Traduzindo a política

Opinião|Política local ‘engole’ Lula e Bolsonaro nas disputas às prefeituras, frustrando aliados


Realidades locais se impõem e participação das figuras que representam a polarização nacional é apenas lateral nas cidades mais importantes do País

Por Ricardo Corrêa

Reforçando a máxima de que eleições municipais costumam ser movimentadas por realidades locais e não pela disputa nacional, os apoios de Lula e Bolsonaro pelo Brasil, sobretudo nas capitais mais importantes do País, não têm se traduzido em forças para seus candidatos. Ainda que haja lulistas e bolsonaristas à frente daqui e dali, seu desempenho parece muito menos relacionados a eles e a entrada dos dois na campanha não tem feito diferença significativa nos cenários. Os candidatos em melhores condições são aqueles que conseguem emplacar seus próprios feitos e, embora com o apoio de um deles, desviam-se de uma proximidade umbilical.

Vejam o caso do Rio de Janeiro, por exemplo, onde Eduardo Paes (PSD) tem condições reais de vencer no primeiro turno. Ainda que o PT apoie o prefeito e candidato à reeleição, Paes não faz nenhuma questão de exaltar de forma plena uma parceria com Lula. Claro, reconhece a boa relação, mas toca seu barco na campanha ancorado no bom desempenho de sua administração. Enquanto isso, Alexandre Ramagem (PL) até começa a registrar crescimento na reta final, mas, até aqui, muito aquém do que imaginavam os apoiadores de Bolsonaro.

Presenças de Lula e Bolsonaro são menos relevantes na disputa eleitoral do que seus aliados imaginavam Foto: Taba Benedicto e Wilton Junior/Estadão
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Em Recife o caso é semelhante. João Campos (PSB) também tem o apoio do PT e de Lula. Mas, assim como no Rio de Janeiro, essa aliança se deu muito menos por interesse e necessidade de Campos do que pela constatação, por parte do grupo do presidente, de que o prefeito e candidato à reeleição era praticamente imbatível. Já Gilson Machado (PL), ex-ministro do Turismo de Bolsonaro, praticamente não saiu do lugar, abaixo dos 10 pontos percentuais, desde que a campanha começou, com ou sem o apoio do ex-presidente.

A situação em São Paulo parece diferente. Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ponteiam nos levantamentos, em disputa com Pablo Marçal (PRTB) que parece ter perdido um pouco o fôlego neste momento da campanha. Ocorre que o apoio de Bolsonaro a Nunes é velado. Seus eleitores estão muito mais com Marçal do que com o prefeito, e o emedebista conseguiu sair de uma situação difícil há semanas atrás justamente apostando em sua administração, na vinculação com a periferia e no arco de alianças que construiu e que lhe deu bastante tempo de TV. O padrinho escolhido não foi Bolsonaro, mas o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Bolsonaro fincou o pé em duas canoas na capital paulista e só começou a fazer acenos novamente a Nunes quando percebeu que ele pode vencer. Em um segundo turno, dada a rejeição a Bolsonaro na capital paulista, o prefeito poderia vencer apesar dele e não graças a ele. E, exatamente por isso, não pretende fazer questão de continuar implorando para que ele participe da campanha. Ao contrário, tentará afastá-lo.

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Já Boulos tem reconhecida a vinculação com Lula, que reforça diariamente em seu horário eleitoral. Mas a presença mais forte do presidente nas peças não se traduzem no esticão que seus aliados achavam que Boulos poderia dar. Apesar de o petista ter vencido as eleições de 2022 na capital paulista, Boulos não é nem de longe o favorito. E tem um patamar de votos bem abaixo do registrado pelo presidente.

Repliquem o cenário Brasil afora e vão ver situações semelhantes para quase todo lado. Em Belo Horizonte, Mauro Tramonte lidera com apoio de Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (PSD) e o segundo colocado, numericamente, na maioria dos levantamentos, é Fuad Noman, do PSD de Rodrigo Pacheco e Alexandre Silveira, que cresceu nas últimas semanas. O candidato de Bolsonaro, Bruno Engler, dado como favorito antes da fase de campanha começar, está tecnicamente empatado tecnicamente com ele, também evoluindo, mas tende a sofrer com o voto útil da esquerda na reta final. O de Lula, Rogério Correia, ainda mais atrás, sem conseguir alcançar sequer dez pontos nas intenções de voto.

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Em Curitiba, pesa muito mais o apoio do prefeito e do governador para que Eduardo Pimentel (PSD) se consolide na frente. Em Porto Alegre, o arco de aliança formado por oito partidos e a máquina na mão ajuda significativamente Sebastião Mello (MDB) que, apesar de toda a polêmica da ação da prefeitura nas ações diante das enchentes na cidade, abriu vantagem sobre Maria do Rosário (PT), apoiada por Lula.

Em Salvador, Bruno Reis (União Brasil) massacra os adversários com o apoio de 13 partidos, uma administração muito bem avaliada e sem dar bola nenhuma para a polarização, para um Lula fortíssimo na Bahia ou por seus braços petistas no governo do Estado e no Parlamento.

Nos três casos (Salvador, Curitiba e Porto Alegre), não houve participação significativa de Bolsonaro. Em Fortaleza, os apoios de Lula e Bolsonaro até têm um pouco mais de peso, mas insuficiente sequer para reunir aliados e garantir que André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) consigam desgarrar dos adversários, Capitão Wagner (União) e José Sarto (PDT).

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Como mostrou o Estadão, nas principais cidades do agronegócio paulista, são os partidos do Centrão que lideram as pesquisas de intenções de voto. Entre os sete municípios com maior valor da produção agropecuária (VPA) e com pesquisas registradas na Justiça Eleitoral, o Centrão é favorito em cinco, ao passo que somente duas cidades apresentam uma polarização entre petismo e bolsonarismo.

Isso não significa que o presidente e o ex não tenham interferência na campanha. Possuem. Nomes apoiados por ele têm maior possibilidade de se elegerem a cargos nas Câmaras. Mas quem imaginava que a polarização iria tragar, pela primeira vez, o debate da disputa municipal, errou outra vez. Deu-se o contrário.

Reforçando a máxima de que eleições municipais costumam ser movimentadas por realidades locais e não pela disputa nacional, os apoios de Lula e Bolsonaro pelo Brasil, sobretudo nas capitais mais importantes do País, não têm se traduzido em forças para seus candidatos. Ainda que haja lulistas e bolsonaristas à frente daqui e dali, seu desempenho parece muito menos relacionados a eles e a entrada dos dois na campanha não tem feito diferença significativa nos cenários. Os candidatos em melhores condições são aqueles que conseguem emplacar seus próprios feitos e, embora com o apoio de um deles, desviam-se de uma proximidade umbilical.

Vejam o caso do Rio de Janeiro, por exemplo, onde Eduardo Paes (PSD) tem condições reais de vencer no primeiro turno. Ainda que o PT apoie o prefeito e candidato à reeleição, Paes não faz nenhuma questão de exaltar de forma plena uma parceria com Lula. Claro, reconhece a boa relação, mas toca seu barco na campanha ancorado no bom desempenho de sua administração. Enquanto isso, Alexandre Ramagem (PL) até começa a registrar crescimento na reta final, mas, até aqui, muito aquém do que imaginavam os apoiadores de Bolsonaro.

Presenças de Lula e Bolsonaro são menos relevantes na disputa eleitoral do que seus aliados imaginavam Foto: Taba Benedicto e Wilton Junior/Estadão

Em Recife o caso é semelhante. João Campos (PSB) também tem o apoio do PT e de Lula. Mas, assim como no Rio de Janeiro, essa aliança se deu muito menos por interesse e necessidade de Campos do que pela constatação, por parte do grupo do presidente, de que o prefeito e candidato à reeleição era praticamente imbatível. Já Gilson Machado (PL), ex-ministro do Turismo de Bolsonaro, praticamente não saiu do lugar, abaixo dos 10 pontos percentuais, desde que a campanha começou, com ou sem o apoio do ex-presidente.

A situação em São Paulo parece diferente. Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ponteiam nos levantamentos, em disputa com Pablo Marçal (PRTB) que parece ter perdido um pouco o fôlego neste momento da campanha. Ocorre que o apoio de Bolsonaro a Nunes é velado. Seus eleitores estão muito mais com Marçal do que com o prefeito, e o emedebista conseguiu sair de uma situação difícil há semanas atrás justamente apostando em sua administração, na vinculação com a periferia e no arco de alianças que construiu e que lhe deu bastante tempo de TV. O padrinho escolhido não foi Bolsonaro, mas o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Bolsonaro fincou o pé em duas canoas na capital paulista e só começou a fazer acenos novamente a Nunes quando percebeu que ele pode vencer. Em um segundo turno, dada a rejeição a Bolsonaro na capital paulista, o prefeito poderia vencer apesar dele e não graças a ele. E, exatamente por isso, não pretende fazer questão de continuar implorando para que ele participe da campanha. Ao contrário, tentará afastá-lo.

Já Boulos tem reconhecida a vinculação com Lula, que reforça diariamente em seu horário eleitoral. Mas a presença mais forte do presidente nas peças não se traduzem no esticão que seus aliados achavam que Boulos poderia dar. Apesar de o petista ter vencido as eleições de 2022 na capital paulista, Boulos não é nem de longe o favorito. E tem um patamar de votos bem abaixo do registrado pelo presidente.

Repliquem o cenário Brasil afora e vão ver situações semelhantes para quase todo lado. Em Belo Horizonte, Mauro Tramonte lidera com apoio de Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (PSD) e o segundo colocado, numericamente, na maioria dos levantamentos, é Fuad Noman, do PSD de Rodrigo Pacheco e Alexandre Silveira, que cresceu nas últimas semanas. O candidato de Bolsonaro, Bruno Engler, dado como favorito antes da fase de campanha começar, está tecnicamente empatado tecnicamente com ele, também evoluindo, mas tende a sofrer com o voto útil da esquerda na reta final. O de Lula, Rogério Correia, ainda mais atrás, sem conseguir alcançar sequer dez pontos nas intenções de voto.

Em Curitiba, pesa muito mais o apoio do prefeito e do governador para que Eduardo Pimentel (PSD) se consolide na frente. Em Porto Alegre, o arco de aliança formado por oito partidos e a máquina na mão ajuda significativamente Sebastião Mello (MDB) que, apesar de toda a polêmica da ação da prefeitura nas ações diante das enchentes na cidade, abriu vantagem sobre Maria do Rosário (PT), apoiada por Lula.

Em Salvador, Bruno Reis (União Brasil) massacra os adversários com o apoio de 13 partidos, uma administração muito bem avaliada e sem dar bola nenhuma para a polarização, para um Lula fortíssimo na Bahia ou por seus braços petistas no governo do Estado e no Parlamento.

Nos três casos (Salvador, Curitiba e Porto Alegre), não houve participação significativa de Bolsonaro. Em Fortaleza, os apoios de Lula e Bolsonaro até têm um pouco mais de peso, mas insuficiente sequer para reunir aliados e garantir que André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) consigam desgarrar dos adversários, Capitão Wagner (União) e José Sarto (PDT).

Como mostrou o Estadão, nas principais cidades do agronegócio paulista, são os partidos do Centrão que lideram as pesquisas de intenções de voto. Entre os sete municípios com maior valor da produção agropecuária (VPA) e com pesquisas registradas na Justiça Eleitoral, o Centrão é favorito em cinco, ao passo que somente duas cidades apresentam uma polarização entre petismo e bolsonarismo.

Isso não significa que o presidente e o ex não tenham interferência na campanha. Possuem. Nomes apoiados por ele têm maior possibilidade de se elegerem a cargos nas Câmaras. Mas quem imaginava que a polarização iria tragar, pela primeira vez, o debate da disputa municipal, errou outra vez. Deu-se o contrário.

Reforçando a máxima de que eleições municipais costumam ser movimentadas por realidades locais e não pela disputa nacional, os apoios de Lula e Bolsonaro pelo Brasil, sobretudo nas capitais mais importantes do País, não têm se traduzido em forças para seus candidatos. Ainda que haja lulistas e bolsonaristas à frente daqui e dali, seu desempenho parece muito menos relacionados a eles e a entrada dos dois na campanha não tem feito diferença significativa nos cenários. Os candidatos em melhores condições são aqueles que conseguem emplacar seus próprios feitos e, embora com o apoio de um deles, desviam-se de uma proximidade umbilical.

Vejam o caso do Rio de Janeiro, por exemplo, onde Eduardo Paes (PSD) tem condições reais de vencer no primeiro turno. Ainda que o PT apoie o prefeito e candidato à reeleição, Paes não faz nenhuma questão de exaltar de forma plena uma parceria com Lula. Claro, reconhece a boa relação, mas toca seu barco na campanha ancorado no bom desempenho de sua administração. Enquanto isso, Alexandre Ramagem (PL) até começa a registrar crescimento na reta final, mas, até aqui, muito aquém do que imaginavam os apoiadores de Bolsonaro.

Presenças de Lula e Bolsonaro são menos relevantes na disputa eleitoral do que seus aliados imaginavam Foto: Taba Benedicto e Wilton Junior/Estadão

Em Recife o caso é semelhante. João Campos (PSB) também tem o apoio do PT e de Lula. Mas, assim como no Rio de Janeiro, essa aliança se deu muito menos por interesse e necessidade de Campos do que pela constatação, por parte do grupo do presidente, de que o prefeito e candidato à reeleição era praticamente imbatível. Já Gilson Machado (PL), ex-ministro do Turismo de Bolsonaro, praticamente não saiu do lugar, abaixo dos 10 pontos percentuais, desde que a campanha começou, com ou sem o apoio do ex-presidente.

A situação em São Paulo parece diferente. Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ponteiam nos levantamentos, em disputa com Pablo Marçal (PRTB) que parece ter perdido um pouco o fôlego neste momento da campanha. Ocorre que o apoio de Bolsonaro a Nunes é velado. Seus eleitores estão muito mais com Marçal do que com o prefeito, e o emedebista conseguiu sair de uma situação difícil há semanas atrás justamente apostando em sua administração, na vinculação com a periferia e no arco de alianças que construiu e que lhe deu bastante tempo de TV. O padrinho escolhido não foi Bolsonaro, mas o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Bolsonaro fincou o pé em duas canoas na capital paulista e só começou a fazer acenos novamente a Nunes quando percebeu que ele pode vencer. Em um segundo turno, dada a rejeição a Bolsonaro na capital paulista, o prefeito poderia vencer apesar dele e não graças a ele. E, exatamente por isso, não pretende fazer questão de continuar implorando para que ele participe da campanha. Ao contrário, tentará afastá-lo.

Já Boulos tem reconhecida a vinculação com Lula, que reforça diariamente em seu horário eleitoral. Mas a presença mais forte do presidente nas peças não se traduzem no esticão que seus aliados achavam que Boulos poderia dar. Apesar de o petista ter vencido as eleições de 2022 na capital paulista, Boulos não é nem de longe o favorito. E tem um patamar de votos bem abaixo do registrado pelo presidente.

Repliquem o cenário Brasil afora e vão ver situações semelhantes para quase todo lado. Em Belo Horizonte, Mauro Tramonte lidera com apoio de Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (PSD) e o segundo colocado, numericamente, na maioria dos levantamentos, é Fuad Noman, do PSD de Rodrigo Pacheco e Alexandre Silveira, que cresceu nas últimas semanas. O candidato de Bolsonaro, Bruno Engler, dado como favorito antes da fase de campanha começar, está tecnicamente empatado tecnicamente com ele, também evoluindo, mas tende a sofrer com o voto útil da esquerda na reta final. O de Lula, Rogério Correia, ainda mais atrás, sem conseguir alcançar sequer dez pontos nas intenções de voto.

Em Curitiba, pesa muito mais o apoio do prefeito e do governador para que Eduardo Pimentel (PSD) se consolide na frente. Em Porto Alegre, o arco de aliança formado por oito partidos e a máquina na mão ajuda significativamente Sebastião Mello (MDB) que, apesar de toda a polêmica da ação da prefeitura nas ações diante das enchentes na cidade, abriu vantagem sobre Maria do Rosário (PT), apoiada por Lula.

Em Salvador, Bruno Reis (União Brasil) massacra os adversários com o apoio de 13 partidos, uma administração muito bem avaliada e sem dar bola nenhuma para a polarização, para um Lula fortíssimo na Bahia ou por seus braços petistas no governo do Estado e no Parlamento.

Nos três casos (Salvador, Curitiba e Porto Alegre), não houve participação significativa de Bolsonaro. Em Fortaleza, os apoios de Lula e Bolsonaro até têm um pouco mais de peso, mas insuficiente sequer para reunir aliados e garantir que André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) consigam desgarrar dos adversários, Capitão Wagner (União) e José Sarto (PDT).

Como mostrou o Estadão, nas principais cidades do agronegócio paulista, são os partidos do Centrão que lideram as pesquisas de intenções de voto. Entre os sete municípios com maior valor da produção agropecuária (VPA) e com pesquisas registradas na Justiça Eleitoral, o Centrão é favorito em cinco, ao passo que somente duas cidades apresentam uma polarização entre petismo e bolsonarismo.

Isso não significa que o presidente e o ex não tenham interferência na campanha. Possuem. Nomes apoiados por ele têm maior possibilidade de se elegerem a cargos nas Câmaras. Mas quem imaginava que a polarização iria tragar, pela primeira vez, o debate da disputa municipal, errou outra vez. Deu-se o contrário.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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