Traduzindo a política

Opinião|Após apanhar por ligar o trator para ajudar quem se esconde, Lira se cansou de ser vilão sozinho


Em tentativa de votar PEC da Anistia, presidente da Casa se rebela ao perceber que sobraria para ele o ônus de uma ideia gestada por partidos com o aval do comando do Senado

Por Ricardo Corrêa

Na reta final de seu mandato como presidente da Câmara e ainda em busca de alianças para garantir a eleição de seu sucessor, Arthur Lira decidiu que não quer mais ser vilão sozinho. Após, em inúmeras situações, assumir o ônus de decisões impopulares enquanto os partidos que as alinhavavam permaneciam discretos, deu o grito em plenário. Mostrou que sentiu as pancadas que sofreu da opinião pública após decisões profundamente negativas da Câmara dos Deputados em período recente e deixou claro: agora, não mais.

A rebelião do presidente da Casa se deu durante a tentativa de votar a PEC da Anistia, que, para dourar a pílula, líderes passaram a chamar de PEC do Refis. A proposta isenta as legendas de punições por descumprirem cotas de repasses a mulheres e negros, agora por meio de um disfarçado refinanciamento que vai empurrar a punição para ser paga em 180 suaves prestações. Não colou.

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, em sessão em que tentou votar a PEC da Anistia aos partidos políticos Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados
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Mesmo assim, Lira tentou colocar o texto em votação como queriam os partidos. Mas, acostumado a ser responsabilizado sozinho pelo trator ligado em votações recentes na Câmara, exigiu que as siglas que articularam o salve geral expusessem suas digitais. Enquanto Novo e PSOL, únicas legendas contrárias ao texto, iam ao microfone tentar derrubar a votação de um relatório que acabara de ser protocolado, Lira disparou seu descontentamento com a posição de carrasco da sociedade: ”Vou ser bastante franco aqui com o plenário da Casa. Esta presidência não tem nenhuma vontade pessoal em votar essa PEC. Nenhuma. Relutei durante 3 semanas. Todos os partidos e presidentes de partidos e lideranças partidárias, com exceção do Novo e do PSOL, se posicionaram a favor da PEC. Portanto, aos líderes desses partidos, venham a plenário explicitar o posicionamento de cada partido”, reclamou.

Complementou demonstrando outra faceta de sua insatisfação: “Inclusive (o posicionamento) do presidente do Senado, que se comprometeu em pautar essa PEC”. E acrescentou: “Compareçam a plenário para não parecer o que não é”.

Em outras palavras, o recado de Lira era o seguinte: não vou assumir sozinho o ônus de ligar o trator que beneficia os partidos, enquanto eles se escondem atrás de acordos, fingem que não é com eles e o presidente do Senado depois sai como o herói que barrou o andamento de mais uma maldade do presidente da Câmara. Ele não está errado.

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A proposta acabou não avançando, justamente quando o líder da federação PT-PCdoB-PV, deputado Odair Cunha (PT) começou a fazer ressalvas ao texto, demonstrando que a legenda não assumiria o desgaste da posição que, como quase todas as demais, sustentava. O presidente da Câmara se irritou e decretou que a votação ficará para agosto. E olhe lá...

A postura de Lira indicou que a pressão da opinião pública funciona e que há como parar o trator que frequentemente é ligado na Câmara. Já estava visível que ele tinha sentido muito o baque das pancadas que levou por conta da votação afoita de um requerimento para acelerar o PL que dava pena maior à mulher estuprada que engravida e faz aborto do que ao estuprador. Só por isso o projeto foi recolhido.

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Lira ainda precisa do apoio dos partidos para fazer seu sucessor. Por isso tem cedido a caprichos em prol de decisões retrógradas, como a do PL do Aborto, essa que perdoa partidos que descumpriram a lei ou a urgência do projeto que acaba com delações premiadas de réus presos para beneficiar Jair Bolsonaro. Mas agora traçou a linha de que não matará mais no peito todo o desgaste. Afinal, em breve sairá de cena o articulador de uma candidatura entre os deputados e entrará em cena outro Arthur Lira, o pretenso candidato ao Senado e que não pode chegar em 2026 desgastado por dirigir sozinho uma semeadora de ideias ruins. Vai preferir as pautas econômicas para explorar a imagem de que foi o presidente da Câmara que aprovou a reforma tributária. Enquanto o café de Lira esfria lentamente, ele começa a pensar em um futuro em que não será mais o todo poderoso da Câmara e que precisará de muito mais votos do que até agora conseguiu. Do cidadão comum e não mais dos líderes partidários.

Na reta final de seu mandato como presidente da Câmara e ainda em busca de alianças para garantir a eleição de seu sucessor, Arthur Lira decidiu que não quer mais ser vilão sozinho. Após, em inúmeras situações, assumir o ônus de decisões impopulares enquanto os partidos que as alinhavavam permaneciam discretos, deu o grito em plenário. Mostrou que sentiu as pancadas que sofreu da opinião pública após decisões profundamente negativas da Câmara dos Deputados em período recente e deixou claro: agora, não mais.

A rebelião do presidente da Casa se deu durante a tentativa de votar a PEC da Anistia, que, para dourar a pílula, líderes passaram a chamar de PEC do Refis. A proposta isenta as legendas de punições por descumprirem cotas de repasses a mulheres e negros, agora por meio de um disfarçado refinanciamento que vai empurrar a punição para ser paga em 180 suaves prestações. Não colou.

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, em sessão em que tentou votar a PEC da Anistia aos partidos políticos Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

Mesmo assim, Lira tentou colocar o texto em votação como queriam os partidos. Mas, acostumado a ser responsabilizado sozinho pelo trator ligado em votações recentes na Câmara, exigiu que as siglas que articularam o salve geral expusessem suas digitais. Enquanto Novo e PSOL, únicas legendas contrárias ao texto, iam ao microfone tentar derrubar a votação de um relatório que acabara de ser protocolado, Lira disparou seu descontentamento com a posição de carrasco da sociedade: ”Vou ser bastante franco aqui com o plenário da Casa. Esta presidência não tem nenhuma vontade pessoal em votar essa PEC. Nenhuma. Relutei durante 3 semanas. Todos os partidos e presidentes de partidos e lideranças partidárias, com exceção do Novo e do PSOL, se posicionaram a favor da PEC. Portanto, aos líderes desses partidos, venham a plenário explicitar o posicionamento de cada partido”, reclamou.

Complementou demonstrando outra faceta de sua insatisfação: “Inclusive (o posicionamento) do presidente do Senado, que se comprometeu em pautar essa PEC”. E acrescentou: “Compareçam a plenário para não parecer o que não é”.

Em outras palavras, o recado de Lira era o seguinte: não vou assumir sozinho o ônus de ligar o trator que beneficia os partidos, enquanto eles se escondem atrás de acordos, fingem que não é com eles e o presidente do Senado depois sai como o herói que barrou o andamento de mais uma maldade do presidente da Câmara. Ele não está errado.

A proposta acabou não avançando, justamente quando o líder da federação PT-PCdoB-PV, deputado Odair Cunha (PT) começou a fazer ressalvas ao texto, demonstrando que a legenda não assumiria o desgaste da posição que, como quase todas as demais, sustentava. O presidente da Câmara se irritou e decretou que a votação ficará para agosto. E olhe lá...

A postura de Lira indicou que a pressão da opinião pública funciona e que há como parar o trator que frequentemente é ligado na Câmara. Já estava visível que ele tinha sentido muito o baque das pancadas que levou por conta da votação afoita de um requerimento para acelerar o PL que dava pena maior à mulher estuprada que engravida e faz aborto do que ao estuprador. Só por isso o projeto foi recolhido.

Lira ainda precisa do apoio dos partidos para fazer seu sucessor. Por isso tem cedido a caprichos em prol de decisões retrógradas, como a do PL do Aborto, essa que perdoa partidos que descumpriram a lei ou a urgência do projeto que acaba com delações premiadas de réus presos para beneficiar Jair Bolsonaro. Mas agora traçou a linha de que não matará mais no peito todo o desgaste. Afinal, em breve sairá de cena o articulador de uma candidatura entre os deputados e entrará em cena outro Arthur Lira, o pretenso candidato ao Senado e que não pode chegar em 2026 desgastado por dirigir sozinho uma semeadora de ideias ruins. Vai preferir as pautas econômicas para explorar a imagem de que foi o presidente da Câmara que aprovou a reforma tributária. Enquanto o café de Lira esfria lentamente, ele começa a pensar em um futuro em que não será mais o todo poderoso da Câmara e que precisará de muito mais votos do que até agora conseguiu. Do cidadão comum e não mais dos líderes partidários.

Na reta final de seu mandato como presidente da Câmara e ainda em busca de alianças para garantir a eleição de seu sucessor, Arthur Lira decidiu que não quer mais ser vilão sozinho. Após, em inúmeras situações, assumir o ônus de decisões impopulares enquanto os partidos que as alinhavavam permaneciam discretos, deu o grito em plenário. Mostrou que sentiu as pancadas que sofreu da opinião pública após decisões profundamente negativas da Câmara dos Deputados em período recente e deixou claro: agora, não mais.

A rebelião do presidente da Casa se deu durante a tentativa de votar a PEC da Anistia, que, para dourar a pílula, líderes passaram a chamar de PEC do Refis. A proposta isenta as legendas de punições por descumprirem cotas de repasses a mulheres e negros, agora por meio de um disfarçado refinanciamento que vai empurrar a punição para ser paga em 180 suaves prestações. Não colou.

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, em sessão em que tentou votar a PEC da Anistia aos partidos políticos Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

Mesmo assim, Lira tentou colocar o texto em votação como queriam os partidos. Mas, acostumado a ser responsabilizado sozinho pelo trator ligado em votações recentes na Câmara, exigiu que as siglas que articularam o salve geral expusessem suas digitais. Enquanto Novo e PSOL, únicas legendas contrárias ao texto, iam ao microfone tentar derrubar a votação de um relatório que acabara de ser protocolado, Lira disparou seu descontentamento com a posição de carrasco da sociedade: ”Vou ser bastante franco aqui com o plenário da Casa. Esta presidência não tem nenhuma vontade pessoal em votar essa PEC. Nenhuma. Relutei durante 3 semanas. Todos os partidos e presidentes de partidos e lideranças partidárias, com exceção do Novo e do PSOL, se posicionaram a favor da PEC. Portanto, aos líderes desses partidos, venham a plenário explicitar o posicionamento de cada partido”, reclamou.

Complementou demonstrando outra faceta de sua insatisfação: “Inclusive (o posicionamento) do presidente do Senado, que se comprometeu em pautar essa PEC”. E acrescentou: “Compareçam a plenário para não parecer o que não é”.

Em outras palavras, o recado de Lira era o seguinte: não vou assumir sozinho o ônus de ligar o trator que beneficia os partidos, enquanto eles se escondem atrás de acordos, fingem que não é com eles e o presidente do Senado depois sai como o herói que barrou o andamento de mais uma maldade do presidente da Câmara. Ele não está errado.

A proposta acabou não avançando, justamente quando o líder da federação PT-PCdoB-PV, deputado Odair Cunha (PT) começou a fazer ressalvas ao texto, demonstrando que a legenda não assumiria o desgaste da posição que, como quase todas as demais, sustentava. O presidente da Câmara se irritou e decretou que a votação ficará para agosto. E olhe lá...

A postura de Lira indicou que a pressão da opinião pública funciona e que há como parar o trator que frequentemente é ligado na Câmara. Já estava visível que ele tinha sentido muito o baque das pancadas que levou por conta da votação afoita de um requerimento para acelerar o PL que dava pena maior à mulher estuprada que engravida e faz aborto do que ao estuprador. Só por isso o projeto foi recolhido.

Lira ainda precisa do apoio dos partidos para fazer seu sucessor. Por isso tem cedido a caprichos em prol de decisões retrógradas, como a do PL do Aborto, essa que perdoa partidos que descumpriram a lei ou a urgência do projeto que acaba com delações premiadas de réus presos para beneficiar Jair Bolsonaro. Mas agora traçou a linha de que não matará mais no peito todo o desgaste. Afinal, em breve sairá de cena o articulador de uma candidatura entre os deputados e entrará em cena outro Arthur Lira, o pretenso candidato ao Senado e que não pode chegar em 2026 desgastado por dirigir sozinho uma semeadora de ideias ruins. Vai preferir as pautas econômicas para explorar a imagem de que foi o presidente da Câmara que aprovou a reforma tributária. Enquanto o café de Lira esfria lentamente, ele começa a pensar em um futuro em que não será mais o todo poderoso da Câmara e que precisará de muito mais votos do que até agora conseguiu. Do cidadão comum e não mais dos líderes partidários.

Na reta final de seu mandato como presidente da Câmara e ainda em busca de alianças para garantir a eleição de seu sucessor, Arthur Lira decidiu que não quer mais ser vilão sozinho. Após, em inúmeras situações, assumir o ônus de decisões impopulares enquanto os partidos que as alinhavavam permaneciam discretos, deu o grito em plenário. Mostrou que sentiu as pancadas que sofreu da opinião pública após decisões profundamente negativas da Câmara dos Deputados em período recente e deixou claro: agora, não mais.

A rebelião do presidente da Casa se deu durante a tentativa de votar a PEC da Anistia, que, para dourar a pílula, líderes passaram a chamar de PEC do Refis. A proposta isenta as legendas de punições por descumprirem cotas de repasses a mulheres e negros, agora por meio de um disfarçado refinanciamento que vai empurrar a punição para ser paga em 180 suaves prestações. Não colou.

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, em sessão em que tentou votar a PEC da Anistia aos partidos políticos Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

Mesmo assim, Lira tentou colocar o texto em votação como queriam os partidos. Mas, acostumado a ser responsabilizado sozinho pelo trator ligado em votações recentes na Câmara, exigiu que as siglas que articularam o salve geral expusessem suas digitais. Enquanto Novo e PSOL, únicas legendas contrárias ao texto, iam ao microfone tentar derrubar a votação de um relatório que acabara de ser protocolado, Lira disparou seu descontentamento com a posição de carrasco da sociedade: ”Vou ser bastante franco aqui com o plenário da Casa. Esta presidência não tem nenhuma vontade pessoal em votar essa PEC. Nenhuma. Relutei durante 3 semanas. Todos os partidos e presidentes de partidos e lideranças partidárias, com exceção do Novo e do PSOL, se posicionaram a favor da PEC. Portanto, aos líderes desses partidos, venham a plenário explicitar o posicionamento de cada partido”, reclamou.

Complementou demonstrando outra faceta de sua insatisfação: “Inclusive (o posicionamento) do presidente do Senado, que se comprometeu em pautar essa PEC”. E acrescentou: “Compareçam a plenário para não parecer o que não é”.

Em outras palavras, o recado de Lira era o seguinte: não vou assumir sozinho o ônus de ligar o trator que beneficia os partidos, enquanto eles se escondem atrás de acordos, fingem que não é com eles e o presidente do Senado depois sai como o herói que barrou o andamento de mais uma maldade do presidente da Câmara. Ele não está errado.

A proposta acabou não avançando, justamente quando o líder da federação PT-PCdoB-PV, deputado Odair Cunha (PT) começou a fazer ressalvas ao texto, demonstrando que a legenda não assumiria o desgaste da posição que, como quase todas as demais, sustentava. O presidente da Câmara se irritou e decretou que a votação ficará para agosto. E olhe lá...

A postura de Lira indicou que a pressão da opinião pública funciona e que há como parar o trator que frequentemente é ligado na Câmara. Já estava visível que ele tinha sentido muito o baque das pancadas que levou por conta da votação afoita de um requerimento para acelerar o PL que dava pena maior à mulher estuprada que engravida e faz aborto do que ao estuprador. Só por isso o projeto foi recolhido.

Lira ainda precisa do apoio dos partidos para fazer seu sucessor. Por isso tem cedido a caprichos em prol de decisões retrógradas, como a do PL do Aborto, essa que perdoa partidos que descumpriram a lei ou a urgência do projeto que acaba com delações premiadas de réus presos para beneficiar Jair Bolsonaro. Mas agora traçou a linha de que não matará mais no peito todo o desgaste. Afinal, em breve sairá de cena o articulador de uma candidatura entre os deputados e entrará em cena outro Arthur Lira, o pretenso candidato ao Senado e que não pode chegar em 2026 desgastado por dirigir sozinho uma semeadora de ideias ruins. Vai preferir as pautas econômicas para explorar a imagem de que foi o presidente da Câmara que aprovou a reforma tributária. Enquanto o café de Lira esfria lentamente, ele começa a pensar em um futuro em que não será mais o todo poderoso da Câmara e que precisará de muito mais votos do que até agora conseguiu. Do cidadão comum e não mais dos líderes partidários.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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