Redes petistas se articulam para dar ganho político a Lula por repatriação de brasileiros


Perfis de apoio ao presidente criticam medidas de Reino Unido e Estados Unidos, que farão cidadãos pagarem por voos de saída de Israel, e usam declarações descontextualizadas de Bolsonaro da época da pandemia de covid-19

Por Pedro Prata e Samuel Lima

Apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparam, nas redes sociais, a articulação do governo brasileiro para repatriar cidadãos pegos no conflito entre Israel e o Hamas, com a de outros países. O movimento coordenado busca reverter as críticas que o presidente e a gestão dele receberam por terem hesitado na condenação ao Hamas e emitido notas de pesar pela morte de brasileiros consideradas frias e demonstra que o governo tem uma rede de influenciadores que atuam para pautar a narrativa nas redes e minimizar desgastes políticos.

Diferentemente do que fez o Brasil, potências como Reino Unido e Estados Unidos não tomaram medidas emergenciais para buscar cidadãos nas zonas de conflito. Os perfis de aliados buscam atribuir o mérito humanitário a Lula e projetá-lo na arena digital, onde a direita domina o debate sobre o conflito.

Em vídeo que viralizou em grupos de WhatsApp de apoiadores de Lula, um youtuber critica o fato de o governo americano não bancar o voo de regresso dos seus cidadãos para os Estados Unidos e compara a providência adotada pelo governo brasileiro. “Embora tenhamos nossos problemas, estamos à frente das ditas potências que têm muito dinheiro, mas não se importam com seus cidadãos”.

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A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla, também destacou, em post nas redes sociais, que “outros governos anunciaram que vão cobrar de seus cidadãos a volta pra casa e aqui isso sequer foi cogitado”. O material critica “mentiras” de opositores sobre quem seria o responsável pelo resgate e o “Fla-Flu” da extrema-direita nas redes para atacar o governo.

Em meio à polarização, perfis lulistas comparam a resposta do governo do petista no conflito com a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à pandemia de covid-19. As postagens resgataram uma declaração do presidente, em janeiro de 2020, justificando que à época não havia definição para o resgate de brasileiros residentes em Wuhan, na China, por falta de legislação de quarentena. Na ocasião, a cidade vivia o surto inicial de coronavírus, mas no Brasil ainda não havia registros de casos. Contudo, os brasileiros foram repatriados cinco dias depois da declaração e colocados em quarentena em Anápolis (GO). As publicações de aliados do governo omitem essa informação.

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Até esta terça-feira, 17, 916 brasileiros já haviam retornado de Israel em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). O governo também negociou uma operação para que cerca de 30 pessoas que estão nas localidades de Khan Younis e Rafah, nas proximidades da fronteira com o Egito, sejam retiradas da Faixa de Gaza. Não há cobrança de tarifas pela operacionalização do voo. O Itamaraty pede que aqueles com condições para adquirir passagens façam a viagem em voos comerciais.

Aeronave VC-2 (Embraer), cedida pela Presidência da República, para o resgate de brasileiros em Gaza Foto: FAB/Divulgação
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“O governo Lula é um dos únicos países que faz o resgate gratuito com o auxílio de aeronaves da FAB e do avião presidencial”, publicou o perfil Choquei no X, antigo Twitter. O perfil, que se destacou por fazer conteúdos favoráveis ao petista durante o período eleitoral, foi um dos que comparou a situação dos brasileiros com a dos britânicos.

O Reino Unido facilita voos comerciais de Israel para para o Reino Unido. No país, é padrão cobrar pela operacionalização do voo. Os cidadãos que queiram deixar Israel devem arcar com um custo de 300 libras (R$ 1,8 mil, aproximadamente).

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Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi criticado pela demora em propor formas de facilitar a saída de cidadãos americanos. Linhas aéreas americanas cancelaram voos chegando ou saindo de Israel pela escalada do conflito.

A solução anunciada pela Casa Branca foi fretar voos comerciais das companhias regionais que continuam operando do aeroporto Ben-Gurion para fora de Israel. Há também retirada de cidadãos pelo mar. Os americanos não podem escolher o destino de saída de Israel nem a forma como farão a viagem. São alocados na primeira oportunidade disponível.

Cada cidadão que solicita a ajuda do governo deve assinar um termo concordando em ressarcir os cofres americanos posteriormente. Eles ficam por conta própria uma vez que estão fora de Israel, e devem bancar hospedagem e demais voos até o destino de preferência.

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Discurso afinado indica ação coordenada de aliados

O Estadão identificou uma ação coordenada de aliados de Lula para dar enfoque na pauta positiva da repatriação de brasileiros em contraponto a críticas recebidas pela decisão de não classificar oficialmente o Hamas como um grupo terrorista. Conteúdos idênticos, por vezes com a mesma descrição, apareceram nas contas de ministros e páginas oficiais do governo.

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Lula compartilhou, por exemplo, o depoimento de um brasileiro, às 14h do dia 13 de outubro, com a legenda “Decolou há pouco, de Tel Aviv, em Israel, o quarto voo da Operação Voltando em Paz”. Em menos de uma hora, a mesma mensagem foi reproduzida pelos deputados José Guimarães e Alencar Santana e pelo ministro da Educação, Camilo Santana. Outros ministros, como Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), publicaram o conteúdo mais tarde naquele dia.

O ataque do grupo terrorista Hamas contra Israel provocou polarização política nas redes sociais. Uma pesquisa da FGV Rio mostrou que a direita capitalizou o fato de o Brasil não considerar o Hamas uma organização terrorista para engajar sobre o tema. O grupo islâmico palestino é considerado como terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido. O Brasil segue a tradição diplomática de acompanhar o posicionamento do Organização das Nações Unidas (ONU), que não adota essa classificação.

Presença de grupos religiosos entre repatriados é ironizada

Israel é um destino forte do turismo religioso por possuir locais sagrados para as três grandes religiões monoteístas do mundo: judaísmo, catolicismo e islamismo. A presença de grupos de fiéis em parte dos voos de repatriação foi comentada pelos perfis petistas nas redes.

A partir de vídeos de pessoas resgatadas ajoelhadas e rezando para agradecer a chegada ao Brasil, alguns perfis lembraram a notícia falsa circulada durante o período eleitoral de que Lula fecharia igrejas. As congregações evangélicas formaram parte importante do eleitorado bolsonarista em 2022.

Outros usuários comentam em postagens de líderes religiosos para exigir um agradecimento público a Lula, sugerindo que eles teriam chegado ao País por meio de voos oficiais. No entanto, há casos em que eles conseguiram retornar em voos comerciais sem interferência do governo.

Perfis alinhados ao presidente Lula exigem de líderes religiosos o agradecimento pela repatriação de brasileiros de Israel, mas em alguns casos os religosos voltaram em voo comercial. Foto: Instagram/Reprodução

Apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparam, nas redes sociais, a articulação do governo brasileiro para repatriar cidadãos pegos no conflito entre Israel e o Hamas, com a de outros países. O movimento coordenado busca reverter as críticas que o presidente e a gestão dele receberam por terem hesitado na condenação ao Hamas e emitido notas de pesar pela morte de brasileiros consideradas frias e demonstra que o governo tem uma rede de influenciadores que atuam para pautar a narrativa nas redes e minimizar desgastes políticos.

Diferentemente do que fez o Brasil, potências como Reino Unido e Estados Unidos não tomaram medidas emergenciais para buscar cidadãos nas zonas de conflito. Os perfis de aliados buscam atribuir o mérito humanitário a Lula e projetá-lo na arena digital, onde a direita domina o debate sobre o conflito.

Em vídeo que viralizou em grupos de WhatsApp de apoiadores de Lula, um youtuber critica o fato de o governo americano não bancar o voo de regresso dos seus cidadãos para os Estados Unidos e compara a providência adotada pelo governo brasileiro. “Embora tenhamos nossos problemas, estamos à frente das ditas potências que têm muito dinheiro, mas não se importam com seus cidadãos”.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla, também destacou, em post nas redes sociais, que “outros governos anunciaram que vão cobrar de seus cidadãos a volta pra casa e aqui isso sequer foi cogitado”. O material critica “mentiras” de opositores sobre quem seria o responsável pelo resgate e o “Fla-Flu” da extrema-direita nas redes para atacar o governo.

Em meio à polarização, perfis lulistas comparam a resposta do governo do petista no conflito com a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à pandemia de covid-19. As postagens resgataram uma declaração do presidente, em janeiro de 2020, justificando que à época não havia definição para o resgate de brasileiros residentes em Wuhan, na China, por falta de legislação de quarentena. Na ocasião, a cidade vivia o surto inicial de coronavírus, mas no Brasil ainda não havia registros de casos. Contudo, os brasileiros foram repatriados cinco dias depois da declaração e colocados em quarentena em Anápolis (GO). As publicações de aliados do governo omitem essa informação.

Até esta terça-feira, 17, 916 brasileiros já haviam retornado de Israel em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). O governo também negociou uma operação para que cerca de 30 pessoas que estão nas localidades de Khan Younis e Rafah, nas proximidades da fronteira com o Egito, sejam retiradas da Faixa de Gaza. Não há cobrança de tarifas pela operacionalização do voo. O Itamaraty pede que aqueles com condições para adquirir passagens façam a viagem em voos comerciais.

Aeronave VC-2 (Embraer), cedida pela Presidência da República, para o resgate de brasileiros em Gaza Foto: FAB/Divulgação

“O governo Lula é um dos únicos países que faz o resgate gratuito com o auxílio de aeronaves da FAB e do avião presidencial”, publicou o perfil Choquei no X, antigo Twitter. O perfil, que se destacou por fazer conteúdos favoráveis ao petista durante o período eleitoral, foi um dos que comparou a situação dos brasileiros com a dos britânicos.

O Reino Unido facilita voos comerciais de Israel para para o Reino Unido. No país, é padrão cobrar pela operacionalização do voo. Os cidadãos que queiram deixar Israel devem arcar com um custo de 300 libras (R$ 1,8 mil, aproximadamente).

Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi criticado pela demora em propor formas de facilitar a saída de cidadãos americanos. Linhas aéreas americanas cancelaram voos chegando ou saindo de Israel pela escalada do conflito.

A solução anunciada pela Casa Branca foi fretar voos comerciais das companhias regionais que continuam operando do aeroporto Ben-Gurion para fora de Israel. Há também retirada de cidadãos pelo mar. Os americanos não podem escolher o destino de saída de Israel nem a forma como farão a viagem. São alocados na primeira oportunidade disponível.

Cada cidadão que solicita a ajuda do governo deve assinar um termo concordando em ressarcir os cofres americanos posteriormente. Eles ficam por conta própria uma vez que estão fora de Israel, e devem bancar hospedagem e demais voos até o destino de preferência.

Discurso afinado indica ação coordenada de aliados

O Estadão identificou uma ação coordenada de aliados de Lula para dar enfoque na pauta positiva da repatriação de brasileiros em contraponto a críticas recebidas pela decisão de não classificar oficialmente o Hamas como um grupo terrorista. Conteúdos idênticos, por vezes com a mesma descrição, apareceram nas contas de ministros e páginas oficiais do governo.

Lula compartilhou, por exemplo, o depoimento de um brasileiro, às 14h do dia 13 de outubro, com a legenda “Decolou há pouco, de Tel Aviv, em Israel, o quarto voo da Operação Voltando em Paz”. Em menos de uma hora, a mesma mensagem foi reproduzida pelos deputados José Guimarães e Alencar Santana e pelo ministro da Educação, Camilo Santana. Outros ministros, como Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), publicaram o conteúdo mais tarde naquele dia.

O ataque do grupo terrorista Hamas contra Israel provocou polarização política nas redes sociais. Uma pesquisa da FGV Rio mostrou que a direita capitalizou o fato de o Brasil não considerar o Hamas uma organização terrorista para engajar sobre o tema. O grupo islâmico palestino é considerado como terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido. O Brasil segue a tradição diplomática de acompanhar o posicionamento do Organização das Nações Unidas (ONU), que não adota essa classificação.

Presença de grupos religiosos entre repatriados é ironizada

Israel é um destino forte do turismo religioso por possuir locais sagrados para as três grandes religiões monoteístas do mundo: judaísmo, catolicismo e islamismo. A presença de grupos de fiéis em parte dos voos de repatriação foi comentada pelos perfis petistas nas redes.

A partir de vídeos de pessoas resgatadas ajoelhadas e rezando para agradecer a chegada ao Brasil, alguns perfis lembraram a notícia falsa circulada durante o período eleitoral de que Lula fecharia igrejas. As congregações evangélicas formaram parte importante do eleitorado bolsonarista em 2022.

Outros usuários comentam em postagens de líderes religiosos para exigir um agradecimento público a Lula, sugerindo que eles teriam chegado ao País por meio de voos oficiais. No entanto, há casos em que eles conseguiram retornar em voos comerciais sem interferência do governo.

Perfis alinhados ao presidente Lula exigem de líderes religiosos o agradecimento pela repatriação de brasileiros de Israel, mas em alguns casos os religosos voltaram em voo comercial. Foto: Instagram/Reprodução

Apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparam, nas redes sociais, a articulação do governo brasileiro para repatriar cidadãos pegos no conflito entre Israel e o Hamas, com a de outros países. O movimento coordenado busca reverter as críticas que o presidente e a gestão dele receberam por terem hesitado na condenação ao Hamas e emitido notas de pesar pela morte de brasileiros consideradas frias e demonstra que o governo tem uma rede de influenciadores que atuam para pautar a narrativa nas redes e minimizar desgastes políticos.

Diferentemente do que fez o Brasil, potências como Reino Unido e Estados Unidos não tomaram medidas emergenciais para buscar cidadãos nas zonas de conflito. Os perfis de aliados buscam atribuir o mérito humanitário a Lula e projetá-lo na arena digital, onde a direita domina o debate sobre o conflito.

Em vídeo que viralizou em grupos de WhatsApp de apoiadores de Lula, um youtuber critica o fato de o governo americano não bancar o voo de regresso dos seus cidadãos para os Estados Unidos e compara a providência adotada pelo governo brasileiro. “Embora tenhamos nossos problemas, estamos à frente das ditas potências que têm muito dinheiro, mas não se importam com seus cidadãos”.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla, também destacou, em post nas redes sociais, que “outros governos anunciaram que vão cobrar de seus cidadãos a volta pra casa e aqui isso sequer foi cogitado”. O material critica “mentiras” de opositores sobre quem seria o responsável pelo resgate e o “Fla-Flu” da extrema-direita nas redes para atacar o governo.

Em meio à polarização, perfis lulistas comparam a resposta do governo do petista no conflito com a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à pandemia de covid-19. As postagens resgataram uma declaração do presidente, em janeiro de 2020, justificando que à época não havia definição para o resgate de brasileiros residentes em Wuhan, na China, por falta de legislação de quarentena. Na ocasião, a cidade vivia o surto inicial de coronavírus, mas no Brasil ainda não havia registros de casos. Contudo, os brasileiros foram repatriados cinco dias depois da declaração e colocados em quarentena em Anápolis (GO). As publicações de aliados do governo omitem essa informação.

Até esta terça-feira, 17, 916 brasileiros já haviam retornado de Israel em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). O governo também negociou uma operação para que cerca de 30 pessoas que estão nas localidades de Khan Younis e Rafah, nas proximidades da fronteira com o Egito, sejam retiradas da Faixa de Gaza. Não há cobrança de tarifas pela operacionalização do voo. O Itamaraty pede que aqueles com condições para adquirir passagens façam a viagem em voos comerciais.

Aeronave VC-2 (Embraer), cedida pela Presidência da República, para o resgate de brasileiros em Gaza Foto: FAB/Divulgação

“O governo Lula é um dos únicos países que faz o resgate gratuito com o auxílio de aeronaves da FAB e do avião presidencial”, publicou o perfil Choquei no X, antigo Twitter. O perfil, que se destacou por fazer conteúdos favoráveis ao petista durante o período eleitoral, foi um dos que comparou a situação dos brasileiros com a dos britânicos.

O Reino Unido facilita voos comerciais de Israel para para o Reino Unido. No país, é padrão cobrar pela operacionalização do voo. Os cidadãos que queiram deixar Israel devem arcar com um custo de 300 libras (R$ 1,8 mil, aproximadamente).

Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi criticado pela demora em propor formas de facilitar a saída de cidadãos americanos. Linhas aéreas americanas cancelaram voos chegando ou saindo de Israel pela escalada do conflito.

A solução anunciada pela Casa Branca foi fretar voos comerciais das companhias regionais que continuam operando do aeroporto Ben-Gurion para fora de Israel. Há também retirada de cidadãos pelo mar. Os americanos não podem escolher o destino de saída de Israel nem a forma como farão a viagem. São alocados na primeira oportunidade disponível.

Cada cidadão que solicita a ajuda do governo deve assinar um termo concordando em ressarcir os cofres americanos posteriormente. Eles ficam por conta própria uma vez que estão fora de Israel, e devem bancar hospedagem e demais voos até o destino de preferência.

Discurso afinado indica ação coordenada de aliados

O Estadão identificou uma ação coordenada de aliados de Lula para dar enfoque na pauta positiva da repatriação de brasileiros em contraponto a críticas recebidas pela decisão de não classificar oficialmente o Hamas como um grupo terrorista. Conteúdos idênticos, por vezes com a mesma descrição, apareceram nas contas de ministros e páginas oficiais do governo.

Lula compartilhou, por exemplo, o depoimento de um brasileiro, às 14h do dia 13 de outubro, com a legenda “Decolou há pouco, de Tel Aviv, em Israel, o quarto voo da Operação Voltando em Paz”. Em menos de uma hora, a mesma mensagem foi reproduzida pelos deputados José Guimarães e Alencar Santana e pelo ministro da Educação, Camilo Santana. Outros ministros, como Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), publicaram o conteúdo mais tarde naquele dia.

O ataque do grupo terrorista Hamas contra Israel provocou polarização política nas redes sociais. Uma pesquisa da FGV Rio mostrou que a direita capitalizou o fato de o Brasil não considerar o Hamas uma organização terrorista para engajar sobre o tema. O grupo islâmico palestino é considerado como terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido. O Brasil segue a tradição diplomática de acompanhar o posicionamento do Organização das Nações Unidas (ONU), que não adota essa classificação.

Presença de grupos religiosos entre repatriados é ironizada

Israel é um destino forte do turismo religioso por possuir locais sagrados para as três grandes religiões monoteístas do mundo: judaísmo, catolicismo e islamismo. A presença de grupos de fiéis em parte dos voos de repatriação foi comentada pelos perfis petistas nas redes.

A partir de vídeos de pessoas resgatadas ajoelhadas e rezando para agradecer a chegada ao Brasil, alguns perfis lembraram a notícia falsa circulada durante o período eleitoral de que Lula fecharia igrejas. As congregações evangélicas formaram parte importante do eleitorado bolsonarista em 2022.

Outros usuários comentam em postagens de líderes religiosos para exigir um agradecimento público a Lula, sugerindo que eles teriam chegado ao País por meio de voos oficiais. No entanto, há casos em que eles conseguiram retornar em voos comerciais sem interferência do governo.

Perfis alinhados ao presidente Lula exigem de líderes religiosos o agradecimento pela repatriação de brasileiros de Israel, mas em alguns casos os religosos voltaram em voo comercial. Foto: Instagram/Reprodução

Apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparam, nas redes sociais, a articulação do governo brasileiro para repatriar cidadãos pegos no conflito entre Israel e o Hamas, com a de outros países. O movimento coordenado busca reverter as críticas que o presidente e a gestão dele receberam por terem hesitado na condenação ao Hamas e emitido notas de pesar pela morte de brasileiros consideradas frias e demonstra que o governo tem uma rede de influenciadores que atuam para pautar a narrativa nas redes e minimizar desgastes políticos.

Diferentemente do que fez o Brasil, potências como Reino Unido e Estados Unidos não tomaram medidas emergenciais para buscar cidadãos nas zonas de conflito. Os perfis de aliados buscam atribuir o mérito humanitário a Lula e projetá-lo na arena digital, onde a direita domina o debate sobre o conflito.

Em vídeo que viralizou em grupos de WhatsApp de apoiadores de Lula, um youtuber critica o fato de o governo americano não bancar o voo de regresso dos seus cidadãos para os Estados Unidos e compara a providência adotada pelo governo brasileiro. “Embora tenhamos nossos problemas, estamos à frente das ditas potências que têm muito dinheiro, mas não se importam com seus cidadãos”.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla, também destacou, em post nas redes sociais, que “outros governos anunciaram que vão cobrar de seus cidadãos a volta pra casa e aqui isso sequer foi cogitado”. O material critica “mentiras” de opositores sobre quem seria o responsável pelo resgate e o “Fla-Flu” da extrema-direita nas redes para atacar o governo.

Em meio à polarização, perfis lulistas comparam a resposta do governo do petista no conflito com a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à pandemia de covid-19. As postagens resgataram uma declaração do presidente, em janeiro de 2020, justificando que à época não havia definição para o resgate de brasileiros residentes em Wuhan, na China, por falta de legislação de quarentena. Na ocasião, a cidade vivia o surto inicial de coronavírus, mas no Brasil ainda não havia registros de casos. Contudo, os brasileiros foram repatriados cinco dias depois da declaração e colocados em quarentena em Anápolis (GO). As publicações de aliados do governo omitem essa informação.

Até esta terça-feira, 17, 916 brasileiros já haviam retornado de Israel em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). O governo também negociou uma operação para que cerca de 30 pessoas que estão nas localidades de Khan Younis e Rafah, nas proximidades da fronteira com o Egito, sejam retiradas da Faixa de Gaza. Não há cobrança de tarifas pela operacionalização do voo. O Itamaraty pede que aqueles com condições para adquirir passagens façam a viagem em voos comerciais.

Aeronave VC-2 (Embraer), cedida pela Presidência da República, para o resgate de brasileiros em Gaza Foto: FAB/Divulgação

“O governo Lula é um dos únicos países que faz o resgate gratuito com o auxílio de aeronaves da FAB e do avião presidencial”, publicou o perfil Choquei no X, antigo Twitter. O perfil, que se destacou por fazer conteúdos favoráveis ao petista durante o período eleitoral, foi um dos que comparou a situação dos brasileiros com a dos britânicos.

O Reino Unido facilita voos comerciais de Israel para para o Reino Unido. No país, é padrão cobrar pela operacionalização do voo. Os cidadãos que queiram deixar Israel devem arcar com um custo de 300 libras (R$ 1,8 mil, aproximadamente).

Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi criticado pela demora em propor formas de facilitar a saída de cidadãos americanos. Linhas aéreas americanas cancelaram voos chegando ou saindo de Israel pela escalada do conflito.

A solução anunciada pela Casa Branca foi fretar voos comerciais das companhias regionais que continuam operando do aeroporto Ben-Gurion para fora de Israel. Há também retirada de cidadãos pelo mar. Os americanos não podem escolher o destino de saída de Israel nem a forma como farão a viagem. São alocados na primeira oportunidade disponível.

Cada cidadão que solicita a ajuda do governo deve assinar um termo concordando em ressarcir os cofres americanos posteriormente. Eles ficam por conta própria uma vez que estão fora de Israel, e devem bancar hospedagem e demais voos até o destino de preferência.

Discurso afinado indica ação coordenada de aliados

O Estadão identificou uma ação coordenada de aliados de Lula para dar enfoque na pauta positiva da repatriação de brasileiros em contraponto a críticas recebidas pela decisão de não classificar oficialmente o Hamas como um grupo terrorista. Conteúdos idênticos, por vezes com a mesma descrição, apareceram nas contas de ministros e páginas oficiais do governo.

Lula compartilhou, por exemplo, o depoimento de um brasileiro, às 14h do dia 13 de outubro, com a legenda “Decolou há pouco, de Tel Aviv, em Israel, o quarto voo da Operação Voltando em Paz”. Em menos de uma hora, a mesma mensagem foi reproduzida pelos deputados José Guimarães e Alencar Santana e pelo ministro da Educação, Camilo Santana. Outros ministros, como Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), publicaram o conteúdo mais tarde naquele dia.

O ataque do grupo terrorista Hamas contra Israel provocou polarização política nas redes sociais. Uma pesquisa da FGV Rio mostrou que a direita capitalizou o fato de o Brasil não considerar o Hamas uma organização terrorista para engajar sobre o tema. O grupo islâmico palestino é considerado como terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido. O Brasil segue a tradição diplomática de acompanhar o posicionamento do Organização das Nações Unidas (ONU), que não adota essa classificação.

Presença de grupos religiosos entre repatriados é ironizada

Israel é um destino forte do turismo religioso por possuir locais sagrados para as três grandes religiões monoteístas do mundo: judaísmo, catolicismo e islamismo. A presença de grupos de fiéis em parte dos voos de repatriação foi comentada pelos perfis petistas nas redes.

A partir de vídeos de pessoas resgatadas ajoelhadas e rezando para agradecer a chegada ao Brasil, alguns perfis lembraram a notícia falsa circulada durante o período eleitoral de que Lula fecharia igrejas. As congregações evangélicas formaram parte importante do eleitorado bolsonarista em 2022.

Outros usuários comentam em postagens de líderes religiosos para exigir um agradecimento público a Lula, sugerindo que eles teriam chegado ao País por meio de voos oficiais. No entanto, há casos em que eles conseguiram retornar em voos comerciais sem interferência do governo.

Perfis alinhados ao presidente Lula exigem de líderes religiosos o agradecimento pela repatriação de brasileiros de Israel, mas em alguns casos os religosos voltaram em voo comercial. Foto: Instagram/Reprodução

Apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparam, nas redes sociais, a articulação do governo brasileiro para repatriar cidadãos pegos no conflito entre Israel e o Hamas, com a de outros países. O movimento coordenado busca reverter as críticas que o presidente e a gestão dele receberam por terem hesitado na condenação ao Hamas e emitido notas de pesar pela morte de brasileiros consideradas frias e demonstra que o governo tem uma rede de influenciadores que atuam para pautar a narrativa nas redes e minimizar desgastes políticos.

Diferentemente do que fez o Brasil, potências como Reino Unido e Estados Unidos não tomaram medidas emergenciais para buscar cidadãos nas zonas de conflito. Os perfis de aliados buscam atribuir o mérito humanitário a Lula e projetá-lo na arena digital, onde a direita domina o debate sobre o conflito.

Em vídeo que viralizou em grupos de WhatsApp de apoiadores de Lula, um youtuber critica o fato de o governo americano não bancar o voo de regresso dos seus cidadãos para os Estados Unidos e compara a providência adotada pelo governo brasileiro. “Embora tenhamos nossos problemas, estamos à frente das ditas potências que têm muito dinheiro, mas não se importam com seus cidadãos”.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla, também destacou, em post nas redes sociais, que “outros governos anunciaram que vão cobrar de seus cidadãos a volta pra casa e aqui isso sequer foi cogitado”. O material critica “mentiras” de opositores sobre quem seria o responsável pelo resgate e o “Fla-Flu” da extrema-direita nas redes para atacar o governo.

Em meio à polarização, perfis lulistas comparam a resposta do governo do petista no conflito com a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à pandemia de covid-19. As postagens resgataram uma declaração do presidente, em janeiro de 2020, justificando que à época não havia definição para o resgate de brasileiros residentes em Wuhan, na China, por falta de legislação de quarentena. Na ocasião, a cidade vivia o surto inicial de coronavírus, mas no Brasil ainda não havia registros de casos. Contudo, os brasileiros foram repatriados cinco dias depois da declaração e colocados em quarentena em Anápolis (GO). As publicações de aliados do governo omitem essa informação.

Até esta terça-feira, 17, 916 brasileiros já haviam retornado de Israel em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). O governo também negociou uma operação para que cerca de 30 pessoas que estão nas localidades de Khan Younis e Rafah, nas proximidades da fronteira com o Egito, sejam retiradas da Faixa de Gaza. Não há cobrança de tarifas pela operacionalização do voo. O Itamaraty pede que aqueles com condições para adquirir passagens façam a viagem em voos comerciais.

Aeronave VC-2 (Embraer), cedida pela Presidência da República, para o resgate de brasileiros em Gaza Foto: FAB/Divulgação

“O governo Lula é um dos únicos países que faz o resgate gratuito com o auxílio de aeronaves da FAB e do avião presidencial”, publicou o perfil Choquei no X, antigo Twitter. O perfil, que se destacou por fazer conteúdos favoráveis ao petista durante o período eleitoral, foi um dos que comparou a situação dos brasileiros com a dos britânicos.

O Reino Unido facilita voos comerciais de Israel para para o Reino Unido. No país, é padrão cobrar pela operacionalização do voo. Os cidadãos que queiram deixar Israel devem arcar com um custo de 300 libras (R$ 1,8 mil, aproximadamente).

Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi criticado pela demora em propor formas de facilitar a saída de cidadãos americanos. Linhas aéreas americanas cancelaram voos chegando ou saindo de Israel pela escalada do conflito.

A solução anunciada pela Casa Branca foi fretar voos comerciais das companhias regionais que continuam operando do aeroporto Ben-Gurion para fora de Israel. Há também retirada de cidadãos pelo mar. Os americanos não podem escolher o destino de saída de Israel nem a forma como farão a viagem. São alocados na primeira oportunidade disponível.

Cada cidadão que solicita a ajuda do governo deve assinar um termo concordando em ressarcir os cofres americanos posteriormente. Eles ficam por conta própria uma vez que estão fora de Israel, e devem bancar hospedagem e demais voos até o destino de preferência.

Discurso afinado indica ação coordenada de aliados

O Estadão identificou uma ação coordenada de aliados de Lula para dar enfoque na pauta positiva da repatriação de brasileiros em contraponto a críticas recebidas pela decisão de não classificar oficialmente o Hamas como um grupo terrorista. Conteúdos idênticos, por vezes com a mesma descrição, apareceram nas contas de ministros e páginas oficiais do governo.

Lula compartilhou, por exemplo, o depoimento de um brasileiro, às 14h do dia 13 de outubro, com a legenda “Decolou há pouco, de Tel Aviv, em Israel, o quarto voo da Operação Voltando em Paz”. Em menos de uma hora, a mesma mensagem foi reproduzida pelos deputados José Guimarães e Alencar Santana e pelo ministro da Educação, Camilo Santana. Outros ministros, como Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), publicaram o conteúdo mais tarde naquele dia.

O ataque do grupo terrorista Hamas contra Israel provocou polarização política nas redes sociais. Uma pesquisa da FGV Rio mostrou que a direita capitalizou o fato de o Brasil não considerar o Hamas uma organização terrorista para engajar sobre o tema. O grupo islâmico palestino é considerado como terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido. O Brasil segue a tradição diplomática de acompanhar o posicionamento do Organização das Nações Unidas (ONU), que não adota essa classificação.

Presença de grupos religiosos entre repatriados é ironizada

Israel é um destino forte do turismo religioso por possuir locais sagrados para as três grandes religiões monoteístas do mundo: judaísmo, catolicismo e islamismo. A presença de grupos de fiéis em parte dos voos de repatriação foi comentada pelos perfis petistas nas redes.

A partir de vídeos de pessoas resgatadas ajoelhadas e rezando para agradecer a chegada ao Brasil, alguns perfis lembraram a notícia falsa circulada durante o período eleitoral de que Lula fecharia igrejas. As congregações evangélicas formaram parte importante do eleitorado bolsonarista em 2022.

Outros usuários comentam em postagens de líderes religiosos para exigir um agradecimento público a Lula, sugerindo que eles teriam chegado ao País por meio de voos oficiais. No entanto, há casos em que eles conseguiram retornar em voos comerciais sem interferência do governo.

Perfis alinhados ao presidente Lula exigem de líderes religiosos o agradecimento pela repatriação de brasileiros de Israel, mas em alguns casos os religosos voltaram em voo comercial. Foto: Instagram/Reprodução

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