RIO – Aliados de Jair Bolsonaro vão tentar se associar ou reforçar a proximidade com o presidente em busca de uma de vaga na Câmara dos Deputados pelo Rio de Janeiro, berço do bolsonarismo. Entre os pré-candidatos estão o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, que foi alvo de investigação em esquema de rachadinha no gabinete de Flávio; Waldir Ferraz, amigo do presidente e um dos idealizadores das motociatas pelo País; e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
Os “nomes de Bolsonaro” no Rio, como Waldir costuma chamar os pré-candidatos, buscam repetir o fenômeno de 2018 e surfar na onda bolsonarista rumo a Brasília. A cartilha a ser seguida pelos aliados do presidente é a mesma defendida por congressistas alinhados ao presidente: investir em pautas de costumes, no sentimento antipetista e no confronto com as instituições.
Uma mostra de como será a campanha eleitoral se deu em um bar na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, com a presença de Waldir e Pazuello. A poucos metros do condomínio Vivendas da Barra, residência do clã Bolsonaro, cerca de cem apoiadores do presidente, a maioria homens brancos de meia idade, repetiram teorias da conspiração contra o processo eleitoral, fizeram ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao PT, além de exaltarem “o capitão”.
Ao som de clássicos da MPB, com uma rodada de chope e salgados liberados, o encontro, na noite da quinta-feira da semana passada, tinha como tema o debate sobre a “formação da base política da direita conservadora contra o ativismo político e judicial”.
Amigo do presidente desde os anos 1980, Waldir já atuou como assessor de Bolsonaro e foi candidato a vereador em 2020, não sendo eleito. “Com a minha ajuda é que o presidente está lá. Nós começamos a fazer campanha em 1987 para vereador”, afirmou Waldir, que busca uma vaga na Câmara pelo PL, partido de Bolsonaro.
Pazuello foi ovacionado e aplaudido por bolsonaristas ao chegar ao Beco do Alemão. Enquanto os companheiros de mesa e convidados inflamavam o restante da plateia com críticas ao PT, a Lula e ao STF, o general disse que os militantes deveriam focar na reeleição do presidente: “Não merecemos rompimentos constitucionais”, afirmou o ex-ministro, que cogitou pré-candidatura ao Senado, mas deve disputar uma vaga na Câmara. Ele se filiou ao PL.
Queiroz, do PTB e ex-assessor do senador Flávio, não esteve presente ao encontro, mas, em entrevista recente, afirmou que está confiante em um apoio direto da família Bolsonaro para a sua candidatura a deputado federal. “Em qualquer lugar que eu vou: ‘E aí, eles (Jair e Flávio) vão te apoiar’? Eu falei: ‘Cara, é um absurdo se não apoiarem’.”
Efeito limitado
Os aliados do presidente, porém, não devem encontrar o mesmo cenário de 2018, em que o então deputado federal Jair Bolsonaro, sem tempo de televisão e recursos de campanha, conseguiu eleger no Rio a maior bancada de representantes das forças policiais. O partido com maior número de eleitos para a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) foi o PSL, então legenda de Bolsonaro, com 13. O mais votado foi Rodrigo Amorim, que apareceu ao lado de Daniel Silveira e Witzel exibindo uma placa rasgada com o nome da vereadora Marielle Franco em um ato pró-Bolsonaro.
Segundo o cientista político Marcus Ianoni, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), a força de Bolsonaro para eleger candidatos a deputados, senadores e governadores neste ano deve ser limitada.
“A força política e o apoio do presidente não reverteram em votos nas eleições de 2020. Agora, ele terá ainda pela frente questionamentos sobre as ações do governo, economia, pandemia... e terá, do outro lado, um forte concorrente, que é o ex-presidente Lula”, diz.