Os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediram nesta sexta-feira, 16, para o Conselho de Ética da Casa investigar Marcos do Val (Podemos-ES). O colegiado pode aplicar sanções que recaem sobre a função parlamentar, indo desde uma advertência até a cassação do mandato. Na segunda reunião feita pelo Conselho neste ano, cinco senadores passaram a ser investigados.
No documento, ao qual o Estadão teve acesso, os senadores pedem que Do Val seja cassado. “Parece uma mera subversão da lógica constitucional para fazer valer seu interesse pessoal e egoístico em detrimento do público”, diz o expediente sobre o fato de o senador ter admitido que mentiu para a imprensa sobre a trama golpista para a qual teria sido convidado.
A representação protocolada nesta sexta também diz que a conduta do senador “jurou de morte” a integridade da CPMI do 8 de Janeiro, “cuja principal característica é justamente sua confiabilidade”.
“Esta Casa não pode viver o constrangimento de ter entre seus senadores alguém que defende golpe de Estado e atenta contra a democracia. Sem anistia!”, disse Randolfe, finalizando a mensagem com a frase usada por apoiadores do governo petista para se referir a quem clamava por intervenções antidemocráticas na gestão de Jair Bolsonaro.
Já o senador alagoano disse que Marcos do Val “reiteradamente ataca a democracia e as instituições republicanas”. “O mandato não pode ser usado para conspirar contra o Estado Democrático de Direito”, afirmou.
Marcos do Val foi alvo de uma operação da Polícia Federal na tarde desta quinta-feira, 15. Além das buscas em dois endereços ligados a ele no Espírito Santo, foram apreendidos documentos de seu gabinete, além do celular do senador. Por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, as redes sociais dele também foram suspensas.
Como mostrou o Estadão, o senador acumulava publicações no Twitter que afirmavam existir uma conspiração entre o STF, Flávio Dino e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Todos estariam, de acordo com Do Val, prevaricando de propósito, deixando de impedir os ataques do 8 de Janeiro em Brasília, para que os manifestantes fossem penalizados com prisões e ações criminais, hoje apreciadas pelo próprio Supremo.
Para dar estofo às suas alegações, o senador publicou trechos do que seriam relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), documentos que, segundo ele, estariam comprovando suas teses.
Em entrevista à Globonews na noite desta quinta, Do Val disse que a operação da PF era uma “tentativa de intimidação” arquitetada contra ele. O senador também admitiu ter mentido à imprensa por meio de uma “estratégia de persuasão”. “Desde a Segunda Guerra Mundial, isso é usado para ter engajamento da imprensa para mandar as mensagens que eu precisava mandar, que era para os ministros”, disse durante a entrevista.
Nesta sexta-feira, um dia depois da operação, Do Val manteve a comemoração de aniversário marcada para ocorrer em Vitória. Além da festa, ele comunicou que lançará um livro sobre seus quatro primeiros anos de mandato e disse que fará um pronunciamento sobre os acontecimentos de quinta, sem possibilidade de perguntas pela imprensa nem transmissão ao vivo.
A reportagem questionou o senador sobre a representação no Conselho de Ética, mas ele respondeu que não comentará o caso.