Traduzindo a política

Opinião|Trump vai de trunfo a pedra no sapato da direita bolsonarista com vistas às eleições de 2026


Tarifas de importação, ameaças a aliados e desprezo pela América Latina conflitam com bandeiras que o grupo tentou construir nos últimos anos

Por Ricardo Corrêa

A vitória de Donald Trump foi comemorada pelo bolsonarismo, que chegou a viajar para festejar, nos Estados Unidos, a chegada ao poder de um político que era apontado como aposta para, com pressão internacional, fortalecer o campo conservador no Brasil. Mas pouco mais de duas semanas após a posse do norte-americano, os efeitos colaterais desse apoio começam a aparecer. Os que se consideraram vencedores com a volta de Trump à Casa Branca começam a calcular os custos políticos da defesa de um presidente que mira na América Latina e que usa de tarifas para arrumar encrenca até com seus aliados.

Aí está o grande problema do apoio do bolsonarismo a Donald Trump, que baseou-se em posições ideológicas, sobretudo no desapreço à pauta de costumes. Ocorre que Trump, até aqui, tem chamado muito mais atenção no noticiário pelo mundo, e também no Brasil, em razão de sua pauta protecionista, que faz desafios a uma ordem econômica liberal.

Donald Trump em evento com Jair Bolsonaro em 2019, durante o primeiro mandato do norte-americano Foto: Alan Santos/Presidência da República
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Como é que o deputado Nikolas Ferreira, que criticou a “taxa das blusinhas”, nome dado à cobrança de impostos sobre a compra de mercadorias em sites de e-commerce chinês, vai agora sustentar a defesa de Trump e suas taxas? Como é que um deputado do Partido Novo, como Marcel van Hattem, que também esteve nos Estados Unidos comemorando a vitória de Trump, vai justificar ter dado apoio a uma agenda protecionista?

E olha que a mira de Trump ainda nem chegou no Brasil. Mesmo assim, já pode provocar efeitos negativos aqui. No último dia 3, o deputado Eduardo Bolsonaro publicou nas redes sociais que, como os EUA taxaram os produtos chineses em 10% e havia a expectativa (que de fato veio) de revide chinês, haveria a necessidade de que o agro brasileiro suprisse de forma imediata o mercado do país asiático, que compra produtos agrícolas norte-americanos. E concluiu: “Se este cenário se confirmar, a tendência é que a picanha e alimentos fiquem mais caros no Brasil, pois as exportações para a China tendem a aumentar e, claro, ficarão mais escassos no Brasil (lei da oferta x procura)”. Trocando em miúdos: Eduardo diz que, por causa de Trump, que ele apoiou, haverá mais inflação no Brasil.

Na sequência, porém, indica os benefícios que a direita pode colher, ainda que em consequência de mais peso nas costas do brasileiro. “A inflação contra a classe trabalhadora foi um dos temas principais na eleição americana de 2024 e será o da brasileira em 2026, com forte desvantagem para o atual ocupante da cadeira presidencial”. Ou seja: a inflação, que já está alta, vai subir por causa de Trump, mas quem pagará a conta (além do povo) é Lula.

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Até pode acontecer esse efeito em favor da direita se o governo continuar se comunicando mal e dando exemplos de desprezo pela pauta fiscal, mas é razoável supor que as barbaridades que Trump está oferecendo ao mundo sobretudo no campo econômico caiam na conta de quem colocou o boné “Make America Great Again”, uma proposta que, evidentemente, valoriza os Estados Unidos em detrimento do resto do mundo.

Não por acaso, o governo Lula inventou um boné de tom nacionalista. A guerra das mensagens na cabeça dos políticos é infantil, mas o recado que será dado no debate é o de que o bolsonarismo escolheu os Estados Unidos em detrimento de seu próprio país, o que arranha o conceito de “patriota” que Bolsonaro tanto utilizou. Quando Trump diz que não precisa do Brasil e da América Latina, oferece imagens de brasileiros acorrentados e, o que se espera no futuro, taxe os exportadores brasileiros, presenteia o governo daqui com uma pauta para comparar com Bolsonaro.

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Aliás, essa pauta contra o que chamam de imperialismo americano andava fora de moda e restrita aos debates em diretórios de estudantes, reuniões internas de tendências radicais de partidos de esquerda e nos jornais do PCO. Quando Trump ameaça invadir países, despreza e ameaça outras nações do continente, devolve essa narrativa empoeirada para a discussão. O nacionalismo tende a triunfar em toda parte do mundo, mas o bolsonarismo, que tentou colocar sua imagem a ele, agora, está do outro lado da trincheira. Isso pode custar caro.

Há, porém, uma única razão pela manutenção do abraço a Trump, Elon Musk e as figuras do entorno do norte-americano. Um desespero com a prisão de Jair Bolsonaro. A família do ex-presidente não vê mais saídas no Brasil e agarra-se a qualquer chance de uma pressão externa que possa mudar o quadro, por mais improvável que seja. Só que Trump, que não se importa com os brasileiros, até aqui também desprezou Bolsonaro. E não há indicativos de que isso mudará. Ele tem coisas mais importantes a se preocupar.

A vitória de Donald Trump foi comemorada pelo bolsonarismo, que chegou a viajar para festejar, nos Estados Unidos, a chegada ao poder de um político que era apontado como aposta para, com pressão internacional, fortalecer o campo conservador no Brasil. Mas pouco mais de duas semanas após a posse do norte-americano, os efeitos colaterais desse apoio começam a aparecer. Os que se consideraram vencedores com a volta de Trump à Casa Branca começam a calcular os custos políticos da defesa de um presidente que mira na América Latina e que usa de tarifas para arrumar encrenca até com seus aliados.

Aí está o grande problema do apoio do bolsonarismo a Donald Trump, que baseou-se em posições ideológicas, sobretudo no desapreço à pauta de costumes. Ocorre que Trump, até aqui, tem chamado muito mais atenção no noticiário pelo mundo, e também no Brasil, em razão de sua pauta protecionista, que faz desafios a uma ordem econômica liberal.

Donald Trump em evento com Jair Bolsonaro em 2019, durante o primeiro mandato do norte-americano Foto: Alan Santos/Presidência da República

Como é que o deputado Nikolas Ferreira, que criticou a “taxa das blusinhas”, nome dado à cobrança de impostos sobre a compra de mercadorias em sites de e-commerce chinês, vai agora sustentar a defesa de Trump e suas taxas? Como é que um deputado do Partido Novo, como Marcel van Hattem, que também esteve nos Estados Unidos comemorando a vitória de Trump, vai justificar ter dado apoio a uma agenda protecionista?

E olha que a mira de Trump ainda nem chegou no Brasil. Mesmo assim, já pode provocar efeitos negativos aqui. No último dia 3, o deputado Eduardo Bolsonaro publicou nas redes sociais que, como os EUA taxaram os produtos chineses em 10% e havia a expectativa (que de fato veio) de revide chinês, haveria a necessidade de que o agro brasileiro suprisse de forma imediata o mercado do país asiático, que compra produtos agrícolas norte-americanos. E concluiu: “Se este cenário se confirmar, a tendência é que a picanha e alimentos fiquem mais caros no Brasil, pois as exportações para a China tendem a aumentar e, claro, ficarão mais escassos no Brasil (lei da oferta x procura)”. Trocando em miúdos: Eduardo diz que, por causa de Trump, que ele apoiou, haverá mais inflação no Brasil.

Na sequência, porém, indica os benefícios que a direita pode colher, ainda que em consequência de mais peso nas costas do brasileiro. “A inflação contra a classe trabalhadora foi um dos temas principais na eleição americana de 2024 e será o da brasileira em 2026, com forte desvantagem para o atual ocupante da cadeira presidencial”. Ou seja: a inflação, que já está alta, vai subir por causa de Trump, mas quem pagará a conta (além do povo) é Lula.

Até pode acontecer esse efeito em favor da direita se o governo continuar se comunicando mal e dando exemplos de desprezo pela pauta fiscal, mas é razoável supor que as barbaridades que Trump está oferecendo ao mundo sobretudo no campo econômico caiam na conta de quem colocou o boné “Make America Great Again”, uma proposta que, evidentemente, valoriza os Estados Unidos em detrimento do resto do mundo.

Não por acaso, o governo Lula inventou um boné de tom nacionalista. A guerra das mensagens na cabeça dos políticos é infantil, mas o recado que será dado no debate é o de que o bolsonarismo escolheu os Estados Unidos em detrimento de seu próprio país, o que arranha o conceito de “patriota” que Bolsonaro tanto utilizou. Quando Trump diz que não precisa do Brasil e da América Latina, oferece imagens de brasileiros acorrentados e, o que se espera no futuro, taxe os exportadores brasileiros, presenteia o governo daqui com uma pauta para comparar com Bolsonaro.

Aliás, essa pauta contra o que chamam de imperialismo americano andava fora de moda e restrita aos debates em diretórios de estudantes, reuniões internas de tendências radicais de partidos de esquerda e nos jornais do PCO. Quando Trump ameaça invadir países, despreza e ameaça outras nações do continente, devolve essa narrativa empoeirada para a discussão. O nacionalismo tende a triunfar em toda parte do mundo, mas o bolsonarismo, que tentou colocar sua imagem a ele, agora, está do outro lado da trincheira. Isso pode custar caro.

Há, porém, uma única razão pela manutenção do abraço a Trump, Elon Musk e as figuras do entorno do norte-americano. Um desespero com a prisão de Jair Bolsonaro. A família do ex-presidente não vê mais saídas no Brasil e agarra-se a qualquer chance de uma pressão externa que possa mudar o quadro, por mais improvável que seja. Só que Trump, que não se importa com os brasileiros, até aqui também desprezou Bolsonaro. E não há indicativos de que isso mudará. Ele tem coisas mais importantes a se preocupar.

A vitória de Donald Trump foi comemorada pelo bolsonarismo, que chegou a viajar para festejar, nos Estados Unidos, a chegada ao poder de um político que era apontado como aposta para, com pressão internacional, fortalecer o campo conservador no Brasil. Mas pouco mais de duas semanas após a posse do norte-americano, os efeitos colaterais desse apoio começam a aparecer. Os que se consideraram vencedores com a volta de Trump à Casa Branca começam a calcular os custos políticos da defesa de um presidente que mira na América Latina e que usa de tarifas para arrumar encrenca até com seus aliados.

Aí está o grande problema do apoio do bolsonarismo a Donald Trump, que baseou-se em posições ideológicas, sobretudo no desapreço à pauta de costumes. Ocorre que Trump, até aqui, tem chamado muito mais atenção no noticiário pelo mundo, e também no Brasil, em razão de sua pauta protecionista, que faz desafios a uma ordem econômica liberal.

Donald Trump em evento com Jair Bolsonaro em 2019, durante o primeiro mandato do norte-americano Foto: Alan Santos/Presidência da República

Como é que o deputado Nikolas Ferreira, que criticou a “taxa das blusinhas”, nome dado à cobrança de impostos sobre a compra de mercadorias em sites de e-commerce chinês, vai agora sustentar a defesa de Trump e suas taxas? Como é que um deputado do Partido Novo, como Marcel van Hattem, que também esteve nos Estados Unidos comemorando a vitória de Trump, vai justificar ter dado apoio a uma agenda protecionista?

E olha que a mira de Trump ainda nem chegou no Brasil. Mesmo assim, já pode provocar efeitos negativos aqui. No último dia 3, o deputado Eduardo Bolsonaro publicou nas redes sociais que, como os EUA taxaram os produtos chineses em 10% e havia a expectativa (que de fato veio) de revide chinês, haveria a necessidade de que o agro brasileiro suprisse de forma imediata o mercado do país asiático, que compra produtos agrícolas norte-americanos. E concluiu: “Se este cenário se confirmar, a tendência é que a picanha e alimentos fiquem mais caros no Brasil, pois as exportações para a China tendem a aumentar e, claro, ficarão mais escassos no Brasil (lei da oferta x procura)”. Trocando em miúdos: Eduardo diz que, por causa de Trump, que ele apoiou, haverá mais inflação no Brasil.

Na sequência, porém, indica os benefícios que a direita pode colher, ainda que em consequência de mais peso nas costas do brasileiro. “A inflação contra a classe trabalhadora foi um dos temas principais na eleição americana de 2024 e será o da brasileira em 2026, com forte desvantagem para o atual ocupante da cadeira presidencial”. Ou seja: a inflação, que já está alta, vai subir por causa de Trump, mas quem pagará a conta (além do povo) é Lula.

Até pode acontecer esse efeito em favor da direita se o governo continuar se comunicando mal e dando exemplos de desprezo pela pauta fiscal, mas é razoável supor que as barbaridades que Trump está oferecendo ao mundo sobretudo no campo econômico caiam na conta de quem colocou o boné “Make America Great Again”, uma proposta que, evidentemente, valoriza os Estados Unidos em detrimento do resto do mundo.

Não por acaso, o governo Lula inventou um boné de tom nacionalista. A guerra das mensagens na cabeça dos políticos é infantil, mas o recado que será dado no debate é o de que o bolsonarismo escolheu os Estados Unidos em detrimento de seu próprio país, o que arranha o conceito de “patriota” que Bolsonaro tanto utilizou. Quando Trump diz que não precisa do Brasil e da América Latina, oferece imagens de brasileiros acorrentados e, o que se espera no futuro, taxe os exportadores brasileiros, presenteia o governo daqui com uma pauta para comparar com Bolsonaro.

Aliás, essa pauta contra o que chamam de imperialismo americano andava fora de moda e restrita aos debates em diretórios de estudantes, reuniões internas de tendências radicais de partidos de esquerda e nos jornais do PCO. Quando Trump ameaça invadir países, despreza e ameaça outras nações do continente, devolve essa narrativa empoeirada para a discussão. O nacionalismo tende a triunfar em toda parte do mundo, mas o bolsonarismo, que tentou colocar sua imagem a ele, agora, está do outro lado da trincheira. Isso pode custar caro.

Há, porém, uma única razão pela manutenção do abraço a Trump, Elon Musk e as figuras do entorno do norte-americano. Um desespero com a prisão de Jair Bolsonaro. A família do ex-presidente não vê mais saídas no Brasil e agarra-se a qualquer chance de uma pressão externa que possa mudar o quadro, por mais improvável que seja. Só que Trump, que não se importa com os brasileiros, até aqui também desprezou Bolsonaro. E não há indicativos de que isso mudará. Ele tem coisas mais importantes a se preocupar.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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