A história do diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello volta à tona com a estreia, no dia 17 de abril, do longa-metragem de ficção “Sergio” na Netflix. O filme conta com o ator Wagner Moura no papel principal e a cubana Ana de Armas como Carolina Larriera, esposa do diplomata. A direção é do cineasta norte-americano Greg Barker, que já havia produzido um documentário biográfico homônimo para a HBO.
A vida de Vieira de Mello é tema de, pelo menos, seis livros e cinco filmes. Ao longo de 34 anos de atuação na Organização das Nações Unidas (ONU), o carioca construiu uma sólida reputação e uma das mais admiradas carreiras diplomáticas da história recente.
Quem foi Sérgio Vieira de Mello?
Sérgio Vieira de Mello nasceu em 15 de março de 1948 na cidade do Rio de Janeiro. Era filho da professora Gilda dos Santos e do diplomata Arnaldo Vieira de Mello. Em 1967, ele e a mãe deixaram o Brasil para acompanhar o pai na Europa. Estudou filosofia na Universidade de Sorbonne, em Paris, onde concluiu um doutorado em 1974.
Em 1969, aos 21 anos, Vieira de Mello começou a trabalhar no Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), um dos braços das Organizações das Nações Unidas (ONU). Ao longo de 34 anos de carreira na ONU, atuou em diversas missões em países como Bangladesh, Chipre, Moçambique, Líbano e Camboja.
Notabilizou-se especialmente por sua atuação no Timor Leste, sudoeste asiático, onde foi representante especial da Administração Transitória da ONU. A missão era ajudar na reconstrução do país, fragilizado após 24 anos de invasão indonésia. Vieira de Mello teve papel importante na criação de uma nova Constituição, na escolha da moeda e idioma oficiais e no estabelecimento de novos poderes legislativo, executivo e judiciário.
Com a independência do país, deixou o Timor Leste em 2002, quando assumiu o posto de Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos. Era considerado o provável sucessor do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan. No entanto, em 2003, durante uma missão no Iraque, Vieira de Mello morreu em um atentado terrorista.
Como Sergio Vieira de Mello morreu?
Em 2003, Vieira de Mello foi enviado ao Iraque como representante da ONU em uma missão de assistência. O país estava em turbulência devido à “Guerra ao Terror” travada pelos Estados Unidos, justificada pelos ataques de 11 de setembro de 2001. O embaixador e outras 21 pessoas morreram em um atentado ao quartel-general da ONU em Bagdá, no Iraque. A Al-Qaeda assumiu a autoria do atentado.
Vieira de Mello foi velado no Rio de Janeiro e em Genebra, na Suíça, onde foi enterrado no Cimetière des Rois. Ele tinha 55 anos e deixou esposa e dois filhos.
Por que Sergio Vieira de Mello é tão conhecido?
O último cargo de Vieira de Mello, o de Alto Comissário da ONU, é o posto diplomático mais alto já ocupado por um brasileiro. Segundo José Ramos-Horta, ex-presidente do Timor Leste e Nobel da Paz, o brasileiro era o “Pelé da democracia”. Criticava as ações e a influência dos Estados Unidos na ONU e era conhecido pelo carisma, capacidade de negociação, persuasão e idealismo.
Na biografia “O homem que queria salvar o mundo”, escrita pela diplomata americana Samantha Power, Vieira de Mello é chamado de “maquiavélico idealista”. Segundo Power, o brasileiro “começou mais humanitário” quando ingressou à ONU, mas desenvolveu habilidades diplomáticas e políticas ao longo da carreira. A autora ressalta seu conhecimento técnico para atuar com precisão em tarefas complicadas como redigir uma constituição ou realizar eleições.
Vieira Mello era um defensor do trabalho em campo, “na linha de frente” dos conflitos e criticava profissionais de carreira da ONU que, segundo ele, não conheciam a realidade. “Nunca se esqueçam que os verdadeiros desafios e as verdadeiras recompensas de se servir à ONU estão no campo, onde as pessoas estão morrendo, onde precisam de vocês”, disse o diplomata, em 2002, em um vídeo de boas-vindas aos novos funcionários da ONU.
Anualmente, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil concede a medalha Sergio Vieira de Mello a trabalhadores humanitários que tenham prestado serviços relevantes ao País. A outorga é realizada em 19 de agosto, data do atentado que matou o diplomata.