Dezessete meses depois de assumir definitivamente a Prefeitura de São Paulo após a morte de Bruno Covas (PSDB) em decorrência de um câncer, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), 54, viu seu projeto político ser colocado em xeque quando o governador Rodrigo Garcia (PSDB), seu aliado, ficou fora do 2° turno na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o que levou os tucanos a perderem a hegemonia de 28 anos no Estado.
O plano original previa total engajamento na campanha de Garcia, que em troca apoiaria, com a retaguarda da máquina estadual, a reeleição do emedebista em uma disputa já anunciada contra Guilherme Boulos (PSOL).
Deputado mais votado de São Paulo, Boulos recebeu o apoio público do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para disputar novamente a Prefeitura (ele chegou ao 2° turno em 2020 contra Covas) em troca de apoiar Fernando Haddad (PT) na corrida estadual em 2022.
Com o fiasco do PSDB nas urnas, os tucanos e Nunes se apressaram em declarar apoio ao ex-ministro bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos). O prefeito, porém, evitou até o momento estender seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), embora tenha dado sinais que deve seguir esse caminho.
“Eles (PT) fizeram 3 eleições esse ano: presidente, governador e prefeito em 2024. Eles anteciparam. Nem tem como termos diálogo porque já tomaram essa decisão”, disse Nunes ao Estadão (assista a íntegra da entrevista abaixo).
A expectativa no entorno do prefeito é que Tarcísio, caso seja eleito, seja um aliado nas negociações sobre a eleição municipal de 2024, quando o bolsonarismo também deve apresentar nomes para enfrentar o PT, o que dividiria o campo “azul” da centro-direita antipetista. Fernando Haddad e Lula venceram na capital no 1° turno.
Apesar do PSDB ter sido desalojado do Palácio dos Bandeirantes, o prefeito Ricardo Nunes acredita na manutenção da aliança com o partido, que ocupa postos chave na administração municipal, daqui a dois anos.
“O PSDB tem um compromisso firmado conosco pelo Bruno Araújo (presidente nacional), Marco Vinholi (estadual) e Fernando Alfredo (municipal). Nossa gestão é a continuidade da gestão Bruno Covas”, disse o chefe do executivo paulistano.
Os tucanos confirmam o acerto em público, mas nos bastidores avaliam que se o PSDB não disputar com um nome próprio à Prefeitura vai se tornar coadjuvante da política paulista e um satélite em órbita de duas máquinas.
“Não tem como desconsiderar que não posso caminhar ao lado do Haddad por uma questão eminentemente política, mas principalmente porque seria ruim ele repetir no estado o que fez na prefeitura. É natural que eu sendo candidato à reeleição procure o apoio do PL, Podemos e Republicanos. Falei com Marcos Pereira, Antonio Carlos Pereira e a Renata Abreu”, disse Nunes.
Mas quando questionado sobre o apoio a Bolsonaro, o emedebista desconversa. “O MDB nacional liberou seus filiados. Ainda não há essa decisão sobre a questão nacional. Estou dialogando com os deputados. Irei me posicionar, mas vou seguir o trâmite. Pode ser hoje ou daqui alguns dias”, afirmou o prefeito.
O alinhamento estratégico de Ricardo Nunes com Tarcísio trouxe alguns desconfortos ao prefeito, em especial no tema das vacinas. Em um aceno aos bolsonaristas mais radicais, o candidato do Republicanos prometeu no 1° turno durante a sabatina Estadão/Faap que vai acabar com a obrigatoriedade de vacinação para os funcionários públicos.
“Não apoio essa ideia dele. Fui o primeiro prefeito a fazer o decreto obrigando os funcionários públicos a se vacinar. Sempre vai ter algum ponto de discórdia. Não acho uma posição correta. Não sei qual a motivação para isso. Não foi fácil o que passamos aqui.”