Preso novamente nesta segunda-feira, 20, o doleiro Alberto Youssef foi o pivô e um dos principais delatores da Operação Lava Jato na frente de investigação que mirou desvios na Petrobras. Seu depoimento ao então juiz Sérgio Moro praticamente desencadeou as descobertas seguintes da força-tarefa, dado que ele foi um dos primeiros presos pela operação. Seu depoimento ainda levaria à abertura de investigações contra políticos e empresários.
Reincidente no crime de corrupção passiva, foi Youssef, inclusive, o protagonista do primeiro acordo de delação premiada da história do País, em 2003, quando foi condenado pelo Caso Banestado. Naquela época, mais de uma década antes do início da Lava Jato, o doleiro foi preso em decorrência do esquema de remessas ilegais de dinheiro para o exterior envolvendo o banco público do Paraná, alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara.
Doleiro é como é chamada a pessoa que opera um mercado paralelo de câmbio, geralmente de compra e venda de dólares, para auxiliar, por exemplo, na lavagem de dinheiro e no envio de recursos para paraísos fiscais. É descrito como crime contra o sistema financeiro nacional pelo artigo 16º da lei 7.492, que proíbe “operar, sem a devida autorização, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de câmbio”.
Mesmo condenado, o doleiro foi solto após fechar o primeiro acordo de colaboração premiada da história brasileira com o Ministério Público Federal. Mais de uma década depois, a ex-presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei de Organizações Criminosas, que homologou esse tipo de depoimento inaugurado por Youssef.
Mas Youssef voltou à mira de investigações em 2014, pela 13ª Vara Federal de Curitiba. Como era reincidente, perdeu o benefício da delação premiada de 2003 e foi preso. A primeira fase de investigação da Lava Jato, que o tornou alvo novamente, mirava desvios e lavagem de dinheiro na Petrobras, e teve como ponto de partida a suspeita de que o doleiro tinha dado um Land Rover de R$ 300 mil ao então diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa.
Desencadeada pela delação de Youssef, a operação teve 80 fases, alterou o eixo do poder e deu combustível ao impeachment de Dilma Rousseff. O doleiro foi condenado por lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas, após fechar novo acordo de delação, migrou para a prisão domiciliar em 2016.
Na delação premiada concedida à força-tarefa, Youssef confessou que a corrupção era “a regra do jogo” nos contratos da Petrobrás. As revelações feitas por ele e por Costa, alvos iniciais da investigação, deram nova dimensão à Lava Jato e levaram empreiteiras como Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez para a mira das investigações.
As declarações de Youssef ajudaram a embasar a abertura de inquérito contra 47 políticos suspeitos de envolvimento no esquema na Petrobrás, entre eles Renan Calheiros (MDB-AL) e Eduardo Cunha (MDB-RJ), então presidentes do Senado e da Câmara. Foi quando a operação passou a estender a investigação a políticos, o que culminou, em 2018, com a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além das condenações nos casos do Banestado e da Petrobras, Youssef também foi citado nas investigações do mensalão e, em 2015, foi condenado por lavar pelo menos R$ 1,16 milhão de um total de R$ 4,1 milhões repassados pelo empresário Marcos Valério, operador do mensalão, ao então deputado federal José Janene (PR), líder do PP na Câmara na época do escândalo que abalou o governo Lula.
Nova prisão
Segundo o despacho do juiz federal Eduardo Appio, responsável pela mais recente prisão de Youssef, o doleiro enfrenta atualmente 28 processos, sendo que 13 deles se encontram suspensos pelo prazo de 10 anos a pedido da Lava Jato, por conta da delação. Desta vez, o doleiro foi preso pelo crime fiscal, isto é, por não ter quitado com o Fisco os débitos decorrentes de suas condenações anteriores.
“O simples fato de que possui diversos endereços e de que estaria morando na praia já evidencia uma situação muito privilegiada e que resulta incompatível com todas as condenações já proferidas em matéria criminal”, sustentou o juiz.