Traduzindo a política

Opinião|Nunes e Boulos fazem aposta de risco ao aceitarem que Marçal continue usando palco dos debates


Prefeito e deputado têm motivos políticos para não ampliarem pressão para que o ex-coach seja retirado dos encontros

Por Ricardo Corrêa
Atualização:

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) fazem uma aposta de risco ao aceitarem dar palco para que Pablo Marçal (PRTB) se destaque – para o bem ou para o mal – nos debates à Prefeitura de São Paulo. Ao contrário do que fizeram lá atrás, no debate da Veja, os dois, embora reclamem daqui e dali, não fazem quaisquer movimentos para tentar impedir que o ex-coach participe dos três encontros restantes, um na internet e dois na TV. Escoram-se em cálculos políticos perigosos para manter uma posição que beneficia Marçal.

O discurso que tentam apresentar nos bastidores é o de que pressionar pela retirada de Marçal, cuja legislação eleitoral não obriga que seja convidado para os encontros, fortaleceria o discurso do candidato de que é perseguido e censurado por um “sistema”. Assim, por oito vezes nessas eleições já houve debates e em todos eles o nome do PRTB saiu como um dos protagonistas. Aconteça o que acontecer em cada encontro, no fim, ele sempre dará um jeito de estar nas manchetes e recortes dos programas, nem que seja preciso ofender, debochar, driblar as regras, provocar, levar uma cadeirada, ser expulso ou ver seus aliados trocando sopapos no estúdio ou pelos corredores.

Boulos, Nunes, Marçal, Datena, Tabata e Marina Helena. Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadv£o Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadão
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Mas verdadeiramente por qual razão mesmo assim não há um movimento efetivo dos demais candidatos para que ele seja deixado de fora dos encontros da Folha/UOL, TV Record e Globo? A desculpa anterior para Nunes e Boulos era a de que não adiantaria faltar se Tabata Amaral e Marina Helena, por exemplo, poderiam comparecer, garantindo a existência dos debates sem eles.

Nos bastidores do debate do Flow, pouco depois da confusão, a repórter Adriana Victorino flagrou uma conversa de José Luiz Datena, um dos principais adeptos da ideia de exigir a retirada de Marçal dos debates, e Ricardo Nunes. Na conversa, Datena dispara, sobre Marçal: “Esse cara não pode participar de debate. Não podemos admitir esse cara no debate. A Tabata diz: ‘não porque tem que ir no debate’, vai você (Tabata) e ele então”. Nunes não respondeu.

Para o prefeito, parece fazer sentido que Marçal continue participando, na crença de que, ainda que seja alçado ao palco do picadeiro, o ex-coach acabe revelando características que o afastam do eleitorado médio e podem fazer sua rejeição continuar subindo. Faria total sentido se o objetivo fosse derrotá-lo em um segundo turno, onde uma rejeição galopante realmente faz diferença. Mas não se o objetivo é garantir estar nessa segunda etapa no lugar dele. Como boa parte das pesquisas coloca Nunes à frente e houve uma leve oscilação positiva nas últimas semanas, o prefeito parece crer que o perigo já passou.

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Boulos também não parece se incomodar com os shows de Marçal. No cálculo, estaria o fato de que o candidato do PRTB tem fustigado muito mais Ricardo Nunes nesses encontros, e a guerra entre os dois pode contribuir para que parte do eleitorado de Marçal acabe se indignando tanto com o prefeito que opte por votar nulo no segundo turno, diminuindo a natural migração que ocorreria entre dois candidatos de direita. Faria todo sentido se Boulos estivesse verdadeiramente garantido na segunda etapa e não disputando uma vaga com Marçal, como indicam as pesquisas.

Se o candidato do PRTB tivesse hoje 15% ou estivesse bem longe do empate técnico na margem de erro, do ponto de vista político, as estratégia de Boulos e Nunes seriam adequadas. Quando Marçal chama a atenção para ele nos debates, também ajuda a esvaziar outros nomes, como Tabata Amaral e José Luiz Datena. O que talvez explique a razão pela qual Tabata, antes refratária à tese de boicotar um debate com ele - como lembrou Datena - tenha começado a mudar de ideia. Para ela, parece tarde. Para os dois líderes da pesquisa ainda não é. Sobretudo pelo fato de Marçal estar vivo.

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Ele não está derretendo, nem se distanciou dos líderes. Apenas parou de crescer. Chegou no teto, mas em margem apertada. Se houver votos envergonhados daqui e dali e alguma movimentação no segundo turno, pode surpreender justamente um dos dois nomes que, neste momento, têm força para tentar pressionar para que ele não seja de novo o protagonista dos encontros na TV. Marçal até pode ser tido como ‘o cabra marcado para perder’ no segundo turno. Mas ainda pode ir ao segundo turno e frustrar justamente os que hoje toleram seu espetáculo.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) fazem uma aposta de risco ao aceitarem dar palco para que Pablo Marçal (PRTB) se destaque – para o bem ou para o mal – nos debates à Prefeitura de São Paulo. Ao contrário do que fizeram lá atrás, no debate da Veja, os dois, embora reclamem daqui e dali, não fazem quaisquer movimentos para tentar impedir que o ex-coach participe dos três encontros restantes, um na internet e dois na TV. Escoram-se em cálculos políticos perigosos para manter uma posição que beneficia Marçal.

O discurso que tentam apresentar nos bastidores é o de que pressionar pela retirada de Marçal, cuja legislação eleitoral não obriga que seja convidado para os encontros, fortaleceria o discurso do candidato de que é perseguido e censurado por um “sistema”. Assim, por oito vezes nessas eleições já houve debates e em todos eles o nome do PRTB saiu como um dos protagonistas. Aconteça o que acontecer em cada encontro, no fim, ele sempre dará um jeito de estar nas manchetes e recortes dos programas, nem que seja preciso ofender, debochar, driblar as regras, provocar, levar uma cadeirada, ser expulso ou ver seus aliados trocando sopapos no estúdio ou pelos corredores.

Boulos, Nunes, Marçal, Datena, Tabata e Marina Helena. Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadv£o Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadão

Mas verdadeiramente por qual razão mesmo assim não há um movimento efetivo dos demais candidatos para que ele seja deixado de fora dos encontros da Folha/UOL, TV Record e Globo? A desculpa anterior para Nunes e Boulos era a de que não adiantaria faltar se Tabata Amaral e Marina Helena, por exemplo, poderiam comparecer, garantindo a existência dos debates sem eles.

Nos bastidores do debate do Flow, pouco depois da confusão, a repórter Adriana Victorino flagrou uma conversa de José Luiz Datena, um dos principais adeptos da ideia de exigir a retirada de Marçal dos debates, e Ricardo Nunes. Na conversa, Datena dispara, sobre Marçal: “Esse cara não pode participar de debate. Não podemos admitir esse cara no debate. A Tabata diz: ‘não porque tem que ir no debate’, vai você (Tabata) e ele então”. Nunes não respondeu.

Para o prefeito, parece fazer sentido que Marçal continue participando, na crença de que, ainda que seja alçado ao palco do picadeiro, o ex-coach acabe revelando características que o afastam do eleitorado médio e podem fazer sua rejeição continuar subindo. Faria total sentido se o objetivo fosse derrotá-lo em um segundo turno, onde uma rejeição galopante realmente faz diferença. Mas não se o objetivo é garantir estar nessa segunda etapa no lugar dele. Como boa parte das pesquisas coloca Nunes à frente e houve uma leve oscilação positiva nas últimas semanas, o prefeito parece crer que o perigo já passou.

Boulos também não parece se incomodar com os shows de Marçal. No cálculo, estaria o fato de que o candidato do PRTB tem fustigado muito mais Ricardo Nunes nesses encontros, e a guerra entre os dois pode contribuir para que parte do eleitorado de Marçal acabe se indignando tanto com o prefeito que opte por votar nulo no segundo turno, diminuindo a natural migração que ocorreria entre dois candidatos de direita. Faria todo sentido se Boulos estivesse verdadeiramente garantido na segunda etapa e não disputando uma vaga com Marçal, como indicam as pesquisas.

Se o candidato do PRTB tivesse hoje 15% ou estivesse bem longe do empate técnico na margem de erro, do ponto de vista político, as estratégia de Boulos e Nunes seriam adequadas. Quando Marçal chama a atenção para ele nos debates, também ajuda a esvaziar outros nomes, como Tabata Amaral e José Luiz Datena. O que talvez explique a razão pela qual Tabata, antes refratária à tese de boicotar um debate com ele - como lembrou Datena - tenha começado a mudar de ideia. Para ela, parece tarde. Para os dois líderes da pesquisa ainda não é. Sobretudo pelo fato de Marçal estar vivo.

Ele não está derretendo, nem se distanciou dos líderes. Apenas parou de crescer. Chegou no teto, mas em margem apertada. Se houver votos envergonhados daqui e dali e alguma movimentação no segundo turno, pode surpreender justamente um dos dois nomes que, neste momento, têm força para tentar pressionar para que ele não seja de novo o protagonista dos encontros na TV. Marçal até pode ser tido como ‘o cabra marcado para perder’ no segundo turno. Mas ainda pode ir ao segundo turno e frustrar justamente os que hoje toleram seu espetáculo.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) fazem uma aposta de risco ao aceitarem dar palco para que Pablo Marçal (PRTB) se destaque – para o bem ou para o mal – nos debates à Prefeitura de São Paulo. Ao contrário do que fizeram lá atrás, no debate da Veja, os dois, embora reclamem daqui e dali, não fazem quaisquer movimentos para tentar impedir que o ex-coach participe dos três encontros restantes, um na internet e dois na TV. Escoram-se em cálculos políticos perigosos para manter uma posição que beneficia Marçal.

O discurso que tentam apresentar nos bastidores é o de que pressionar pela retirada de Marçal, cuja legislação eleitoral não obriga que seja convidado para os encontros, fortaleceria o discurso do candidato de que é perseguido e censurado por um “sistema”. Assim, por oito vezes nessas eleições já houve debates e em todos eles o nome do PRTB saiu como um dos protagonistas. Aconteça o que acontecer em cada encontro, no fim, ele sempre dará um jeito de estar nas manchetes e recortes dos programas, nem que seja preciso ofender, debochar, driblar as regras, provocar, levar uma cadeirada, ser expulso ou ver seus aliados trocando sopapos no estúdio ou pelos corredores.

Boulos, Nunes, Marçal, Datena, Tabata e Marina Helena. Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadv£o Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadão

Mas verdadeiramente por qual razão mesmo assim não há um movimento efetivo dos demais candidatos para que ele seja deixado de fora dos encontros da Folha/UOL, TV Record e Globo? A desculpa anterior para Nunes e Boulos era a de que não adiantaria faltar se Tabata Amaral e Marina Helena, por exemplo, poderiam comparecer, garantindo a existência dos debates sem eles.

Nos bastidores do debate do Flow, pouco depois da confusão, a repórter Adriana Victorino flagrou uma conversa de José Luiz Datena, um dos principais adeptos da ideia de exigir a retirada de Marçal dos debates, e Ricardo Nunes. Na conversa, Datena dispara, sobre Marçal: “Esse cara não pode participar de debate. Não podemos admitir esse cara no debate. A Tabata diz: ‘não porque tem que ir no debate’, vai você (Tabata) e ele então”. Nunes não respondeu.

Para o prefeito, parece fazer sentido que Marçal continue participando, na crença de que, ainda que seja alçado ao palco do picadeiro, o ex-coach acabe revelando características que o afastam do eleitorado médio e podem fazer sua rejeição continuar subindo. Faria total sentido se o objetivo fosse derrotá-lo em um segundo turno, onde uma rejeição galopante realmente faz diferença. Mas não se o objetivo é garantir estar nessa segunda etapa no lugar dele. Como boa parte das pesquisas coloca Nunes à frente e houve uma leve oscilação positiva nas últimas semanas, o prefeito parece crer que o perigo já passou.

Boulos também não parece se incomodar com os shows de Marçal. No cálculo, estaria o fato de que o candidato do PRTB tem fustigado muito mais Ricardo Nunes nesses encontros, e a guerra entre os dois pode contribuir para que parte do eleitorado de Marçal acabe se indignando tanto com o prefeito que opte por votar nulo no segundo turno, diminuindo a natural migração que ocorreria entre dois candidatos de direita. Faria todo sentido se Boulos estivesse verdadeiramente garantido na segunda etapa e não disputando uma vaga com Marçal, como indicam as pesquisas.

Se o candidato do PRTB tivesse hoje 15% ou estivesse bem longe do empate técnico na margem de erro, do ponto de vista político, as estratégia de Boulos e Nunes seriam adequadas. Quando Marçal chama a atenção para ele nos debates, também ajuda a esvaziar outros nomes, como Tabata Amaral e José Luiz Datena. O que talvez explique a razão pela qual Tabata, antes refratária à tese de boicotar um debate com ele - como lembrou Datena - tenha começado a mudar de ideia. Para ela, parece tarde. Para os dois líderes da pesquisa ainda não é. Sobretudo pelo fato de Marçal estar vivo.

Ele não está derretendo, nem se distanciou dos líderes. Apenas parou de crescer. Chegou no teto, mas em margem apertada. Se houver votos envergonhados daqui e dali e alguma movimentação no segundo turno, pode surpreender justamente um dos dois nomes que, neste momento, têm força para tentar pressionar para que ele não seja de novo o protagonista dos encontros na TV. Marçal até pode ser tido como ‘o cabra marcado para perder’ no segundo turno. Mas ainda pode ir ao segundo turno e frustrar justamente os que hoje toleram seu espetáculo.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) fazem uma aposta de risco ao aceitarem dar palco para que Pablo Marçal (PRTB) se destaque – para o bem ou para o mal – nos debates à Prefeitura de São Paulo. Ao contrário do que fizeram lá atrás, no debate da Veja, os dois, embora reclamem daqui e dali, não fazem quaisquer movimentos para tentar impedir que o ex-coach participe dos três encontros restantes, um na internet e dois na TV. Escoram-se em cálculos políticos perigosos para manter uma posição que beneficia Marçal.

O discurso que tentam apresentar nos bastidores é o de que pressionar pela retirada de Marçal, cuja legislação eleitoral não obriga que seja convidado para os encontros, fortaleceria o discurso do candidato de que é perseguido e censurado por um “sistema”. Assim, por oito vezes nessas eleições já houve debates e em todos eles o nome do PRTB saiu como um dos protagonistas. Aconteça o que acontecer em cada encontro, no fim, ele sempre dará um jeito de estar nas manchetes e recortes dos programas, nem que seja preciso ofender, debochar, driblar as regras, provocar, levar uma cadeirada, ser expulso ou ver seus aliados trocando sopapos no estúdio ou pelos corredores.

Boulos, Nunes, Marçal, Datena, Tabata e Marina Helena. Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadv£o Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadão

Mas verdadeiramente por qual razão mesmo assim não há um movimento efetivo dos demais candidatos para que ele seja deixado de fora dos encontros da Folha/UOL, TV Record e Globo? A desculpa anterior para Nunes e Boulos era a de que não adiantaria faltar se Tabata Amaral e Marina Helena, por exemplo, poderiam comparecer, garantindo a existência dos debates sem eles.

Nos bastidores do debate do Flow, pouco depois da confusão, a repórter Adriana Victorino flagrou uma conversa de José Luiz Datena, um dos principais adeptos da ideia de exigir a retirada de Marçal dos debates, e Ricardo Nunes. Na conversa, Datena dispara, sobre Marçal: “Esse cara não pode participar de debate. Não podemos admitir esse cara no debate. A Tabata diz: ‘não porque tem que ir no debate’, vai você (Tabata) e ele então”. Nunes não respondeu.

Para o prefeito, parece fazer sentido que Marçal continue participando, na crença de que, ainda que seja alçado ao palco do picadeiro, o ex-coach acabe revelando características que o afastam do eleitorado médio e podem fazer sua rejeição continuar subindo. Faria total sentido se o objetivo fosse derrotá-lo em um segundo turno, onde uma rejeição galopante realmente faz diferença. Mas não se o objetivo é garantir estar nessa segunda etapa no lugar dele. Como boa parte das pesquisas coloca Nunes à frente e houve uma leve oscilação positiva nas últimas semanas, o prefeito parece crer que o perigo já passou.

Boulos também não parece se incomodar com os shows de Marçal. No cálculo, estaria o fato de que o candidato do PRTB tem fustigado muito mais Ricardo Nunes nesses encontros, e a guerra entre os dois pode contribuir para que parte do eleitorado de Marçal acabe se indignando tanto com o prefeito que opte por votar nulo no segundo turno, diminuindo a natural migração que ocorreria entre dois candidatos de direita. Faria todo sentido se Boulos estivesse verdadeiramente garantido na segunda etapa e não disputando uma vaga com Marçal, como indicam as pesquisas.

Se o candidato do PRTB tivesse hoje 15% ou estivesse bem longe do empate técnico na margem de erro, do ponto de vista político, as estratégia de Boulos e Nunes seriam adequadas. Quando Marçal chama a atenção para ele nos debates, também ajuda a esvaziar outros nomes, como Tabata Amaral e José Luiz Datena. O que talvez explique a razão pela qual Tabata, antes refratária à tese de boicotar um debate com ele - como lembrou Datena - tenha começado a mudar de ideia. Para ela, parece tarde. Para os dois líderes da pesquisa ainda não é. Sobretudo pelo fato de Marçal estar vivo.

Ele não está derretendo, nem se distanciou dos líderes. Apenas parou de crescer. Chegou no teto, mas em margem apertada. Se houver votos envergonhados daqui e dali e alguma movimentação no segundo turno, pode surpreender justamente um dos dois nomes que, neste momento, têm força para tentar pressionar para que ele não seja de novo o protagonista dos encontros na TV. Marçal até pode ser tido como ‘o cabra marcado para perder’ no segundo turno. Mas ainda pode ir ao segundo turno e frustrar justamente os que hoje toleram seu espetáculo.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) fazem uma aposta de risco ao aceitarem dar palco para que Pablo Marçal (PRTB) se destaque – para o bem ou para o mal – nos debates à Prefeitura de São Paulo. Ao contrário do que fizeram lá atrás, no debate da Veja, os dois, embora reclamem daqui e dali, não fazem quaisquer movimentos para tentar impedir que o ex-coach participe dos três encontros restantes, um na internet e dois na TV. Escoram-se em cálculos políticos perigosos para manter uma posição que beneficia Marçal.

O discurso que tentam apresentar nos bastidores é o de que pressionar pela retirada de Marçal, cuja legislação eleitoral não obriga que seja convidado para os encontros, fortaleceria o discurso do candidato de que é perseguido e censurado por um “sistema”. Assim, por oito vezes nessas eleições já houve debates e em todos eles o nome do PRTB saiu como um dos protagonistas. Aconteça o que acontecer em cada encontro, no fim, ele sempre dará um jeito de estar nas manchetes e recortes dos programas, nem que seja preciso ofender, debochar, driblar as regras, provocar, levar uma cadeirada, ser expulso ou ver seus aliados trocando sopapos no estúdio ou pelos corredores.

Boulos, Nunes, Marçal, Datena, Tabata e Marina Helena. Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadv£o Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadão

Mas verdadeiramente por qual razão mesmo assim não há um movimento efetivo dos demais candidatos para que ele seja deixado de fora dos encontros da Folha/UOL, TV Record e Globo? A desculpa anterior para Nunes e Boulos era a de que não adiantaria faltar se Tabata Amaral e Marina Helena, por exemplo, poderiam comparecer, garantindo a existência dos debates sem eles.

Nos bastidores do debate do Flow, pouco depois da confusão, a repórter Adriana Victorino flagrou uma conversa de José Luiz Datena, um dos principais adeptos da ideia de exigir a retirada de Marçal dos debates, e Ricardo Nunes. Na conversa, Datena dispara, sobre Marçal: “Esse cara não pode participar de debate. Não podemos admitir esse cara no debate. A Tabata diz: ‘não porque tem que ir no debate’, vai você (Tabata) e ele então”. Nunes não respondeu.

Para o prefeito, parece fazer sentido que Marçal continue participando, na crença de que, ainda que seja alçado ao palco do picadeiro, o ex-coach acabe revelando características que o afastam do eleitorado médio e podem fazer sua rejeição continuar subindo. Faria total sentido se o objetivo fosse derrotá-lo em um segundo turno, onde uma rejeição galopante realmente faz diferença. Mas não se o objetivo é garantir estar nessa segunda etapa no lugar dele. Como boa parte das pesquisas coloca Nunes à frente e houve uma leve oscilação positiva nas últimas semanas, o prefeito parece crer que o perigo já passou.

Boulos também não parece se incomodar com os shows de Marçal. No cálculo, estaria o fato de que o candidato do PRTB tem fustigado muito mais Ricardo Nunes nesses encontros, e a guerra entre os dois pode contribuir para que parte do eleitorado de Marçal acabe se indignando tanto com o prefeito que opte por votar nulo no segundo turno, diminuindo a natural migração que ocorreria entre dois candidatos de direita. Faria todo sentido se Boulos estivesse verdadeiramente garantido na segunda etapa e não disputando uma vaga com Marçal, como indicam as pesquisas.

Se o candidato do PRTB tivesse hoje 15% ou estivesse bem longe do empate técnico na margem de erro, do ponto de vista político, as estratégia de Boulos e Nunes seriam adequadas. Quando Marçal chama a atenção para ele nos debates, também ajuda a esvaziar outros nomes, como Tabata Amaral e José Luiz Datena. O que talvez explique a razão pela qual Tabata, antes refratária à tese de boicotar um debate com ele - como lembrou Datena - tenha começado a mudar de ideia. Para ela, parece tarde. Para os dois líderes da pesquisa ainda não é. Sobretudo pelo fato de Marçal estar vivo.

Ele não está derretendo, nem se distanciou dos líderes. Apenas parou de crescer. Chegou no teto, mas em margem apertada. Se houver votos envergonhados daqui e dali e alguma movimentação no segundo turno, pode surpreender justamente um dos dois nomes que, neste momento, têm força para tentar pressionar para que ele não seja de novo o protagonista dos encontros na TV. Marçal até pode ser tido como ‘o cabra marcado para perder’ no segundo turno. Mas ainda pode ir ao segundo turno e frustrar justamente os que hoje toleram seu espetáculo.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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