Traduzindo a política

Opinião|No que se apegam Ricardo Nunes e Guilherme Boulos para vencer o segundo turno em São Paulo


Prefeito conta com pesquisas, identificação ideológica com Marçal e baixa rejeição; psolista crê ser possível crescer na periferia com tempo de TV igual e menos capilaridade do prefeito

Por Ricardo Corrêa
Atualização:

Separados por apenas 25 mil votos no primeiro turno e tendo passado no aperto para a segunda rodada de votação, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) têm, naturalmente, cálculos diferentes sobre seus potenciais na segunda etapa. Enquanto Nunes fia-se nas pesquisas, na rejeição baixa e na boa votação da direita para reafirmar seu favoritismo, Boulos enxerga em eleições passadas, na distribuição regional dos votos de Marçal e na diferença de cenário no segundo turno como motivadores para conseguir a virada.

A vida de Nunes parece bem mais fácil se olharmos para o cenário que era desenhado pelas pesquisas da reta final do primeiro turno e que aparece no primeiro levantamento do segundo turno. Além disso, os levantamentos apresentam rejeição bem mais baixa a ele do que a Boulos. E o emedebista também tem boa avaliação de governo, o que costuma ser determinante para definir eleições tão apertadas em que o eleitor parece estar em dúvida.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos em campanha durante o primeiro turno da disputa eleitoral em São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão e Felipe Rau/Estadão
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Nunes também tem como vantagem o fato de que o governador Tarcísio de Freitas, seu principal cabo eleitoral, também é bem avaliado e parece bem mais disposto a continuar fincando o pé na campanha, enquanto, do outro lado, Lula até agora só sinalizou com uma presença em São Paulo nas três semanas até o segundo turno.

O principal ativo, porém, é a vinculação ideológica bem mais nítida com o eleitorado de Pablo Marçal, que é em grande parte formado por bolsonaristas. A migração para uma candidatura contra a esquerda seria bem mais natural e, é bom lembrar, antes de Marçal entrar na corrida eleitoral, parte desse eleitorado estava com Ricardo Nunes, que liderava a maior parte dos levantamentos.

O grupo de Nunes crê ser decisivo o fato de Boulos ainda ser visto como um “radical” por conta de sua atuação nos movimentos sociais de luta por moradia. Para vencer o emedebista estando atrás nos levantamentos, Boulos teria que partir para cima dele nos debates e na campanha, o que poderia reforçar essa imagem. Foi o grande dilema de Boulos no primeiro turno, quando fez uma campanha insossa, e será novamente no segundo.

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Em relação ao principal ponto a favor de Nunes, a campanha de Boulos acredita que nem todo eleitor de Marçal é ideológico, apontando que a melhor votação do ex-coach foi localizada em um bolsão formado por bairros da zona leste mais próximos da região central e da zona norte. O raciocínio seria que isso se deu pelo fato de a região ter sido negligenciada em prol de outras agendas no primeiro turno. Ocorre que, se olhados os resultados de 2022, essas regiões são também aquelas em que Bolsonaro venceu Lula, o que indica que há sim muita dificuldade de penetração da esquerda nesses locais atualmente.

Nem tudo é má notícia para Boulos, porém. As rusgas entre Marçal e Nunes durante e após o primeiro turno, e a irritação do ex-candidato e de parte dos eleitores de Marçal com Bolsonaro, Tarcísio, Silas Malafaia podem levar a um considerável número de anulações de voto. Até entre aliados do ex-presidente há essa percepção. Sobretudo após Marçal exigir um pedido de desculpas e reforçar críticas ao prefeito. Qualquer voto de Marçal que for anulado pode ajudar a diminuir a provável vantagem de Nunes com a boa votação da direita.

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Há nítida margem de melhora na periferia se considerada a eleição de 2022, quando Lula bateu Bolsonaro no cômputo geral. Sobretudo pelo fato de que, sem Marçal, a vinculação de Nunes com o ex-presidente ficará mais forte, ainda que o prefeito tente evitar o tema. O fato de o vice ser do PL e um nome a assumir a prefeitura se Nunes deixar o cargo, o que costuma ser comum para prefeitos já em segundo mandato, tende a ajudar nessa tarefa.

Além disso, o apoio de Tabata Amaral na campanha pode ajudar a diminuir a rejeição de setores médios. E os 50 mil votos no número do PT, que teoricamente deveriam ter sido dele e garantiriam uma liderança estreita no primeiro turno também podem ser recuperados.

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Há ainda outros fatores que são apontados como favoráveis a Boulos: o melhor desempenho nos debates em geral - e daí a divergência entre o time do prefeito que quer o mínimo possível e o de Boulos que quer o máximo que der -; o fato de o psolista ter deixado menos polêmicas do primeiro turno pendentes (no caso de Nunes o B.O. da esposa, as investigações sobre as creches e as obras emergenciais da Prefeitura); a igualdade no tempo de TV, quando no primeiro turno Nunes teve o dobro de espaço e inserções na programação; e o fim da eleição para vereador, que tira uma das principais armas de Nunes, a capilaridade de sua campanha, com santinhos casados distribuídos vinculando muito mais candidatos ao nome dele em toda a cidade.

O favorito segue sendo Ricardo Nunes, que aparece à frente no levantamento divulgado pelo Paraná Pesquisas nesta manhã e que deve ser reforçado pelo Datafolha mais tarde, ainda nesta quinta-feira. Embora não seja uma distância intransponível, considerando que cada voto conquistado é um voto necessariamente tirado do concorrente no segundo turno, os quase 14 pontos indicados pelo Paraná são uma distância confortável para uma campanha de apenas três semanas, o que pode acabar desanimando a militância pró-Boulos.

Separados por apenas 25 mil votos no primeiro turno e tendo passado no aperto para a segunda rodada de votação, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) têm, naturalmente, cálculos diferentes sobre seus potenciais na segunda etapa. Enquanto Nunes fia-se nas pesquisas, na rejeição baixa e na boa votação da direita para reafirmar seu favoritismo, Boulos enxerga em eleições passadas, na distribuição regional dos votos de Marçal e na diferença de cenário no segundo turno como motivadores para conseguir a virada.

A vida de Nunes parece bem mais fácil se olharmos para o cenário que era desenhado pelas pesquisas da reta final do primeiro turno e que aparece no primeiro levantamento do segundo turno. Além disso, os levantamentos apresentam rejeição bem mais baixa a ele do que a Boulos. E o emedebista também tem boa avaliação de governo, o que costuma ser determinante para definir eleições tão apertadas em que o eleitor parece estar em dúvida.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos em campanha durante o primeiro turno da disputa eleitoral em São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão e Felipe Rau/Estadão

Nunes também tem como vantagem o fato de que o governador Tarcísio de Freitas, seu principal cabo eleitoral, também é bem avaliado e parece bem mais disposto a continuar fincando o pé na campanha, enquanto, do outro lado, Lula até agora só sinalizou com uma presença em São Paulo nas três semanas até o segundo turno.

O principal ativo, porém, é a vinculação ideológica bem mais nítida com o eleitorado de Pablo Marçal, que é em grande parte formado por bolsonaristas. A migração para uma candidatura contra a esquerda seria bem mais natural e, é bom lembrar, antes de Marçal entrar na corrida eleitoral, parte desse eleitorado estava com Ricardo Nunes, que liderava a maior parte dos levantamentos.

O grupo de Nunes crê ser decisivo o fato de Boulos ainda ser visto como um “radical” por conta de sua atuação nos movimentos sociais de luta por moradia. Para vencer o emedebista estando atrás nos levantamentos, Boulos teria que partir para cima dele nos debates e na campanha, o que poderia reforçar essa imagem. Foi o grande dilema de Boulos no primeiro turno, quando fez uma campanha insossa, e será novamente no segundo.

Em relação ao principal ponto a favor de Nunes, a campanha de Boulos acredita que nem todo eleitor de Marçal é ideológico, apontando que a melhor votação do ex-coach foi localizada em um bolsão formado por bairros da zona leste mais próximos da região central e da zona norte. O raciocínio seria que isso se deu pelo fato de a região ter sido negligenciada em prol de outras agendas no primeiro turno. Ocorre que, se olhados os resultados de 2022, essas regiões são também aquelas em que Bolsonaro venceu Lula, o que indica que há sim muita dificuldade de penetração da esquerda nesses locais atualmente.

Nem tudo é má notícia para Boulos, porém. As rusgas entre Marçal e Nunes durante e após o primeiro turno, e a irritação do ex-candidato e de parte dos eleitores de Marçal com Bolsonaro, Tarcísio, Silas Malafaia podem levar a um considerável número de anulações de voto. Até entre aliados do ex-presidente há essa percepção. Sobretudo após Marçal exigir um pedido de desculpas e reforçar críticas ao prefeito. Qualquer voto de Marçal que for anulado pode ajudar a diminuir a provável vantagem de Nunes com a boa votação da direita.

Há nítida margem de melhora na periferia se considerada a eleição de 2022, quando Lula bateu Bolsonaro no cômputo geral. Sobretudo pelo fato de que, sem Marçal, a vinculação de Nunes com o ex-presidente ficará mais forte, ainda que o prefeito tente evitar o tema. O fato de o vice ser do PL e um nome a assumir a prefeitura se Nunes deixar o cargo, o que costuma ser comum para prefeitos já em segundo mandato, tende a ajudar nessa tarefa.

Além disso, o apoio de Tabata Amaral na campanha pode ajudar a diminuir a rejeição de setores médios. E os 50 mil votos no número do PT, que teoricamente deveriam ter sido dele e garantiriam uma liderança estreita no primeiro turno também podem ser recuperados.

Há ainda outros fatores que são apontados como favoráveis a Boulos: o melhor desempenho nos debates em geral - e daí a divergência entre o time do prefeito que quer o mínimo possível e o de Boulos que quer o máximo que der -; o fato de o psolista ter deixado menos polêmicas do primeiro turno pendentes (no caso de Nunes o B.O. da esposa, as investigações sobre as creches e as obras emergenciais da Prefeitura); a igualdade no tempo de TV, quando no primeiro turno Nunes teve o dobro de espaço e inserções na programação; e o fim da eleição para vereador, que tira uma das principais armas de Nunes, a capilaridade de sua campanha, com santinhos casados distribuídos vinculando muito mais candidatos ao nome dele em toda a cidade.

O favorito segue sendo Ricardo Nunes, que aparece à frente no levantamento divulgado pelo Paraná Pesquisas nesta manhã e que deve ser reforçado pelo Datafolha mais tarde, ainda nesta quinta-feira. Embora não seja uma distância intransponível, considerando que cada voto conquistado é um voto necessariamente tirado do concorrente no segundo turno, os quase 14 pontos indicados pelo Paraná são uma distância confortável para uma campanha de apenas três semanas, o que pode acabar desanimando a militância pró-Boulos.

Separados por apenas 25 mil votos no primeiro turno e tendo passado no aperto para a segunda rodada de votação, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) têm, naturalmente, cálculos diferentes sobre seus potenciais na segunda etapa. Enquanto Nunes fia-se nas pesquisas, na rejeição baixa e na boa votação da direita para reafirmar seu favoritismo, Boulos enxerga em eleições passadas, na distribuição regional dos votos de Marçal e na diferença de cenário no segundo turno como motivadores para conseguir a virada.

A vida de Nunes parece bem mais fácil se olharmos para o cenário que era desenhado pelas pesquisas da reta final do primeiro turno e que aparece no primeiro levantamento do segundo turno. Além disso, os levantamentos apresentam rejeição bem mais baixa a ele do que a Boulos. E o emedebista também tem boa avaliação de governo, o que costuma ser determinante para definir eleições tão apertadas em que o eleitor parece estar em dúvida.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos em campanha durante o primeiro turno da disputa eleitoral em São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão e Felipe Rau/Estadão

Nunes também tem como vantagem o fato de que o governador Tarcísio de Freitas, seu principal cabo eleitoral, também é bem avaliado e parece bem mais disposto a continuar fincando o pé na campanha, enquanto, do outro lado, Lula até agora só sinalizou com uma presença em São Paulo nas três semanas até o segundo turno.

O principal ativo, porém, é a vinculação ideológica bem mais nítida com o eleitorado de Pablo Marçal, que é em grande parte formado por bolsonaristas. A migração para uma candidatura contra a esquerda seria bem mais natural e, é bom lembrar, antes de Marçal entrar na corrida eleitoral, parte desse eleitorado estava com Ricardo Nunes, que liderava a maior parte dos levantamentos.

O grupo de Nunes crê ser decisivo o fato de Boulos ainda ser visto como um “radical” por conta de sua atuação nos movimentos sociais de luta por moradia. Para vencer o emedebista estando atrás nos levantamentos, Boulos teria que partir para cima dele nos debates e na campanha, o que poderia reforçar essa imagem. Foi o grande dilema de Boulos no primeiro turno, quando fez uma campanha insossa, e será novamente no segundo.

Em relação ao principal ponto a favor de Nunes, a campanha de Boulos acredita que nem todo eleitor de Marçal é ideológico, apontando que a melhor votação do ex-coach foi localizada em um bolsão formado por bairros da zona leste mais próximos da região central e da zona norte. O raciocínio seria que isso se deu pelo fato de a região ter sido negligenciada em prol de outras agendas no primeiro turno. Ocorre que, se olhados os resultados de 2022, essas regiões são também aquelas em que Bolsonaro venceu Lula, o que indica que há sim muita dificuldade de penetração da esquerda nesses locais atualmente.

Nem tudo é má notícia para Boulos, porém. As rusgas entre Marçal e Nunes durante e após o primeiro turno, e a irritação do ex-candidato e de parte dos eleitores de Marçal com Bolsonaro, Tarcísio, Silas Malafaia podem levar a um considerável número de anulações de voto. Até entre aliados do ex-presidente há essa percepção. Sobretudo após Marçal exigir um pedido de desculpas e reforçar críticas ao prefeito. Qualquer voto de Marçal que for anulado pode ajudar a diminuir a provável vantagem de Nunes com a boa votação da direita.

Há nítida margem de melhora na periferia se considerada a eleição de 2022, quando Lula bateu Bolsonaro no cômputo geral. Sobretudo pelo fato de que, sem Marçal, a vinculação de Nunes com o ex-presidente ficará mais forte, ainda que o prefeito tente evitar o tema. O fato de o vice ser do PL e um nome a assumir a prefeitura se Nunes deixar o cargo, o que costuma ser comum para prefeitos já em segundo mandato, tende a ajudar nessa tarefa.

Além disso, o apoio de Tabata Amaral na campanha pode ajudar a diminuir a rejeição de setores médios. E os 50 mil votos no número do PT, que teoricamente deveriam ter sido dele e garantiriam uma liderança estreita no primeiro turno também podem ser recuperados.

Há ainda outros fatores que são apontados como favoráveis a Boulos: o melhor desempenho nos debates em geral - e daí a divergência entre o time do prefeito que quer o mínimo possível e o de Boulos que quer o máximo que der -; o fato de o psolista ter deixado menos polêmicas do primeiro turno pendentes (no caso de Nunes o B.O. da esposa, as investigações sobre as creches e as obras emergenciais da Prefeitura); a igualdade no tempo de TV, quando no primeiro turno Nunes teve o dobro de espaço e inserções na programação; e o fim da eleição para vereador, que tira uma das principais armas de Nunes, a capilaridade de sua campanha, com santinhos casados distribuídos vinculando muito mais candidatos ao nome dele em toda a cidade.

O favorito segue sendo Ricardo Nunes, que aparece à frente no levantamento divulgado pelo Paraná Pesquisas nesta manhã e que deve ser reforçado pelo Datafolha mais tarde, ainda nesta quinta-feira. Embora não seja uma distância intransponível, considerando que cada voto conquistado é um voto necessariamente tirado do concorrente no segundo turno, os quase 14 pontos indicados pelo Paraná são uma distância confortável para uma campanha de apenas três semanas, o que pode acabar desanimando a militância pró-Boulos.

Separados por apenas 25 mil votos no primeiro turno e tendo passado no aperto para a segunda rodada de votação, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) têm, naturalmente, cálculos diferentes sobre seus potenciais na segunda etapa. Enquanto Nunes fia-se nas pesquisas, na rejeição baixa e na boa votação da direita para reafirmar seu favoritismo, Boulos enxerga em eleições passadas, na distribuição regional dos votos de Marçal e na diferença de cenário no segundo turno como motivadores para conseguir a virada.

A vida de Nunes parece bem mais fácil se olharmos para o cenário que era desenhado pelas pesquisas da reta final do primeiro turno e que aparece no primeiro levantamento do segundo turno. Além disso, os levantamentos apresentam rejeição bem mais baixa a ele do que a Boulos. E o emedebista também tem boa avaliação de governo, o que costuma ser determinante para definir eleições tão apertadas em que o eleitor parece estar em dúvida.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos em campanha durante o primeiro turno da disputa eleitoral em São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão e Felipe Rau/Estadão

Nunes também tem como vantagem o fato de que o governador Tarcísio de Freitas, seu principal cabo eleitoral, também é bem avaliado e parece bem mais disposto a continuar fincando o pé na campanha, enquanto, do outro lado, Lula até agora só sinalizou com uma presença em São Paulo nas três semanas até o segundo turno.

O principal ativo, porém, é a vinculação ideológica bem mais nítida com o eleitorado de Pablo Marçal, que é em grande parte formado por bolsonaristas. A migração para uma candidatura contra a esquerda seria bem mais natural e, é bom lembrar, antes de Marçal entrar na corrida eleitoral, parte desse eleitorado estava com Ricardo Nunes, que liderava a maior parte dos levantamentos.

O grupo de Nunes crê ser decisivo o fato de Boulos ainda ser visto como um “radical” por conta de sua atuação nos movimentos sociais de luta por moradia. Para vencer o emedebista estando atrás nos levantamentos, Boulos teria que partir para cima dele nos debates e na campanha, o que poderia reforçar essa imagem. Foi o grande dilema de Boulos no primeiro turno, quando fez uma campanha insossa, e será novamente no segundo.

Em relação ao principal ponto a favor de Nunes, a campanha de Boulos acredita que nem todo eleitor de Marçal é ideológico, apontando que a melhor votação do ex-coach foi localizada em um bolsão formado por bairros da zona leste mais próximos da região central e da zona norte. O raciocínio seria que isso se deu pelo fato de a região ter sido negligenciada em prol de outras agendas no primeiro turno. Ocorre que, se olhados os resultados de 2022, essas regiões são também aquelas em que Bolsonaro venceu Lula, o que indica que há sim muita dificuldade de penetração da esquerda nesses locais atualmente.

Nem tudo é má notícia para Boulos, porém. As rusgas entre Marçal e Nunes durante e após o primeiro turno, e a irritação do ex-candidato e de parte dos eleitores de Marçal com Bolsonaro, Tarcísio, Silas Malafaia podem levar a um considerável número de anulações de voto. Até entre aliados do ex-presidente há essa percepção. Sobretudo após Marçal exigir um pedido de desculpas e reforçar críticas ao prefeito. Qualquer voto de Marçal que for anulado pode ajudar a diminuir a provável vantagem de Nunes com a boa votação da direita.

Há nítida margem de melhora na periferia se considerada a eleição de 2022, quando Lula bateu Bolsonaro no cômputo geral. Sobretudo pelo fato de que, sem Marçal, a vinculação de Nunes com o ex-presidente ficará mais forte, ainda que o prefeito tente evitar o tema. O fato de o vice ser do PL e um nome a assumir a prefeitura se Nunes deixar o cargo, o que costuma ser comum para prefeitos já em segundo mandato, tende a ajudar nessa tarefa.

Além disso, o apoio de Tabata Amaral na campanha pode ajudar a diminuir a rejeição de setores médios. E os 50 mil votos no número do PT, que teoricamente deveriam ter sido dele e garantiriam uma liderança estreita no primeiro turno também podem ser recuperados.

Há ainda outros fatores que são apontados como favoráveis a Boulos: o melhor desempenho nos debates em geral - e daí a divergência entre o time do prefeito que quer o mínimo possível e o de Boulos que quer o máximo que der -; o fato de o psolista ter deixado menos polêmicas do primeiro turno pendentes (no caso de Nunes o B.O. da esposa, as investigações sobre as creches e as obras emergenciais da Prefeitura); a igualdade no tempo de TV, quando no primeiro turno Nunes teve o dobro de espaço e inserções na programação; e o fim da eleição para vereador, que tira uma das principais armas de Nunes, a capilaridade de sua campanha, com santinhos casados distribuídos vinculando muito mais candidatos ao nome dele em toda a cidade.

O favorito segue sendo Ricardo Nunes, que aparece à frente no levantamento divulgado pelo Paraná Pesquisas nesta manhã e que deve ser reforçado pelo Datafolha mais tarde, ainda nesta quinta-feira. Embora não seja uma distância intransponível, considerando que cada voto conquistado é um voto necessariamente tirado do concorrente no segundo turno, os quase 14 pontos indicados pelo Paraná são uma distância confortável para uma campanha de apenas três semanas, o que pode acabar desanimando a militância pró-Boulos.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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