A articulação para o ex-governador do Paraná e deputado federal Beto Richa (PSDB) se filiar ao PL para disputar a Prefeitura de Curitiba naufragou. De um lado, a militância bolsonarista se colocou contra o movimento e, por outro, o PSDB se recusou a liberar o parlamentar, que poderia perder o mandato se insistisse na troca de partido. A tendência agora é que o PL e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apoiem o ex-deputado federal Paulo Martins, que também é cotado para disputar o Senado se Sérgio Moro (União) for cassado pela Justiça Eleitoral. A tentativa de filiar Richa, porém, causou uma guerra no PL paranaense, com troca de ataques públicos entre aliados (veja abaixo).
Em nota divulgada à imprensa (veja a íntegra ao final do texto), Richa disse que fez reuniões como presidente do PL, Valdemar Costa Neto e com Bolsonaro na quarta-feira, 14, e foi convidado a se filiar partido. Beto Richa ainda deixou claro que se mantém como pré-candidato a prefeito.
“Parecia óbvio, para meus amigos da direção do partido, que a minha saída poderia estimular outros filiados a fazer o mesmo. Prevaleceu o peso do compromisso com o PSDB, um partido que mudou o Brasil para muito melhor”, disse ele. “É nas crises que se aprende e que se reúne forças. Eu senti na carne e na alma isso. Fui massacrado por radicais com argumentos infundados, mas não desisti, e não desisto nunca”, acrescentou.
O presidente do PSDB, Marconi Perillo, disse ao Estadão que, juntamente com o presidente da federação PSDB-Cidadania, Bruno Araújo, tomou a decisão de não liberar nenhum membro do partido que tenha sido ajudado com dinheiro do Fundo Partidário na eleição de 2022 ou em eleições anteriores. “Sejam deputados federais ou estaduais”, explicou. Na semana passada, o deputado federal por São Paulo, Carlos Sampaio, deixou a legenda e foi para o PSD. Diferente do afirmado inicialmente nesta reportagem, ele tinha a carta de anuência do partido há três meses. O texto foi atualizado.
Sem a concordância do partido, Beto Richa teria que convencer a Justiça Eleitoral de que tinha justa causa para trocar o PSDB pelo PL e provar que os tucanos estavam cometendo “grave discriminação pessoal” contra ele ou descumprindo o programa partidário. Caso contrário, perderia o mandato.
Deputados do PL trocam acusações
A articulação rachou o PL em Curitiba. O deputado estadual Ricardo Arruda (PL) gravou e publicou um vídeo de Beto Richa e do deputado federal Filipe Barros (PL), que intermediou o encontro com Bolsonaro, saindo da reunião. As imagens foram a senha para a reação da militância bolsonarista nas redes sociais.
Arruda se disse traído por Barros pois, segundo ele, o deputado federal o chamou a Brasília justamente para discutir a candidatura a prefeito com Bolsonaro. Barros, por sua vez, afirmou que estava cumprido uma “missão” dada pelo ex-presidente que teria lhe pedido para levar até ele todos os pré-candidatos que fossem antipetistas e que tivessem a “disposição de caminhar com Bolsonaro em 2026″. Nesta quinta-feira, ele declarou apoio à candidatura de Paulo Martins.
Ainda na quarta-feira, Martins anunciou que estava renunciando à presidência do PL de Curitiba. Porém, depois ele voltou às redes sociais e se colocou como pré-candidato do partido. “Quem acompanha o meu trabalho sabe que defendo os valores conservadores desde quando fazer isso não dava votos e nem likes. [...] O partido que faça sua escolha”, escreveu.
O Estadão apurou com interlocutores de Bolsonaro que, neste momento, ele apoia a candidatura de Martins para prefeito. Porém, Arruda declarou em um vídeo nas redes sociais que o ex-presidente teria o incentivado a se manter como pré-candidato. “Falei com o presidente Bolsonaro e ele falou: ‘continue o seu trabalho como pré-candidato. O Paulo vai colocar o nome dele porque o que o Paulo quer e o que o partido quer apoiá-lo é para o Senado caso o Moro seja cassado’”, narrou o deputado estadual em um vídeo no publicado no X (antigo Twitter).
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Arruda disse que Barros teria exposto Bolsonaro já que o ex-governador do Paraná não é antipetista, por supostamente ser próximo do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), e por Richa ter sido preso na Operação Lava-Jato. No final do ano passado, o ministro do STF, Dias Toffoli, anulou todas as ações contra o tucano no âmbito da operação porque entendeu ter havido conluio judicial com base em mensagens trocadas entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Diogo Castor de Mattos.
Principal assessor de Bolsonaro, Fabio Wajngarten tomou o lado de Filipe Barros nas redes sociais e afirmou que irá acionar a Comissão de Ética do PL contra Arruda. “Política tem vez e hierarquia. Não é admissível um deputado estadual, com menos de 2% de intenções de votos, gravar escondido uma reunião no escritório do Presidente Jair Bolsonaro e agora atacar um deputado federal, aliado de primeira hora, em virtude da escolha do partido pelo nome do Paulo Martins a pré-candidato em Curitiba”, declarou.
Nota de Beto Richa:
“Esclarecimento Público do deputado federal Beto Richa
A quarta-feira amanheceu nebulosa em Brasília, com risco de chuvas e trovoadas. Como sempre faço, acordei cedo para o trabalho. Tinha um convite para me reunir com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que estava conversando com pré-candidatos à Prefeitura de Curitiba. Tinha sonhado com meu pai, o velho Zé Richa.
Fui com a certeza de que, na política, assim como na vida diária de cada um de nós, a conversa sempre é bem-vinda. E sempre dialoguei com todos.
Muito bem recebido na sede do PL, fui convidado a me filiar ao partido. Em seguida, fui gentilmente recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Novamente pensei no sonho que tive com meu pai: a inércia é inimiga da política.
Não sou político iniciante. Sabia que qualquer passo que eu desse romperia o quadro de inércia que toma conta do panorama regional.E foi isso que fiz.
Procurei a direção nacional do PSDB logo na sequência. A reação, como esperado, foi impactante. Uma semana antes o partido havia dado uma carta de anuência ao deputado Carlos Sampaio, para sair do PSDB sem o risco de perder o mandato.
Mas no meu caso foi diferente. Recebi apelos para permanecer no PSDB. Fui lembrado das batalhas políticas e eleitorais que juntos enfrentamos nas últimas décadas.
Parecia óbvio, para meus amigos da direção do partido, que a minha saída poderia estimular outros filiados a fazer o mesmo. Prevaleceu o peso do compromisso com o PSDB, um partido que mudou o Brasil para muito melhor.
Ao adotar essa postura, o PSDB pratica a boa política, que faz uso de argumentos para o exercício de convencimentos.
O PSDB voltou ao noticiário nacional, e passou novamente a ter papel de relevância no tabuleiro político.
É nas crises que se aprende e que se reúne forças. Eu senti na carne e na alma isso. Fui massacrado por radicais com argumentos infundados, mas não desisti, e não desisto nunca.
Enfim, o velho Richa tinha razão. Política é movimento, seja no avanço ou no recuo.
Deputado federal Beto Richa
Pré-candidato a prefeito de Curitiba”