Traduzindo a política

Opinião|Ação revela entorno de Bolsonaro perigoso e, por sorte, incompetente, mas há perguntas sem resposta


Principal questão colocada é por qual motivo a ação foi abortada; independentemente disso, ex-presidente caminha para condenações e prisões

Por Ricardo Corrêa
Atualização:

A Operação Contragolpe, da Polícia Federal, deflagrada nesta terça-feira, 19, reforçou que o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro em seus tempos no Palácio do Planalto era perigoso e, por sorte, incompetente. A ação para, como tudo indica, tentar assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes está fartamente documentada em razão da incapacidade dos envolvidos em esconder os próprios rastros. Mas ainda há perguntas sem resposta.

Os militares envolvidos na empreitada criminosa não tiveram muito cuidado ao livrar-se das evidências do episódio. Mauro Cid até apagou mensagens, sem saber que poderiam ser recuperadas. Mas houve um plano detalhado escrito e impresso, pasmem, no Palácio do Planalto, em um dia que o então presidente da República estava por lá. Havia até o planejamento da criação de um gabinete de gestão de crime, comandado pelos generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, este que teria, segundo a PF, cedido a própria casa para que fosse utilizada para tramar o crime.

General Mário Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, é um dos investigados por articular plano para matar Moraes, Lula e Alckmin Foto: Eduardo Menezes/Secretária-Geral PR
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Só há duas hipóteses para a falta de cuidado dos envolvidos em limpar vestígios da atuação golpista. O primeiro deles é a mais pura incompetência mesmo para saber como se livrar de tudo aquilo. O segundo, mais provável, mas que igualmente revela incapacidade de entender o cenário, sugere que eles tinham tanta certeza de que o plano Tabajara daria certo que não estavam tão preocupados com o dia seguinte. Se Lula, Alckmin ou Moraes estivessem mortos ou presos e uma junta militar no comando do País e, em consequência, de posse de todo o aparato estatal, não haveria razão para cogitar hipótese de que fossem descobertos.

Mas mesmo com todos os vestígios deixados pela trupe, há diversas perguntas sem resposta. Quem deu a ideia do plano? Quem mais sabia? E quem daria a ordem final para que fosse executado? São algumas delas. A principal, porém, é por qual motivo o plano não foi de fato levado adiante. A pergunta é relevante até por aspectos jurídicos. Por mais que a articulação de um plano de golpe e a pressão sobre as Forças Armadas por si só já sejam ilícitos puníveis, assim como o delito de organização criminosa, para saber se eles também poderiam responder, em um caso mais extremo, até por tentativa de homicídio, seria necessário saber até onde eles foram e por qual motivo o plano foi abortado. Isso explicaria se eles estavam apenas na fase de atos preparatórios, não puníveis por esse delito em si, ou já no início da execução, interrompida por fatores alheios à vontade deles.

O único indicativo sobre as razões para a desistência da empreitada colocada na rua no dia 15 de dezembro de 2022 seria o envio, no grupo, de uma mensagem apontando que a sessão do STF daquele dia havia sido adiada. A Polícia Federal diz que o print teria sido encaminhado por telefone pelo major Rafael Martins de Oliveira, o mesmo que teria determinado que a missão em execução fosse abortada. Assim, eles só não teriam matado Moraes em razão de um fator que não estava ao alcance deles. Mas por qual motivo não foi realizada em outra ocasião? Uma das explicações seria o fato de Moraes ter ido para São Paulo no dia seguinte, só retornando no dia 31 para a posse de Lula no dia seguinte.

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Do ponto de vista jurídico, parece haver ainda muita coisa a ser ligada na conclusão do inquérito do caso. Certamente a PF fará uma costura de todos os acontecimentos e articulações, começando com às acusações contra as urnas eletrônicas e contra o STF feitas por meses por Jair Bolsonaro, a tentativa de impedir que eleitores de Lula votassem no segundo turno da disputa eleitoral, os ataques realizados em Brasília no dia 12, dia da diplomação, o episódio agora revelado do dia 15, a produção de documentos golpistas que não foram implementados por aparente resistência de figuras do Exército e da Aeronáutica e, por fim, o 8 de Janeiro, quando houve a invasão e destruição dos prédios dos Três Poderes na capital federal.

Do ponto de vista político, a já enterrada anistia a Jair Bolsonaro e a acusados dos atos do dia 8 de janeiro nem sequer tende a ser mais discutida. O ex-presidente caminha rapidamente para novos indiciamentos, denúncias, condenação e prisão. Seus aliados já deveriam estar procurando maneiras de viabilizar um 2026 sem ele, ainda que continuem pelos cantos dizendo haver perseguição mara manter acesa a chama do apoio à extrema direita. O mesmo vale para o general Walter Braga Netto, em uma humilhação histórica para o Exército brasileiro, que aceitou vincular-se a um governo que desde sempre se mostrou incapaz de respeitar a democracia. A consequência agora é que membros de alta patente da Força vão sendo expostos em sua perversidade e incompetência.

A Operação Contragolpe, da Polícia Federal, deflagrada nesta terça-feira, 19, reforçou que o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro em seus tempos no Palácio do Planalto era perigoso e, por sorte, incompetente. A ação para, como tudo indica, tentar assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes está fartamente documentada em razão da incapacidade dos envolvidos em esconder os próprios rastros. Mas ainda há perguntas sem resposta.

Os militares envolvidos na empreitada criminosa não tiveram muito cuidado ao livrar-se das evidências do episódio. Mauro Cid até apagou mensagens, sem saber que poderiam ser recuperadas. Mas houve um plano detalhado escrito e impresso, pasmem, no Palácio do Planalto, em um dia que o então presidente da República estava por lá. Havia até o planejamento da criação de um gabinete de gestão de crime, comandado pelos generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, este que teria, segundo a PF, cedido a própria casa para que fosse utilizada para tramar o crime.

General Mário Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, é um dos investigados por articular plano para matar Moraes, Lula e Alckmin Foto: Eduardo Menezes/Secretária-Geral PR

Só há duas hipóteses para a falta de cuidado dos envolvidos em limpar vestígios da atuação golpista. O primeiro deles é a mais pura incompetência mesmo para saber como se livrar de tudo aquilo. O segundo, mais provável, mas que igualmente revela incapacidade de entender o cenário, sugere que eles tinham tanta certeza de que o plano Tabajara daria certo que não estavam tão preocupados com o dia seguinte. Se Lula, Alckmin ou Moraes estivessem mortos ou presos e uma junta militar no comando do País e, em consequência, de posse de todo o aparato estatal, não haveria razão para cogitar hipótese de que fossem descobertos.

Mas mesmo com todos os vestígios deixados pela trupe, há diversas perguntas sem resposta. Quem deu a ideia do plano? Quem mais sabia? E quem daria a ordem final para que fosse executado? São algumas delas. A principal, porém, é por qual motivo o plano não foi de fato levado adiante. A pergunta é relevante até por aspectos jurídicos. Por mais que a articulação de um plano de golpe e a pressão sobre as Forças Armadas por si só já sejam ilícitos puníveis, assim como o delito de organização criminosa, para saber se eles também poderiam responder, em um caso mais extremo, até por tentativa de homicídio, seria necessário saber até onde eles foram e por qual motivo o plano foi abortado. Isso explicaria se eles estavam apenas na fase de atos preparatórios, não puníveis por esse delito em si, ou já no início da execução, interrompida por fatores alheios à vontade deles.

O único indicativo sobre as razões para a desistência da empreitada colocada na rua no dia 15 de dezembro de 2022 seria o envio, no grupo, de uma mensagem apontando que a sessão do STF daquele dia havia sido adiada. A Polícia Federal diz que o print teria sido encaminhado por telefone pelo major Rafael Martins de Oliveira, o mesmo que teria determinado que a missão em execução fosse abortada. Assim, eles só não teriam matado Moraes em razão de um fator que não estava ao alcance deles. Mas por qual motivo não foi realizada em outra ocasião? Uma das explicações seria o fato de Moraes ter ido para São Paulo no dia seguinte, só retornando no dia 31 para a posse de Lula no dia seguinte.

Do ponto de vista jurídico, parece haver ainda muita coisa a ser ligada na conclusão do inquérito do caso. Certamente a PF fará uma costura de todos os acontecimentos e articulações, começando com às acusações contra as urnas eletrônicas e contra o STF feitas por meses por Jair Bolsonaro, a tentativa de impedir que eleitores de Lula votassem no segundo turno da disputa eleitoral, os ataques realizados em Brasília no dia 12, dia da diplomação, o episódio agora revelado do dia 15, a produção de documentos golpistas que não foram implementados por aparente resistência de figuras do Exército e da Aeronáutica e, por fim, o 8 de Janeiro, quando houve a invasão e destruição dos prédios dos Três Poderes na capital federal.

Do ponto de vista político, a já enterrada anistia a Jair Bolsonaro e a acusados dos atos do dia 8 de janeiro nem sequer tende a ser mais discutida. O ex-presidente caminha rapidamente para novos indiciamentos, denúncias, condenação e prisão. Seus aliados já deveriam estar procurando maneiras de viabilizar um 2026 sem ele, ainda que continuem pelos cantos dizendo haver perseguição mara manter acesa a chama do apoio à extrema direita. O mesmo vale para o general Walter Braga Netto, em uma humilhação histórica para o Exército brasileiro, que aceitou vincular-se a um governo que desde sempre se mostrou incapaz de respeitar a democracia. A consequência agora é que membros de alta patente da Força vão sendo expostos em sua perversidade e incompetência.

A Operação Contragolpe, da Polícia Federal, deflagrada nesta terça-feira, 19, reforçou que o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro em seus tempos no Palácio do Planalto era perigoso e, por sorte, incompetente. A ação para, como tudo indica, tentar assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes está fartamente documentada em razão da incapacidade dos envolvidos em esconder os próprios rastros. Mas ainda há perguntas sem resposta.

Os militares envolvidos na empreitada criminosa não tiveram muito cuidado ao livrar-se das evidências do episódio. Mauro Cid até apagou mensagens, sem saber que poderiam ser recuperadas. Mas houve um plano detalhado escrito e impresso, pasmem, no Palácio do Planalto, em um dia que o então presidente da República estava por lá. Havia até o planejamento da criação de um gabinete de gestão de crime, comandado pelos generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, este que teria, segundo a PF, cedido a própria casa para que fosse utilizada para tramar o crime.

General Mário Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, é um dos investigados por articular plano para matar Moraes, Lula e Alckmin Foto: Eduardo Menezes/Secretária-Geral PR

Só há duas hipóteses para a falta de cuidado dos envolvidos em limpar vestígios da atuação golpista. O primeiro deles é a mais pura incompetência mesmo para saber como se livrar de tudo aquilo. O segundo, mais provável, mas que igualmente revela incapacidade de entender o cenário, sugere que eles tinham tanta certeza de que o plano Tabajara daria certo que não estavam tão preocupados com o dia seguinte. Se Lula, Alckmin ou Moraes estivessem mortos ou presos e uma junta militar no comando do País e, em consequência, de posse de todo o aparato estatal, não haveria razão para cogitar hipótese de que fossem descobertos.

Mas mesmo com todos os vestígios deixados pela trupe, há diversas perguntas sem resposta. Quem deu a ideia do plano? Quem mais sabia? E quem daria a ordem final para que fosse executado? São algumas delas. A principal, porém, é por qual motivo o plano não foi de fato levado adiante. A pergunta é relevante até por aspectos jurídicos. Por mais que a articulação de um plano de golpe e a pressão sobre as Forças Armadas por si só já sejam ilícitos puníveis, assim como o delito de organização criminosa, para saber se eles também poderiam responder, em um caso mais extremo, até por tentativa de homicídio, seria necessário saber até onde eles foram e por qual motivo o plano foi abortado. Isso explicaria se eles estavam apenas na fase de atos preparatórios, não puníveis por esse delito em si, ou já no início da execução, interrompida por fatores alheios à vontade deles.

O único indicativo sobre as razões para a desistência da empreitada colocada na rua no dia 15 de dezembro de 2022 seria o envio, no grupo, de uma mensagem apontando que a sessão do STF daquele dia havia sido adiada. A Polícia Federal diz que o print teria sido encaminhado por telefone pelo major Rafael Martins de Oliveira, o mesmo que teria determinado que a missão em execução fosse abortada. Assim, eles só não teriam matado Moraes em razão de um fator que não estava ao alcance deles. Mas por qual motivo não foi realizada em outra ocasião? Uma das explicações seria o fato de Moraes ter ido para São Paulo no dia seguinte, só retornando no dia 31 para a posse de Lula no dia seguinte.

Do ponto de vista jurídico, parece haver ainda muita coisa a ser ligada na conclusão do inquérito do caso. Certamente a PF fará uma costura de todos os acontecimentos e articulações, começando com às acusações contra as urnas eletrônicas e contra o STF feitas por meses por Jair Bolsonaro, a tentativa de impedir que eleitores de Lula votassem no segundo turno da disputa eleitoral, os ataques realizados em Brasília no dia 12, dia da diplomação, o episódio agora revelado do dia 15, a produção de documentos golpistas que não foram implementados por aparente resistência de figuras do Exército e da Aeronáutica e, por fim, o 8 de Janeiro, quando houve a invasão e destruição dos prédios dos Três Poderes na capital federal.

Do ponto de vista político, a já enterrada anistia a Jair Bolsonaro e a acusados dos atos do dia 8 de janeiro nem sequer tende a ser mais discutida. O ex-presidente caminha rapidamente para novos indiciamentos, denúncias, condenação e prisão. Seus aliados já deveriam estar procurando maneiras de viabilizar um 2026 sem ele, ainda que continuem pelos cantos dizendo haver perseguição mara manter acesa a chama do apoio à extrema direita. O mesmo vale para o general Walter Braga Netto, em uma humilhação histórica para o Exército brasileiro, que aceitou vincular-se a um governo que desde sempre se mostrou incapaz de respeitar a democracia. A consequência agora é que membros de alta patente da Força vão sendo expostos em sua perversidade e incompetência.

A Operação Contragolpe, da Polícia Federal, deflagrada nesta terça-feira, 19, reforçou que o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro em seus tempos no Palácio do Planalto era perigoso e, por sorte, incompetente. A ação para, como tudo indica, tentar assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes está fartamente documentada em razão da incapacidade dos envolvidos em esconder os próprios rastros. Mas ainda há perguntas sem resposta.

Os militares envolvidos na empreitada criminosa não tiveram muito cuidado ao livrar-se das evidências do episódio. Mauro Cid até apagou mensagens, sem saber que poderiam ser recuperadas. Mas houve um plano detalhado escrito e impresso, pasmem, no Palácio do Planalto, em um dia que o então presidente da República estava por lá. Havia até o planejamento da criação de um gabinete de gestão de crime, comandado pelos generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, este que teria, segundo a PF, cedido a própria casa para que fosse utilizada para tramar o crime.

General Mário Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, é um dos investigados por articular plano para matar Moraes, Lula e Alckmin Foto: Eduardo Menezes/Secretária-Geral PR

Só há duas hipóteses para a falta de cuidado dos envolvidos em limpar vestígios da atuação golpista. O primeiro deles é a mais pura incompetência mesmo para saber como se livrar de tudo aquilo. O segundo, mais provável, mas que igualmente revela incapacidade de entender o cenário, sugere que eles tinham tanta certeza de que o plano Tabajara daria certo que não estavam tão preocupados com o dia seguinte. Se Lula, Alckmin ou Moraes estivessem mortos ou presos e uma junta militar no comando do País e, em consequência, de posse de todo o aparato estatal, não haveria razão para cogitar hipótese de que fossem descobertos.

Mas mesmo com todos os vestígios deixados pela trupe, há diversas perguntas sem resposta. Quem deu a ideia do plano? Quem mais sabia? E quem daria a ordem final para que fosse executado? São algumas delas. A principal, porém, é por qual motivo o plano não foi de fato levado adiante. A pergunta é relevante até por aspectos jurídicos. Por mais que a articulação de um plano de golpe e a pressão sobre as Forças Armadas por si só já sejam ilícitos puníveis, assim como o delito de organização criminosa, para saber se eles também poderiam responder, em um caso mais extremo, até por tentativa de homicídio, seria necessário saber até onde eles foram e por qual motivo o plano foi abortado. Isso explicaria se eles estavam apenas na fase de atos preparatórios, não puníveis por esse delito em si, ou já no início da execução, interrompida por fatores alheios à vontade deles.

O único indicativo sobre as razões para a desistência da empreitada colocada na rua no dia 15 de dezembro de 2022 seria o envio, no grupo, de uma mensagem apontando que a sessão do STF daquele dia havia sido adiada. A Polícia Federal diz que o print teria sido encaminhado por telefone pelo major Rafael Martins de Oliveira, o mesmo que teria determinado que a missão em execução fosse abortada. Assim, eles só não teriam matado Moraes em razão de um fator que não estava ao alcance deles. Mas por qual motivo não foi realizada em outra ocasião? Uma das explicações seria o fato de Moraes ter ido para São Paulo no dia seguinte, só retornando no dia 31 para a posse de Lula no dia seguinte.

Do ponto de vista jurídico, parece haver ainda muita coisa a ser ligada na conclusão do inquérito do caso. Certamente a PF fará uma costura de todos os acontecimentos e articulações, começando com às acusações contra as urnas eletrônicas e contra o STF feitas por meses por Jair Bolsonaro, a tentativa de impedir que eleitores de Lula votassem no segundo turno da disputa eleitoral, os ataques realizados em Brasília no dia 12, dia da diplomação, o episódio agora revelado do dia 15, a produção de documentos golpistas que não foram implementados por aparente resistência de figuras do Exército e da Aeronáutica e, por fim, o 8 de Janeiro, quando houve a invasão e destruição dos prédios dos Três Poderes na capital federal.

Do ponto de vista político, a já enterrada anistia a Jair Bolsonaro e a acusados dos atos do dia 8 de janeiro nem sequer tende a ser mais discutida. O ex-presidente caminha rapidamente para novos indiciamentos, denúncias, condenação e prisão. Seus aliados já deveriam estar procurando maneiras de viabilizar um 2026 sem ele, ainda que continuem pelos cantos dizendo haver perseguição mara manter acesa a chama do apoio à extrema direita. O mesmo vale para o general Walter Braga Netto, em uma humilhação histórica para o Exército brasileiro, que aceitou vincular-se a um governo que desde sempre se mostrou incapaz de respeitar a democracia. A consequência agora é que membros de alta patente da Força vão sendo expostos em sua perversidade e incompetência.

A Operação Contragolpe, da Polícia Federal, deflagrada nesta terça-feira, 19, reforçou que o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro em seus tempos no Palácio do Planalto era perigoso e, por sorte, incompetente. A ação para, como tudo indica, tentar assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes está fartamente documentada em razão da incapacidade dos envolvidos em esconder os próprios rastros. Mas ainda há perguntas sem resposta.

Os militares envolvidos na empreitada criminosa não tiveram muito cuidado ao livrar-se das evidências do episódio. Mauro Cid até apagou mensagens, sem saber que poderiam ser recuperadas. Mas houve um plano detalhado escrito e impresso, pasmem, no Palácio do Planalto, em um dia que o então presidente da República estava por lá. Havia até o planejamento da criação de um gabinete de gestão de crime, comandado pelos generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, este que teria, segundo a PF, cedido a própria casa para que fosse utilizada para tramar o crime.

General Mário Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, é um dos investigados por articular plano para matar Moraes, Lula e Alckmin Foto: Eduardo Menezes/Secretária-Geral PR

Só há duas hipóteses para a falta de cuidado dos envolvidos em limpar vestígios da atuação golpista. O primeiro deles é a mais pura incompetência mesmo para saber como se livrar de tudo aquilo. O segundo, mais provável, mas que igualmente revela incapacidade de entender o cenário, sugere que eles tinham tanta certeza de que o plano Tabajara daria certo que não estavam tão preocupados com o dia seguinte. Se Lula, Alckmin ou Moraes estivessem mortos ou presos e uma junta militar no comando do País e, em consequência, de posse de todo o aparato estatal, não haveria razão para cogitar hipótese de que fossem descobertos.

Mas mesmo com todos os vestígios deixados pela trupe, há diversas perguntas sem resposta. Quem deu a ideia do plano? Quem mais sabia? E quem daria a ordem final para que fosse executado? São algumas delas. A principal, porém, é por qual motivo o plano não foi de fato levado adiante. A pergunta é relevante até por aspectos jurídicos. Por mais que a articulação de um plano de golpe e a pressão sobre as Forças Armadas por si só já sejam ilícitos puníveis, assim como o delito de organização criminosa, para saber se eles também poderiam responder, em um caso mais extremo, até por tentativa de homicídio, seria necessário saber até onde eles foram e por qual motivo o plano foi abortado. Isso explicaria se eles estavam apenas na fase de atos preparatórios, não puníveis por esse delito em si, ou já no início da execução, interrompida por fatores alheios à vontade deles.

O único indicativo sobre as razões para a desistência da empreitada colocada na rua no dia 15 de dezembro de 2022 seria o envio, no grupo, de uma mensagem apontando que a sessão do STF daquele dia havia sido adiada. A Polícia Federal diz que o print teria sido encaminhado por telefone pelo major Rafael Martins de Oliveira, o mesmo que teria determinado que a missão em execução fosse abortada. Assim, eles só não teriam matado Moraes em razão de um fator que não estava ao alcance deles. Mas por qual motivo não foi realizada em outra ocasião? Uma das explicações seria o fato de Moraes ter ido para São Paulo no dia seguinte, só retornando no dia 31 para a posse de Lula no dia seguinte.

Do ponto de vista jurídico, parece haver ainda muita coisa a ser ligada na conclusão do inquérito do caso. Certamente a PF fará uma costura de todos os acontecimentos e articulações, começando com às acusações contra as urnas eletrônicas e contra o STF feitas por meses por Jair Bolsonaro, a tentativa de impedir que eleitores de Lula votassem no segundo turno da disputa eleitoral, os ataques realizados em Brasília no dia 12, dia da diplomação, o episódio agora revelado do dia 15, a produção de documentos golpistas que não foram implementados por aparente resistência de figuras do Exército e da Aeronáutica e, por fim, o 8 de Janeiro, quando houve a invasão e destruição dos prédios dos Três Poderes na capital federal.

Do ponto de vista político, a já enterrada anistia a Jair Bolsonaro e a acusados dos atos do dia 8 de janeiro nem sequer tende a ser mais discutida. O ex-presidente caminha rapidamente para novos indiciamentos, denúncias, condenação e prisão. Seus aliados já deveriam estar procurando maneiras de viabilizar um 2026 sem ele, ainda que continuem pelos cantos dizendo haver perseguição mara manter acesa a chama do apoio à extrema direita. O mesmo vale para o general Walter Braga Netto, em uma humilhação histórica para o Exército brasileiro, que aceitou vincular-se a um governo que desde sempre se mostrou incapaz de respeitar a democracia. A consequência agora é que membros de alta patente da Força vão sendo expostos em sua perversidade e incompetência.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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