O deputado estadual de Goiás Amauri Ribeiro (União Brasil), alvo de mandados de busca e apreensão nesta terça-feira, 29, em uma das fases da Operação Lesa Pátria, coleciona polêmicas e acusações na trajetória política. O parlamentar responde a denúncias de racismo, homofobia e ameaça, já admitiu ter espancado a filha e prometeu uma “guerra civil” caso Jair Bolsonaro (PL), de quem é apoiador, perdesse as eleições.
Sempre usando chapéu de vaqueiro, o deputado disse no dia 6 de junho que “deveria estar preso” por ter ajudado, com dinheiro, comida e água, os radicais que estavam nos acampamentos em frente aos quartéis do Exército, protestando contra o resultado das eleições. Ribeiro também confessou ter acampado junto com os manifestantes e afirmou que “faria tudo de novo”.
Apesar da fala contundente, dias depois o deputado contratou Demóstenes Torres, advogado e ex-senador, cassado em 2012, para ingressar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) e evitar um “eventual pedido de prisão preventiva”. Demóstenes também cuidou da defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que estava preso por suposta participação nos atos do 8 de janeiro.
Trajetória política
Ribeiro começou a carreira política na cidade goiana de Piracanjuba, que tem cerca de 25 mil habitantes e cujo nome ficou conhecido em todo o território nacional pela fábrica de laticínios que foi instalada no município em 1955. Em 2008, Ribeiro foi eleito vereador pelo PSDB. Nas eleições seguintes, em 2012, já no PRP, ele se tornou prefeito da cidade.
Em 2018, foi eleito deputado estadual de Goiás pelo quociente partidário. No último pleito, em 2022, ele disputou a reeleição já filiado ao União Brasil. No mandato passado, se filiou ao Patriota.
Quando chegou à Assembleia Legislativa de Goiás pela primeira vez, em fevereiro de 2019, a esposa de Ribeiro ficou sentada em seu colo durante a cerimônia de posse.
Nessas últimas eleições, ele declarou um patrimônio de R$ 767 mil, que comporta quatro terrenos em Piracanjuba, um apartamento e dois carros.
Guerra civil
Durante o segundo turno das eleições do ano passado, Ribeiro discursou prometendo uma “guerra civil” caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhasse. O deputado diz a um manifestante que ele “está do lado errado” e entoa a ameaça: “se o seu presidente ganhar, vai acontecer uma guerra civil neste País”.
Em seguida, Amauri Ribeiro, que havia acabado de reeleger para a cadeira no Legislativo estadual, disse “eu sou reservista, e, se eu for convocado, vou para a rua e vou empunhar uma arma. Deus que te livre de estar do outro lado”, se dirigindo ao mesmo manifestante.
‘Merecia um tiro na cara’
No dia 5 de agosto de 2021, discursando na tribuna da Assembleia e sem usar máscara de proteção facial, durante a pandemia de covid-19, Ribeiro disse que a vereadora de Goiânia Luciula do Recanto (PSD) “merecia um tiro na cara”. Ele citava as ações que a parlamentar faz de resgate de animais dentro da residência de suspeitos de maus-tratos.
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“Quem entra dentro do que não é seu e invade o que não é seu, para mim não merece nem viver, porque eu tenho o direito de proteger o que é meu, que é minha propriedade”, disse o deputado na tribuna.
‘O máximo que dou é um tapa na boca’
Em 2015, quando era prefeito de Piracanjuba, viralizaram imagens de agressões que a filha de Ribeiro sofreu. A adolescente de 15 anos apareceu em fotos com hematomas nas costas e a boca cortada.
O deputado gravou um vídeo, ao lado da mulher, confessando que agrediu a filha. “Não me arrependo de ter dado um corretivo”, disse Ribeiro. Ele chora durante o vídeo e diz que agiu para defender “a moral da família”.
“As pessoas julgam os pais que tomam atitudes severas para evitar que os filhos se percam. Não bato, o máximo que dou é um tapa na boca.” A esposa fica em silêncio durante toda a gravação.
Réu por homofobia e racismo
Em dezembro de 2022, o Ministério Público de Goiás ofereceu denúncia contra Ribeiro por racismo e homofobia por ter publicado, em abril daquele ano, uma imagem em que uma mão branca segura uma mão negra com a bandeira LGBTQIA+. A imagem, veiculada nos storys do Instagram do deputado, têm os dizeres “na minha família não” e “tá dado o recado”.
Em 2019, o Supremo Tribunal Federal equiparou ao crime de racismo a discriminação de pessoas LGBTQIA+. Na imagem publicada nas redes sociais, Ribeiro associa à negritude a condição homoafetiva, tratada por ele como algo “incompatível” com a família.
Afastamentos e agressão a vereador com deficiência
Enquanto foi prefeito, Ribeiro foi afastado do cargo duas vezes. Uma delas, em março de 2015, foi por causa de uma condenação que ele teve por agredir um servidor público em 2010. A outra, em novembro daquele ano, foi por ter discutido e tentado agredir o vereador Reinaldo Celestino (PSC).
De acordo com o que o portal Diário de Goiás publicou na época, o vereador criticou atos da gestão de Ribeiro e o prefeito tentou agredi-lo fisicamente, mas foi contido pelos que estavam na sessão da Câmara. Celestino usa muletas por causa de uma sequela de uma doença.