Traduzindo a política

Opinião|Vereadores preferem mandar verbas para eventos em vez da Saúde pois é mais fácil mostrar paternidade


De olho em votos, parlamentares querem destinar recursos a quem possa anunciá-los como salvadores da pátria, sobretudo em ano eleitoral

Por Ricardo Corrêa

Você imagina a cena de ir a um posto de saúde tomar uma injeção com o atendente dizendo: “Queria agradecer ao vereador Fulano de Tal por esse medicamento que estou aplicando”? Ou uma escola em que o professor começa a aula dizendo que aquela carteira foi comprada com dinheiro de emenda… Evidentemente que não. Mas em um projeto social, peça teatral ou escolinha de futebol na periferia de São Paulo certamente você pode ouvir ou ficar sabendo que tal iniciativa só foi possível graças ao apoio do político X, Y ou Z.

E essa simples constatação é que faz com que, ao repassar emendas, os vereadores da capital optem por eventos culturais, esportivos ou de lazer em vez de mandar dinheiro para UPAs ou para a educação pública, como mostra o Estadão nesta sexta-feira, 12. É muito mais fácil colocar as digitais nesse tipo de produto, o que costuma render votos preciosos em ano eleitoral.

Câmara Municipal de São Paulo indica mais verbas para eventos do que para Saúde pois objetivo é que as pessoas saibam quem mandou Foto: Marcio Fernandes/Estadão Conteúdo
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Mais do que o que realmente é mais importante para a população naquele momento - e aqui não vai nenhuma crítica ao repasse para a área A ou B, mas mera constatação - vale também o nível de relação pessoal que por vezes se encontra entre o parlamentar e o responsável pelo projeto que receberá a verba. A vinculação com a igreja que funciona como base para o vereador ou entidade da classe que representa são exemplos. Tem sido bastante comum que o recurso de uma emenda acabe nas mãos da igreja, que realiza ações que o poder público por vezes negligencia.

Em ano de eleição pesa também a velocidade com a qual a proposta se transforma em realidade aos olhos do cidadão, como os próprios parlamentares admitem. Assim, agilizar essas entregas no primeiro semestre pode ser decisivo para manter os votos em determinados nichos do eleitorado. Eventos culturais e esportivos, em geral, são idealizados e realizados mais rapidamente, com data definida, gerando a garantia de retorno ao parlamentar.

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A área de educação, que tem baixíssimo índice de recebimento de emendas, é evitada. Não pelo fato de os vereadores não a considerarem importante. É que os parlamentares concluíram que os recursos acabam não sendo executados, mesmo quando enviados. A avaliação é que a Pasta tem dificuldades para realizar obras nas escolas.

Além da prioridade a seus redutos eleitorais, o que o Estadão também mostrou gerar distorções, também pesa na escolha o fato de alguns secretários e subsecretários serem mais ágeis na realização dos gastos. Esses ganham preferência justamente em ano eleitoral. Trocando em miúdos, a fórmula é: envio de dinheiro para onde eu puder mostrar mais e na hora certa para ganhar mais quatro anos de mandato.

Você imagina a cena de ir a um posto de saúde tomar uma injeção com o atendente dizendo: “Queria agradecer ao vereador Fulano de Tal por esse medicamento que estou aplicando”? Ou uma escola em que o professor começa a aula dizendo que aquela carteira foi comprada com dinheiro de emenda… Evidentemente que não. Mas em um projeto social, peça teatral ou escolinha de futebol na periferia de São Paulo certamente você pode ouvir ou ficar sabendo que tal iniciativa só foi possível graças ao apoio do político X, Y ou Z.

E essa simples constatação é que faz com que, ao repassar emendas, os vereadores da capital optem por eventos culturais, esportivos ou de lazer em vez de mandar dinheiro para UPAs ou para a educação pública, como mostra o Estadão nesta sexta-feira, 12. É muito mais fácil colocar as digitais nesse tipo de produto, o que costuma render votos preciosos em ano eleitoral.

Câmara Municipal de São Paulo indica mais verbas para eventos do que para Saúde pois objetivo é que as pessoas saibam quem mandou Foto: Marcio Fernandes/Estadão Conteúdo

Mais do que o que realmente é mais importante para a população naquele momento - e aqui não vai nenhuma crítica ao repasse para a área A ou B, mas mera constatação - vale também o nível de relação pessoal que por vezes se encontra entre o parlamentar e o responsável pelo projeto que receberá a verba. A vinculação com a igreja que funciona como base para o vereador ou entidade da classe que representa são exemplos. Tem sido bastante comum que o recurso de uma emenda acabe nas mãos da igreja, que realiza ações que o poder público por vezes negligencia.

Em ano de eleição pesa também a velocidade com a qual a proposta se transforma em realidade aos olhos do cidadão, como os próprios parlamentares admitem. Assim, agilizar essas entregas no primeiro semestre pode ser decisivo para manter os votos em determinados nichos do eleitorado. Eventos culturais e esportivos, em geral, são idealizados e realizados mais rapidamente, com data definida, gerando a garantia de retorno ao parlamentar.

A área de educação, que tem baixíssimo índice de recebimento de emendas, é evitada. Não pelo fato de os vereadores não a considerarem importante. É que os parlamentares concluíram que os recursos acabam não sendo executados, mesmo quando enviados. A avaliação é que a Pasta tem dificuldades para realizar obras nas escolas.

Além da prioridade a seus redutos eleitorais, o que o Estadão também mostrou gerar distorções, também pesa na escolha o fato de alguns secretários e subsecretários serem mais ágeis na realização dos gastos. Esses ganham preferência justamente em ano eleitoral. Trocando em miúdos, a fórmula é: envio de dinheiro para onde eu puder mostrar mais e na hora certa para ganhar mais quatro anos de mandato.

Você imagina a cena de ir a um posto de saúde tomar uma injeção com o atendente dizendo: “Queria agradecer ao vereador Fulano de Tal por esse medicamento que estou aplicando”? Ou uma escola em que o professor começa a aula dizendo que aquela carteira foi comprada com dinheiro de emenda… Evidentemente que não. Mas em um projeto social, peça teatral ou escolinha de futebol na periferia de São Paulo certamente você pode ouvir ou ficar sabendo que tal iniciativa só foi possível graças ao apoio do político X, Y ou Z.

E essa simples constatação é que faz com que, ao repassar emendas, os vereadores da capital optem por eventos culturais, esportivos ou de lazer em vez de mandar dinheiro para UPAs ou para a educação pública, como mostra o Estadão nesta sexta-feira, 12. É muito mais fácil colocar as digitais nesse tipo de produto, o que costuma render votos preciosos em ano eleitoral.

Câmara Municipal de São Paulo indica mais verbas para eventos do que para Saúde pois objetivo é que as pessoas saibam quem mandou Foto: Marcio Fernandes/Estadão Conteúdo

Mais do que o que realmente é mais importante para a população naquele momento - e aqui não vai nenhuma crítica ao repasse para a área A ou B, mas mera constatação - vale também o nível de relação pessoal que por vezes se encontra entre o parlamentar e o responsável pelo projeto que receberá a verba. A vinculação com a igreja que funciona como base para o vereador ou entidade da classe que representa são exemplos. Tem sido bastante comum que o recurso de uma emenda acabe nas mãos da igreja, que realiza ações que o poder público por vezes negligencia.

Em ano de eleição pesa também a velocidade com a qual a proposta se transforma em realidade aos olhos do cidadão, como os próprios parlamentares admitem. Assim, agilizar essas entregas no primeiro semestre pode ser decisivo para manter os votos em determinados nichos do eleitorado. Eventos culturais e esportivos, em geral, são idealizados e realizados mais rapidamente, com data definida, gerando a garantia de retorno ao parlamentar.

A área de educação, que tem baixíssimo índice de recebimento de emendas, é evitada. Não pelo fato de os vereadores não a considerarem importante. É que os parlamentares concluíram que os recursos acabam não sendo executados, mesmo quando enviados. A avaliação é que a Pasta tem dificuldades para realizar obras nas escolas.

Além da prioridade a seus redutos eleitorais, o que o Estadão também mostrou gerar distorções, também pesa na escolha o fato de alguns secretários e subsecretários serem mais ágeis na realização dos gastos. Esses ganham preferência justamente em ano eleitoral. Trocando em miúdos, a fórmula é: envio de dinheiro para onde eu puder mostrar mais e na hora certa para ganhar mais quatro anos de mandato.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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