. Recentemente, o político assumiu o comando do diretório municipal, rifando aliados de Morando. Já o atual prefeito tenta emplacar a sobrinha, Flávia, filiada ao União Brasil.

PT e PL até ensaiaram uma aproximação em municípios como Maracanaú (CE), com diálogo aberto entre o deputado federal Júnior Mano (PL) e o deputado estadual Júlio Cesar Filho (PT), dois pré-candidatos de oposição. A cidade é governada há 20 anos pelo grupo do atual prefeito, Roberto Pessoa (União Brasil), e não tem segundo turno. O movimento, porém, esfriou e recebeu veto público do presidente estadual da sigla, Carmelo Neto, que é mais próximo de Bolsonaro. Neto diz que a pré-candidata oficial é a deputada estadual Dra. Silvana.

Outra grande cidade em que o PT contou com o apoio do PL para conquistar a prefeitura foi Lauro de Freitas, na Bahia, cidade vizinha da capital Salvador. A prefeita Moema Gramacho (PT), em segundo mandato, pretende fazer um sucessor, enquanto o PL ensaiou lançar o deputado estadual Leandro de Jesus, mas recuou para compor com a oposicionista Débora Régis, do União Brasil. O diretório estadual é controlado por João Roma, ex-ministro da Cidadania no governo Bolsonaro.

Em tese, o PT não barra automaticamente acordos com o PL. Resolução aprovada pelo diretório nacional em agosto do ano passado veda somente apoio a candidatos alinhados com o bolsonarismo, sem especificar filiação partidária. Valdemar, por sua vez, afirmou publicamente que “não existe nenhuma hipótese de coligação com o PT” nas eleições municipais de 2024. Ainda assim, a restrição pode ser driblada com acenos ao polo oposto, como a retirada de candidaturas ou declarações de apoio no segundo turno.

Divórcio na prefeitura

A situação é mais delicada em locais onde os partidos efetivamente formaram chapas. Em Itaboraí (RJ), por exemplo, o atual prefeito, Marcelo Delaroli (PL), e o vice-prefeito, Lourival Casula (PT), estão rompidos há cerca de dois anos. A chapa improvável foi costurada em 2020 pelo grupo do deputado federal Washington Quaquá, hoje pré-candidato a prefeito na vizinha Maricá (RJ).

Delaroli fez campanha aberta para Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022 e participou de manifestações convocadas pelo ex-presidente. Agora, em outubro, pode enfrentar a deputada estadual Zeidan (PT) caso confirme a tentativa de reeleição em Itaboraí. O PL também se prepara para entrar na briga em Maricá contra o PT, que governa a cidade por quatro mandatos consecutivos. O candidato mais provável da sigla é o vereador bolsonarista Ricardo Netuno (PL).

O Estadão não conseguiu contato com todas as 21 prefeituras que tiveram uma chapa formada por PT e PL eleita em 2020. Segundo informado pela gestão, Trindade do Sul (RS), município de base agrícola na região Norte do Estado, é um exemplo de município em que o prefeito Segalla (PT) e o vice Narciso Rossatto (PL) ainda atuam juntos, mas não há garantia de que a composição se repita nas eleições de outubro. Os políticos não concederam entrevista.

A reportagem identificou ainda que ao menos duas chapas eleitas unindo candidatos de PT e PL concorreram sub judice e depois foram impugnadas pela Justiça Eleitoral, em João Dourado (BA) e Presidente Castello Branco (SC). Também há casos de abandono dos partidos pelos quais foram eleitos — como em Gameleira (PE), cujo prefeito, Dr. Leandro, trocou o PL pelo PSD a convite do ministro da Pesca, André de Paula.

O mapa de 170 alianças nas eleições de 2020 considera apenas municípios em que candidatos de PT ou PL encabeçaram as chapas, o que restringe o levantamento a apenas apoios diretos. Minas Gerais é o Estado com mais alianças do tipo (21), seguido de Bahia (18), Santa Catarina (17), Piauí (16) e Pará (13). Proporcionalmente, dividindo pela quantidade total de municípios, outros destaques na lista foram o Acre (2) e o Rio Grande do Norte (12).

Alegando cumprir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não disponibiliza mais a relação de prefeitos e suas respectivas filiações atuais. As definições de acordos para as eleições de 2024 ocorrem durante as convenções partidárias, realizadas obrigatoriamente no período entre 20 de julho e 5 de agosto. O prazo para registro da candidatura se encerra no dia 15 do mesmo mês. Somente com base nessa informação poderá ser verificado se efetivamente houve veto a coligações dentro dos partidos.

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