Traduzindo a política

Opinião|Operação imobiliza Bolsonaro ao vetar contato com aliados e é a que mais traz ameaças a seu futuro


Recheada de diálogos que mostram que conspiração por golpe foi tratada na cozinha do Palácio do Planalto na antiga gestão, ação da PF aproxima o ex-presidente de consequências jurídicas e atrapalha sua articulação nas eleições

Por Ricardo Corrêa
Atualização:

A operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira, 8, e que mira um grupo de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, entre civis e militares, suspeitos de tramar um golpe de Estado para garantir sua permanência no poder tem potencial de ser a mais danosa para os planos de Bolsonaro e para seu futuro no campo jurídico. Recheada de trocas de mensagens de personagens próximos e incluindo até, segundo a PF, um vídeo em que se tramam estratégias para impedir a posse do eleito, a ação tem o potencial de imobilizar as articulações de Bolsonaro, ao impedir que se ele articule com aliados como Valdemar Costa Neto e assessores. Além disso, traz indícios robustos que podem acelerar uma eventual denúncia por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR), que poderia levá-lo futuramente à condenação e à prisão pela participação no episódio.

Do ponto de vista político, a ação vem no pior momento, quando Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, outro alvo da Polícia Federal, são figuras centrais na articulação do PL para as eleições de 2024. Por conta da decisão, o ex-presidente está impedido de ter contato com o comando de seu partido, com quem precisa discutir as alianças pelo Brasil. Foi Valdemar, por exemplo, quem convenceu, depois de muita conversa, que Bolsonaro aceitasse apoiar Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, em vez de lançar um nome do próprio campo e que teria poucas chances de vencer. É Walter Braga Netto, outro investigado, que trabalha nas articulações no Rio de Janeiro. Além da proibição de contato, ainda é preciso ver como serão os próximos dias de Valdemar. Ele foi detido com uma arma supostamente sem registro durante a operação e, enquanto este texto era escrito, era incerto ainda se seria ou não liberado nas próximas horas.

Walter Braga Netto, Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro PL Partido Liberal discutem alianças do PL e não vão poder se comunicar em razão da operação da PF Foto: Beto Barata/PL
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Quanto a Bolsonaro, por força da mesma decisão, o ex-presidente também não poderá tratar com figuras de seu entorno que são importantes na difusão de seus conteúdos e na criação de estratégias de atuação, como Tércio Arnaud Tomaz – que estava com ele na região de Angra dos Reis, além de Filipe Martins e Marcelo Câmara, esses dois últimos alvos de pedido de prisão preventiva.

No aspecto jurídico, nenhuma outra ação realizada contra o ex-presidente traz informações tão capazes de aproximá-lo do escândalo. Levando em consideração o que diz a PF, Bolsonaro atua ativamente nas articulações, estando presente na conversa gravada em vídeo em que o assunto é discutido e participando da redação e ajustes de uma minuta construída para promover a ruptura do processo democrático e até prender adversários, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A interpretação comum aos resultados dessa ação construída a partir da delação do tenente Coronel Mauro Cid é que parece mais próximo o momento em que as investigações se transformarão em ações concretas contra o ex-presidente na Justiça.

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Engana-se quem pensa que Bolsonaro será preso rapidamente. Isso só mudará se ele descumprir alguma das medidas previstas na decisão ou fazer algum movimento que possa ser interpretado como embaraço às investigações. As apostas hoje são de que uma eventual prisão só virá ao fim do curso de processos que, formalmente, ainda nem se iniciaram. Bolsonaro e seus aliados são alvos de inquéritos. Essas apurações, quando concluídas, serão remetidas ao Ministério Público Federal (MPF), a quem cabe oferecer ou não uma denúncia. Se a PGR decidir denunciar mesmo o grupo, o Supremo Tribunal Federal (STF) terá que decidir se a aceita ou não. Em sendo aceita, eles se transformariam em réus, abrindo-se todo o prazo de instrução processual, com depoimentos de testemunhas de acusação e defesa e dos próprios acusados. Ainda que haja empenho de todas as instituições envolvidas para que esse processo seja rápido, ele não se dá do dia para a noite. Há prazos processuais para seguir e muito trabalho a ser feito. Ao final, ocorreria o julgamento, com a possibilidade de embargos ao próximo STF e formalidades antes de um trânsito em julgado.

Só depois disso tudo Bolsonaro seria preso. Seria uma estratégia para minimizar quaisquer argumentos de que o presidente estaria sendo perseguido, embora isso seja praticamente impossível por ser a narrativa que hoje está no cerne do bolsonarismo. O certo é que, ainda que se mantenha forte politicamente justamente usando esse discurso e armas oferecidas pelos próprios adversários, como tratado neste espaço hoje mais cedo, Bolsonaro acordou nesta quinta-feira com desafios bem maiores do que tinha ao dormir na noite anterior.

A operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira, 8, e que mira um grupo de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, entre civis e militares, suspeitos de tramar um golpe de Estado para garantir sua permanência no poder tem potencial de ser a mais danosa para os planos de Bolsonaro e para seu futuro no campo jurídico. Recheada de trocas de mensagens de personagens próximos e incluindo até, segundo a PF, um vídeo em que se tramam estratégias para impedir a posse do eleito, a ação tem o potencial de imobilizar as articulações de Bolsonaro, ao impedir que se ele articule com aliados como Valdemar Costa Neto e assessores. Além disso, traz indícios robustos que podem acelerar uma eventual denúncia por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR), que poderia levá-lo futuramente à condenação e à prisão pela participação no episódio.

Do ponto de vista político, a ação vem no pior momento, quando Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, outro alvo da Polícia Federal, são figuras centrais na articulação do PL para as eleições de 2024. Por conta da decisão, o ex-presidente está impedido de ter contato com o comando de seu partido, com quem precisa discutir as alianças pelo Brasil. Foi Valdemar, por exemplo, quem convenceu, depois de muita conversa, que Bolsonaro aceitasse apoiar Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, em vez de lançar um nome do próprio campo e que teria poucas chances de vencer. É Walter Braga Netto, outro investigado, que trabalha nas articulações no Rio de Janeiro. Além da proibição de contato, ainda é preciso ver como serão os próximos dias de Valdemar. Ele foi detido com uma arma supostamente sem registro durante a operação e, enquanto este texto era escrito, era incerto ainda se seria ou não liberado nas próximas horas.

Walter Braga Netto, Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro PL Partido Liberal discutem alianças do PL e não vão poder se comunicar em razão da operação da PF Foto: Beto Barata/PL

Quanto a Bolsonaro, por força da mesma decisão, o ex-presidente também não poderá tratar com figuras de seu entorno que são importantes na difusão de seus conteúdos e na criação de estratégias de atuação, como Tércio Arnaud Tomaz – que estava com ele na região de Angra dos Reis, além de Filipe Martins e Marcelo Câmara, esses dois últimos alvos de pedido de prisão preventiva.

No aspecto jurídico, nenhuma outra ação realizada contra o ex-presidente traz informações tão capazes de aproximá-lo do escândalo. Levando em consideração o que diz a PF, Bolsonaro atua ativamente nas articulações, estando presente na conversa gravada em vídeo em que o assunto é discutido e participando da redação e ajustes de uma minuta construída para promover a ruptura do processo democrático e até prender adversários, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A interpretação comum aos resultados dessa ação construída a partir da delação do tenente Coronel Mauro Cid é que parece mais próximo o momento em que as investigações se transformarão em ações concretas contra o ex-presidente na Justiça.

Engana-se quem pensa que Bolsonaro será preso rapidamente. Isso só mudará se ele descumprir alguma das medidas previstas na decisão ou fazer algum movimento que possa ser interpretado como embaraço às investigações. As apostas hoje são de que uma eventual prisão só virá ao fim do curso de processos que, formalmente, ainda nem se iniciaram. Bolsonaro e seus aliados são alvos de inquéritos. Essas apurações, quando concluídas, serão remetidas ao Ministério Público Federal (MPF), a quem cabe oferecer ou não uma denúncia. Se a PGR decidir denunciar mesmo o grupo, o Supremo Tribunal Federal (STF) terá que decidir se a aceita ou não. Em sendo aceita, eles se transformariam em réus, abrindo-se todo o prazo de instrução processual, com depoimentos de testemunhas de acusação e defesa e dos próprios acusados. Ainda que haja empenho de todas as instituições envolvidas para que esse processo seja rápido, ele não se dá do dia para a noite. Há prazos processuais para seguir e muito trabalho a ser feito. Ao final, ocorreria o julgamento, com a possibilidade de embargos ao próximo STF e formalidades antes de um trânsito em julgado.

Só depois disso tudo Bolsonaro seria preso. Seria uma estratégia para minimizar quaisquer argumentos de que o presidente estaria sendo perseguido, embora isso seja praticamente impossível por ser a narrativa que hoje está no cerne do bolsonarismo. O certo é que, ainda que se mantenha forte politicamente justamente usando esse discurso e armas oferecidas pelos próprios adversários, como tratado neste espaço hoje mais cedo, Bolsonaro acordou nesta quinta-feira com desafios bem maiores do que tinha ao dormir na noite anterior.

A operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira, 8, e que mira um grupo de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, entre civis e militares, suspeitos de tramar um golpe de Estado para garantir sua permanência no poder tem potencial de ser a mais danosa para os planos de Bolsonaro e para seu futuro no campo jurídico. Recheada de trocas de mensagens de personagens próximos e incluindo até, segundo a PF, um vídeo em que se tramam estratégias para impedir a posse do eleito, a ação tem o potencial de imobilizar as articulações de Bolsonaro, ao impedir que se ele articule com aliados como Valdemar Costa Neto e assessores. Além disso, traz indícios robustos que podem acelerar uma eventual denúncia por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR), que poderia levá-lo futuramente à condenação e à prisão pela participação no episódio.

Do ponto de vista político, a ação vem no pior momento, quando Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, outro alvo da Polícia Federal, são figuras centrais na articulação do PL para as eleições de 2024. Por conta da decisão, o ex-presidente está impedido de ter contato com o comando de seu partido, com quem precisa discutir as alianças pelo Brasil. Foi Valdemar, por exemplo, quem convenceu, depois de muita conversa, que Bolsonaro aceitasse apoiar Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, em vez de lançar um nome do próprio campo e que teria poucas chances de vencer. É Walter Braga Netto, outro investigado, que trabalha nas articulações no Rio de Janeiro. Além da proibição de contato, ainda é preciso ver como serão os próximos dias de Valdemar. Ele foi detido com uma arma supostamente sem registro durante a operação e, enquanto este texto era escrito, era incerto ainda se seria ou não liberado nas próximas horas.

Walter Braga Netto, Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro PL Partido Liberal discutem alianças do PL e não vão poder se comunicar em razão da operação da PF Foto: Beto Barata/PL

Quanto a Bolsonaro, por força da mesma decisão, o ex-presidente também não poderá tratar com figuras de seu entorno que são importantes na difusão de seus conteúdos e na criação de estratégias de atuação, como Tércio Arnaud Tomaz – que estava com ele na região de Angra dos Reis, além de Filipe Martins e Marcelo Câmara, esses dois últimos alvos de pedido de prisão preventiva.

No aspecto jurídico, nenhuma outra ação realizada contra o ex-presidente traz informações tão capazes de aproximá-lo do escândalo. Levando em consideração o que diz a PF, Bolsonaro atua ativamente nas articulações, estando presente na conversa gravada em vídeo em que o assunto é discutido e participando da redação e ajustes de uma minuta construída para promover a ruptura do processo democrático e até prender adversários, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A interpretação comum aos resultados dessa ação construída a partir da delação do tenente Coronel Mauro Cid é que parece mais próximo o momento em que as investigações se transformarão em ações concretas contra o ex-presidente na Justiça.

Engana-se quem pensa que Bolsonaro será preso rapidamente. Isso só mudará se ele descumprir alguma das medidas previstas na decisão ou fazer algum movimento que possa ser interpretado como embaraço às investigações. As apostas hoje são de que uma eventual prisão só virá ao fim do curso de processos que, formalmente, ainda nem se iniciaram. Bolsonaro e seus aliados são alvos de inquéritos. Essas apurações, quando concluídas, serão remetidas ao Ministério Público Federal (MPF), a quem cabe oferecer ou não uma denúncia. Se a PGR decidir denunciar mesmo o grupo, o Supremo Tribunal Federal (STF) terá que decidir se a aceita ou não. Em sendo aceita, eles se transformariam em réus, abrindo-se todo o prazo de instrução processual, com depoimentos de testemunhas de acusação e defesa e dos próprios acusados. Ainda que haja empenho de todas as instituições envolvidas para que esse processo seja rápido, ele não se dá do dia para a noite. Há prazos processuais para seguir e muito trabalho a ser feito. Ao final, ocorreria o julgamento, com a possibilidade de embargos ao próximo STF e formalidades antes de um trânsito em julgado.

Só depois disso tudo Bolsonaro seria preso. Seria uma estratégia para minimizar quaisquer argumentos de que o presidente estaria sendo perseguido, embora isso seja praticamente impossível por ser a narrativa que hoje está no cerne do bolsonarismo. O certo é que, ainda que se mantenha forte politicamente justamente usando esse discurso e armas oferecidas pelos próprios adversários, como tratado neste espaço hoje mais cedo, Bolsonaro acordou nesta quinta-feira com desafios bem maiores do que tinha ao dormir na noite anterior.

A operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira, 8, e que mira um grupo de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, entre civis e militares, suspeitos de tramar um golpe de Estado para garantir sua permanência no poder tem potencial de ser a mais danosa para os planos de Bolsonaro e para seu futuro no campo jurídico. Recheada de trocas de mensagens de personagens próximos e incluindo até, segundo a PF, um vídeo em que se tramam estratégias para impedir a posse do eleito, a ação tem o potencial de imobilizar as articulações de Bolsonaro, ao impedir que se ele articule com aliados como Valdemar Costa Neto e assessores. Além disso, traz indícios robustos que podem acelerar uma eventual denúncia por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR), que poderia levá-lo futuramente à condenação e à prisão pela participação no episódio.

Do ponto de vista político, a ação vem no pior momento, quando Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, outro alvo da Polícia Federal, são figuras centrais na articulação do PL para as eleições de 2024. Por conta da decisão, o ex-presidente está impedido de ter contato com o comando de seu partido, com quem precisa discutir as alianças pelo Brasil. Foi Valdemar, por exemplo, quem convenceu, depois de muita conversa, que Bolsonaro aceitasse apoiar Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, em vez de lançar um nome do próprio campo e que teria poucas chances de vencer. É Walter Braga Netto, outro investigado, que trabalha nas articulações no Rio de Janeiro. Além da proibição de contato, ainda é preciso ver como serão os próximos dias de Valdemar. Ele foi detido com uma arma supostamente sem registro durante a operação e, enquanto este texto era escrito, era incerto ainda se seria ou não liberado nas próximas horas.

Walter Braga Netto, Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro PL Partido Liberal discutem alianças do PL e não vão poder se comunicar em razão da operação da PF Foto: Beto Barata/PL

Quanto a Bolsonaro, por força da mesma decisão, o ex-presidente também não poderá tratar com figuras de seu entorno que são importantes na difusão de seus conteúdos e na criação de estratégias de atuação, como Tércio Arnaud Tomaz – que estava com ele na região de Angra dos Reis, além de Filipe Martins e Marcelo Câmara, esses dois últimos alvos de pedido de prisão preventiva.

No aspecto jurídico, nenhuma outra ação realizada contra o ex-presidente traz informações tão capazes de aproximá-lo do escândalo. Levando em consideração o que diz a PF, Bolsonaro atua ativamente nas articulações, estando presente na conversa gravada em vídeo em que o assunto é discutido e participando da redação e ajustes de uma minuta construída para promover a ruptura do processo democrático e até prender adversários, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A interpretação comum aos resultados dessa ação construída a partir da delação do tenente Coronel Mauro Cid é que parece mais próximo o momento em que as investigações se transformarão em ações concretas contra o ex-presidente na Justiça.

Engana-se quem pensa que Bolsonaro será preso rapidamente. Isso só mudará se ele descumprir alguma das medidas previstas na decisão ou fazer algum movimento que possa ser interpretado como embaraço às investigações. As apostas hoje são de que uma eventual prisão só virá ao fim do curso de processos que, formalmente, ainda nem se iniciaram. Bolsonaro e seus aliados são alvos de inquéritos. Essas apurações, quando concluídas, serão remetidas ao Ministério Público Federal (MPF), a quem cabe oferecer ou não uma denúncia. Se a PGR decidir denunciar mesmo o grupo, o Supremo Tribunal Federal (STF) terá que decidir se a aceita ou não. Em sendo aceita, eles se transformariam em réus, abrindo-se todo o prazo de instrução processual, com depoimentos de testemunhas de acusação e defesa e dos próprios acusados. Ainda que haja empenho de todas as instituições envolvidas para que esse processo seja rápido, ele não se dá do dia para a noite. Há prazos processuais para seguir e muito trabalho a ser feito. Ao final, ocorreria o julgamento, com a possibilidade de embargos ao próximo STF e formalidades antes de um trânsito em julgado.

Só depois disso tudo Bolsonaro seria preso. Seria uma estratégia para minimizar quaisquer argumentos de que o presidente estaria sendo perseguido, embora isso seja praticamente impossível por ser a narrativa que hoje está no cerne do bolsonarismo. O certo é que, ainda que se mantenha forte politicamente justamente usando esse discurso e armas oferecidas pelos próprios adversários, como tratado neste espaço hoje mais cedo, Bolsonaro acordou nesta quinta-feira com desafios bem maiores do que tinha ao dormir na noite anterior.

A operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira, 8, e que mira um grupo de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, entre civis e militares, suspeitos de tramar um golpe de Estado para garantir sua permanência no poder tem potencial de ser a mais danosa para os planos de Bolsonaro e para seu futuro no campo jurídico. Recheada de trocas de mensagens de personagens próximos e incluindo até, segundo a PF, um vídeo em que se tramam estratégias para impedir a posse do eleito, a ação tem o potencial de imobilizar as articulações de Bolsonaro, ao impedir que se ele articule com aliados como Valdemar Costa Neto e assessores. Além disso, traz indícios robustos que podem acelerar uma eventual denúncia por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR), que poderia levá-lo futuramente à condenação e à prisão pela participação no episódio.

Do ponto de vista político, a ação vem no pior momento, quando Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, outro alvo da Polícia Federal, são figuras centrais na articulação do PL para as eleições de 2024. Por conta da decisão, o ex-presidente está impedido de ter contato com o comando de seu partido, com quem precisa discutir as alianças pelo Brasil. Foi Valdemar, por exemplo, quem convenceu, depois de muita conversa, que Bolsonaro aceitasse apoiar Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, em vez de lançar um nome do próprio campo e que teria poucas chances de vencer. É Walter Braga Netto, outro investigado, que trabalha nas articulações no Rio de Janeiro. Além da proibição de contato, ainda é preciso ver como serão os próximos dias de Valdemar. Ele foi detido com uma arma supostamente sem registro durante a operação e, enquanto este texto era escrito, era incerto ainda se seria ou não liberado nas próximas horas.

Walter Braga Netto, Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro PL Partido Liberal discutem alianças do PL e não vão poder se comunicar em razão da operação da PF Foto: Beto Barata/PL

Quanto a Bolsonaro, por força da mesma decisão, o ex-presidente também não poderá tratar com figuras de seu entorno que são importantes na difusão de seus conteúdos e na criação de estratégias de atuação, como Tércio Arnaud Tomaz – que estava com ele na região de Angra dos Reis, além de Filipe Martins e Marcelo Câmara, esses dois últimos alvos de pedido de prisão preventiva.

No aspecto jurídico, nenhuma outra ação realizada contra o ex-presidente traz informações tão capazes de aproximá-lo do escândalo. Levando em consideração o que diz a PF, Bolsonaro atua ativamente nas articulações, estando presente na conversa gravada em vídeo em que o assunto é discutido e participando da redação e ajustes de uma minuta construída para promover a ruptura do processo democrático e até prender adversários, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A interpretação comum aos resultados dessa ação construída a partir da delação do tenente Coronel Mauro Cid é que parece mais próximo o momento em que as investigações se transformarão em ações concretas contra o ex-presidente na Justiça.

Engana-se quem pensa que Bolsonaro será preso rapidamente. Isso só mudará se ele descumprir alguma das medidas previstas na decisão ou fazer algum movimento que possa ser interpretado como embaraço às investigações. As apostas hoje são de que uma eventual prisão só virá ao fim do curso de processos que, formalmente, ainda nem se iniciaram. Bolsonaro e seus aliados são alvos de inquéritos. Essas apurações, quando concluídas, serão remetidas ao Ministério Público Federal (MPF), a quem cabe oferecer ou não uma denúncia. Se a PGR decidir denunciar mesmo o grupo, o Supremo Tribunal Federal (STF) terá que decidir se a aceita ou não. Em sendo aceita, eles se transformariam em réus, abrindo-se todo o prazo de instrução processual, com depoimentos de testemunhas de acusação e defesa e dos próprios acusados. Ainda que haja empenho de todas as instituições envolvidas para que esse processo seja rápido, ele não se dá do dia para a noite. Há prazos processuais para seguir e muito trabalho a ser feito. Ao final, ocorreria o julgamento, com a possibilidade de embargos ao próximo STF e formalidades antes de um trânsito em julgado.

Só depois disso tudo Bolsonaro seria preso. Seria uma estratégia para minimizar quaisquer argumentos de que o presidente estaria sendo perseguido, embora isso seja praticamente impossível por ser a narrativa que hoje está no cerne do bolsonarismo. O certo é que, ainda que se mantenha forte politicamente justamente usando esse discurso e armas oferecidas pelos próprios adversários, como tratado neste espaço hoje mais cedo, Bolsonaro acordou nesta quinta-feira com desafios bem maiores do que tinha ao dormir na noite anterior.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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