O projeto do vice-presidente Geraldo Alckmin para voltar a São Paulo na disputa de 2026 vai muito além do apoio declarado a Tabata Amaral (PSB) na corrida à Prefeitura da capital paulista. Embora publicamente Alckmin reitere que no momento está focado em ajudar Lula a governar, ele tem ampliado os encontros políticos para garantir que consiga se viabilizar, seja em uma candidatura ao Senado ou ao governo federal. Isso inclui se reaproximar de antigos correligionários e construir uma rede cada vez mais poderosa no interior.
Desde que tomou posse em Brasília, Geraldo Alckmin tem recebido uma romaria de prefeitos paulistas em seu gabinete na capital ou em agendas oficiais privadas. Já foram 32 apenas com nomes registrados na agenda, além de 16 deputados federais do Estado e uma série de outras autoridades de entidades representativas paulistas. Isso, claro, sem falar nas dezenas de encontros com políticos de São Paulo em eventos oficiais e nas conversas privadas fora da agenda oficial tanto na capital federal ou nas cada vez mais frequentes visitas ao Estado. Desde janeiro, já foram mais de 20 viagens para eventos oficiais no Estado que governou e outras tantas visitas para passar o fim de semana.
São principalmente nessas visitas sem agenda de governo que Alckmin azeita sua estratégia, conversando com prefeitos na sede do PSB, em restaurantes e padarias. Nesses encontros, busca arrastar novos filiados, sobretudo oriundos do esfacelado PSDB. Tudo para ajudar o partido na missão de conquistar 30 prefeituras em 2024, triplicando o número atual de chefes de Executivo em São Paulo.
Construir essa rede de apoios no interior é fundamental para enfrentar um difícil cenário de recuperar corpo após perder parte expressiva de seu eleitorado para o bolsonarismo. A guinada à esquerda, movida pelo instinto de sobrevivência política, em 2022, trouxe o bônus da vice-presidência, com todo o prestígio e visibilidade que ela dá, mas tornou mais complicado convencer o histórico eleitor de Alckmin a continuar com ele.
Mais complicado ainda seria enfrentar uma possível reeleição de Tarcísio de Freitas, cujos aliados estão varrendo o interior com filiações em massa nas prefeituras via PSD, sobretudo, Republicanos e PL. Por causa disso, o projeto próprio de Alckmin, que inclui palanques próprios em 2024, não significa, de forma alguma, uma ruptura com Lula e o PT. E nem será feito à revelia do presidente.
Como mostrou o Estadão, a estratégia advém da interpretação do vice-presidente de que, em 2026, dificilmente será convidado a repetir a dobradinha com um Lula mais envelhecido e sem a necessidade do discurso de frente ampla. A aposta é a de que o PT iria preferir alguém mais afinado ideologicamente ao chefe do Executivo para a chapa.
Mas mesmo fora da vaga de vice, o que ele considera provável em 2026 por possível decisão do aliado, o grupo de Alckmin imagina que eles estarão do mesmo lado na disputa que se dará em três anos. Nesse cenário, o hoje vice-presidente concorreria ao Senado ou ao governo. A primeira hipótese atualmente é a mais palpável. Mas para transformar qualquer uma delas, ou mesmo a permanência da vice em uma realidade, depende de mostrar, em 2024, que a força de Alckmin em São Paulo ainda existe e pode ser cada vez mais revigorada.