Traduzindo a política

Opinião|Bolsonaro sente o cheiro da prisão e faz ato para mostrar força a adversários e testar aliados


Ex-presidente quer mostrar ao Judiciário que haverá reação em caso de decisões contra ele e revitalizar força junto a seus aliados

Por Ricardo Corrêa
Atualização:

Dois objetivos norteiam a estratégia de Jair Bolsonaro de convocar um ato unificado em sua defesa no próximo dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista. Um deles é mostrar aos adversários e, em especial, aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que tem apoio suficiente para tornar sua prisão um fator de desestabilização no País. O outro é testar seus aliados às vésperas do período de definições da disputa eleitoral de 2026, pressionando-os publicamente a anunciar apoio. A estratégia é arriscada e, exatamente por isso, não teria sido utilizada se o ex-presidente não começasse a sentir o cheiro de prisão.

A apreensão de seu passaporte durante a última fase da operação é o sinal mais claro de que o cerco está se fechando e que, sim, o STF trabalha com a hipótese de prendê-lo e quer evitar uma eventual fuga. Ainda que o pensamento majoritário na Corte seja de que nenhuma decisão de prisão se dê antes de uma condenação com trânsito em julgado, o movimento autorizado por Alexandre de Moraes de apreender seu passaporte acende um alerta de que essa opção não está plenamente descartada.

Jair Bolsonaro marcou ato para o dia 25 com objetivos de mostrar força e forçar apoio de aliados Foto: Wilton Júnior/Estadão
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É exatamente por isso que Bolsonaro quer fazer essa demonstração de força. A presença de muitos apoiadores nas ruas e de diversos políticos em seu palanque mandaria o recado de que uma condenação e prisão agora seria muito diferente da declaração de inelegibilidade aplicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) duas vezes no ano passado. Nas duas ocasiões em que o tribunal se reuniu para tirar Bolsonaro das eleições de 2026, não houve qualquer ato público de apoio ao ex-presidente ou de contestação da decisão. Não havia uma viva alma à frente do TSE ou em qualquer outra esquina do Brasil. Aquilo deu ao Judiciário o indicativo de que não haveria qualquer tipo de convulsão social caso houvesse avanço sobre o ex-presidente.

No raciocínio de Bolsonaro, portanto, mostrar força agora serviria para afastar a prisão. Mas é uma estratégia arriscada, entre outras coisas, pelo risco de não conseguir controlar o ato. Supondo que sua realização descambe em pressão explícita contra o Judiciário, inclusive nos discursos, ou em algum tipo de recado a ser repassado a testemunhas, poderiam ser configuradas hipóteses de prisão preventiva por embaraçar as investigações. O pedido para que os manifestantes não levem faixas “contra quem quer que seja” tenta se blindar disso. Mas se a multidão enfurecida começar a pedir golpe ou ameaçar o STF, haverá uma linha tênue para a responsabilização do responsável por convocá-la. Além disso, Bolsonaro está proibido de se comunicar com outros investigados. Assim, se o discurso também tiver recados embutidos aos demais alvos da PF, gera uma ameaça jurídica a ele.

Há ainda outro interesse no núcleo que cerca o ex-presidente na realização dos atos. Ele quer emparedar aliados, obrigando-os a colocarem-se publicamente ao seu lado na disputa que trava com o Judiciário. A Bolsonaro não basta apenas uma aliança eleitoral, que para um político inelegível interessa muito mais a quem receberá seu apoio do que a ele. Ele quer que todos aqueles com quem se vincula politicamente sejam seus sócios também nessa empreitada contra uma condenação no STF. A realização do ato em São Paulo, e não em Brasília, onde Bolsonaro reside, nem no Rio, seu reduto eleitoral, serve para constranger ainda mais duas figuras em especial: o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes.

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Tarcísio já avisou que irá. Sobre Nunes, a pressão é ainda maior, já que pode levar a consequências mais imediatas. Bolsonaro quer essa demonstração pública de apoio justamente no momento antes do período de definição das candidaturas e alianças partidárias. Há aí uma ameaça implícita de novamente abandonar a pré-campanha do prefeito para insistir em um nome à direita que poderia machucar a votação do prefeito em um primeiro turno. Para Nunes, porém, ir a um evento em que Bolsonaro defende-se de tentar dar um golpe de Estado e diante de uma multidão que deve mostrar-se hostil ao STF, é uma imagem que não combina com o discurso de quem almeja apresentar-se ao eleitorado como um moderado de centro e com uma frente ampla de apoio.

Por fim, se conseguir reunir líderes de direita em seu palanque mesmo no pior momento do ponto de vista jurídico (até aqui), com a Polícia Federal batendo à sua porta, Bolsonaro reforçará a imagem de líder da oposição e aglutinador da direita para os próximos passos rumo a 2026. As ausências em seu palanque servirão também para medir até onde pode ir o apoio a ele por parte daqueles que querem trilhar caminhos próprios sem sofrer dos mesmos percalços no futuro. Esses aliados preferiam que Bolsonaro fosse sendo enfraquecido aos poucos para que pudessem ocupar seu espaço mais adiante. O ex-presidente, porém, quer garantir que estejam vinculados a ele qualquer que seja seu futuro.

Dois objetivos norteiam a estratégia de Jair Bolsonaro de convocar um ato unificado em sua defesa no próximo dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista. Um deles é mostrar aos adversários e, em especial, aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que tem apoio suficiente para tornar sua prisão um fator de desestabilização no País. O outro é testar seus aliados às vésperas do período de definições da disputa eleitoral de 2026, pressionando-os publicamente a anunciar apoio. A estratégia é arriscada e, exatamente por isso, não teria sido utilizada se o ex-presidente não começasse a sentir o cheiro de prisão.

A apreensão de seu passaporte durante a última fase da operação é o sinal mais claro de que o cerco está se fechando e que, sim, o STF trabalha com a hipótese de prendê-lo e quer evitar uma eventual fuga. Ainda que o pensamento majoritário na Corte seja de que nenhuma decisão de prisão se dê antes de uma condenação com trânsito em julgado, o movimento autorizado por Alexandre de Moraes de apreender seu passaporte acende um alerta de que essa opção não está plenamente descartada.

Jair Bolsonaro marcou ato para o dia 25 com objetivos de mostrar força e forçar apoio de aliados Foto: Wilton Júnior/Estadão

É exatamente por isso que Bolsonaro quer fazer essa demonstração de força. A presença de muitos apoiadores nas ruas e de diversos políticos em seu palanque mandaria o recado de que uma condenação e prisão agora seria muito diferente da declaração de inelegibilidade aplicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) duas vezes no ano passado. Nas duas ocasiões em que o tribunal se reuniu para tirar Bolsonaro das eleições de 2026, não houve qualquer ato público de apoio ao ex-presidente ou de contestação da decisão. Não havia uma viva alma à frente do TSE ou em qualquer outra esquina do Brasil. Aquilo deu ao Judiciário o indicativo de que não haveria qualquer tipo de convulsão social caso houvesse avanço sobre o ex-presidente.

No raciocínio de Bolsonaro, portanto, mostrar força agora serviria para afastar a prisão. Mas é uma estratégia arriscada, entre outras coisas, pelo risco de não conseguir controlar o ato. Supondo que sua realização descambe em pressão explícita contra o Judiciário, inclusive nos discursos, ou em algum tipo de recado a ser repassado a testemunhas, poderiam ser configuradas hipóteses de prisão preventiva por embaraçar as investigações. O pedido para que os manifestantes não levem faixas “contra quem quer que seja” tenta se blindar disso. Mas se a multidão enfurecida começar a pedir golpe ou ameaçar o STF, haverá uma linha tênue para a responsabilização do responsável por convocá-la. Além disso, Bolsonaro está proibido de se comunicar com outros investigados. Assim, se o discurso também tiver recados embutidos aos demais alvos da PF, gera uma ameaça jurídica a ele.

Há ainda outro interesse no núcleo que cerca o ex-presidente na realização dos atos. Ele quer emparedar aliados, obrigando-os a colocarem-se publicamente ao seu lado na disputa que trava com o Judiciário. A Bolsonaro não basta apenas uma aliança eleitoral, que para um político inelegível interessa muito mais a quem receberá seu apoio do que a ele. Ele quer que todos aqueles com quem se vincula politicamente sejam seus sócios também nessa empreitada contra uma condenação no STF. A realização do ato em São Paulo, e não em Brasília, onde Bolsonaro reside, nem no Rio, seu reduto eleitoral, serve para constranger ainda mais duas figuras em especial: o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes.

Tarcísio já avisou que irá. Sobre Nunes, a pressão é ainda maior, já que pode levar a consequências mais imediatas. Bolsonaro quer essa demonstração pública de apoio justamente no momento antes do período de definição das candidaturas e alianças partidárias. Há aí uma ameaça implícita de novamente abandonar a pré-campanha do prefeito para insistir em um nome à direita que poderia machucar a votação do prefeito em um primeiro turno. Para Nunes, porém, ir a um evento em que Bolsonaro defende-se de tentar dar um golpe de Estado e diante de uma multidão que deve mostrar-se hostil ao STF, é uma imagem que não combina com o discurso de quem almeja apresentar-se ao eleitorado como um moderado de centro e com uma frente ampla de apoio.

Por fim, se conseguir reunir líderes de direita em seu palanque mesmo no pior momento do ponto de vista jurídico (até aqui), com a Polícia Federal batendo à sua porta, Bolsonaro reforçará a imagem de líder da oposição e aglutinador da direita para os próximos passos rumo a 2026. As ausências em seu palanque servirão também para medir até onde pode ir o apoio a ele por parte daqueles que querem trilhar caminhos próprios sem sofrer dos mesmos percalços no futuro. Esses aliados preferiam que Bolsonaro fosse sendo enfraquecido aos poucos para que pudessem ocupar seu espaço mais adiante. O ex-presidente, porém, quer garantir que estejam vinculados a ele qualquer que seja seu futuro.

Dois objetivos norteiam a estratégia de Jair Bolsonaro de convocar um ato unificado em sua defesa no próximo dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista. Um deles é mostrar aos adversários e, em especial, aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que tem apoio suficiente para tornar sua prisão um fator de desestabilização no País. O outro é testar seus aliados às vésperas do período de definições da disputa eleitoral de 2026, pressionando-os publicamente a anunciar apoio. A estratégia é arriscada e, exatamente por isso, não teria sido utilizada se o ex-presidente não começasse a sentir o cheiro de prisão.

A apreensão de seu passaporte durante a última fase da operação é o sinal mais claro de que o cerco está se fechando e que, sim, o STF trabalha com a hipótese de prendê-lo e quer evitar uma eventual fuga. Ainda que o pensamento majoritário na Corte seja de que nenhuma decisão de prisão se dê antes de uma condenação com trânsito em julgado, o movimento autorizado por Alexandre de Moraes de apreender seu passaporte acende um alerta de que essa opção não está plenamente descartada.

Jair Bolsonaro marcou ato para o dia 25 com objetivos de mostrar força e forçar apoio de aliados Foto: Wilton Júnior/Estadão

É exatamente por isso que Bolsonaro quer fazer essa demonstração de força. A presença de muitos apoiadores nas ruas e de diversos políticos em seu palanque mandaria o recado de que uma condenação e prisão agora seria muito diferente da declaração de inelegibilidade aplicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) duas vezes no ano passado. Nas duas ocasiões em que o tribunal se reuniu para tirar Bolsonaro das eleições de 2026, não houve qualquer ato público de apoio ao ex-presidente ou de contestação da decisão. Não havia uma viva alma à frente do TSE ou em qualquer outra esquina do Brasil. Aquilo deu ao Judiciário o indicativo de que não haveria qualquer tipo de convulsão social caso houvesse avanço sobre o ex-presidente.

No raciocínio de Bolsonaro, portanto, mostrar força agora serviria para afastar a prisão. Mas é uma estratégia arriscada, entre outras coisas, pelo risco de não conseguir controlar o ato. Supondo que sua realização descambe em pressão explícita contra o Judiciário, inclusive nos discursos, ou em algum tipo de recado a ser repassado a testemunhas, poderiam ser configuradas hipóteses de prisão preventiva por embaraçar as investigações. O pedido para que os manifestantes não levem faixas “contra quem quer que seja” tenta se blindar disso. Mas se a multidão enfurecida começar a pedir golpe ou ameaçar o STF, haverá uma linha tênue para a responsabilização do responsável por convocá-la. Além disso, Bolsonaro está proibido de se comunicar com outros investigados. Assim, se o discurso também tiver recados embutidos aos demais alvos da PF, gera uma ameaça jurídica a ele.

Há ainda outro interesse no núcleo que cerca o ex-presidente na realização dos atos. Ele quer emparedar aliados, obrigando-os a colocarem-se publicamente ao seu lado na disputa que trava com o Judiciário. A Bolsonaro não basta apenas uma aliança eleitoral, que para um político inelegível interessa muito mais a quem receberá seu apoio do que a ele. Ele quer que todos aqueles com quem se vincula politicamente sejam seus sócios também nessa empreitada contra uma condenação no STF. A realização do ato em São Paulo, e não em Brasília, onde Bolsonaro reside, nem no Rio, seu reduto eleitoral, serve para constranger ainda mais duas figuras em especial: o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes.

Tarcísio já avisou que irá. Sobre Nunes, a pressão é ainda maior, já que pode levar a consequências mais imediatas. Bolsonaro quer essa demonstração pública de apoio justamente no momento antes do período de definição das candidaturas e alianças partidárias. Há aí uma ameaça implícita de novamente abandonar a pré-campanha do prefeito para insistir em um nome à direita que poderia machucar a votação do prefeito em um primeiro turno. Para Nunes, porém, ir a um evento em que Bolsonaro defende-se de tentar dar um golpe de Estado e diante de uma multidão que deve mostrar-se hostil ao STF, é uma imagem que não combina com o discurso de quem almeja apresentar-se ao eleitorado como um moderado de centro e com uma frente ampla de apoio.

Por fim, se conseguir reunir líderes de direita em seu palanque mesmo no pior momento do ponto de vista jurídico (até aqui), com a Polícia Federal batendo à sua porta, Bolsonaro reforçará a imagem de líder da oposição e aglutinador da direita para os próximos passos rumo a 2026. As ausências em seu palanque servirão também para medir até onde pode ir o apoio a ele por parte daqueles que querem trilhar caminhos próprios sem sofrer dos mesmos percalços no futuro. Esses aliados preferiam que Bolsonaro fosse sendo enfraquecido aos poucos para que pudessem ocupar seu espaço mais adiante. O ex-presidente, porém, quer garantir que estejam vinculados a ele qualquer que seja seu futuro.

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Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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