O advogado Rodrigo Tacla Duran, de 49 anos, é o pivô de acusações que podem colocar o senador Sérgio Moro (União Brasil -PR), ex-juiz da operação Lava Jato, e o deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), que foi o coordenador da força-tarefa, na mira da Polícia Federal (PF). Ele trabalhava para a Odebrecht na época da investigação e foi apontado como operador financeiro da construtora em esquemas de corrupção. Chegou a ter prisão decretada e ser colocado na lista de foragidos da Interpol a pedido de Moro, mas hoje está no programa de proteção a testemunhas.
A reviravolta no caso foi possível devido à chegada do juiz Eduardo Appio, que assumiu recentemente a 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, berço da Lava Jato. Ele é crítico autodeclarado da operação e intimou Duran para depor no fim de março, em uma ação penal em que o advogado é réu por lavagem de dinheiro.
Foi a primeira vez que o advogado foi ouvido por uma autoridade brasileira sobre a Lava Jato. Durante o depoimento, que ocorreu via videoconferência - Duran vive na Espanha -, ele fez acusações contra Moro e Dallagnol e afirmou que a dupla usou “diversos subterfúgios processuais” para que ele não fosse ouvido até este ano.
“O que estava acontecendo não era um processo normal, era um bullying processual, onde me fizeram ser processado pelo mesmo fato em cinco países por uma simples questão de vingança”, disse.
O advogado ganhou notoriedade no auge da Lava Jato como um dos principais desafetos do ex-juiz Sérgio Moro. Ele foi acusado pela força-tarefa do Ministério Público Federal de usar empresas no Brasil e no exterior para lavar propinas supostamente pagas pela UTC Engenharia e pela Odebrecht a agentes públicos em troca de contratos com a Petrobras.
Segundo a Lava Jato, Tacla Duran agia como um dos operadores financeiros fixos do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o chamado ‘departamento da propina’.
Ao se defender das acusações, ele afirma que sofreu tentativas de extorsão na Lava Jato, em troca de facilidades para clientes, e que passou a ser “perseguido” por não compactuar com o que chamou de uma “prática comercial corriqueira” da força-tarefa.
Lewandowski
Por envolver Moro e Dallagnol, que hoje são parlamentares no Congresso Nacional - o primeiro, no Senado, e o segundo, na Câmara -, o caso deixou a alçada da 13.ª Vara Federal de Curitiba e foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas a tramitação foi contestada pelo ex-juiz e pelo ex-procurador, que defendiam a devolução para a vara paranaense.
Na noite desta segunda-feira, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, decidiu pela procedência do caso no âmbito do Supremo. O magistrado sempre foi crítico à força-tarefa, e definiu a tramitação sobre Tacla Duran na véspera de sua aposentadoria, já que ele deixa a Corte nesta terça-feira, 11. A decisão do ministro atende à orientação do Ministério Público Federal; ele ainda determinou que a Procuradoria-Geral da República examine as imputações feitas pelo advogado novamente e avalie se é necessário abrir um inquérito com base nas acusações, daí a hipótese de a PF passar a investigar Moro e Dallagnol.
Em 2017, antes de o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser preso no âmbito da operação, a defesa do petista insistiu a Moro para que fosse marcada uma audiência com depoimento de Tacla Duran. O intuito era ouvir o advogado no contexto de um incidente de falsidade que questionava a idoneidade de documentos entregues pela Odebrecht em seu acordo de colaboração.
Moro negou a audiência por considerar que “embora existam indícios de que Rodrigo Tacla Duran tenha prestado serviços para o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, não há elemento probatório mínimo que indique o seu envolvimento específico nas operações que constituem objeto da presente ação penal”. Meses depois, o provimento também foi negado pelos desembargadores da 8.ª Turma do Tribunal da Lava Jato (Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, TRF-4).
A Interpol tirou Tacla Duran da lista de procurados internacionais em 2018. A defesa de Duran alegou parcialidade de Sérgio Moro após o então juiz citar o advogado em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Segundo o órgão, Duran apresentou “evidências facilmente verificáveis por meio de uma pesquisa de fontes abertas”, de que Moro “falou publicamente sobre ele durante uma entrevista” a respeito do caso, colocando em suspeição a imparcialidade do então juiz da Lava Jato em Curitiba.