Traduzindo a política

Opinião|Lula escolhe a política ao colocar Haddad para anunciar isenção do IR e maquiar cortes na TV


Presidente resolveu fortalecer imagem política do ministro junto à população, entregando a ele o anúncio de sua principal promessa de campanha, mesmo às custas da reputação do pacote de austeridade produzido pela Fazenda e que o mercado esperava

Por Ricardo Corrêa

Enquanto Fernando Haddad resistia até o fim em fazer o anúncio da redução do Imposto de Renda junto com o corte de gastos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não apenas não cedeu como entregou o principal ativo popular de seu governo a seu ministro da Fazenda. É que enquanto o primeiro estava pensando na economia e no desafio de aprovar rapidamente um pacote que pudesse dar alguma tranquilidade ao mercado, com reflexos diretos sobre inflação, juros e câmbio, o segundo pensava bem mais profundamente nas repercussões políticas das medidas. Se para o mercado houve um enfraquecimento da posição de Haddad, aos olhos de Lula, houve foi a entrega a ele de um ativo a ser explorado junto à população.

Por mais que Haddad possa discordar do anúncio conjunto da medida, por contaminar o pacote de corte de gastos, eleitoralmente, ele tende a ser o maior beneficiado da decisão de Lula, que desagradou o Centrão, boa parcela do Parlamento e o mercado financeiro. E isso indica que Lula pode estar começando a construir um plano B, ou para o caso de não concorrer em 2026 ou de ter já um sucessor pronto a substituí-lo quatro anos depois.

Lula entregou a Haddad a missão de anunciar sua principal proposta de campanha e ainda fazer corte de gastos parece anúncio de benefícios sociais Foto: Wilton Junior/Estadão
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O próprio fato de o anúncio ter sido feito primeiro em pronunciamento da TV, no qual cada uma das medidas de corte de gastos foi maquiada para parecer também um conjunto de benefícios sociais, reforça essa escolha por parte do governo. Em vez de apostar em enfatizar a dureza dos cortes, de modo a sinalizar ao mercado, houve uma tentativa de fazê-lo parecer ainda mais brando, de olho em nada mais do que popularidade imediata. Tal decisão também tem bastante a ver com a maneira como o PT, partido do presidente, via a decisão de cortar gastos. A sigla tinha a visão de que a imagem do corte seria um desastre para as pretensões eleitorais da legenda.

A mera argumentação da necessidade de compensar o corte de gastos com uma medida popular não explicaria o anúncio conjunto. O ministro poderia em uma coletiva fazer o trabalho difícil de explicar as razões pelas quais salário mínimo, abono e gastos dos ministérios vão ser afetados, enquanto o presidente poderia surfar ao verbalizar, com pompa e circunstância, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, com consequente aplicação de imposto nos chamados “super-ricos”. Mas Lula escolheu entregar esse papel popular a Haddad, que vinha sendo chamado pela oposição de “Taxad”, por ser acusado de ampliar a arrecadação e criar novas tarifas ao regulamentar setores até então não abarcados pela legislação.

A proposta de isenção do IR a quem ganha até R$ 5.000 com consequente aumento da tributação de quem ganha mais de R$ 50 mil ao mês também traz um desafio para a narrativa fiscalista de um Parlamento que defende o ajuste e as reformas no Executivo, ao mesmo tempo em que engorda emendas parlamentares e protege-se de medidas de arrocho. Deputados e senadores sabem ser praticamente impossível votar contra a isenção do IR para as faixas mais pobres, ainda que se espere haver pressão absurda para não taxar os mais ricos. Como não dá para fazer uma coisa sem a outra, a não ser que se encontre outro lugar para tirar receita, a oposição às medidas se vê de mãos amarradas.

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Do lado do governo, o anúncio vem no mesmo dia em que uma pesquisa eleitoral indica dificuldades para o atual presidente em 2026, com disputa parelha contra aliados de Jair Bolsonaro, mesmo com o recall da presença no cargo e com as agruras enfrentadas pelo ex-presidente da República. E quando a desaprovação ao governo começa a incomodar sensivelmente o Palácio do Planalto. Resta saber se os efeitos econômicos de médio prazo não vão corroer os benefícios da medida para parcela expressiva da população antes que estes façam efeitos nas urnas no ano que vem. Impedir isso será uma das missões de Haddad e da equipe econômica em coletiva nesta quinta-feira, quando, aí sim, tentará falar para o mercado.

Enquanto Fernando Haddad resistia até o fim em fazer o anúncio da redução do Imposto de Renda junto com o corte de gastos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não apenas não cedeu como entregou o principal ativo popular de seu governo a seu ministro da Fazenda. É que enquanto o primeiro estava pensando na economia e no desafio de aprovar rapidamente um pacote que pudesse dar alguma tranquilidade ao mercado, com reflexos diretos sobre inflação, juros e câmbio, o segundo pensava bem mais profundamente nas repercussões políticas das medidas. Se para o mercado houve um enfraquecimento da posição de Haddad, aos olhos de Lula, houve foi a entrega a ele de um ativo a ser explorado junto à população.

Por mais que Haddad possa discordar do anúncio conjunto da medida, por contaminar o pacote de corte de gastos, eleitoralmente, ele tende a ser o maior beneficiado da decisão de Lula, que desagradou o Centrão, boa parcela do Parlamento e o mercado financeiro. E isso indica que Lula pode estar começando a construir um plano B, ou para o caso de não concorrer em 2026 ou de ter já um sucessor pronto a substituí-lo quatro anos depois.

Lula entregou a Haddad a missão de anunciar sua principal proposta de campanha e ainda fazer corte de gastos parece anúncio de benefícios sociais Foto: Wilton Junior/Estadão

O próprio fato de o anúncio ter sido feito primeiro em pronunciamento da TV, no qual cada uma das medidas de corte de gastos foi maquiada para parecer também um conjunto de benefícios sociais, reforça essa escolha por parte do governo. Em vez de apostar em enfatizar a dureza dos cortes, de modo a sinalizar ao mercado, houve uma tentativa de fazê-lo parecer ainda mais brando, de olho em nada mais do que popularidade imediata. Tal decisão também tem bastante a ver com a maneira como o PT, partido do presidente, via a decisão de cortar gastos. A sigla tinha a visão de que a imagem do corte seria um desastre para as pretensões eleitorais da legenda.

A mera argumentação da necessidade de compensar o corte de gastos com uma medida popular não explicaria o anúncio conjunto. O ministro poderia em uma coletiva fazer o trabalho difícil de explicar as razões pelas quais salário mínimo, abono e gastos dos ministérios vão ser afetados, enquanto o presidente poderia surfar ao verbalizar, com pompa e circunstância, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, com consequente aplicação de imposto nos chamados “super-ricos”. Mas Lula escolheu entregar esse papel popular a Haddad, que vinha sendo chamado pela oposição de “Taxad”, por ser acusado de ampliar a arrecadação e criar novas tarifas ao regulamentar setores até então não abarcados pela legislação.

A proposta de isenção do IR a quem ganha até R$ 5.000 com consequente aumento da tributação de quem ganha mais de R$ 50 mil ao mês também traz um desafio para a narrativa fiscalista de um Parlamento que defende o ajuste e as reformas no Executivo, ao mesmo tempo em que engorda emendas parlamentares e protege-se de medidas de arrocho. Deputados e senadores sabem ser praticamente impossível votar contra a isenção do IR para as faixas mais pobres, ainda que se espere haver pressão absurda para não taxar os mais ricos. Como não dá para fazer uma coisa sem a outra, a não ser que se encontre outro lugar para tirar receita, a oposição às medidas se vê de mãos amarradas.

Do lado do governo, o anúncio vem no mesmo dia em que uma pesquisa eleitoral indica dificuldades para o atual presidente em 2026, com disputa parelha contra aliados de Jair Bolsonaro, mesmo com o recall da presença no cargo e com as agruras enfrentadas pelo ex-presidente da República. E quando a desaprovação ao governo começa a incomodar sensivelmente o Palácio do Planalto. Resta saber se os efeitos econômicos de médio prazo não vão corroer os benefícios da medida para parcela expressiva da população antes que estes façam efeitos nas urnas no ano que vem. Impedir isso será uma das missões de Haddad e da equipe econômica em coletiva nesta quinta-feira, quando, aí sim, tentará falar para o mercado.

Enquanto Fernando Haddad resistia até o fim em fazer o anúncio da redução do Imposto de Renda junto com o corte de gastos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não apenas não cedeu como entregou o principal ativo popular de seu governo a seu ministro da Fazenda. É que enquanto o primeiro estava pensando na economia e no desafio de aprovar rapidamente um pacote que pudesse dar alguma tranquilidade ao mercado, com reflexos diretos sobre inflação, juros e câmbio, o segundo pensava bem mais profundamente nas repercussões políticas das medidas. Se para o mercado houve um enfraquecimento da posição de Haddad, aos olhos de Lula, houve foi a entrega a ele de um ativo a ser explorado junto à população.

Por mais que Haddad possa discordar do anúncio conjunto da medida, por contaminar o pacote de corte de gastos, eleitoralmente, ele tende a ser o maior beneficiado da decisão de Lula, que desagradou o Centrão, boa parcela do Parlamento e o mercado financeiro. E isso indica que Lula pode estar começando a construir um plano B, ou para o caso de não concorrer em 2026 ou de ter já um sucessor pronto a substituí-lo quatro anos depois.

Lula entregou a Haddad a missão de anunciar sua principal proposta de campanha e ainda fazer corte de gastos parece anúncio de benefícios sociais Foto: Wilton Junior/Estadão

O próprio fato de o anúncio ter sido feito primeiro em pronunciamento da TV, no qual cada uma das medidas de corte de gastos foi maquiada para parecer também um conjunto de benefícios sociais, reforça essa escolha por parte do governo. Em vez de apostar em enfatizar a dureza dos cortes, de modo a sinalizar ao mercado, houve uma tentativa de fazê-lo parecer ainda mais brando, de olho em nada mais do que popularidade imediata. Tal decisão também tem bastante a ver com a maneira como o PT, partido do presidente, via a decisão de cortar gastos. A sigla tinha a visão de que a imagem do corte seria um desastre para as pretensões eleitorais da legenda.

A mera argumentação da necessidade de compensar o corte de gastos com uma medida popular não explicaria o anúncio conjunto. O ministro poderia em uma coletiva fazer o trabalho difícil de explicar as razões pelas quais salário mínimo, abono e gastos dos ministérios vão ser afetados, enquanto o presidente poderia surfar ao verbalizar, com pompa e circunstância, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, com consequente aplicação de imposto nos chamados “super-ricos”. Mas Lula escolheu entregar esse papel popular a Haddad, que vinha sendo chamado pela oposição de “Taxad”, por ser acusado de ampliar a arrecadação e criar novas tarifas ao regulamentar setores até então não abarcados pela legislação.

A proposta de isenção do IR a quem ganha até R$ 5.000 com consequente aumento da tributação de quem ganha mais de R$ 50 mil ao mês também traz um desafio para a narrativa fiscalista de um Parlamento que defende o ajuste e as reformas no Executivo, ao mesmo tempo em que engorda emendas parlamentares e protege-se de medidas de arrocho. Deputados e senadores sabem ser praticamente impossível votar contra a isenção do IR para as faixas mais pobres, ainda que se espere haver pressão absurda para não taxar os mais ricos. Como não dá para fazer uma coisa sem a outra, a não ser que se encontre outro lugar para tirar receita, a oposição às medidas se vê de mãos amarradas.

Do lado do governo, o anúncio vem no mesmo dia em que uma pesquisa eleitoral indica dificuldades para o atual presidente em 2026, com disputa parelha contra aliados de Jair Bolsonaro, mesmo com o recall da presença no cargo e com as agruras enfrentadas pelo ex-presidente da República. E quando a desaprovação ao governo começa a incomodar sensivelmente o Palácio do Planalto. Resta saber se os efeitos econômicos de médio prazo não vão corroer os benefícios da medida para parcela expressiva da população antes que estes façam efeitos nas urnas no ano que vem. Impedir isso será uma das missões de Haddad e da equipe econômica em coletiva nesta quinta-feira, quando, aí sim, tentará falar para o mercado.

Enquanto Fernando Haddad resistia até o fim em fazer o anúncio da redução do Imposto de Renda junto com o corte de gastos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não apenas não cedeu como entregou o principal ativo popular de seu governo a seu ministro da Fazenda. É que enquanto o primeiro estava pensando na economia e no desafio de aprovar rapidamente um pacote que pudesse dar alguma tranquilidade ao mercado, com reflexos diretos sobre inflação, juros e câmbio, o segundo pensava bem mais profundamente nas repercussões políticas das medidas. Se para o mercado houve um enfraquecimento da posição de Haddad, aos olhos de Lula, houve foi a entrega a ele de um ativo a ser explorado junto à população.

Por mais que Haddad possa discordar do anúncio conjunto da medida, por contaminar o pacote de corte de gastos, eleitoralmente, ele tende a ser o maior beneficiado da decisão de Lula, que desagradou o Centrão, boa parcela do Parlamento e o mercado financeiro. E isso indica que Lula pode estar começando a construir um plano B, ou para o caso de não concorrer em 2026 ou de ter já um sucessor pronto a substituí-lo quatro anos depois.

Lula entregou a Haddad a missão de anunciar sua principal proposta de campanha e ainda fazer corte de gastos parece anúncio de benefícios sociais Foto: Wilton Junior/Estadão

O próprio fato de o anúncio ter sido feito primeiro em pronunciamento da TV, no qual cada uma das medidas de corte de gastos foi maquiada para parecer também um conjunto de benefícios sociais, reforça essa escolha por parte do governo. Em vez de apostar em enfatizar a dureza dos cortes, de modo a sinalizar ao mercado, houve uma tentativa de fazê-lo parecer ainda mais brando, de olho em nada mais do que popularidade imediata. Tal decisão também tem bastante a ver com a maneira como o PT, partido do presidente, via a decisão de cortar gastos. A sigla tinha a visão de que a imagem do corte seria um desastre para as pretensões eleitorais da legenda.

A mera argumentação da necessidade de compensar o corte de gastos com uma medida popular não explicaria o anúncio conjunto. O ministro poderia em uma coletiva fazer o trabalho difícil de explicar as razões pelas quais salário mínimo, abono e gastos dos ministérios vão ser afetados, enquanto o presidente poderia surfar ao verbalizar, com pompa e circunstância, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, com consequente aplicação de imposto nos chamados “super-ricos”. Mas Lula escolheu entregar esse papel popular a Haddad, que vinha sendo chamado pela oposição de “Taxad”, por ser acusado de ampliar a arrecadação e criar novas tarifas ao regulamentar setores até então não abarcados pela legislação.

A proposta de isenção do IR a quem ganha até R$ 5.000 com consequente aumento da tributação de quem ganha mais de R$ 50 mil ao mês também traz um desafio para a narrativa fiscalista de um Parlamento que defende o ajuste e as reformas no Executivo, ao mesmo tempo em que engorda emendas parlamentares e protege-se de medidas de arrocho. Deputados e senadores sabem ser praticamente impossível votar contra a isenção do IR para as faixas mais pobres, ainda que se espere haver pressão absurda para não taxar os mais ricos. Como não dá para fazer uma coisa sem a outra, a não ser que se encontre outro lugar para tirar receita, a oposição às medidas se vê de mãos amarradas.

Do lado do governo, o anúncio vem no mesmo dia em que uma pesquisa eleitoral indica dificuldades para o atual presidente em 2026, com disputa parelha contra aliados de Jair Bolsonaro, mesmo com o recall da presença no cargo e com as agruras enfrentadas pelo ex-presidente da República. E quando a desaprovação ao governo começa a incomodar sensivelmente o Palácio do Planalto. Resta saber se os efeitos econômicos de médio prazo não vão corroer os benefícios da medida para parcela expressiva da população antes que estes façam efeitos nas urnas no ano que vem. Impedir isso será uma das missões de Haddad e da equipe econômica em coletiva nesta quinta-feira, quando, aí sim, tentará falar para o mercado.

Enquanto Fernando Haddad resistia até o fim em fazer o anúncio da redução do Imposto de Renda junto com o corte de gastos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não apenas não cedeu como entregou o principal ativo popular de seu governo a seu ministro da Fazenda. É que enquanto o primeiro estava pensando na economia e no desafio de aprovar rapidamente um pacote que pudesse dar alguma tranquilidade ao mercado, com reflexos diretos sobre inflação, juros e câmbio, o segundo pensava bem mais profundamente nas repercussões políticas das medidas. Se para o mercado houve um enfraquecimento da posição de Haddad, aos olhos de Lula, houve foi a entrega a ele de um ativo a ser explorado junto à população.

Por mais que Haddad possa discordar do anúncio conjunto da medida, por contaminar o pacote de corte de gastos, eleitoralmente, ele tende a ser o maior beneficiado da decisão de Lula, que desagradou o Centrão, boa parcela do Parlamento e o mercado financeiro. E isso indica que Lula pode estar começando a construir um plano B, ou para o caso de não concorrer em 2026 ou de ter já um sucessor pronto a substituí-lo quatro anos depois.

Lula entregou a Haddad a missão de anunciar sua principal proposta de campanha e ainda fazer corte de gastos parece anúncio de benefícios sociais Foto: Wilton Junior/Estadão

O próprio fato de o anúncio ter sido feito primeiro em pronunciamento da TV, no qual cada uma das medidas de corte de gastos foi maquiada para parecer também um conjunto de benefícios sociais, reforça essa escolha por parte do governo. Em vez de apostar em enfatizar a dureza dos cortes, de modo a sinalizar ao mercado, houve uma tentativa de fazê-lo parecer ainda mais brando, de olho em nada mais do que popularidade imediata. Tal decisão também tem bastante a ver com a maneira como o PT, partido do presidente, via a decisão de cortar gastos. A sigla tinha a visão de que a imagem do corte seria um desastre para as pretensões eleitorais da legenda.

A mera argumentação da necessidade de compensar o corte de gastos com uma medida popular não explicaria o anúncio conjunto. O ministro poderia em uma coletiva fazer o trabalho difícil de explicar as razões pelas quais salário mínimo, abono e gastos dos ministérios vão ser afetados, enquanto o presidente poderia surfar ao verbalizar, com pompa e circunstância, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, com consequente aplicação de imposto nos chamados “super-ricos”. Mas Lula escolheu entregar esse papel popular a Haddad, que vinha sendo chamado pela oposição de “Taxad”, por ser acusado de ampliar a arrecadação e criar novas tarifas ao regulamentar setores até então não abarcados pela legislação.

A proposta de isenção do IR a quem ganha até R$ 5.000 com consequente aumento da tributação de quem ganha mais de R$ 50 mil ao mês também traz um desafio para a narrativa fiscalista de um Parlamento que defende o ajuste e as reformas no Executivo, ao mesmo tempo em que engorda emendas parlamentares e protege-se de medidas de arrocho. Deputados e senadores sabem ser praticamente impossível votar contra a isenção do IR para as faixas mais pobres, ainda que se espere haver pressão absurda para não taxar os mais ricos. Como não dá para fazer uma coisa sem a outra, a não ser que se encontre outro lugar para tirar receita, a oposição às medidas se vê de mãos amarradas.

Do lado do governo, o anúncio vem no mesmo dia em que uma pesquisa eleitoral indica dificuldades para o atual presidente em 2026, com disputa parelha contra aliados de Jair Bolsonaro, mesmo com o recall da presença no cargo e com as agruras enfrentadas pelo ex-presidente da República. E quando a desaprovação ao governo começa a incomodar sensivelmente o Palácio do Planalto. Resta saber se os efeitos econômicos de médio prazo não vão corroer os benefícios da medida para parcela expressiva da população antes que estes façam efeitos nas urnas no ano que vem. Impedir isso será uma das missões de Haddad e da equipe econômica em coletiva nesta quinta-feira, quando, aí sim, tentará falar para o mercado.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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