No painel de encerramento do Brazil Forum UK 2020 desta sexta-feira, 10, o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, afirmou que a postura “alegadamente libertária” das redes sociais contribuiu para o aumento das fake news. Ele já enxerga, porém, uma mudança na atitude das plataformas, a exemplo da ação do Facebook desta semana que derrubou uma rede de contas falsas, e diz apostar na parceria com essas mídias para as eleições municipais.
“(As mídias sociais) tinham, inclusive nas eleições de 2018, uma postura que poderíamos classificar como laissez faire - de ‘eu não interfiro em nada, sou apenas a estrada por onde circulam esses posts, essas informações’”, disse Barroso, ao ser questionado sobre a disseminação de fake news. Ele argumentou que essa postura das redes marcou “uma posição alegadamente libertária, mas que na prática trouxe os problemas que estamos verificando".
O ministro, no entanto, já vê uma “mudança de atitude e de percepção por parte das mídias sociais”. "As empresas começaram a mudar de atitude por estarem tendo um problema reputacional, por estarem sendo associadas à degradação da democracia, e agora têm um problema comercial - boa parte dos grandes anunciantes está ameaçando não voltar a anunciar nas redes sociais se eles não puserem cobro a essas campanhas de ódio, de difamação e de notícias fraudulentas”, disse ele.
Questionado sobre que medidas o TSE tem tomado para evitar a disseminação de informações falsas no pleito deste ano, o ministro disse que a Corte está trabalhando “intensamente”. Barroso conta que já se reuniu com representantes do WhatsApp, do Google, do Facebook e do Instagram, e afirma ter também uma reunião marcada com o Twitter.
“Todas as mídias sociais se comprometeram comigo, com o TSE e com a justiça eleitoral a monitorarem a atuação de robôs, bots, derrubarem contas falsas, perfis falsos”, afirmou Barroso. “E acho até que já começaram a fazer, pelo noticiário. "
Nesta quarta-feira, 8, o Facebook anunciou que derrubou uma rede de contas e perfis falsos ligada a integrantes do gabinete do presidente Jair Bolsonaro, a seus filhos, ao PSL e a aliados. O material investigado pela plataforma identificou pelo menos cinco funcionários e ex-auxiliares que disseminavam ataques a adversários políticos de Bolsonaro, incluindo Tercio Arnaud Thomaz, que é assessor do presidente e integra o chamado “gabinete do ódio”. Os citados negaram irregularidades e classificaram a medida como arbitrária.
Segundo comunicado do Facebook, a remoção das contas na rede social não foi tomada com base nos conteúdos publicados, mas sim em comportamentos considerados nocivos ao debate público, como o que a rede chama de Comportamento Inautêntico Coordenado.
Para Barroso, este tipo de controle é o mais adequado. "O principal mecanismo de enfrentamento das fake news é controlando comportamentos inadequados na rede, e não controlando conteúdos. Os comportamentos que eles chamam de inautênticos e coordenados”, afirmou o ministro.
Segundo ele, para o combate a fake news no pleito deste ano, o TSE conta, em primeiro lugar, com a atuação das mídias sociais, em segundo, com a imprensa profissional e, em terceiro, com uma campanha de conscientização da sociedade organizada pelo tribunal. "Um choque civilizatório e quem sabe algum avanço espiritual também para enfrentar as fake news, e só residualmente com decisão judicial, porque a justiça não deseja ser uma censora do debate público", afirmou ele no painel desta sexta.
Em sua quinta edição, o Brazil Forum UK é promovido pela comunidade de estudantes brasileiros no Reino Unido, e teve 12 conferências entre os dias 15 de junho e 10 de julho, com transmissão exclusiva do Estadão.
Entre os nomes que passaram pelo evento estão os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff, o ex-ministro Ciro Gomes e o ex-presidente do BNDES Joaquim Levy, entre outros. O tema que permeou toda a edição foi “What’s Next Brazil? Alternativas para múltiplos desafios”.