Análises para entender o jogo do poder

Opinião|Delação no colo dos outros é refresco


Os que ontem vociferavam contra a existência de delatores, hoje celebram a chegada de mais um. Os que hoje enxergam agenda política do Supremo ao confirmar uma delação, ontem festejavam o destino de delatados

Por Renata Agostini
Atualização:

Setembro chegou para nos mostrar que, se no balanço da Justiça tudo pode mudar, o instituto da delação premiada parece imune a intempéries. Está certo que a delação do fim do mundo de ontem pode se tornar o grande erro histórico de hoje. Mesmo selada, registrada, carimbada, avaliada, rotulada… uma delação pode, no fim, se tornar imprestável.

O ministro Dias Toffoli, do Supremo, decidiu que as provas fornecidas na delação da Odebrecht têm de ser anuladas. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

É o caso da colaboração da Odebrecht, que sacudiu a República e causou estragos nas hostes petistas. Cinco anos após a homologação pelo Supremo, a delação das delações, com tudo o que contaram os 77 executivos da empreiteira, caminha para ser implodida. Para regozijo de boa parte do ecossistema político, decidiu o ministro Dias Toffoli que as provas fornecidas têm de ser anuladas.

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Mas nada como uma delação após a outra para arejar o ambiente. Enquanto os efeitos do movimento de Toffoli ainda estavam para ser calculados, a fila no Judiciário andou. Alexandre de Moraes deu aval para a delação premiada de Mauro Cid, o encrencado militar que muito fez e muito viu durante o governo passado e cuja colaboração tem potencial para abalar o bolsonarismo.

Pode-se supor que, diante da enormidade de provas que a Polícia Federal já reuniu sobre a atuação criminosa de Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tenha algo poderoso a entregar. É a conta que o mundo político faz. E é por isso que a notícia de que Cid saiu da prisão e se tornou um delator fez a direita antever dias de luta e a esquerda antecipar dias de glória.

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A notícia de que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, se tornou um delator fez a direita antever dias de luta e a esquerda antecipar dias de glória. Foto: Wilton Junior/Estadão

É que delação no colo dos outros vira refresco. Para a esquerda, Toffoli sepultou de vez a Lava Jato e desnudou uma grande armação, enquanto Moraes abriu o caminho para uma delação de verdade. Para o pessoal da direita, Toffoli moveu-se tão somente para agradar petistas e Moraes segue perseguindo o clã Bolsonaro.

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Então ficamos assim: os que ontem vociferavam contra a existência de delatores, hoje celebram a chegada de mais um. Os que hoje enxergam agenda política do Supremo ao confirmar uma delação, ontem festejavam o destino de delatados. Os dois lados sabem que uma delação que fulmina um rival é combustível político dos mais valiosos. A direita fartou-se no que a Odebrecht produziu. A ver se a esquerda irá à forra com o que Cid entregará.

Setembro chegou para nos mostrar que, se no balanço da Justiça tudo pode mudar, o instituto da delação premiada parece imune a intempéries. Está certo que a delação do fim do mundo de ontem pode se tornar o grande erro histórico de hoje. Mesmo selada, registrada, carimbada, avaliada, rotulada… uma delação pode, no fim, se tornar imprestável.

O ministro Dias Toffoli, do Supremo, decidiu que as provas fornecidas na delação da Odebrecht têm de ser anuladas. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

É o caso da colaboração da Odebrecht, que sacudiu a República e causou estragos nas hostes petistas. Cinco anos após a homologação pelo Supremo, a delação das delações, com tudo o que contaram os 77 executivos da empreiteira, caminha para ser implodida. Para regozijo de boa parte do ecossistema político, decidiu o ministro Dias Toffoli que as provas fornecidas têm de ser anuladas.

Mas nada como uma delação após a outra para arejar o ambiente. Enquanto os efeitos do movimento de Toffoli ainda estavam para ser calculados, a fila no Judiciário andou. Alexandre de Moraes deu aval para a delação premiada de Mauro Cid, o encrencado militar que muito fez e muito viu durante o governo passado e cuja colaboração tem potencial para abalar o bolsonarismo.

Pode-se supor que, diante da enormidade de provas que a Polícia Federal já reuniu sobre a atuação criminosa de Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tenha algo poderoso a entregar. É a conta que o mundo político faz. E é por isso que a notícia de que Cid saiu da prisão e se tornou um delator fez a direita antever dias de luta e a esquerda antecipar dias de glória.

A notícia de que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, se tornou um delator fez a direita antever dias de luta e a esquerda antecipar dias de glória. Foto: Wilton Junior/Estadão

É que delação no colo dos outros vira refresco. Para a esquerda, Toffoli sepultou de vez a Lava Jato e desnudou uma grande armação, enquanto Moraes abriu o caminho para uma delação de verdade. Para o pessoal da direita, Toffoli moveu-se tão somente para agradar petistas e Moraes segue perseguindo o clã Bolsonaro.

Então ficamos assim: os que ontem vociferavam contra a existência de delatores, hoje celebram a chegada de mais um. Os que hoje enxergam agenda política do Supremo ao confirmar uma delação, ontem festejavam o destino de delatados. Os dois lados sabem que uma delação que fulmina um rival é combustível político dos mais valiosos. A direita fartou-se no que a Odebrecht produziu. A ver se a esquerda irá à forra com o que Cid entregará.

Setembro chegou para nos mostrar que, se no balanço da Justiça tudo pode mudar, o instituto da delação premiada parece imune a intempéries. Está certo que a delação do fim do mundo de ontem pode se tornar o grande erro histórico de hoje. Mesmo selada, registrada, carimbada, avaliada, rotulada… uma delação pode, no fim, se tornar imprestável.

O ministro Dias Toffoli, do Supremo, decidiu que as provas fornecidas na delação da Odebrecht têm de ser anuladas. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

É o caso da colaboração da Odebrecht, que sacudiu a República e causou estragos nas hostes petistas. Cinco anos após a homologação pelo Supremo, a delação das delações, com tudo o que contaram os 77 executivos da empreiteira, caminha para ser implodida. Para regozijo de boa parte do ecossistema político, decidiu o ministro Dias Toffoli que as provas fornecidas têm de ser anuladas.

Mas nada como uma delação após a outra para arejar o ambiente. Enquanto os efeitos do movimento de Toffoli ainda estavam para ser calculados, a fila no Judiciário andou. Alexandre de Moraes deu aval para a delação premiada de Mauro Cid, o encrencado militar que muito fez e muito viu durante o governo passado e cuja colaboração tem potencial para abalar o bolsonarismo.

Pode-se supor que, diante da enormidade de provas que a Polícia Federal já reuniu sobre a atuação criminosa de Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tenha algo poderoso a entregar. É a conta que o mundo político faz. E é por isso que a notícia de que Cid saiu da prisão e se tornou um delator fez a direita antever dias de luta e a esquerda antecipar dias de glória.

A notícia de que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, se tornou um delator fez a direita antever dias de luta e a esquerda antecipar dias de glória. Foto: Wilton Junior/Estadão

É que delação no colo dos outros vira refresco. Para a esquerda, Toffoli sepultou de vez a Lava Jato e desnudou uma grande armação, enquanto Moraes abriu o caminho para uma delação de verdade. Para o pessoal da direita, Toffoli moveu-se tão somente para agradar petistas e Moraes segue perseguindo o clã Bolsonaro.

Então ficamos assim: os que ontem vociferavam contra a existência de delatores, hoje celebram a chegada de mais um. Os que hoje enxergam agenda política do Supremo ao confirmar uma delação, ontem festejavam o destino de delatados. Os dois lados sabem que uma delação que fulmina um rival é combustível político dos mais valiosos. A direita fartou-se no que a Odebrecht produziu. A ver se a esquerda irá à forra com o que Cid entregará.

Opinião por Renata Agostini

Jornalista e analista de política e economia da CNN

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