Resolução do PT amplia decepção de ‘frente ampla’ com rumo do governo Lula


Siglas e setores políticos que aderiram a Lula no 2.º turno da acirrada disputa contra Bolsonaro veem partido e presidente com foco em ‘fake news’, ‘revanchismo’ e ‘retrovisor’

Por Pedro Venceslau, Natália Santos e Davi Medeiros

Com pouco mais de um mês de governo, manifestações do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm despertado desconfiança e decepção entre setores políticos que aderiram ao petista no segundo turno da acirrada disputa contra Jair Bolsonaro (PL). Ontem, líderes partidários que se aliaram numa “frente ampla” anti-Bolsonaro reagiram à resolução do Diretório Nacional do PT, que procurou reforçar a narrativa segundo a qual o partido foi vítima de “falsas denúncias” nos rumorosos casos de corrupção que protagonizou nas duas últimas décadas.

Em linha com os discursos mais recentes do presidente, o texto da legenda se refere ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff como “golpe” e chama de “quadrilha” os antigos procuradores da Operação Lava Jato e o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), além de defender a revisão da autonomia do Banco Central, da taxa de juros e das metas de inflação.

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A versão distorcida dos fatos causou desconforto e irritação no MDB, um dos mais importantes aliados de Lula na etapa final da eleição. “Triste o PT, um partido importante, em um documento da sigla, resolver espalhar fake news”, afirmou ao Estadão o presidente da legenda, Baleia Rossi.

Resolução foi formulada após reunião do Diretório Nacional do PT ocorrida no aniversário de 43 anos do partido, em 13 de fevereiro.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Quando o cenário eleitoral era incerto e os bolsonaristas escalavam o discurso contra as urnas eletrônicas, o comitê de Lula reuniu um arco de apoios em segmentos políticos desalinhados com o PT, como João Amoêdo (ex-presidente do Novo) e Arminio Fraga, tucanos históricos e ex-rivais dos petistas na centro-esquerda.

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“Falar em golpe é estultice. Lula não pode fazer dessa resolução do PT uma resolução sua. Ele está governando com o apoio de vários líderes que apoiaram o impeachment de Dilma. O voto nele foi pela democracia, e a democracia não pode viver em permanente fratura”, disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire.

Dilma sofreu impeachment em 2016 por promover as chamadas pedaladas fiscais. A prática, revelada pelo Estadão, consiste em manobra fiscal a fim de permitir ao governo cumprir as metas fiscais – portanto, indicando falsamente haver equilíbrio entre gastos e despesas nas contas públicas.

A resolução petista ainda ignora os escândalos que marcaram as gestões do partido, em especial o mensalão e a corrupção na Petrobras. Neste último caso, investigado como parte da Lava Jato, foi revelado esquema que envolvia licitações fraudulentas com empreiteiras e pagamento de propina. Oficialmente, a Petrobras divulgou rombo de R$ 6,2 bilhões em seu balanço em 2015.

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Declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu partido, o PT, geraram reações entre 'frente ampla'.  Foto: Wilton Junior/Estadão

‘Sem anistia’

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O documento também aponta para os militares e responsabiliza o governo Bolsonaro por provocar onda de “violência, ódio, intolerância e discriminação” na sociedade. E fala em “seguir na luta pela culpabilização e punição de todos os envolvidos, inclusive os militares”. O texto afirma que “a palavra de ordem ‘sem anistia’ deve ser um imperativo do partido para culpabilizar os responsáveis e exigir que Bolsonaro e seus cúmplices respondam pelos seus crimes”. Ao fim de reuniões do Diretório Nacional, a sigla costuma divulgar resoluções como uma espécie de “guia” para filiados e manifesto à sociedade. O documento divulgado ontem é o primeiro depois da posse de Lula para o terceiro mandato.

“Depois do 8 de janeiro, Lula podia ter adotado discurso mais pacificador e tentar atrair setores que votaram em Bolsonaro. Deveria olhar menos para o retrovisor. O revanchismo não é o caminho”, disse o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto, que integrou a coordenação da campanha presidencial de Simone Tebet (MDB) – atual ministra do Planejamento – no primeiro turno e foi colaborador da equipe de transição após o pleito.

Um dos autores do pedido de impeachment de Dilma, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., que apoiou Lula no segundo turno, também vê o petista governando com o retrovisor. “O PT entrou com mais de 50 pedidos de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso”, observou. Para ele, o discurso dos petistas é “esquizofrênico e sem pé na realidade”. “Querem reconstruir o passado.”

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Ex-ministro das Relações Exteriores no governo Michel Temer (MDB), o tucano Aloysio Nunes Ferreira, que apoiou Lula desde o primeiro turno, seguiu na mesma linha. “Lula discursou perante a direção de um partido que ele lidera, que tem sua cultura, seu programa e uma visão própria dos fatos políticos que não coincidem em todos os pontos com os demais componentes da frente que o elegeu e com quem ele pretende governar. A diversidade pode ser sua força, desde que possamos o quanto antes estabelecer um programa comum que balize sua atuação no governo e no Congresso”, disse Aloysio ao Estadão.

“Todo mundo faz autocrítica no seu dia a dia. É preciso aprender com erros do passado para construir um futuro mais tranquilo. O PT pulou essa parte. O partido precisa calçar as sandálias da humildade”, disse o deputado Danilo Forte (CE), do União Brasil.

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‘Passado’

Sensação crescente entre aliados recentes do petismo é a de que presidente e partido vivem uma irrealidade e ainda não se preocuparam com o exercício do governo. Lula tem feito discursos e concedido entrevistas direcionadas a um setor “convertido” da sociedade – seus próprios apoiadores. Ontem, em entrevista à CNN Brasil, ele endossou a necessidade de uma nova narrativa do PT e chegou a dizer que deu uma “surra” em Bolsonaro na eleição, embora tenha vencido a disputa por menos de 2% dos votos.

Para a especialista em estratégias para campanhas eleitorais e CEO do instituto de pesquisa Ideia, Cila Schulman, as falas do petista não contribuem para a construção de uma imagem positiva do governo e são danosas por não dialogarem com “problemas reais” do País. “O eleitor não está de olho no retrovisor da Lava Jato ou do impeachment, ele está interessado na resolução de problemas atuais e que o preocupam, como inflação, educação, saúde, emprego. As pautas do passado não estão no radar do brasileiro”, afirmou.

O sociólogo José Carlos Martins, um dos idealizadores do grupo Derrubando Muros, que reuniu diversos segmentos em oposição a Bolsonaro nas eleições, classificou como “atabalhoados” e “intempestivos” os recentes discursos de Lula e resumiu o sentimento do centro político. “Lula escolheu um time bom nas atividades fundamentais, como Justiça, Saúde, Educação e Meio Ambiente, mas não está tratando com carinho a aliança feita em torno do nome dele.”

Com pouco mais de um mês de governo, manifestações do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm despertado desconfiança e decepção entre setores políticos que aderiram ao petista no segundo turno da acirrada disputa contra Jair Bolsonaro (PL). Ontem, líderes partidários que se aliaram numa “frente ampla” anti-Bolsonaro reagiram à resolução do Diretório Nacional do PT, que procurou reforçar a narrativa segundo a qual o partido foi vítima de “falsas denúncias” nos rumorosos casos de corrupção que protagonizou nas duas últimas décadas.

Em linha com os discursos mais recentes do presidente, o texto da legenda se refere ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff como “golpe” e chama de “quadrilha” os antigos procuradores da Operação Lava Jato e o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), além de defender a revisão da autonomia do Banco Central, da taxa de juros e das metas de inflação.

A versão distorcida dos fatos causou desconforto e irritação no MDB, um dos mais importantes aliados de Lula na etapa final da eleição. “Triste o PT, um partido importante, em um documento da sigla, resolver espalhar fake news”, afirmou ao Estadão o presidente da legenda, Baleia Rossi.

Resolução foi formulada após reunião do Diretório Nacional do PT ocorrida no aniversário de 43 anos do partido, em 13 de fevereiro.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Quando o cenário eleitoral era incerto e os bolsonaristas escalavam o discurso contra as urnas eletrônicas, o comitê de Lula reuniu um arco de apoios em segmentos políticos desalinhados com o PT, como João Amoêdo (ex-presidente do Novo) e Arminio Fraga, tucanos históricos e ex-rivais dos petistas na centro-esquerda.

“Falar em golpe é estultice. Lula não pode fazer dessa resolução do PT uma resolução sua. Ele está governando com o apoio de vários líderes que apoiaram o impeachment de Dilma. O voto nele foi pela democracia, e a democracia não pode viver em permanente fratura”, disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire.

Dilma sofreu impeachment em 2016 por promover as chamadas pedaladas fiscais. A prática, revelada pelo Estadão, consiste em manobra fiscal a fim de permitir ao governo cumprir as metas fiscais – portanto, indicando falsamente haver equilíbrio entre gastos e despesas nas contas públicas.

A resolução petista ainda ignora os escândalos que marcaram as gestões do partido, em especial o mensalão e a corrupção na Petrobras. Neste último caso, investigado como parte da Lava Jato, foi revelado esquema que envolvia licitações fraudulentas com empreiteiras e pagamento de propina. Oficialmente, a Petrobras divulgou rombo de R$ 6,2 bilhões em seu balanço em 2015.

Declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu partido, o PT, geraram reações entre 'frente ampla'.  Foto: Wilton Junior/Estadão

‘Sem anistia’

O documento também aponta para os militares e responsabiliza o governo Bolsonaro por provocar onda de “violência, ódio, intolerância e discriminação” na sociedade. E fala em “seguir na luta pela culpabilização e punição de todos os envolvidos, inclusive os militares”. O texto afirma que “a palavra de ordem ‘sem anistia’ deve ser um imperativo do partido para culpabilizar os responsáveis e exigir que Bolsonaro e seus cúmplices respondam pelos seus crimes”. Ao fim de reuniões do Diretório Nacional, a sigla costuma divulgar resoluções como uma espécie de “guia” para filiados e manifesto à sociedade. O documento divulgado ontem é o primeiro depois da posse de Lula para o terceiro mandato.

“Depois do 8 de janeiro, Lula podia ter adotado discurso mais pacificador e tentar atrair setores que votaram em Bolsonaro. Deveria olhar menos para o retrovisor. O revanchismo não é o caminho”, disse o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto, que integrou a coordenação da campanha presidencial de Simone Tebet (MDB) – atual ministra do Planejamento – no primeiro turno e foi colaborador da equipe de transição após o pleito.

Um dos autores do pedido de impeachment de Dilma, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., que apoiou Lula no segundo turno, também vê o petista governando com o retrovisor. “O PT entrou com mais de 50 pedidos de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso”, observou. Para ele, o discurso dos petistas é “esquizofrênico e sem pé na realidade”. “Querem reconstruir o passado.”

Ex-ministro das Relações Exteriores no governo Michel Temer (MDB), o tucano Aloysio Nunes Ferreira, que apoiou Lula desde o primeiro turno, seguiu na mesma linha. “Lula discursou perante a direção de um partido que ele lidera, que tem sua cultura, seu programa e uma visão própria dos fatos políticos que não coincidem em todos os pontos com os demais componentes da frente que o elegeu e com quem ele pretende governar. A diversidade pode ser sua força, desde que possamos o quanto antes estabelecer um programa comum que balize sua atuação no governo e no Congresso”, disse Aloysio ao Estadão.

“Todo mundo faz autocrítica no seu dia a dia. É preciso aprender com erros do passado para construir um futuro mais tranquilo. O PT pulou essa parte. O partido precisa calçar as sandálias da humildade”, disse o deputado Danilo Forte (CE), do União Brasil.

‘Passado’

Sensação crescente entre aliados recentes do petismo é a de que presidente e partido vivem uma irrealidade e ainda não se preocuparam com o exercício do governo. Lula tem feito discursos e concedido entrevistas direcionadas a um setor “convertido” da sociedade – seus próprios apoiadores. Ontem, em entrevista à CNN Brasil, ele endossou a necessidade de uma nova narrativa do PT e chegou a dizer que deu uma “surra” em Bolsonaro na eleição, embora tenha vencido a disputa por menos de 2% dos votos.

Para a especialista em estratégias para campanhas eleitorais e CEO do instituto de pesquisa Ideia, Cila Schulman, as falas do petista não contribuem para a construção de uma imagem positiva do governo e são danosas por não dialogarem com “problemas reais” do País. “O eleitor não está de olho no retrovisor da Lava Jato ou do impeachment, ele está interessado na resolução de problemas atuais e que o preocupam, como inflação, educação, saúde, emprego. As pautas do passado não estão no radar do brasileiro”, afirmou.

O sociólogo José Carlos Martins, um dos idealizadores do grupo Derrubando Muros, que reuniu diversos segmentos em oposição a Bolsonaro nas eleições, classificou como “atabalhoados” e “intempestivos” os recentes discursos de Lula e resumiu o sentimento do centro político. “Lula escolheu um time bom nas atividades fundamentais, como Justiça, Saúde, Educação e Meio Ambiente, mas não está tratando com carinho a aliança feita em torno do nome dele.”

Com pouco mais de um mês de governo, manifestações do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm despertado desconfiança e decepção entre setores políticos que aderiram ao petista no segundo turno da acirrada disputa contra Jair Bolsonaro (PL). Ontem, líderes partidários que se aliaram numa “frente ampla” anti-Bolsonaro reagiram à resolução do Diretório Nacional do PT, que procurou reforçar a narrativa segundo a qual o partido foi vítima de “falsas denúncias” nos rumorosos casos de corrupção que protagonizou nas duas últimas décadas.

Em linha com os discursos mais recentes do presidente, o texto da legenda se refere ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff como “golpe” e chama de “quadrilha” os antigos procuradores da Operação Lava Jato e o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), além de defender a revisão da autonomia do Banco Central, da taxa de juros e das metas de inflação.

A versão distorcida dos fatos causou desconforto e irritação no MDB, um dos mais importantes aliados de Lula na etapa final da eleição. “Triste o PT, um partido importante, em um documento da sigla, resolver espalhar fake news”, afirmou ao Estadão o presidente da legenda, Baleia Rossi.

Resolução foi formulada após reunião do Diretório Nacional do PT ocorrida no aniversário de 43 anos do partido, em 13 de fevereiro.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Quando o cenário eleitoral era incerto e os bolsonaristas escalavam o discurso contra as urnas eletrônicas, o comitê de Lula reuniu um arco de apoios em segmentos políticos desalinhados com o PT, como João Amoêdo (ex-presidente do Novo) e Arminio Fraga, tucanos históricos e ex-rivais dos petistas na centro-esquerda.

“Falar em golpe é estultice. Lula não pode fazer dessa resolução do PT uma resolução sua. Ele está governando com o apoio de vários líderes que apoiaram o impeachment de Dilma. O voto nele foi pela democracia, e a democracia não pode viver em permanente fratura”, disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire.

Dilma sofreu impeachment em 2016 por promover as chamadas pedaladas fiscais. A prática, revelada pelo Estadão, consiste em manobra fiscal a fim de permitir ao governo cumprir as metas fiscais – portanto, indicando falsamente haver equilíbrio entre gastos e despesas nas contas públicas.

A resolução petista ainda ignora os escândalos que marcaram as gestões do partido, em especial o mensalão e a corrupção na Petrobras. Neste último caso, investigado como parte da Lava Jato, foi revelado esquema que envolvia licitações fraudulentas com empreiteiras e pagamento de propina. Oficialmente, a Petrobras divulgou rombo de R$ 6,2 bilhões em seu balanço em 2015.

Declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu partido, o PT, geraram reações entre 'frente ampla'.  Foto: Wilton Junior/Estadão

‘Sem anistia’

O documento também aponta para os militares e responsabiliza o governo Bolsonaro por provocar onda de “violência, ódio, intolerância e discriminação” na sociedade. E fala em “seguir na luta pela culpabilização e punição de todos os envolvidos, inclusive os militares”. O texto afirma que “a palavra de ordem ‘sem anistia’ deve ser um imperativo do partido para culpabilizar os responsáveis e exigir que Bolsonaro e seus cúmplices respondam pelos seus crimes”. Ao fim de reuniões do Diretório Nacional, a sigla costuma divulgar resoluções como uma espécie de “guia” para filiados e manifesto à sociedade. O documento divulgado ontem é o primeiro depois da posse de Lula para o terceiro mandato.

“Depois do 8 de janeiro, Lula podia ter adotado discurso mais pacificador e tentar atrair setores que votaram em Bolsonaro. Deveria olhar menos para o retrovisor. O revanchismo não é o caminho”, disse o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto, que integrou a coordenação da campanha presidencial de Simone Tebet (MDB) – atual ministra do Planejamento – no primeiro turno e foi colaborador da equipe de transição após o pleito.

Um dos autores do pedido de impeachment de Dilma, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., que apoiou Lula no segundo turno, também vê o petista governando com o retrovisor. “O PT entrou com mais de 50 pedidos de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso”, observou. Para ele, o discurso dos petistas é “esquizofrênico e sem pé na realidade”. “Querem reconstruir o passado.”

Ex-ministro das Relações Exteriores no governo Michel Temer (MDB), o tucano Aloysio Nunes Ferreira, que apoiou Lula desde o primeiro turno, seguiu na mesma linha. “Lula discursou perante a direção de um partido que ele lidera, que tem sua cultura, seu programa e uma visão própria dos fatos políticos que não coincidem em todos os pontos com os demais componentes da frente que o elegeu e com quem ele pretende governar. A diversidade pode ser sua força, desde que possamos o quanto antes estabelecer um programa comum que balize sua atuação no governo e no Congresso”, disse Aloysio ao Estadão.

“Todo mundo faz autocrítica no seu dia a dia. É preciso aprender com erros do passado para construir um futuro mais tranquilo. O PT pulou essa parte. O partido precisa calçar as sandálias da humildade”, disse o deputado Danilo Forte (CE), do União Brasil.

‘Passado’

Sensação crescente entre aliados recentes do petismo é a de que presidente e partido vivem uma irrealidade e ainda não se preocuparam com o exercício do governo. Lula tem feito discursos e concedido entrevistas direcionadas a um setor “convertido” da sociedade – seus próprios apoiadores. Ontem, em entrevista à CNN Brasil, ele endossou a necessidade de uma nova narrativa do PT e chegou a dizer que deu uma “surra” em Bolsonaro na eleição, embora tenha vencido a disputa por menos de 2% dos votos.

Para a especialista em estratégias para campanhas eleitorais e CEO do instituto de pesquisa Ideia, Cila Schulman, as falas do petista não contribuem para a construção de uma imagem positiva do governo e são danosas por não dialogarem com “problemas reais” do País. “O eleitor não está de olho no retrovisor da Lava Jato ou do impeachment, ele está interessado na resolução de problemas atuais e que o preocupam, como inflação, educação, saúde, emprego. As pautas do passado não estão no radar do brasileiro”, afirmou.

O sociólogo José Carlos Martins, um dos idealizadores do grupo Derrubando Muros, que reuniu diversos segmentos em oposição a Bolsonaro nas eleições, classificou como “atabalhoados” e “intempestivos” os recentes discursos de Lula e resumiu o sentimento do centro político. “Lula escolheu um time bom nas atividades fundamentais, como Justiça, Saúde, Educação e Meio Ambiente, mas não está tratando com carinho a aliança feita em torno do nome dele.”

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