Traduzindo a política

Opinião|‘Mestrão’ de Moro reforça como funciona o político atual: as redes mandam, ele obedece como fantoche


Mensagem a senador na sabatina resume como não há espaço para meio-termo, ponderação ou visão própria que não seja tragada pela polarização

Por Ricardo Corrêa
Atualização:

Após abraços e risadas entre o agora aprovado como ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), veio a mensagem de alerta ao paranaense. No seu celular, pipocou o recado do contato com a sugestiva alcunha de “Mestrão” para avisar: o “coro estava comendo nas redes” e ele não poderia nem pensar em declarar voto favorável ao indicado por Lula. É esse tipo de mensagem, flagrada pelo repórter fotográfico Wilton Junior, do Estadão, que chega a todo momento nos celulares daqueles que hoje nos representam. Com avisos, alertas e estatísticas para que eles nunca se esqueçam de que são reféns das redes sociais. Moro não é diferente de grande parte dos políticos que alçaram voo com a expansão da polarização e que, agora, precisam rezar uma mesma cartilha cada vez mais estreita e radical. Não há espaço para meio-termo.

Mensagem no celular de Sérgio Moro alerta sobre pressão nas redes sociais, com pedido para que ele não declarasse voto favorável a Flávio Dino no STF.  Foto: Wilton Junior/Estadão

O político eleito pelo impulsionamento que ganhou no mundo digital é o menos livre de todos. Ainda que esteja falando de liberdade de expressão aos quatro ventos, sua posição já está dada. Sua sobrevivência política dependerá de como vai reagir a cada fato, no Brasil ou no exterior, de que lado está em uma guerra do outro lado do mundo, se vai usar amarelo ou vermelho, em quem vai votar para o conselho tutelar, quais lugares frequenta, ou qual chocolate anda comendo, se o de direita ou de esquerda. Tudo está sendo monitorado e rotulado. E se ele consegue ser civilizado com seu colega nos cafezinhos do Congresso, quando uma câmera estiver ligada precisa atuar como um animal feroz.

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Eis o grande dilema de quem se propõe a ser razoável hoje em dia. As redes sociais, em geral, não são. Quem quiser segui-las a ferro e fogo para não apanhar, vai colher delas tudo o que tem mais radical. E com bolhas cada vez mais formadas, a tendência é que isso piore cada vez mais. Se o representante está submisso a elas, tende a também se tornar alguém incapaz de participar de um debate equilibrado.

Por essas e outras, o Brasil deixou de ser um país de mínimos consensos. Pense aí em um tema que, se proposto para debate hoje na praça levaria a uma posição única, sem qualquer debate que seja ou sem antagonismos políticos. Dos direitos básicos individuais ao conceito de democracia, do direito à vida ao combate ao crime, nada pode ser discutido sem uma guerra de narrativas e versões. Você pode até tentar, mas logo aparecerá um “Mestrão” para lhe avisar do cancelamento que o espera na parte da sociedade (ou das redes) que ainda o apoia. É a senha para dizer: anule-se e sobreviva. Como na brincadeira, ‘o que seu mestre mandou, faremos todos’!

Após abraços e risadas entre o agora aprovado como ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), veio a mensagem de alerta ao paranaense. No seu celular, pipocou o recado do contato com a sugestiva alcunha de “Mestrão” para avisar: o “coro estava comendo nas redes” e ele não poderia nem pensar em declarar voto favorável ao indicado por Lula. É esse tipo de mensagem, flagrada pelo repórter fotográfico Wilton Junior, do Estadão, que chega a todo momento nos celulares daqueles que hoje nos representam. Com avisos, alertas e estatísticas para que eles nunca se esqueçam de que são reféns das redes sociais. Moro não é diferente de grande parte dos políticos que alçaram voo com a expansão da polarização e que, agora, precisam rezar uma mesma cartilha cada vez mais estreita e radical. Não há espaço para meio-termo.

Mensagem no celular de Sérgio Moro alerta sobre pressão nas redes sociais, com pedido para que ele não declarasse voto favorável a Flávio Dino no STF.  Foto: Wilton Junior/Estadão

O político eleito pelo impulsionamento que ganhou no mundo digital é o menos livre de todos. Ainda que esteja falando de liberdade de expressão aos quatro ventos, sua posição já está dada. Sua sobrevivência política dependerá de como vai reagir a cada fato, no Brasil ou no exterior, de que lado está em uma guerra do outro lado do mundo, se vai usar amarelo ou vermelho, em quem vai votar para o conselho tutelar, quais lugares frequenta, ou qual chocolate anda comendo, se o de direita ou de esquerda. Tudo está sendo monitorado e rotulado. E se ele consegue ser civilizado com seu colega nos cafezinhos do Congresso, quando uma câmera estiver ligada precisa atuar como um animal feroz.

Eis o grande dilema de quem se propõe a ser razoável hoje em dia. As redes sociais, em geral, não são. Quem quiser segui-las a ferro e fogo para não apanhar, vai colher delas tudo o que tem mais radical. E com bolhas cada vez mais formadas, a tendência é que isso piore cada vez mais. Se o representante está submisso a elas, tende a também se tornar alguém incapaz de participar de um debate equilibrado.

Por essas e outras, o Brasil deixou de ser um país de mínimos consensos. Pense aí em um tema que, se proposto para debate hoje na praça levaria a uma posição única, sem qualquer debate que seja ou sem antagonismos políticos. Dos direitos básicos individuais ao conceito de democracia, do direito à vida ao combate ao crime, nada pode ser discutido sem uma guerra de narrativas e versões. Você pode até tentar, mas logo aparecerá um “Mestrão” para lhe avisar do cancelamento que o espera na parte da sociedade (ou das redes) que ainda o apoia. É a senha para dizer: anule-se e sobreviva. Como na brincadeira, ‘o que seu mestre mandou, faremos todos’!

Após abraços e risadas entre o agora aprovado como ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), veio a mensagem de alerta ao paranaense. No seu celular, pipocou o recado do contato com a sugestiva alcunha de “Mestrão” para avisar: o “coro estava comendo nas redes” e ele não poderia nem pensar em declarar voto favorável ao indicado por Lula. É esse tipo de mensagem, flagrada pelo repórter fotográfico Wilton Junior, do Estadão, que chega a todo momento nos celulares daqueles que hoje nos representam. Com avisos, alertas e estatísticas para que eles nunca se esqueçam de que são reféns das redes sociais. Moro não é diferente de grande parte dos políticos que alçaram voo com a expansão da polarização e que, agora, precisam rezar uma mesma cartilha cada vez mais estreita e radical. Não há espaço para meio-termo.

Mensagem no celular de Sérgio Moro alerta sobre pressão nas redes sociais, com pedido para que ele não declarasse voto favorável a Flávio Dino no STF.  Foto: Wilton Junior/Estadão

O político eleito pelo impulsionamento que ganhou no mundo digital é o menos livre de todos. Ainda que esteja falando de liberdade de expressão aos quatro ventos, sua posição já está dada. Sua sobrevivência política dependerá de como vai reagir a cada fato, no Brasil ou no exterior, de que lado está em uma guerra do outro lado do mundo, se vai usar amarelo ou vermelho, em quem vai votar para o conselho tutelar, quais lugares frequenta, ou qual chocolate anda comendo, se o de direita ou de esquerda. Tudo está sendo monitorado e rotulado. E se ele consegue ser civilizado com seu colega nos cafezinhos do Congresso, quando uma câmera estiver ligada precisa atuar como um animal feroz.

Eis o grande dilema de quem se propõe a ser razoável hoje em dia. As redes sociais, em geral, não são. Quem quiser segui-las a ferro e fogo para não apanhar, vai colher delas tudo o que tem mais radical. E com bolhas cada vez mais formadas, a tendência é que isso piore cada vez mais. Se o representante está submisso a elas, tende a também se tornar alguém incapaz de participar de um debate equilibrado.

Por essas e outras, o Brasil deixou de ser um país de mínimos consensos. Pense aí em um tema que, se proposto para debate hoje na praça levaria a uma posição única, sem qualquer debate que seja ou sem antagonismos políticos. Dos direitos básicos individuais ao conceito de democracia, do direito à vida ao combate ao crime, nada pode ser discutido sem uma guerra de narrativas e versões. Você pode até tentar, mas logo aparecerá um “Mestrão” para lhe avisar do cancelamento que o espera na parte da sociedade (ou das redes) que ainda o apoia. É a senha para dizer: anule-se e sobreviva. Como na brincadeira, ‘o que seu mestre mandou, faremos todos’!

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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