SÃO PAULO – Com 5,1 milhões de seguidores no Instagram, a biografia de Pablo Marçal no perfil da rede social leva a um grupo de WhatsApp chamado “Generais do Reino”, que está na sua edição de número 147. Ele se apresenta como coach, palavra inglesa que significa “treinador”, usada para designar pessoas que trabalham com cursos, palestras e treinamentos motivacionais.
Marçal foi alvo nesta quarta-feira, 5, de uma operação da Polícia Federal que o investiga pelos crimes eleitorais de falsidade ideológica, apropriação indébita e lavagem de capitais. Em 2022, ele foi candidato a deputado federal pelo PROS (incorporado ao Solidariedade), mas foi cassado pela Justiça.
A Polícia suspeita que o coach tenha gastado verbas de campanha com serviços das empresas dele. Nos endereços vistoriados por agentes como supostas sedes das empresas do coach, havia apenas duas meses de jogos (sinuca e pingue-pongue), como mostrou o Estadão.
Nas redes sociais, Marçal se define como escritor e investidor. A pretensão mais alta dele é ser presidente da República, o que ele reforçou nas redes sociais nesta quarta. Nas eleições passadas, tentou se candidatar à Presidência pelo PROS, mas o partido cancelou o registro de candidatura do coach para apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Diante do revés, Marçal se tornou cabo eleitoral de Jair Bolsonaro (PL), para quem fez campanha, e disputou o cargo de deputado federal.
No registro da candidatura apresentado para a tentativa de concorrer à Presidência, Marçal declarou um patrimônio de R$ 96,9 milhões. Natural de Goiânia, casado, com 37 anos, ele tem um site onde hospeda a venda de um “guia prático” de inteligência emocional, que custa R$ 497 à vista. “Elimine o seu vitimismo e transforme qualquer caos em energia para prosperar!”, diz a chamada.
Em um vídeo publicado em seu perfil do Instagram, Marçal rebateu a operação da Polícia Federal. Ele se disse vítima de “perseguição política”.
Nome no tênis
Para além dos flertes com a política institucional, que lhe renderam a investigação da Polícia Federal responsável pela operação desta quarta, a carreira do coach é rodeada de polêmicas.
No começo de junho, o jovem Bruno da Silva Teixeira, de 26 anos, funcionário de Marçal, morreu durante uma “maratona surpresa” organizada pela empresa, vítima de uma parada cardiorrespiratória. O trecho tinha 42 quilômetros, e o rapaz faleceu no 15°. Na primeira manifestação sobre o ocorrido, o coach decidiu colocar o nome do rapaz no tênis, como homenagem.
“Tem gente canalha falando que obriguei o funcionário a correr. Mentira, não existe isso. Respeita o cara, morreu novo. Mil e trezentas pessoas morrem por dia com problema de coração. Passa na porta aqui da minha empresa. Nós vamos ficar 70 dias com as bandeiras baixas, nós estamos de luto por ele”, disse Marçal na ocasião. Ele é investigado pela Polícia Civil pela morte.
Descarga elétrica
Na segunda-feira passada, 26, outra pessoa morreu em dependências do coach. Celso Guimarães Silva, de 49 anos, trabalhava como técnico de audiovisual e sofreu uma descarga elétrica dentro de um estúdio de Marçal. Ele caiu de uma altura de três metros e morreu no hospital.
A Polícia Civil investiga as circunstâncias do caso.
Pico dos Marins
Um episódio de grande repercussão envolvendo o coach foi uma expedição que ele guiou até o Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, em janeiro de 2022. O percurso, de 2.420 quilômetros, é considerado difícil, exige equipamentos específicos e preparo físico.
As 32 pessoas que acompanhavam Marçal e o próprio coach precisaram ser resgatados por uma operação dos Bombeiros. Uma ordem judicial proíbe que ele realize novas expedições similares sem autorização prévia da Polícia Militar.
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O que diz a defesa
O advogado Tassio Renam, que representa Pablo Marçal, afirmou que “nenhum ilícito foi praticado e nenhum centavo de dinheiro público foi utilizado nas campanhas eleitorais” do coach.
Leia a nota na íntegra:
No dia de hoje foram cumpridos alguns mandados de busca e apreensão no endereço residencial do Sr. Pablo Marçal, e também em três de suas empresas. Foram cumpridas diligências ainda na residência de um sócio e também na minha residência por ser seu advogado.
Trata-se de uma investigação judicial eleitoral conduzida pela 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, que visa apurar movimentações financeiras ocorridas na época de campanha para Presidente da República e Deputado Federal.
Cumpre esclarecer que, em nenhuma das campanhas, foram utilizados recursos de origem partidária, sendo todas as despesas pagas através de recursos próprios ou de doações de terceiros. O cerne da investigação gira sobre o fato de Pablo ter sido o maior doador de sua campanha, e ter locado veículos e aeronaves de empresas da qual faz parte do quadro societário, movimento esse que não infringe qualquer norma legal, uma vez que foram utilizados os instrumentos jurídicos aceitáveis pela justiça eleitoral.
As diligências foram conduzidas de maneira profissional pelos agentes envolvidos na operação, que recolheram apenas computadores e celulares dos investigados.
Reiteramos que nenhum ilícito foi praticado e nenhum centavo de dinheiro público foi utilizado nas campanhas eleitorais, sendo todas as prestações de contas apresentadas aos tribunais eleitorais competente para julgamento.
Conforme noticiado, a prestação de contas para o cargo de deputado federal foi indeferida com base em pontos controversos, sobre os quais já foram impetrados os instrumentos jurídicos necessários, para que a decisão seja revista, e a prestação de contas seja deferida.
Toda cooperação necessária para o esclarecimento dos fatos estão e continuaram sendo prestadas, para pôr fim à esse equívoco o mais rápido possível.
Tassio Renam, advogado