Traduzindo a política

Opinião|Derrota de Maduro libertaria também Lula e o Brasil, se for aceita pelo regime venezuelano


Governo brasileiro se colocou em uma armadilha ao referendar processo eleitoral no País vizinho que, sob o comando de um aliado, traz mais prejuízos que benefícios econômicos e políticos

Por Ricardo Corrêa
Atualização:

Não há dúvidas de que o povo venezuelano hoje não vive um regime de plena liberdade. Por mais que a ideologia cega possa fazer com que alguns enxerguem democracia onde não há, estamos diante de um regime autoritário, que controla poderes constituídos e, com apoio dos militares, faz valer suas vontades, sufocando a oposição a despeito das pressões externas que enfrenta. Ainda assim, o regime desgasta-se profundamente e enfrenta real chance de perder nas urnas mesmo depois de ter eliminado seus principais concorrentes. E se Nicolás Maduro for derrotado nas eleições e forçado a deixar o poder, haverá algum tipo de libertação. Não só dos venezuelanos, mas também do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governo brasileiro.

Hoje o Brasil está aprisionado em uma armadilha criada quando resolveu até relativizar a democracia para legitimar um processo eleitoral claramente viciado. Por mera predileção ideológica ou o agradecimento por favores pretéritos inconfessáveis, tornando-se sócio da catástrofe humanitária que se vê no País vizinho.

Lula está aprisionado na defesa do processo eleitoral que Maduro agora ousa mais uma vez desrespeitar Foto: Wilton Junior/Estadão
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Nem mesmo eventuais benefícios comerciais ao País, se houvessem, deveriam ser usados para se omitir diante do sufocamento de um povo como o que ocorre ao nosso lado. É fato que o pragmatismo no campo da diplomacia leva em consideração interesses maiores de um País, como quando o mundo quase todo faz vistas grossas à repressão na China, por exemplo. Mas, no caso da Venezuela, naturalmente, nem isso explicaria.

No ano passado, primeiro do atual mandato de Lula, o País esteve longe de ser o parceiro comercial relevante que já foi em outros tempos para o Brasil. Não esteve nem entre os 40 maiores compradores de nossos produtos. Com ou sem a boa relação com Maduro, exportamos para lá pouco mais de US$ 1 bilhão, ou algo em torno de R$ 5,5 bilhões. O valor é modesto. Para a China, nosso maior mercado, exportamos mais de US$ 100 bilhões.

Ao contrário, a gestão de Maduro na Venezuela tem nos dado muitas despesas. Só o teatro com o qual ameaçou tomar 70% do território da Guiana custou-nos R$ 217 milhões na operação logística realizada para garantir que tropas do vizinho encrenqueiro não atravessassem território do Brasil, como mostrou Marcelo Godoy em sua coluna. Fora o custo de R$ 228 milhões em equipamentos enviados e imobilizados na fronteira. Há ainda o gasto permanente da necessária Operação Acolhida, que já recebeu mais de 125 mil refugiados venezuelanos, encontrando abrigos para eles em todas as partes do Brasil.

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Isso, claro, sem falar nos efeitos políticos para o governo e para o presidente brasileiro. Os últimos vemos agora quando, justamente depois de tentar dar credibilidade a um processo suspeitíssimo de eleições no País vizinho, tenhamos que ouvir Maduro bombardear o nosso próprio sistema que, entre solavancos e ameaças, tem garantido alternância de poder desde a redemocratização.

Nem diante de um cenário em que Maduro coloca em dúvida a própria vitória de Lula, que é o que ele faz ao argumentar, falsamente, que as eleições brasileiras não são auditáveis, o presidente brasileiro é capaz de dar-lhe uma resposta a altura. E quando ousa uma frase um pouco mais objetiva, sobre o absurdo que é a declaração de Maduro sobre o risco de um banho de sangue caso perca, recebe uma resposta bem mais contundente e encolhe-se, em um papel que não é do tamanho do Brasil. Enquanto isso, é a oposição venezuelana quem estende a mão ao País e agradece pelo fato de o presidente ter feito o mínimo: se dizer assustado com a retórica de Maduro.

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Hoje, o venezuelano emula Bolsonaro na acusação sobre as urnas eletrônicas brasileiras. E ameaça fazer o mesmo que tentaram trumpistas e bolsonaristas nas ocasiões em que foram derrotados eleitoralmente. Nesses dois casos, a condenação de Lula foi veemente e enfática. O que fará se Maduro cumprir suas ameaças? Para o governo brasileiro, refém que é de uma posição construída estritamente em cima da ideologia, resta torcer para que, por fraqueza, isolamento ou pressão popular, Maduro aceite eventual derrota, iminente segundo as pesquisas de intenção de voto na Venezuela. Estará resolvido um problema que Lula e o Brasil nunca deveriam ter e aberto um caminho para uma normalidade que, essa sim, traria muito mais frutos ao País que sonha em liderar o progresso na América Latina.

Não há dúvidas de que o povo venezuelano hoje não vive um regime de plena liberdade. Por mais que a ideologia cega possa fazer com que alguns enxerguem democracia onde não há, estamos diante de um regime autoritário, que controla poderes constituídos e, com apoio dos militares, faz valer suas vontades, sufocando a oposição a despeito das pressões externas que enfrenta. Ainda assim, o regime desgasta-se profundamente e enfrenta real chance de perder nas urnas mesmo depois de ter eliminado seus principais concorrentes. E se Nicolás Maduro for derrotado nas eleições e forçado a deixar o poder, haverá algum tipo de libertação. Não só dos venezuelanos, mas também do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governo brasileiro.

Hoje o Brasil está aprisionado em uma armadilha criada quando resolveu até relativizar a democracia para legitimar um processo eleitoral claramente viciado. Por mera predileção ideológica ou o agradecimento por favores pretéritos inconfessáveis, tornando-se sócio da catástrofe humanitária que se vê no País vizinho.

Lula está aprisionado na defesa do processo eleitoral que Maduro agora ousa mais uma vez desrespeitar Foto: Wilton Junior/Estadão

Nem mesmo eventuais benefícios comerciais ao País, se houvessem, deveriam ser usados para se omitir diante do sufocamento de um povo como o que ocorre ao nosso lado. É fato que o pragmatismo no campo da diplomacia leva em consideração interesses maiores de um País, como quando o mundo quase todo faz vistas grossas à repressão na China, por exemplo. Mas, no caso da Venezuela, naturalmente, nem isso explicaria.

No ano passado, primeiro do atual mandato de Lula, o País esteve longe de ser o parceiro comercial relevante que já foi em outros tempos para o Brasil. Não esteve nem entre os 40 maiores compradores de nossos produtos. Com ou sem a boa relação com Maduro, exportamos para lá pouco mais de US$ 1 bilhão, ou algo em torno de R$ 5,5 bilhões. O valor é modesto. Para a China, nosso maior mercado, exportamos mais de US$ 100 bilhões.

Ao contrário, a gestão de Maduro na Venezuela tem nos dado muitas despesas. Só o teatro com o qual ameaçou tomar 70% do território da Guiana custou-nos R$ 217 milhões na operação logística realizada para garantir que tropas do vizinho encrenqueiro não atravessassem território do Brasil, como mostrou Marcelo Godoy em sua coluna. Fora o custo de R$ 228 milhões em equipamentos enviados e imobilizados na fronteira. Há ainda o gasto permanente da necessária Operação Acolhida, que já recebeu mais de 125 mil refugiados venezuelanos, encontrando abrigos para eles em todas as partes do Brasil.

Isso, claro, sem falar nos efeitos políticos para o governo e para o presidente brasileiro. Os últimos vemos agora quando, justamente depois de tentar dar credibilidade a um processo suspeitíssimo de eleições no País vizinho, tenhamos que ouvir Maduro bombardear o nosso próprio sistema que, entre solavancos e ameaças, tem garantido alternância de poder desde a redemocratização.

Nem diante de um cenário em que Maduro coloca em dúvida a própria vitória de Lula, que é o que ele faz ao argumentar, falsamente, que as eleições brasileiras não são auditáveis, o presidente brasileiro é capaz de dar-lhe uma resposta a altura. E quando ousa uma frase um pouco mais objetiva, sobre o absurdo que é a declaração de Maduro sobre o risco de um banho de sangue caso perca, recebe uma resposta bem mais contundente e encolhe-se, em um papel que não é do tamanho do Brasil. Enquanto isso, é a oposição venezuelana quem estende a mão ao País e agradece pelo fato de o presidente ter feito o mínimo: se dizer assustado com a retórica de Maduro.

Hoje, o venezuelano emula Bolsonaro na acusação sobre as urnas eletrônicas brasileiras. E ameaça fazer o mesmo que tentaram trumpistas e bolsonaristas nas ocasiões em que foram derrotados eleitoralmente. Nesses dois casos, a condenação de Lula foi veemente e enfática. O que fará se Maduro cumprir suas ameaças? Para o governo brasileiro, refém que é de uma posição construída estritamente em cima da ideologia, resta torcer para que, por fraqueza, isolamento ou pressão popular, Maduro aceite eventual derrota, iminente segundo as pesquisas de intenção de voto na Venezuela. Estará resolvido um problema que Lula e o Brasil nunca deveriam ter e aberto um caminho para uma normalidade que, essa sim, traria muito mais frutos ao País que sonha em liderar o progresso na América Latina.

Não há dúvidas de que o povo venezuelano hoje não vive um regime de plena liberdade. Por mais que a ideologia cega possa fazer com que alguns enxerguem democracia onde não há, estamos diante de um regime autoritário, que controla poderes constituídos e, com apoio dos militares, faz valer suas vontades, sufocando a oposição a despeito das pressões externas que enfrenta. Ainda assim, o regime desgasta-se profundamente e enfrenta real chance de perder nas urnas mesmo depois de ter eliminado seus principais concorrentes. E se Nicolás Maduro for derrotado nas eleições e forçado a deixar o poder, haverá algum tipo de libertação. Não só dos venezuelanos, mas também do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governo brasileiro.

Hoje o Brasil está aprisionado em uma armadilha criada quando resolveu até relativizar a democracia para legitimar um processo eleitoral claramente viciado. Por mera predileção ideológica ou o agradecimento por favores pretéritos inconfessáveis, tornando-se sócio da catástrofe humanitária que se vê no País vizinho.

Lula está aprisionado na defesa do processo eleitoral que Maduro agora ousa mais uma vez desrespeitar Foto: Wilton Junior/Estadão

Nem mesmo eventuais benefícios comerciais ao País, se houvessem, deveriam ser usados para se omitir diante do sufocamento de um povo como o que ocorre ao nosso lado. É fato que o pragmatismo no campo da diplomacia leva em consideração interesses maiores de um País, como quando o mundo quase todo faz vistas grossas à repressão na China, por exemplo. Mas, no caso da Venezuela, naturalmente, nem isso explicaria.

No ano passado, primeiro do atual mandato de Lula, o País esteve longe de ser o parceiro comercial relevante que já foi em outros tempos para o Brasil. Não esteve nem entre os 40 maiores compradores de nossos produtos. Com ou sem a boa relação com Maduro, exportamos para lá pouco mais de US$ 1 bilhão, ou algo em torno de R$ 5,5 bilhões. O valor é modesto. Para a China, nosso maior mercado, exportamos mais de US$ 100 bilhões.

Ao contrário, a gestão de Maduro na Venezuela tem nos dado muitas despesas. Só o teatro com o qual ameaçou tomar 70% do território da Guiana custou-nos R$ 217 milhões na operação logística realizada para garantir que tropas do vizinho encrenqueiro não atravessassem território do Brasil, como mostrou Marcelo Godoy em sua coluna. Fora o custo de R$ 228 milhões em equipamentos enviados e imobilizados na fronteira. Há ainda o gasto permanente da necessária Operação Acolhida, que já recebeu mais de 125 mil refugiados venezuelanos, encontrando abrigos para eles em todas as partes do Brasil.

Isso, claro, sem falar nos efeitos políticos para o governo e para o presidente brasileiro. Os últimos vemos agora quando, justamente depois de tentar dar credibilidade a um processo suspeitíssimo de eleições no País vizinho, tenhamos que ouvir Maduro bombardear o nosso próprio sistema que, entre solavancos e ameaças, tem garantido alternância de poder desde a redemocratização.

Nem diante de um cenário em que Maduro coloca em dúvida a própria vitória de Lula, que é o que ele faz ao argumentar, falsamente, que as eleições brasileiras não são auditáveis, o presidente brasileiro é capaz de dar-lhe uma resposta a altura. E quando ousa uma frase um pouco mais objetiva, sobre o absurdo que é a declaração de Maduro sobre o risco de um banho de sangue caso perca, recebe uma resposta bem mais contundente e encolhe-se, em um papel que não é do tamanho do Brasil. Enquanto isso, é a oposição venezuelana quem estende a mão ao País e agradece pelo fato de o presidente ter feito o mínimo: se dizer assustado com a retórica de Maduro.

Hoje, o venezuelano emula Bolsonaro na acusação sobre as urnas eletrônicas brasileiras. E ameaça fazer o mesmo que tentaram trumpistas e bolsonaristas nas ocasiões em que foram derrotados eleitoralmente. Nesses dois casos, a condenação de Lula foi veemente e enfática. O que fará se Maduro cumprir suas ameaças? Para o governo brasileiro, refém que é de uma posição construída estritamente em cima da ideologia, resta torcer para que, por fraqueza, isolamento ou pressão popular, Maduro aceite eventual derrota, iminente segundo as pesquisas de intenção de voto na Venezuela. Estará resolvido um problema que Lula e o Brasil nunca deveriam ter e aberto um caminho para uma normalidade que, essa sim, traria muito mais frutos ao País que sonha em liderar o progresso na América Latina.

Não há dúvidas de que o povo venezuelano hoje não vive um regime de plena liberdade. Por mais que a ideologia cega possa fazer com que alguns enxerguem democracia onde não há, estamos diante de um regime autoritário, que controla poderes constituídos e, com apoio dos militares, faz valer suas vontades, sufocando a oposição a despeito das pressões externas que enfrenta. Ainda assim, o regime desgasta-se profundamente e enfrenta real chance de perder nas urnas mesmo depois de ter eliminado seus principais concorrentes. E se Nicolás Maduro for derrotado nas eleições e forçado a deixar o poder, haverá algum tipo de libertação. Não só dos venezuelanos, mas também do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governo brasileiro.

Hoje o Brasil está aprisionado em uma armadilha criada quando resolveu até relativizar a democracia para legitimar um processo eleitoral claramente viciado. Por mera predileção ideológica ou o agradecimento por favores pretéritos inconfessáveis, tornando-se sócio da catástrofe humanitária que se vê no País vizinho.

Lula está aprisionado na defesa do processo eleitoral que Maduro agora ousa mais uma vez desrespeitar Foto: Wilton Junior/Estadão

Nem mesmo eventuais benefícios comerciais ao País, se houvessem, deveriam ser usados para se omitir diante do sufocamento de um povo como o que ocorre ao nosso lado. É fato que o pragmatismo no campo da diplomacia leva em consideração interesses maiores de um País, como quando o mundo quase todo faz vistas grossas à repressão na China, por exemplo. Mas, no caso da Venezuela, naturalmente, nem isso explicaria.

No ano passado, primeiro do atual mandato de Lula, o País esteve longe de ser o parceiro comercial relevante que já foi em outros tempos para o Brasil. Não esteve nem entre os 40 maiores compradores de nossos produtos. Com ou sem a boa relação com Maduro, exportamos para lá pouco mais de US$ 1 bilhão, ou algo em torno de R$ 5,5 bilhões. O valor é modesto. Para a China, nosso maior mercado, exportamos mais de US$ 100 bilhões.

Ao contrário, a gestão de Maduro na Venezuela tem nos dado muitas despesas. Só o teatro com o qual ameaçou tomar 70% do território da Guiana custou-nos R$ 217 milhões na operação logística realizada para garantir que tropas do vizinho encrenqueiro não atravessassem território do Brasil, como mostrou Marcelo Godoy em sua coluna. Fora o custo de R$ 228 milhões em equipamentos enviados e imobilizados na fronteira. Há ainda o gasto permanente da necessária Operação Acolhida, que já recebeu mais de 125 mil refugiados venezuelanos, encontrando abrigos para eles em todas as partes do Brasil.

Isso, claro, sem falar nos efeitos políticos para o governo e para o presidente brasileiro. Os últimos vemos agora quando, justamente depois de tentar dar credibilidade a um processo suspeitíssimo de eleições no País vizinho, tenhamos que ouvir Maduro bombardear o nosso próprio sistema que, entre solavancos e ameaças, tem garantido alternância de poder desde a redemocratização.

Nem diante de um cenário em que Maduro coloca em dúvida a própria vitória de Lula, que é o que ele faz ao argumentar, falsamente, que as eleições brasileiras não são auditáveis, o presidente brasileiro é capaz de dar-lhe uma resposta a altura. E quando ousa uma frase um pouco mais objetiva, sobre o absurdo que é a declaração de Maduro sobre o risco de um banho de sangue caso perca, recebe uma resposta bem mais contundente e encolhe-se, em um papel que não é do tamanho do Brasil. Enquanto isso, é a oposição venezuelana quem estende a mão ao País e agradece pelo fato de o presidente ter feito o mínimo: se dizer assustado com a retórica de Maduro.

Hoje, o venezuelano emula Bolsonaro na acusação sobre as urnas eletrônicas brasileiras. E ameaça fazer o mesmo que tentaram trumpistas e bolsonaristas nas ocasiões em que foram derrotados eleitoralmente. Nesses dois casos, a condenação de Lula foi veemente e enfática. O que fará se Maduro cumprir suas ameaças? Para o governo brasileiro, refém que é de uma posição construída estritamente em cima da ideologia, resta torcer para que, por fraqueza, isolamento ou pressão popular, Maduro aceite eventual derrota, iminente segundo as pesquisas de intenção de voto na Venezuela. Estará resolvido um problema que Lula e o Brasil nunca deveriam ter e aberto um caminho para uma normalidade que, essa sim, traria muito mais frutos ao País que sonha em liderar o progresso na América Latina.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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