BRASÍLIA – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciou nesta terça-feira, 29, apoio ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) para a sucessão no comando da Casa. Motta, favorito a presidir a Casa a partir de fevereiro do ano que vem, iniciou a trajetória política como pupilo de Eduardo Cunha (PTB-SP), algoz da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Médico de formação, Hugo Motta tem 35 anos e é natural de João Pessoa, capital da Paraíba. Ele é de uma família política tradicional de Patos, no interior do Estado. A avó materna, o avô paterno e o pai dele foram prefeitos do município. O avô materno dele, Edivaldo Mota, ocupou uma cadeira da Câmara entre 1987 e 1992.
O nome de Motta para a sucessão da Lira não era apontado até o fim de agosto, quando o Centrão e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) articularam para colocá-lo como sucessor ao comando da Casa, o que foi aceito pelo alagoano. Até aquele momento, os favoritos à sucessão eram Elmar Nascimento (União-BA) e Antonio Brito (PSD-BA).
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Além de fazer parte do grupo de lideranças do Centrão que orbita em torno de Lira, Motta é apontado como um parlamentar capaz de unir os dois grandes blocos da Casa. O paraibano integra a aliança que reúne Republicanos, MDB, PSD e Podemos, mas tem trânsito com o PP e o União Brasil.
A carreira política de Hugo Motta começou em 2010, quando se elegeu deputado federal aos 21 anos e 22 dias de idade, obtendo 86.150 votos. Na ocasião, se tornou o parlamentar mais jovem da história a ser eleito, feito que mantém até hoje.
Com o reduto eleitoral em Patos, Motta se candidatou a uma vaga na Câmara outras três vezes, em 2014, 2018 e 2022, e saiu vitorioso em todos os pleitos.
Proximidade entre Hugo Motta e Lula
Entre 2010 e 2018, Hugo Motta foi filiado ao MDB. No partido, ele se tornou um dos membros da “tropa de choque” de Eduardo Cunha, que incluía outros deputados, como Carlos Marun (MDB-MS), Wellington Roberto (PL-PB), Cacá Leão (PP-BA) e o próprio Arthur Lira.
Hoje, Hugo Motta é próximo do governo federal, mas, em 2016, ele votou a favor do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A petista teve o mandato cassado devido ao escândalo das pedaladas fiscais, revelado pelo Estadão.
“Senhor presidente, com o orgulho de representar nesta Casa, o povo do meu Estado, a Paraíba, convicto ainda mais da necessidade de uma união nacional depois deste processo, para que o Brasil retome o seu crescimento e o seu desenvolvimento, eu voto sim”, disse Motta, ao votar a favor da admissibilidade do processo de impeachment de Dilma em abril daquele ano. O voto dele foi o de número 332 para o afastamento da petista – eram necessários 342 para tirá-la do cargo. O placar final foi de 367 a 137.
Oito anos após o impeachment de Dilma, Motta se tornou uma figura próxima do governo Lula na Paraíba. Ele tem boa relação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e recebeu afagos da equipe econômica em um evento realizado em janeiro deste ano.
Motta deixou o MDB em 2018, se filiando ao Republicanos. Com influência no partido, hoje ele é líder da bancada da sigla na Câmara. O favorito a presidir a Casa é mais próximo de Lira do que do deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP), presidente nacional da sigla.
Aliados dizem que ele é “correto”, “competente” e tem “palavra”, ou seja, cumpre o que promete. O círculo próximo de Motta também o classifica como um parlamentar atencioso com os deputados, não apenas com os líderes, mas também com o chamado “baixo clero”, termo usado para se referir a parlamentares de pouca expressão política na Câmara.
Hugo Motta presidiu CPI que investigou corrupção na Petrobras
Em 13 anos na Câmara dos Deputados, Motta protocolou 29 projetos de lei, uma média de duas propostas por ano. Nenhum deles foi aprovado.
Já uma proposta de emenda à constituição (PEC) de autoria do paraibano alterou a Constituição em 2014. O texto incluiu na Carta Magna uma delimitação das carreiras dos agentes públicos municipais responsáveis pelo policiamento de trânsito.
Ele também foi o relator, em 2021, da chamada “PEC emergencial”, que permitiu ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pagar auxílios na pandemia de covid-19. Ele também relatou o texto da PEC dos Precatórios na Câmara, que limitou o valor de despesas anuais com precatórios (requisições de pagamento determinadas pela Justiça). O texto de Motta também corrigiu os valores pela taxa de juros e estabeleceu um teto anual para essas dívidas.
Em 2015, Motta presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou suspeitas de corrupção na Petrobras. O colegiado encerrou os trabalhos sem pedir indiciamentos.