Traduzindo a política

Opinião|Manifestações convocadas pela esquerda para pedir prisão de Bolsonaro são tudo o que ele quer


Ex-presidente quer empurrar o debate de seu futuro da arena jurídica para a política, forçar um embate social para chantagear por anistia, e adversários parecem dispostos a contribuir com isso

Por Ricardo Corrêa

Os atos que grupos de esquerda convocaram para a reta final de março em todo o país para pedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são um presente a ele. Ao reunir milhares de apoiadores na Avenida Paulista, o ex-chefe do Executivo queria levar o embate jurídico para a arena política e chantagear a Justiça e o País com o argumento de que há uma batalha em curso e que o melhor seria tudo terminar com uma anistia. E ganhará de parte da esquerda, a se confirmar mesmo a realização das manifestações, exatamente o combustível que precisava para isso.

Bolsonaro quer incutir na sociedade a ideia de que há batalha de ordem política e que, por isso, é preciso “pacificar o País”, o que só seria possível com o perdão de crimes praticados por sua trupe. Por essa lógica, qualquer prova de ilícito, da articulação de um golpe de Estado, das suspeitas sobre Abin paralela, joias, atuação na pandemia, fraude em cartão de vacina ao abuso de poder político e econômico durante a disputa eleitoral, tudo é mero instrumento de uma perseguição que tem norte em futuras disputas eleitorais.

Bolsonaro se esforça para tirar seu futuro da arena jurídica e parte da esquerda parece aceitar que o ringue seja o debate político nas ruas Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Ao ir pra rua pedindo a prisão do ex-presidente, parte da esquerda aceita essa narrativa. Defende, igualmente, que, sim, para que Bolsonaro seja detido, será necessário pressão social e política e não uma atuação técnica da Justiça. Que não bastaria o que está nos autos e que o Judiciário atua sob pressão. E isso, evidentemente, se encaixa perfeitamente no plano de Bolsonaro de apontar uma perseguição de um consórcio formado pelo governo Lula e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Vejamos por outro ângulo: Bolsonaro pediria anistia, inclusive invocando até o próprio Lula, ou falaria em “pacificação” se não tivesse hoje, em seu desespero, a certeza de que, ao fim e ao cabo dos processos, será detido? Qual seria, para seus adversários, portanto, o benefício de uma manifestação de rua para pedir o que está dado e parece apenas uma questão de tempo? O que a esquerda teria a ganhar?

Parece muito claro que há muito mais a perder. A chance de levar menos gente às ruas e permitir que o ex-presidente volte a bater na tecla de que tem maioria da sociedade - o que as pesquisas mostram não ser verdade - é enorme. Os motivos são vários: as manifestações serão espalhadas, são convocadas apenas por uma parte da esquerda, e têm como pauta uma prisão que já é dada como certa. O governo já está com Lula e Bolsonaro a caminho da cadeia. Seria difícil convencer o eleitor de esquerda da necessidade de se mobilizar.

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Se olharmos detidamente os dados da pesquisa Genial/Quaest feita entre os dias 25 e 27 para analisar as consequências dos atos pró-Bolsonaro, veremos que há pouca divergência entre eleitores dele e de Lula a respeito da capacidade que a manifestação de domingo passado teve de beneficiar o ex-presidente nas investigações.

No público geral, 48% acham que não haverá influência nas apurações, enquanto 34% acham que ela pode é acelerar o processo, enquanto só 11% apontam que esse ritmo se reduziria. Esse último dado é importante pois, se isolados apenas os eleitores que votaram no petista, são também apenas 11% os que veem esse efeito de atrasar as investigações (entre os bolsonaristas são 14% e entre os que votaram em branco, nulo ou não foram votar são 6%). Portanto, a maioria esmagadora dos eleitores de Lula não vê benefício para Bolsonaro na realização dos atos do dia 25, não podendo, portanto, ter qualquer análise de que seria necessário contrapô-los com outras manifestações.

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Como já disse aqui na coluna, na própria Justiça e no governo Lula estão alguns dos fatores que alimentam a força do bolsonarismo. Além de um ato fora de propósito, também o beneficia, por exemplo, a atenção dada ao caso da suposta importunação de uma baleia. Nada contra as leis ambientais e portarias do Ibama, mas chamar um ex-presidente para depor por duas horas sobre esse caso em meio ao escândalo de que ele teria tentado dar um golpe joga muito mais a favor da tese da perseguição. Se a prisão é inevitável, ao menos os argumentos para que futuramente consiga reverter o quadro, como um dia Lula também conseguiu, parecem estar sendo oferecidos a ele semanalmente.

Os atos que grupos de esquerda convocaram para a reta final de março em todo o país para pedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são um presente a ele. Ao reunir milhares de apoiadores na Avenida Paulista, o ex-chefe do Executivo queria levar o embate jurídico para a arena política e chantagear a Justiça e o País com o argumento de que há uma batalha em curso e que o melhor seria tudo terminar com uma anistia. E ganhará de parte da esquerda, a se confirmar mesmo a realização das manifestações, exatamente o combustível que precisava para isso.

Bolsonaro quer incutir na sociedade a ideia de que há batalha de ordem política e que, por isso, é preciso “pacificar o País”, o que só seria possível com o perdão de crimes praticados por sua trupe. Por essa lógica, qualquer prova de ilícito, da articulação de um golpe de Estado, das suspeitas sobre Abin paralela, joias, atuação na pandemia, fraude em cartão de vacina ao abuso de poder político e econômico durante a disputa eleitoral, tudo é mero instrumento de uma perseguição que tem norte em futuras disputas eleitorais.

Bolsonaro se esforça para tirar seu futuro da arena jurídica e parte da esquerda parece aceitar que o ringue seja o debate político nas ruas Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ao ir pra rua pedindo a prisão do ex-presidente, parte da esquerda aceita essa narrativa. Defende, igualmente, que, sim, para que Bolsonaro seja detido, será necessário pressão social e política e não uma atuação técnica da Justiça. Que não bastaria o que está nos autos e que o Judiciário atua sob pressão. E isso, evidentemente, se encaixa perfeitamente no plano de Bolsonaro de apontar uma perseguição de um consórcio formado pelo governo Lula e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Vejamos por outro ângulo: Bolsonaro pediria anistia, inclusive invocando até o próprio Lula, ou falaria em “pacificação” se não tivesse hoje, em seu desespero, a certeza de que, ao fim e ao cabo dos processos, será detido? Qual seria, para seus adversários, portanto, o benefício de uma manifestação de rua para pedir o que está dado e parece apenas uma questão de tempo? O que a esquerda teria a ganhar?

Parece muito claro que há muito mais a perder. A chance de levar menos gente às ruas e permitir que o ex-presidente volte a bater na tecla de que tem maioria da sociedade - o que as pesquisas mostram não ser verdade - é enorme. Os motivos são vários: as manifestações serão espalhadas, são convocadas apenas por uma parte da esquerda, e têm como pauta uma prisão que já é dada como certa. O governo já está com Lula e Bolsonaro a caminho da cadeia. Seria difícil convencer o eleitor de esquerda da necessidade de se mobilizar.

Se olharmos detidamente os dados da pesquisa Genial/Quaest feita entre os dias 25 e 27 para analisar as consequências dos atos pró-Bolsonaro, veremos que há pouca divergência entre eleitores dele e de Lula a respeito da capacidade que a manifestação de domingo passado teve de beneficiar o ex-presidente nas investigações.

No público geral, 48% acham que não haverá influência nas apurações, enquanto 34% acham que ela pode é acelerar o processo, enquanto só 11% apontam que esse ritmo se reduziria. Esse último dado é importante pois, se isolados apenas os eleitores que votaram no petista, são também apenas 11% os que veem esse efeito de atrasar as investigações (entre os bolsonaristas são 14% e entre os que votaram em branco, nulo ou não foram votar são 6%). Portanto, a maioria esmagadora dos eleitores de Lula não vê benefício para Bolsonaro na realização dos atos do dia 25, não podendo, portanto, ter qualquer análise de que seria necessário contrapô-los com outras manifestações.

Como já disse aqui na coluna, na própria Justiça e no governo Lula estão alguns dos fatores que alimentam a força do bolsonarismo. Além de um ato fora de propósito, também o beneficia, por exemplo, a atenção dada ao caso da suposta importunação de uma baleia. Nada contra as leis ambientais e portarias do Ibama, mas chamar um ex-presidente para depor por duas horas sobre esse caso em meio ao escândalo de que ele teria tentado dar um golpe joga muito mais a favor da tese da perseguição. Se a prisão é inevitável, ao menos os argumentos para que futuramente consiga reverter o quadro, como um dia Lula também conseguiu, parecem estar sendo oferecidos a ele semanalmente.

Os atos que grupos de esquerda convocaram para a reta final de março em todo o país para pedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são um presente a ele. Ao reunir milhares de apoiadores na Avenida Paulista, o ex-chefe do Executivo queria levar o embate jurídico para a arena política e chantagear a Justiça e o País com o argumento de que há uma batalha em curso e que o melhor seria tudo terminar com uma anistia. E ganhará de parte da esquerda, a se confirmar mesmo a realização das manifestações, exatamente o combustível que precisava para isso.

Bolsonaro quer incutir na sociedade a ideia de que há batalha de ordem política e que, por isso, é preciso “pacificar o País”, o que só seria possível com o perdão de crimes praticados por sua trupe. Por essa lógica, qualquer prova de ilícito, da articulação de um golpe de Estado, das suspeitas sobre Abin paralela, joias, atuação na pandemia, fraude em cartão de vacina ao abuso de poder político e econômico durante a disputa eleitoral, tudo é mero instrumento de uma perseguição que tem norte em futuras disputas eleitorais.

Bolsonaro se esforça para tirar seu futuro da arena jurídica e parte da esquerda parece aceitar que o ringue seja o debate político nas ruas Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ao ir pra rua pedindo a prisão do ex-presidente, parte da esquerda aceita essa narrativa. Defende, igualmente, que, sim, para que Bolsonaro seja detido, será necessário pressão social e política e não uma atuação técnica da Justiça. Que não bastaria o que está nos autos e que o Judiciário atua sob pressão. E isso, evidentemente, se encaixa perfeitamente no plano de Bolsonaro de apontar uma perseguição de um consórcio formado pelo governo Lula e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Vejamos por outro ângulo: Bolsonaro pediria anistia, inclusive invocando até o próprio Lula, ou falaria em “pacificação” se não tivesse hoje, em seu desespero, a certeza de que, ao fim e ao cabo dos processos, será detido? Qual seria, para seus adversários, portanto, o benefício de uma manifestação de rua para pedir o que está dado e parece apenas uma questão de tempo? O que a esquerda teria a ganhar?

Parece muito claro que há muito mais a perder. A chance de levar menos gente às ruas e permitir que o ex-presidente volte a bater na tecla de que tem maioria da sociedade - o que as pesquisas mostram não ser verdade - é enorme. Os motivos são vários: as manifestações serão espalhadas, são convocadas apenas por uma parte da esquerda, e têm como pauta uma prisão que já é dada como certa. O governo já está com Lula e Bolsonaro a caminho da cadeia. Seria difícil convencer o eleitor de esquerda da necessidade de se mobilizar.

Se olharmos detidamente os dados da pesquisa Genial/Quaest feita entre os dias 25 e 27 para analisar as consequências dos atos pró-Bolsonaro, veremos que há pouca divergência entre eleitores dele e de Lula a respeito da capacidade que a manifestação de domingo passado teve de beneficiar o ex-presidente nas investigações.

No público geral, 48% acham que não haverá influência nas apurações, enquanto 34% acham que ela pode é acelerar o processo, enquanto só 11% apontam que esse ritmo se reduziria. Esse último dado é importante pois, se isolados apenas os eleitores que votaram no petista, são também apenas 11% os que veem esse efeito de atrasar as investigações (entre os bolsonaristas são 14% e entre os que votaram em branco, nulo ou não foram votar são 6%). Portanto, a maioria esmagadora dos eleitores de Lula não vê benefício para Bolsonaro na realização dos atos do dia 25, não podendo, portanto, ter qualquer análise de que seria necessário contrapô-los com outras manifestações.

Como já disse aqui na coluna, na própria Justiça e no governo Lula estão alguns dos fatores que alimentam a força do bolsonarismo. Além de um ato fora de propósito, também o beneficia, por exemplo, a atenção dada ao caso da suposta importunação de uma baleia. Nada contra as leis ambientais e portarias do Ibama, mas chamar um ex-presidente para depor por duas horas sobre esse caso em meio ao escândalo de que ele teria tentado dar um golpe joga muito mais a favor da tese da perseguição. Se a prisão é inevitável, ao menos os argumentos para que futuramente consiga reverter o quadro, como um dia Lula também conseguiu, parecem estar sendo oferecidos a ele semanalmente.

Os atos que grupos de esquerda convocaram para a reta final de março em todo o país para pedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são um presente a ele. Ao reunir milhares de apoiadores na Avenida Paulista, o ex-chefe do Executivo queria levar o embate jurídico para a arena política e chantagear a Justiça e o País com o argumento de que há uma batalha em curso e que o melhor seria tudo terminar com uma anistia. E ganhará de parte da esquerda, a se confirmar mesmo a realização das manifestações, exatamente o combustível que precisava para isso.

Bolsonaro quer incutir na sociedade a ideia de que há batalha de ordem política e que, por isso, é preciso “pacificar o País”, o que só seria possível com o perdão de crimes praticados por sua trupe. Por essa lógica, qualquer prova de ilícito, da articulação de um golpe de Estado, das suspeitas sobre Abin paralela, joias, atuação na pandemia, fraude em cartão de vacina ao abuso de poder político e econômico durante a disputa eleitoral, tudo é mero instrumento de uma perseguição que tem norte em futuras disputas eleitorais.

Bolsonaro se esforça para tirar seu futuro da arena jurídica e parte da esquerda parece aceitar que o ringue seja o debate político nas ruas Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ao ir pra rua pedindo a prisão do ex-presidente, parte da esquerda aceita essa narrativa. Defende, igualmente, que, sim, para que Bolsonaro seja detido, será necessário pressão social e política e não uma atuação técnica da Justiça. Que não bastaria o que está nos autos e que o Judiciário atua sob pressão. E isso, evidentemente, se encaixa perfeitamente no plano de Bolsonaro de apontar uma perseguição de um consórcio formado pelo governo Lula e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Vejamos por outro ângulo: Bolsonaro pediria anistia, inclusive invocando até o próprio Lula, ou falaria em “pacificação” se não tivesse hoje, em seu desespero, a certeza de que, ao fim e ao cabo dos processos, será detido? Qual seria, para seus adversários, portanto, o benefício de uma manifestação de rua para pedir o que está dado e parece apenas uma questão de tempo? O que a esquerda teria a ganhar?

Parece muito claro que há muito mais a perder. A chance de levar menos gente às ruas e permitir que o ex-presidente volte a bater na tecla de que tem maioria da sociedade - o que as pesquisas mostram não ser verdade - é enorme. Os motivos são vários: as manifestações serão espalhadas, são convocadas apenas por uma parte da esquerda, e têm como pauta uma prisão que já é dada como certa. O governo já está com Lula e Bolsonaro a caminho da cadeia. Seria difícil convencer o eleitor de esquerda da necessidade de se mobilizar.

Se olharmos detidamente os dados da pesquisa Genial/Quaest feita entre os dias 25 e 27 para analisar as consequências dos atos pró-Bolsonaro, veremos que há pouca divergência entre eleitores dele e de Lula a respeito da capacidade que a manifestação de domingo passado teve de beneficiar o ex-presidente nas investigações.

No público geral, 48% acham que não haverá influência nas apurações, enquanto 34% acham que ela pode é acelerar o processo, enquanto só 11% apontam que esse ritmo se reduziria. Esse último dado é importante pois, se isolados apenas os eleitores que votaram no petista, são também apenas 11% os que veem esse efeito de atrasar as investigações (entre os bolsonaristas são 14% e entre os que votaram em branco, nulo ou não foram votar são 6%). Portanto, a maioria esmagadora dos eleitores de Lula não vê benefício para Bolsonaro na realização dos atos do dia 25, não podendo, portanto, ter qualquer análise de que seria necessário contrapô-los com outras manifestações.

Como já disse aqui na coluna, na própria Justiça e no governo Lula estão alguns dos fatores que alimentam a força do bolsonarismo. Além de um ato fora de propósito, também o beneficia, por exemplo, a atenção dada ao caso da suposta importunação de uma baleia. Nada contra as leis ambientais e portarias do Ibama, mas chamar um ex-presidente para depor por duas horas sobre esse caso em meio ao escândalo de que ele teria tentado dar um golpe joga muito mais a favor da tese da perseguição. Se a prisão é inevitável, ao menos os argumentos para que futuramente consiga reverter o quadro, como um dia Lula também conseguiu, parecem estar sendo oferecidos a ele semanalmente.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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