Os centros clandestinos funcionavam em imóveis particulares, urbanos ou rurais. O único que funcionou numa área pública foi também o mais violento de todos, a chamada Casa Azul.
Instalada em Marabá, no Pará, à beira da Rodovia Transamazônica, num terreno do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), a Casa Azul ficou em operação entre 1972 e 1974. Tinha como objetivo a repressão às ações da Guerrilha do Araguaia, desenvolvida naquela região pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B). Era ligada ao Centro de Informações do Exército.
"As pessoas capturadas na guerrilha eram enviadas para lá. Nenhuma sobreviveu. Não existem depoimentos de sobreviventes", disse a historiadora Heloísa Starling, assessora da comissão e responsável pela pesquisa a respeito dos centros clandestinos, durante a exposição do trabalho, em São Paulo.
Ela apresentou uma lista de 24 pessoas que foram enviadas para a Casa Azul e cujos corpos nunca mais foram encontrados. Do grupo, 22 eram militantes do PC do B. Os outros dois eram camponeses, que teriam aderido à guerrilha.
Ainda segundo a historiadora, os centros clandestinos faziam parte da estrutura oficial de repressão e tinham tarefas específicas, entre elas os interrogatórios de pessoas que já estavam condenadas à morte dentro da política de extermínio executada pela ditadura. O desaparecimento de corpos também fazia parte de suas funções.
"Não eram estruturas autônomas, de milícias ou paramilitares. Estavam diretamente ligadas ao alto comando das Forças Armadas", disse Heloísa.
A pesquisa abrangeu os anos de 1970 a 1975. Entre os outros centros clandestinos já investigados, dois estão no Rio: a Casa de Petrópolis, também conhecida como Casa da Morte, que funcionou na cidade serrana, num imóvel cedido por um empresário local; e a Casa de São Conrado, ligada ao serviço de inteligência da Marinha, o Cenimar. Embora já se saiba que ficava ao lado da Rocinha, o local exato de sua instalação ainda não foi determinado.
Em São Paulo foram investigadas a Fazenda 31 de Marco, que, às margens da Represa Guarapiranga, integrava o aparelho repressivo do Departamento de Operações Informações (DOI), do 2.º Exército; a Casa de Itapevi, que funcionou na região metropolitana, dentro da Operação Radar, articulada para extermínio de dirigentes de organizações comunistas; e a Casa no Bairro Ipiranga, nas imediações do Museu do Ipiranga. Esta última era destinada exclusivamente ao controle de militantes de esquerda cooptados pelos serviços de repressão e infiltrados em organizações de oposição regime.
Em Belo Horizonte foi identificada a Casa do Renascença, cujas atividades foram controladas em conjunto pela Polícia Militar e o Exército.
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