BRASÍLIA – No arranjo político para selar o apoio do Centrão e garantir a aprovação de projetos no Congresso, o governo do Luiz Inácio Lula da Silva prevê uma mini reforma ministerial que contempla uma dança de cadeiras na Esplanada. As trocas devem atingir ao menos três ministérios. A principal mudança atinge a pasta dos Portos e Aeroportos, cobiçada pelo Republicanos, obrigando o Planalto a deslocar o ministro Márcio França de função.
No cenário mais provável, desenhado após encontro fora da agenda entre Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), França deixa o posto para entregar o ministério ao deputado do Republicanos Silvio Costa Filho (PE).
Essa troca atende ao pedido do Republicanos, do deputado Marcos Pereira, por causa do Porto de Santos, área de interesse do governador Tarcísio de Freitas, do mesmo partido. O nome indicado pela sigla para comandar o ministério é o do deputado Silvio Costa Filho (PE).
Já o PP, sigla de Lira, comandaria outra pasta. O escolhido é o deputado André Fufuca (AM). Lula já concordou com os nomes. Como mostrou o Estadão/Broadcast, a proposta do Centrão entregue ao presidente envolve a ida de Márcio França (PSB) para a pasta de Ciência e Tecnologia, hoje ocupada por Luciana Santos (PCdoB). Ela seria realocada no ministério das Mulheres, hoje comandado por Cida Gonçalves, filiada ao PT.
O PP voltou a insistir na indicação de Fufuca ao comando do Ministério do Desenvolvimento Social, no lugar do petista Wellington Dias, mas sem o Bolsa Família. Nos bastidores, lideranças reforçam que o partido merece um espaço relevante no primeiro escalão, com elevado capital político.
No entanto, Lula resiste em entregar a pasta ao grupo parlamentar e quer mantê-la com o PT. Por isso, fontes relataram à reportagem que, num primeiro momento, o Desenvolvimento Social pode ser poupado na atual troca de cadeiras na Esplanada.
A reforma ministerial é vista como passo fundamental para que Lira destrave a pauta de votação na Câmara, especialmente o arcabouço fiscal. Desde a retomada dos trabalhos na Casa após o recesso informal, os deputados têm apreciado apenas matérias de consenso e evitado discussões relevantes para o governo.
Nesta quinta-feira, 17, após reunião com Lula, Dias publicou uma foto com o presidente nas redes sociais e divulgou um vídeo em que diz que Lula o recomendou trabalhar “ainda mais”. De acordo com a assessoria do ministro, esteve na pauta o debate sobre projetos sociais e o plano “Brasil Sem Fome”.
A avaliação de lideranças é de que a demora do governo em definir os espaços do PP e do Republicanos em ministérios elevou a insatisfação dos parlamentares. A recente declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o “poder muito grande” da Câmara também agravou o clima de atrito. A sequência de episódios e o “teste de paciência” contribuíram para elevar a fatura cobrada pelos líderes do Centrão.
Além disso, uma romaria de prefeitos a gabinetes de deputados nesta semana reacendeu a insatisfação com a demora na liberação de emendas para as bases eleitorais. Também há uma avaliação de que o governo precisa retribuir o apoio que conseguiu na Câmara para aprovação, por exemplo, do projeto que retoma o voto de desempate a favor da Receita no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O próprio Lira é cobrado pelos parlamentares.
Deputados também dizem esperar retribuição pelo esvaziamento da CPI do MST. Partidos como Republicanos e União Brasil trocaram membros radicais no colegiado por integrantes mais governistas, e Lira anulou a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Nos últimos dias, em meio à tensão, Lira inclusive disse que poderia pautar o projeto de lei que prorroga a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia até 2027, na contramão do que defende a Fazenda. O presidente da Câmara também esticou a corda ao se opor à medida provisória que taxa os rendimentos no exterior – as chamadas offshores –, proposta fundamental para a equipe econômica conseguir elevar arrecadação e cumprir a meta primária de zerar o déficit fiscal em 2024.