Traduzindo a política

Opinião|PF desvenda sistema paralelo de informação que Bolsonaro citou em fatídica reunião ministerial


Presidente disse que tinha sistema particular em meio à gritaria sobre interesse em interferir na Polícia Federal; sistemas paralelos foram usados também na comunicação e na Saúde em sua gestão

Por Ricardo Corrêa

Em 22 de abril de 2020, durante a fatídica reunião ministerial recheada de palavrões em que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) apontou a necessidade de mexer “na ponta da segurança” no Rio de Janeiro, em suposta referência a uma interferência na Polícia Federal, ele disse, aos gritos: “Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os que têm oficialmente, desinforma. E voltando ao tema prefiro não ter informação a ser desinformado em cima de informações que eu tenho”. Nesta sexta-feira, 20, quando explodiu a operação Milha, da Polícia Federal, para investigar um esquema de arapongagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Brasil começa a conhecer como funcionaria esse suposto sistema paralelo que teria como alvo adversários de Bolsonaro, jornalistas e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Seis dias depois daquela reunião, Bolsonaro nomearia para o comando da Polícia Federal justamente o delegado e na época diretor da Abin Alexandre Ramagem. Ele só não assumiu a PF pois, no dia seguinte à indicação, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu a decisão, causando ainda mais ira em Bolsonaro. Ramagem, então, continuou na agência de inteligência até abril do ano passado, quando saiu do cargo para se candidatar nas eleições legislativas. Agora, é exatamente sua gestão que está em xeque.

O presidente Jair Bolsonaro durante reunião ministerial em 22 de abril de 2020, que gerou polêmica por suposta intenção de interferir na Polícia Federal, e na qual também falou de um sistema paralelo de informações Foto: Narcos Corrêa/PR
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A ideia da existência de um sistema particular de informações, revelada com mais profundidade pela PF, reforça a tese de que o governo realmente agia por meio de estruturas paralelas, as quais já foram identificadas em outras áreas da gestão comandada por Bolsonaro. Assim, existia um gabinete do ódio apartado do meio oficial de informação do governo, um ministério paralelo da Saúde para promover o negacionismo na pandemia da Covid-19, um grupo de conselheiros para influenciar decisões econômicas contrárias ao que defendia Paulo Guedes, ou mesmo registros extraoficiais de presentes da comitiva que depois eram vendidos informalmente, como as joias reveladas pelo Estadão.

Os desdobramentos da investigação agora em curso sobre o rastreamento de adversários, jornalistas e autoridades podem acabar por fazendo cruzar a ação das milícias digitais investigadas no Supremo Tribunal Federal com as tentativas de articulação de um golpe de Estado. Um esquema no qual Bolsonaro utilizaria essas informações para definir seus alvos públicos e para planejar ações que minassem seus trabalhos de investigação e até mesmo o resultado eleitoral.

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De tudo isso depreende-se o quanto o presidente enxergava o governo como um apêndice de seus interesses, o que se vislumbrou no citado caso da interferência na PF, nos avanços sobre o comando das Forças Armadas, ou na utilização cada vez mais evidente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para tentar alterar na marra o resultado eleitoral. As investigações poderão dizer se as informações de que disponha por meio da Abin poderiam servir para levar a cabo a descredibilização do resultado das urnas, com prisão de integrantes do STF e a implantação de um golpe de Estado como previsto nas minutas que circulavam também paralelamente em gabinetes de ministros e reuniões secretas com comandantes militares. O que reforça a tese de que o ex-presidente tinha horror ao que era oficial e dentro das regras do jogo.

Em 22 de abril de 2020, durante a fatídica reunião ministerial recheada de palavrões em que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) apontou a necessidade de mexer “na ponta da segurança” no Rio de Janeiro, em suposta referência a uma interferência na Polícia Federal, ele disse, aos gritos: “Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os que têm oficialmente, desinforma. E voltando ao tema prefiro não ter informação a ser desinformado em cima de informações que eu tenho”. Nesta sexta-feira, 20, quando explodiu a operação Milha, da Polícia Federal, para investigar um esquema de arapongagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Brasil começa a conhecer como funcionaria esse suposto sistema paralelo que teria como alvo adversários de Bolsonaro, jornalistas e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Seis dias depois daquela reunião, Bolsonaro nomearia para o comando da Polícia Federal justamente o delegado e na época diretor da Abin Alexandre Ramagem. Ele só não assumiu a PF pois, no dia seguinte à indicação, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu a decisão, causando ainda mais ira em Bolsonaro. Ramagem, então, continuou na agência de inteligência até abril do ano passado, quando saiu do cargo para se candidatar nas eleições legislativas. Agora, é exatamente sua gestão que está em xeque.

O presidente Jair Bolsonaro durante reunião ministerial em 22 de abril de 2020, que gerou polêmica por suposta intenção de interferir na Polícia Federal, e na qual também falou de um sistema paralelo de informações Foto: Narcos Corrêa/PR

A ideia da existência de um sistema particular de informações, revelada com mais profundidade pela PF, reforça a tese de que o governo realmente agia por meio de estruturas paralelas, as quais já foram identificadas em outras áreas da gestão comandada por Bolsonaro. Assim, existia um gabinete do ódio apartado do meio oficial de informação do governo, um ministério paralelo da Saúde para promover o negacionismo na pandemia da Covid-19, um grupo de conselheiros para influenciar decisões econômicas contrárias ao que defendia Paulo Guedes, ou mesmo registros extraoficiais de presentes da comitiva que depois eram vendidos informalmente, como as joias reveladas pelo Estadão.

Os desdobramentos da investigação agora em curso sobre o rastreamento de adversários, jornalistas e autoridades podem acabar por fazendo cruzar a ação das milícias digitais investigadas no Supremo Tribunal Federal com as tentativas de articulação de um golpe de Estado. Um esquema no qual Bolsonaro utilizaria essas informações para definir seus alvos públicos e para planejar ações que minassem seus trabalhos de investigação e até mesmo o resultado eleitoral.

De tudo isso depreende-se o quanto o presidente enxergava o governo como um apêndice de seus interesses, o que se vislumbrou no citado caso da interferência na PF, nos avanços sobre o comando das Forças Armadas, ou na utilização cada vez mais evidente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para tentar alterar na marra o resultado eleitoral. As investigações poderão dizer se as informações de que disponha por meio da Abin poderiam servir para levar a cabo a descredibilização do resultado das urnas, com prisão de integrantes do STF e a implantação de um golpe de Estado como previsto nas minutas que circulavam também paralelamente em gabinetes de ministros e reuniões secretas com comandantes militares. O que reforça a tese de que o ex-presidente tinha horror ao que era oficial e dentro das regras do jogo.

Em 22 de abril de 2020, durante a fatídica reunião ministerial recheada de palavrões em que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) apontou a necessidade de mexer “na ponta da segurança” no Rio de Janeiro, em suposta referência a uma interferência na Polícia Federal, ele disse, aos gritos: “Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os que têm oficialmente, desinforma. E voltando ao tema prefiro não ter informação a ser desinformado em cima de informações que eu tenho”. Nesta sexta-feira, 20, quando explodiu a operação Milha, da Polícia Federal, para investigar um esquema de arapongagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Brasil começa a conhecer como funcionaria esse suposto sistema paralelo que teria como alvo adversários de Bolsonaro, jornalistas e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Seis dias depois daquela reunião, Bolsonaro nomearia para o comando da Polícia Federal justamente o delegado e na época diretor da Abin Alexandre Ramagem. Ele só não assumiu a PF pois, no dia seguinte à indicação, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu a decisão, causando ainda mais ira em Bolsonaro. Ramagem, então, continuou na agência de inteligência até abril do ano passado, quando saiu do cargo para se candidatar nas eleições legislativas. Agora, é exatamente sua gestão que está em xeque.

O presidente Jair Bolsonaro durante reunião ministerial em 22 de abril de 2020, que gerou polêmica por suposta intenção de interferir na Polícia Federal, e na qual também falou de um sistema paralelo de informações Foto: Narcos Corrêa/PR

A ideia da existência de um sistema particular de informações, revelada com mais profundidade pela PF, reforça a tese de que o governo realmente agia por meio de estruturas paralelas, as quais já foram identificadas em outras áreas da gestão comandada por Bolsonaro. Assim, existia um gabinete do ódio apartado do meio oficial de informação do governo, um ministério paralelo da Saúde para promover o negacionismo na pandemia da Covid-19, um grupo de conselheiros para influenciar decisões econômicas contrárias ao que defendia Paulo Guedes, ou mesmo registros extraoficiais de presentes da comitiva que depois eram vendidos informalmente, como as joias reveladas pelo Estadão.

Os desdobramentos da investigação agora em curso sobre o rastreamento de adversários, jornalistas e autoridades podem acabar por fazendo cruzar a ação das milícias digitais investigadas no Supremo Tribunal Federal com as tentativas de articulação de um golpe de Estado. Um esquema no qual Bolsonaro utilizaria essas informações para definir seus alvos públicos e para planejar ações que minassem seus trabalhos de investigação e até mesmo o resultado eleitoral.

De tudo isso depreende-se o quanto o presidente enxergava o governo como um apêndice de seus interesses, o que se vislumbrou no citado caso da interferência na PF, nos avanços sobre o comando das Forças Armadas, ou na utilização cada vez mais evidente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para tentar alterar na marra o resultado eleitoral. As investigações poderão dizer se as informações de que disponha por meio da Abin poderiam servir para levar a cabo a descredibilização do resultado das urnas, com prisão de integrantes do STF e a implantação de um golpe de Estado como previsto nas minutas que circulavam também paralelamente em gabinetes de ministros e reuniões secretas com comandantes militares. O que reforça a tese de que o ex-presidente tinha horror ao que era oficial e dentro das regras do jogo.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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