Traduzindo a política

Opinião|Indiciamento no caso das joias abre calvário de Bolsonaro com tema sensível em ano eleitoral


Crimes imputados são de fácil entendimento e tocam justamente no discurso com o qual ele fustiga adversários; acusação ainda vai causar constrangimento diante de líderes da direita mundial que chegam ao Brasil para o CPAC

Por Ricardo Corrêa
Atualização:

Depois de um breve período na ofensiva enquanto o governo federal apanhava e dava subsídios para a manutenção da força do bolsonarismo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viu no indiciamento pelo episódio da venda ilegal de joias sauditas o início de um calvário que deve permear o ano eleitoral e rondá-lo como um fantasma durante as agendas de campanha de aliados. Depois do caso das joias, revelado pelo Estadão, virão um novo pronunciamento sobre o episódio da fraude nos cartões de vacina, pelo qual já foi indiciado em março, mas que foi reaberto para a colheita de novas provas após o pedido do Ministério Público, e a conclusão da investigação sobre a tentativa de um golpe de Estado após perder as eleições.

Para todos esses casos aí virão outros sangramentos, com eventuais denúncias sendo oferecidas, depois sendo recebidas com a transformação em réu e, mais adiante, com o início das fases de julgamentos. Como já dito por aqui, prisões não virão antes do trânsito em julgado. Até o ex-presidente, que no início do ano apavorava-se com uma detenção iminente, já entendeu que vai demorar. De imediato chegarão apenas as consequências políticas que, até agora, só arranharam a imagem dele. Em ano eleitoral e tendo que percorrer o País para defender aliados, é naturalmente muito ruim aparecer nas manchetes não como o opositor que critica o governo, mas como alguém acossado por denúncias de toda espécie.

Jair Bolsonaro terá que lidar com retomada de assunto de fácil entendimento do eleitor em pleno ano eleitoral Foto: Wilton Junior/Estadão
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E delas, nenhuma tem mais impacto sobre o presidente do que a da apropriação de joias da União. Além de ser mais fácil para o entendimento do eleitor comum, aquele que não sabe exatamente o que seria ato antidemocrático ou a gravidade de se falsificar um dado de saúde, a ideia de que Bolsonaro roubou joias machuca especialmente o discurso que atribui aos adversários a alcunha de corrupto.

Ao contrário desta investigação, as outras duas têm mais efeitos jurídicos do que políticos. A fraude no cartão de vacinação, por exemplo, muita gente considera um crime menor. A tentativa de um golpe de Estado, talvez a mais séria das acusações, não chega a incomodar parte de seu eleitorado. Basta ver os milhares que foram às ruas defendê-lo, os tantos que efetivamente estiveram em Brasília no fatídico 8 de janeiro e nos quantos amaldiçoam hoje os militares por não aceitarem embarcar na ruptura democrática. Para uma parcela radical de apoiadores, Bolsonaro ter ensaiado implementar um golpe seria uma virtude. Para outra parcela, golpe só é golpe se efetivamente implementado. E é difícil para muitos entenderem que estado de sítio ou de defesa não estão dentro da regra quando se perde uma eleição.

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O roubo de joias, porém, é mais difícil de ser contraposto. E, exatamente por esta razão, tem potencial de afetar mais o presidente. Contra esse indiciamento, resta só a defesa genérica de perseguição. Pode ser útil para o eleitorado mais fiel e que consome apenas aquilo que alimenta o bolsonarismo. Mas para o eleitor de centro que, embora espremido pela polarização ainda é quem define a eleição, fica mais difícil.

Isso talvez explique a demora de Bolsonaro em reagir ao indiciamento, que vem às vésperas de um fim de semana festivo para a direita em Balneário Camboriú, com aliados do mundo inteiro chegando ao País para o CPAC, congresso conservador articulado por Eduardo Bolsonaro. Eles já vão desembarcar no Brasil lendo a notícia de que posarão para fotos com um ex-presidente indiciado por roubo de bem público.

Assim como eles, também os políticos de centro nas disputas municipais precisarão pensar duas vezes sobre uma aliança pública com alguém que, a cada entrevista ao seu lado, terá que responder sobre inquéritos, processos e possíveis condenações. Eis a primeira preocupação para Bolsonaro. As condenações e prisões virão depois.

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Depois de um breve período na ofensiva enquanto o governo federal apanhava e dava subsídios para a manutenção da força do bolsonarismo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viu no indiciamento pelo episódio da venda ilegal de joias sauditas o início de um calvário que deve permear o ano eleitoral e rondá-lo como um fantasma durante as agendas de campanha de aliados. Depois do caso das joias, revelado pelo Estadão, virão um novo pronunciamento sobre o episódio da fraude nos cartões de vacina, pelo qual já foi indiciado em março, mas que foi reaberto para a colheita de novas provas após o pedido do Ministério Público, e a conclusão da investigação sobre a tentativa de um golpe de Estado após perder as eleições.

Para todos esses casos aí virão outros sangramentos, com eventuais denúncias sendo oferecidas, depois sendo recebidas com a transformação em réu e, mais adiante, com o início das fases de julgamentos. Como já dito por aqui, prisões não virão antes do trânsito em julgado. Até o ex-presidente, que no início do ano apavorava-se com uma detenção iminente, já entendeu que vai demorar. De imediato chegarão apenas as consequências políticas que, até agora, só arranharam a imagem dele. Em ano eleitoral e tendo que percorrer o País para defender aliados, é naturalmente muito ruim aparecer nas manchetes não como o opositor que critica o governo, mas como alguém acossado por denúncias de toda espécie.

Jair Bolsonaro terá que lidar com retomada de assunto de fácil entendimento do eleitor em pleno ano eleitoral Foto: Wilton Junior/Estadão

E delas, nenhuma tem mais impacto sobre o presidente do que a da apropriação de joias da União. Além de ser mais fácil para o entendimento do eleitor comum, aquele que não sabe exatamente o que seria ato antidemocrático ou a gravidade de se falsificar um dado de saúde, a ideia de que Bolsonaro roubou joias machuca especialmente o discurso que atribui aos adversários a alcunha de corrupto.

Ao contrário desta investigação, as outras duas têm mais efeitos jurídicos do que políticos. A fraude no cartão de vacinação, por exemplo, muita gente considera um crime menor. A tentativa de um golpe de Estado, talvez a mais séria das acusações, não chega a incomodar parte de seu eleitorado. Basta ver os milhares que foram às ruas defendê-lo, os tantos que efetivamente estiveram em Brasília no fatídico 8 de janeiro e nos quantos amaldiçoam hoje os militares por não aceitarem embarcar na ruptura democrática. Para uma parcela radical de apoiadores, Bolsonaro ter ensaiado implementar um golpe seria uma virtude. Para outra parcela, golpe só é golpe se efetivamente implementado. E é difícil para muitos entenderem que estado de sítio ou de defesa não estão dentro da regra quando se perde uma eleição.

O roubo de joias, porém, é mais difícil de ser contraposto. E, exatamente por esta razão, tem potencial de afetar mais o presidente. Contra esse indiciamento, resta só a defesa genérica de perseguição. Pode ser útil para o eleitorado mais fiel e que consome apenas aquilo que alimenta o bolsonarismo. Mas para o eleitor de centro que, embora espremido pela polarização ainda é quem define a eleição, fica mais difícil.

Isso talvez explique a demora de Bolsonaro em reagir ao indiciamento, que vem às vésperas de um fim de semana festivo para a direita em Balneário Camboriú, com aliados do mundo inteiro chegando ao País para o CPAC, congresso conservador articulado por Eduardo Bolsonaro. Eles já vão desembarcar no Brasil lendo a notícia de que posarão para fotos com um ex-presidente indiciado por roubo de bem público.

Assim como eles, também os políticos de centro nas disputas municipais precisarão pensar duas vezes sobre uma aliança pública com alguém que, a cada entrevista ao seu lado, terá que responder sobre inquéritos, processos e possíveis condenações. Eis a primeira preocupação para Bolsonaro. As condenações e prisões virão depois.

Depois de um breve período na ofensiva enquanto o governo federal apanhava e dava subsídios para a manutenção da força do bolsonarismo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viu no indiciamento pelo episódio da venda ilegal de joias sauditas o início de um calvário que deve permear o ano eleitoral e rondá-lo como um fantasma durante as agendas de campanha de aliados. Depois do caso das joias, revelado pelo Estadão, virão um novo pronunciamento sobre o episódio da fraude nos cartões de vacina, pelo qual já foi indiciado em março, mas que foi reaberto para a colheita de novas provas após o pedido do Ministério Público, e a conclusão da investigação sobre a tentativa de um golpe de Estado após perder as eleições.

Para todos esses casos aí virão outros sangramentos, com eventuais denúncias sendo oferecidas, depois sendo recebidas com a transformação em réu e, mais adiante, com o início das fases de julgamentos. Como já dito por aqui, prisões não virão antes do trânsito em julgado. Até o ex-presidente, que no início do ano apavorava-se com uma detenção iminente, já entendeu que vai demorar. De imediato chegarão apenas as consequências políticas que, até agora, só arranharam a imagem dele. Em ano eleitoral e tendo que percorrer o País para defender aliados, é naturalmente muito ruim aparecer nas manchetes não como o opositor que critica o governo, mas como alguém acossado por denúncias de toda espécie.

Jair Bolsonaro terá que lidar com retomada de assunto de fácil entendimento do eleitor em pleno ano eleitoral Foto: Wilton Junior/Estadão

E delas, nenhuma tem mais impacto sobre o presidente do que a da apropriação de joias da União. Além de ser mais fácil para o entendimento do eleitor comum, aquele que não sabe exatamente o que seria ato antidemocrático ou a gravidade de se falsificar um dado de saúde, a ideia de que Bolsonaro roubou joias machuca especialmente o discurso que atribui aos adversários a alcunha de corrupto.

Ao contrário desta investigação, as outras duas têm mais efeitos jurídicos do que políticos. A fraude no cartão de vacinação, por exemplo, muita gente considera um crime menor. A tentativa de um golpe de Estado, talvez a mais séria das acusações, não chega a incomodar parte de seu eleitorado. Basta ver os milhares que foram às ruas defendê-lo, os tantos que efetivamente estiveram em Brasília no fatídico 8 de janeiro e nos quantos amaldiçoam hoje os militares por não aceitarem embarcar na ruptura democrática. Para uma parcela radical de apoiadores, Bolsonaro ter ensaiado implementar um golpe seria uma virtude. Para outra parcela, golpe só é golpe se efetivamente implementado. E é difícil para muitos entenderem que estado de sítio ou de defesa não estão dentro da regra quando se perde uma eleição.

O roubo de joias, porém, é mais difícil de ser contraposto. E, exatamente por esta razão, tem potencial de afetar mais o presidente. Contra esse indiciamento, resta só a defesa genérica de perseguição. Pode ser útil para o eleitorado mais fiel e que consome apenas aquilo que alimenta o bolsonarismo. Mas para o eleitor de centro que, embora espremido pela polarização ainda é quem define a eleição, fica mais difícil.

Isso talvez explique a demora de Bolsonaro em reagir ao indiciamento, que vem às vésperas de um fim de semana festivo para a direita em Balneário Camboriú, com aliados do mundo inteiro chegando ao País para o CPAC, congresso conservador articulado por Eduardo Bolsonaro. Eles já vão desembarcar no Brasil lendo a notícia de que posarão para fotos com um ex-presidente indiciado por roubo de bem público.

Assim como eles, também os políticos de centro nas disputas municipais precisarão pensar duas vezes sobre uma aliança pública com alguém que, a cada entrevista ao seu lado, terá que responder sobre inquéritos, processos e possíveis condenações. Eis a primeira preocupação para Bolsonaro. As condenações e prisões virão depois.

Depois de um breve período na ofensiva enquanto o governo federal apanhava e dava subsídios para a manutenção da força do bolsonarismo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viu no indiciamento pelo episódio da venda ilegal de joias sauditas o início de um calvário que deve permear o ano eleitoral e rondá-lo como um fantasma durante as agendas de campanha de aliados. Depois do caso das joias, revelado pelo Estadão, virão um novo pronunciamento sobre o episódio da fraude nos cartões de vacina, pelo qual já foi indiciado em março, mas que foi reaberto para a colheita de novas provas após o pedido do Ministério Público, e a conclusão da investigação sobre a tentativa de um golpe de Estado após perder as eleições.

Para todos esses casos aí virão outros sangramentos, com eventuais denúncias sendo oferecidas, depois sendo recebidas com a transformação em réu e, mais adiante, com o início das fases de julgamentos. Como já dito por aqui, prisões não virão antes do trânsito em julgado. Até o ex-presidente, que no início do ano apavorava-se com uma detenção iminente, já entendeu que vai demorar. De imediato chegarão apenas as consequências políticas que, até agora, só arranharam a imagem dele. Em ano eleitoral e tendo que percorrer o País para defender aliados, é naturalmente muito ruim aparecer nas manchetes não como o opositor que critica o governo, mas como alguém acossado por denúncias de toda espécie.

Jair Bolsonaro terá que lidar com retomada de assunto de fácil entendimento do eleitor em pleno ano eleitoral Foto: Wilton Junior/Estadão

E delas, nenhuma tem mais impacto sobre o presidente do que a da apropriação de joias da União. Além de ser mais fácil para o entendimento do eleitor comum, aquele que não sabe exatamente o que seria ato antidemocrático ou a gravidade de se falsificar um dado de saúde, a ideia de que Bolsonaro roubou joias machuca especialmente o discurso que atribui aos adversários a alcunha de corrupto.

Ao contrário desta investigação, as outras duas têm mais efeitos jurídicos do que políticos. A fraude no cartão de vacinação, por exemplo, muita gente considera um crime menor. A tentativa de um golpe de Estado, talvez a mais séria das acusações, não chega a incomodar parte de seu eleitorado. Basta ver os milhares que foram às ruas defendê-lo, os tantos que efetivamente estiveram em Brasília no fatídico 8 de janeiro e nos quantos amaldiçoam hoje os militares por não aceitarem embarcar na ruptura democrática. Para uma parcela radical de apoiadores, Bolsonaro ter ensaiado implementar um golpe seria uma virtude. Para outra parcela, golpe só é golpe se efetivamente implementado. E é difícil para muitos entenderem que estado de sítio ou de defesa não estão dentro da regra quando se perde uma eleição.

O roubo de joias, porém, é mais difícil de ser contraposto. E, exatamente por esta razão, tem potencial de afetar mais o presidente. Contra esse indiciamento, resta só a defesa genérica de perseguição. Pode ser útil para o eleitorado mais fiel e que consome apenas aquilo que alimenta o bolsonarismo. Mas para o eleitor de centro que, embora espremido pela polarização ainda é quem define a eleição, fica mais difícil.

Isso talvez explique a demora de Bolsonaro em reagir ao indiciamento, que vem às vésperas de um fim de semana festivo para a direita em Balneário Camboriú, com aliados do mundo inteiro chegando ao País para o CPAC, congresso conservador articulado por Eduardo Bolsonaro. Eles já vão desembarcar no Brasil lendo a notícia de que posarão para fotos com um ex-presidente indiciado por roubo de bem público.

Assim como eles, também os políticos de centro nas disputas municipais precisarão pensar duas vezes sobre uma aliança pública com alguém que, a cada entrevista ao seu lado, terá que responder sobre inquéritos, processos e possíveis condenações. Eis a primeira preocupação para Bolsonaro. As condenações e prisões virão depois.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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