Traduzindo a política

Opinião|Tarcísio carimba nome na venda da Sabesp, e melhora do serviço passa a ser crucial para seu futuro


Governador tomou a frente daquela que deve ser a maior privatização do Brasil nos próximos anos e vinculou seu sucesso eleitoral aos resultados que virão dela

Por Ricardo Corrêa

Com muita articulação, uma boa dose de emendas e até mudanças no governo — em especial na Secretaria de Agricultura — o governador Tarcísio de Freitas conseguiu mostrar força e aprovou com folga a autorização para privatizar a Sabesp, apesar de toda a confusão entre manifestantes e polícia nas galerias da Casa. Venceu para isso as greves pressionando contra as desestatizações e a repercussão negativa do trabalho ineficiente da privatizada Enel ao lidar com um apagão que irritou o paulistano em pleno debate na Alesp. Mas o grande desafio para o governador começa agora. Com o esforço público para fazer avançar rapidamente a proposta, Tarcísio carimba seu rosto nos resultados que virão de agora em diante, e que serão decisivos para seu futuro político.

Tarcísio de Freitas impôs rapidamente sua pauta de privatização com a autorização para a venda da Sabesp, coisa que outros políticos de direita não conseguiram Foto: Werther Santana/Estadão

Claro que outras batalhas virão sobre o tema. Entre elas, uma disputa judicial. Opositores do governador querem discutir no Judiciário a tese de que a privatização exigiria a alteração da Constituição Paulista. O artigo 216 determina que os serviços de saneamento básico sejam prestados por uma empresa controlada pelo Estado. O governo avaliou que um projeto de lei seria suficiente. O curioso é que os votos obtidos para aprovar o texto seriam também suficientes para garantir o avanço de uma PEC. Projetos exigem 48 votos, PECs precisam de 57 e o governo obteve 62.

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Foi-se o tempo em que a população abominava privatizações e parte da direita brasileira tinha vergonha de defender que a iniciativa privada deve administrar serviços que historicamente estiveram nas mãos do Estado. Essa visão mais antiga fez muita gente renegar intenções de vender empresas públicas e foi intensamente explorada pela esquerda, que usou disso sobretudo para enfraquecer o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso após oito anos de poder e uma série de ações para desestatizações que eram chamadas pelos opositores de “privataria”.

Hoje, porém, a visão sobre privatizar ou estatizar está um pouco mais madura. Importa mais ao cidadão o resultado. O brasileiro quer um serviço bem prestado e o mais barato possível, pouco interessando quem é que está operando. Longe do fanático debate das redes, o cidadão geralmente nem sabe se uma empresa é pública ou privada, mas se ela é boa ou se ela é ruim.

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No caso específico da Sabesp, Tarcísio acelerou as negociações, fez em um ano o que outros políticos de direita demoraram muito mais tempo ou até hoje não conseguiram — como é o caso de Minas Gerais com Romeu Zema e a Copasa. Para isso, usou como principal argumento que a capacidade de investimento da iniciativa privada e as costuras das regras para a venda da empresa vão garantir um serviço melhor, uma universalização mais rápida do saneamento básico e redução de tarifa. Agora, ele será cobrado por isso. No futuro, quando disputar a reeleição ou a Presidência, neste último caso em 2026 ou 2030, não há dúvida de que os resultados de seu projeto de substituição do Estado pela iniciativa privada em serviços tão presentes na vida do cidadão serão seu principal trunfo ou o grande calcanhar de Aquiles.

Com muita articulação, uma boa dose de emendas e até mudanças no governo — em especial na Secretaria de Agricultura — o governador Tarcísio de Freitas conseguiu mostrar força e aprovou com folga a autorização para privatizar a Sabesp, apesar de toda a confusão entre manifestantes e polícia nas galerias da Casa. Venceu para isso as greves pressionando contra as desestatizações e a repercussão negativa do trabalho ineficiente da privatizada Enel ao lidar com um apagão que irritou o paulistano em pleno debate na Alesp. Mas o grande desafio para o governador começa agora. Com o esforço público para fazer avançar rapidamente a proposta, Tarcísio carimba seu rosto nos resultados que virão de agora em diante, e que serão decisivos para seu futuro político.

Tarcísio de Freitas impôs rapidamente sua pauta de privatização com a autorização para a venda da Sabesp, coisa que outros políticos de direita não conseguiram Foto: Werther Santana/Estadão

Claro que outras batalhas virão sobre o tema. Entre elas, uma disputa judicial. Opositores do governador querem discutir no Judiciário a tese de que a privatização exigiria a alteração da Constituição Paulista. O artigo 216 determina que os serviços de saneamento básico sejam prestados por uma empresa controlada pelo Estado. O governo avaliou que um projeto de lei seria suficiente. O curioso é que os votos obtidos para aprovar o texto seriam também suficientes para garantir o avanço de uma PEC. Projetos exigem 48 votos, PECs precisam de 57 e o governo obteve 62.

Foi-se o tempo em que a população abominava privatizações e parte da direita brasileira tinha vergonha de defender que a iniciativa privada deve administrar serviços que historicamente estiveram nas mãos do Estado. Essa visão mais antiga fez muita gente renegar intenções de vender empresas públicas e foi intensamente explorada pela esquerda, que usou disso sobretudo para enfraquecer o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso após oito anos de poder e uma série de ações para desestatizações que eram chamadas pelos opositores de “privataria”.

Hoje, porém, a visão sobre privatizar ou estatizar está um pouco mais madura. Importa mais ao cidadão o resultado. O brasileiro quer um serviço bem prestado e o mais barato possível, pouco interessando quem é que está operando. Longe do fanático debate das redes, o cidadão geralmente nem sabe se uma empresa é pública ou privada, mas se ela é boa ou se ela é ruim.

No caso específico da Sabesp, Tarcísio acelerou as negociações, fez em um ano o que outros políticos de direita demoraram muito mais tempo ou até hoje não conseguiram — como é o caso de Minas Gerais com Romeu Zema e a Copasa. Para isso, usou como principal argumento que a capacidade de investimento da iniciativa privada e as costuras das regras para a venda da empresa vão garantir um serviço melhor, uma universalização mais rápida do saneamento básico e redução de tarifa. Agora, ele será cobrado por isso. No futuro, quando disputar a reeleição ou a Presidência, neste último caso em 2026 ou 2030, não há dúvida de que os resultados de seu projeto de substituição do Estado pela iniciativa privada em serviços tão presentes na vida do cidadão serão seu principal trunfo ou o grande calcanhar de Aquiles.

Com muita articulação, uma boa dose de emendas e até mudanças no governo — em especial na Secretaria de Agricultura — o governador Tarcísio de Freitas conseguiu mostrar força e aprovou com folga a autorização para privatizar a Sabesp, apesar de toda a confusão entre manifestantes e polícia nas galerias da Casa. Venceu para isso as greves pressionando contra as desestatizações e a repercussão negativa do trabalho ineficiente da privatizada Enel ao lidar com um apagão que irritou o paulistano em pleno debate na Alesp. Mas o grande desafio para o governador começa agora. Com o esforço público para fazer avançar rapidamente a proposta, Tarcísio carimba seu rosto nos resultados que virão de agora em diante, e que serão decisivos para seu futuro político.

Tarcísio de Freitas impôs rapidamente sua pauta de privatização com a autorização para a venda da Sabesp, coisa que outros políticos de direita não conseguiram Foto: Werther Santana/Estadão

Claro que outras batalhas virão sobre o tema. Entre elas, uma disputa judicial. Opositores do governador querem discutir no Judiciário a tese de que a privatização exigiria a alteração da Constituição Paulista. O artigo 216 determina que os serviços de saneamento básico sejam prestados por uma empresa controlada pelo Estado. O governo avaliou que um projeto de lei seria suficiente. O curioso é que os votos obtidos para aprovar o texto seriam também suficientes para garantir o avanço de uma PEC. Projetos exigem 48 votos, PECs precisam de 57 e o governo obteve 62.

Foi-se o tempo em que a população abominava privatizações e parte da direita brasileira tinha vergonha de defender que a iniciativa privada deve administrar serviços que historicamente estiveram nas mãos do Estado. Essa visão mais antiga fez muita gente renegar intenções de vender empresas públicas e foi intensamente explorada pela esquerda, que usou disso sobretudo para enfraquecer o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso após oito anos de poder e uma série de ações para desestatizações que eram chamadas pelos opositores de “privataria”.

Hoje, porém, a visão sobre privatizar ou estatizar está um pouco mais madura. Importa mais ao cidadão o resultado. O brasileiro quer um serviço bem prestado e o mais barato possível, pouco interessando quem é que está operando. Longe do fanático debate das redes, o cidadão geralmente nem sabe se uma empresa é pública ou privada, mas se ela é boa ou se ela é ruim.

No caso específico da Sabesp, Tarcísio acelerou as negociações, fez em um ano o que outros políticos de direita demoraram muito mais tempo ou até hoje não conseguiram — como é o caso de Minas Gerais com Romeu Zema e a Copasa. Para isso, usou como principal argumento que a capacidade de investimento da iniciativa privada e as costuras das regras para a venda da empresa vão garantir um serviço melhor, uma universalização mais rápida do saneamento básico e redução de tarifa. Agora, ele será cobrado por isso. No futuro, quando disputar a reeleição ou a Presidência, neste último caso em 2026 ou 2030, não há dúvida de que os resultados de seu projeto de substituição do Estado pela iniciativa privada em serviços tão presentes na vida do cidadão serão seu principal trunfo ou o grande calcanhar de Aquiles.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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