Sabatina Estadão: Nunes conta com Bolsonaro para vídeo e crê em 2º turno com Boulos; veja entrevista


Prefeito disse que sua intenção é manter a tarifa de ônibus baixa em um eventual segundo mandato, mas evitou cravar que manterá o valor atual

Por Pedro Augusto Figueiredo, Bianca Gomes e Hugo Henud
Atualização:
Foto: Werther Santana/Estadão
Entrevista comRicardo NunesPrefeito e candidato à reeleição pelo MDB

O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) negou, durante sabatina realizada pelo Estadão, que Jair Bolsonaro (PL) não participe de sua campanha à reeleição e afirmou que o ex-presidente vai gravar material ao lado dele para exibição na propaganda eleitoral na televisão. A íntegra da entrevista com o emedebista, gravada em vídeo, será publicada às 15h.

“[Bolsonaro] participa e deve participar, com certeza”, disse Nunes, que ponderou que o aliado viaja pelo País para fazer campanha em outras cidades. “Nós temos no nosso banco de dados mais de 2 horas de gravações com o presidente Bolsonaro das ações que a gente fez junto. Eu preciso, inclusive, tê-lo junto até para fazer um vídeo do acordo do Campo de Marte. Eu consegui, quando ele era presidente, resolver a dívida da cidade de R$ 25 bilhões [com a União]. Agora ele está viajando”, continuou.

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O acordo pôs fim a uma disputa de décadas na Justiça. A Prefeitura concordou que o terreno pertence ao governo federal em troca do abatimento do débito bilionário.

A campanha eleitoral começou há quase um mês, mas Bolsonaro ainda não fez campanha ao lado do emedebista apesar de ter vindo a São Paulo para o ato do 7 de Setembro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) — agenda inicial de compromissos do ex-presidente em setembro não prevê outras presenças dele na capital paulista — e nem apareceu no horário eleitoral gratuito. Nas redes sociais, gravou um vídeo no início de agosto em que reafirma estar com Nunes em meio à migração do eleitorado bolsonarista para Pablo Marçal (PRTB).

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O prefeito declarou também que, pelo histórico das eleições paulistanas, a existência de um eleitorado de esquerda na cidade e o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acredita que Guilherme Boulos (PSOL) irá para o segundo turno com ele. Pesquisa Quaest divulgada na quarta-feira, 12, coloca Nunes com 24%, Marçal com 23% e Boulos com 21%. O emedebista ganharia dos dois adversários em um eventual segundo turno.

Prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB) concede entrevista ao Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

“Eu ganho tanto do Boulos como do Pablo Marçal. Acho que é um reconhecimento da população, do trabalho que a gente desenvolveu e das nossas entregas.”, disse Nunes, que comemorou continuar na disputa pela liderança mesmo após a entrada e subida de Marçal, com quem reconhece dividir o eleitorado.

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“Mesmo tendo uma pessoa com essa forte atuação na rede social, mesmo com os métodos que ele utiliza, mente bastante. Mesmo assim eu tenho conseguido manter a liderança e uma baixíssima rejeição”, analisou.

O prefeito disse que sua intenção é manter a tarifa de ônibus baixa em um eventual segundo mandato, mas evitou cravar que manterá o valor congelado em R$ 4,40 como ocorreu nos últimos quatro anos. “Não vou cometer nenhuma irresponsabilidade. Se tiver uma guerra e explode o diesel?”, argumentou.

Ele também afirmou que não há uma milícia formada por guardas civis metropolitanos e policiais na Cracolândia. A declaração vai na contramão do que diz o Ministério Público, que aponta a existência de um grupo organizado para extorquir comerciantes na região.

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“Não existe milícia na nossa cidade. A gente teve algumas pessoas de uma forma errada, acabaram cometer alguma ilegalidade”, justificou.

Confira a íntegra da entrevista:

As pesquisas mostram, com algumas diferenças nos números, o senhor, Guilherme Boulos e Pablo Marçal brigando pela ponta. Considerando que o senhor acredita ir ao segundo turno, quem o senhor acha que provavelmente vai com o senhor?

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Eu tenho impressão, pelo histórico das eleições da cidade, de que possivelmente vá comigo para o segundo turno Guilherme Boulos. Ele tem um eleitor de esquerda na cidade, o apoio do presidente Lula, isso deve ter um peso. Imagino que seja ele.

Mas tanto faz. Se vier ele, vier o Marçal, eu ganho dos dois. Tem um dado muito importante que é a rejeição. Nesse momento, você ter a rejeição baixa é o fundamental. Não é nem quem está primeiro, segundo, terceiro. Eu fico feliz de estar ali em primeiro, mas o fundamental é rejeição baixa.

E essa questão do segundo turno é aonde eu ganho tanto do Boulos como do Pablo Marçal, por uma margem bastante distante. Bem tranquilo, acho que é um reconhecimento da população, do trabalho que a gente desenvolveu, das entregas que a gente colocou.

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Eu tenho impressão, pelo histórico das eleições da cidade, de que possivelmente vá comigo para o segundo turno Guilherme Boulos. Ele tem um eleitor de esquerda na cidade, o apoio do presidente Lula, isso deve ter um peso.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

E do cenário geral teve essa entrada por último do Pablo Marçal dentro do processo eleitoral, que basicamente era o eleitor que vinha comigo. Você vê o quanto eu estava bem, estou bem, que mesmo tendo uma pessoa com essa forte atuação na rede social, mesmo com os métodos que ele utiliza, mente bastante, eu tenho conseguido manter a liderança e uma baixíssima rejeição.

E os outros candidatos, tanto o Boulos quanto o Pablo Marçal, uma rejeição altíssima. Eu vi agora uma pesquisa que saiu ontem, a rejeição do Datena perto dos 60 pontos (na pesquisa Quaest). Rejeição baixa é algo importante no processo eleitoral.

O senhor pretende reajustar a tarifa de ônibus se o senhor ganhar um segundo mandato?

A gente não pode ver essa questão da tarifa de ônibus só dentro do contexto de planilha tarifária. Precisamos ver no contexto de mobilidade e de políticas públicas outras. Por exemplo, o ‘Mamãe Tarifa Zero’ que eu vou fazer. A gente tem uma alegria enorme de pelo quarto ano consecutivo ter vaga de creche para todas as crianças.

E isso quer dizer o quê? A mãe poder trabalhar no momento que a gente está batendo recorde de geração de emprego e renda. Estou com o menor índice de desemprego desde 2015. E tem algo fundamental nesse processo todo: a criança que passa pela creche vai ter 25% a mais de capacidade de assimilar o aprendizado.

Lá ela tem as professoras, as pedagogas, as cinco alimentações [diárias], que são nutricionistas que fazem o cardápio. A criança, desde que está um dia na barriga da mamãezinha até os sete anos é o momento onde vai se desenvolver o cérebro melhor por conta da plasticidade, inclusive das reações cognitivas.

Então a gente não pode perder essa etapa. Se perder....

Mas em relação à tarifa, você vai ter um custo maior para a prefeitura também. E cada real que você coloca a mais no subsídio para as empresas de ônibus é um real a menos para obras e outras áreas da Prefeitura, como aumentar salário dos professores. São escolhas. O senhor pretende ou não reajustar a tarifa se ampliar a tarifa zero como está prometendo?

Eu sou o prefeito que manteve a tarifa congelada pelo maior tempo. É o quarto ano consecutivo que a gente manteve a tarifa em R$ 4,40. Agora, esse investimento, não é só questão do transporte. Quando eu mantive a tarifa, eu estava pensando em uma política pública maior.

Qual era? Nós temos hoje um problema sério de trânsito na cidade. Eu preciso incentivar o transporte coletivo e desincentivar o transporte individual. Eu precisava recuperar a economia da cidade. Lembrando que 2021 e 2022 foram anos de pandemia e retomar a economia fundamental, já que isso representa emprego e renda.

No ano passado, entre admissões e demissões, nosso saldo foi positivo de 129 mil empregos. Esse ano, só até junho, o saldo positivo foi de 107 mil empregos na cidade de São Paulo.

Até tem um candidato aí, que passou aqui, falou de uma coisa mirabolante de criar 2 milhões de empregos. Não existe isso, até porque a gente nem tem isso de desempregados na cidade de São Paulo. Não chega a 500 mil desempregados.

Ricardo Nunes, candidato a prefeito de São Paulo pelo MDB, participa de entrevista do Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

A questão da tarifa a minha intenção é continuar nos próximos 4 anos reduzindo impostos, eliminando taxas e mantendo a tarifa baixa. Agora, não vou cometer nenhuma irresponsabilidade de cravar alguma coisa. Por quê? Se tiver uma guerra, explode o diesel... Eu nunca vou atuar com irresponsabilidade.

Vocês não vão achar em nenhuma parte da minha história uma afirmação irresponsável. O meu desejo é esse. Agora, o que eu não vou fazer nunca? Tirar dinheiro da educação e da saúde. O que eu fiz de manter a tarifa? Criei o Domingão Tarifa Zero porque eu consegui melhorar a receita da cidade.

Eu trouxe uma saúde financeira para a cidade que foi importante. Só uma coisa importante do Domingão Tarifa Zero, isso não é só a questão de não pagar a tarifa. Tem questões como, por exemplo, a saúde mental. O pessoal da saúde, hoje, nos traz uma informação importante da grande maioria das pessoas que trabalham a semana inteira e que ficam o final de semana em casa, onde ele pode sair no domingo com a sua família ir no parque.

Nossos parques aumentaram a movimentação de domingo. Eu fui outro dia no parque do Carmo em Itaquera, havia 300 mil pessoas no domingo. Aumentou a participação nas missas, nos cultos, nos equipamentos públicos. A tarifa zero fez com que as pessoas pudessem sair.

Nós já transportamos mais de 100 milhões de passageiros do dia 17 de dezembro, quando foi instituída, até a semana retrasada. O dado atual eu não tenho. Mas eram 102 milhões de pessoas que utilizaram nesse período.

Havia uma meta de substituir 20% da frota em 2024 por ônibus elétricos. Mas hoje, de 12 mil ônibus, 180 são elétricos à bateria e mais 200 e poucos são trólebus. O que a Prefeitura propõe para acelerar essa transformação?

Essa é uma das coisas fundamentais dentro do contexto que a gente tem de proteção do meio ambiente, das questões de mudanças climáticas. Eu já tenho aprovado os recursos, mais de R$ 2 bilhões para fazer a substituição. Era nossa meta.

A indústria não havia produzido e não havia saído com os financiamentos. Por que o financiamento? Como a gente tem concessão, eu optei em não permitir que as empresas concessionárias fizessem a aquisição. Eu preferi que a Prefeitura faça a aquisição.

Só para as pessoas entenderem como eu governo: o nosso TIR [Taxa Interna de Retorno, indicador da viabilidade econômica de um projeto ou investimento] da concessão é de 9%. Caso eles fizessem essa aquisição do ônibus elétrico, eu teria que remunerar, pelo contrato, um ativo de 9%.

Eu consigo esse valor muito mais baixo no mercado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, com o Banco Mundial, com o BNDES. Acabei de liberar agora mais de R$ 1 bilhão do BNDES. Então, eu trago economia para a cidade. E essa substituição dos ônibus, além de trazer esse benefício do meio ambiente, a gente vai conseguir trazer um benefício financeiro para a cidade.

Nosso tempo é curto, mas acho que é bacana as pessoas entenderem como é que eu penso. Um ônibus a diesel custa em torno de R$ 700 mil. O elétrico, R$ 2,4 milhões. ‘Nossa, mas o prefeito vai trocar R$ 700 mil por R$ 2,4 milhões?’. Sim, porque a gente vai deixar de emitir dióxido de carbono para o meio ambiente. E o que acontece? Quando a gente pega o custo mensal, no ônibus a diesel gastamos mais ou menos R$ 25 mil por mês. O elétrico será R$ 5 mil.

Ricardo Nunes, candidato a prefeito de São Paulo pelo MDB, participa de sabatina do Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

Eu vou ter uma economia de R$ 20 mil. Em um ano, R$ 240 mil. Em dez anos, R$ 2,4 milhões. Ou seja, basicamente, a gente paga o valor de investimento no decorrer do tempo. A gente consegue melhorar o meio ambiente, a qualidade do ar, a poluição sonora e, mesmo assim, ainda ter economia.

Queria tocar num ponto muito polêmico, que é a cooptação de partes do sistema público de transporte pelo PCC. A primeira operação policial, que é a Ataraxia, do Denarc, em julho de 2022, que pega a UpBus já mostrava que toda a direção da empresa estava entregue à facção. Com tudo que já se sabia em julho de 2022, a UpBus continuou operando as linhas de ônibus até vir a Operação Fim da Linha em abril de 2024. Sabendo-se que a cúpula da facção era acionista dessa empresa, por que a Prefeitura já não interveio? Nesse período a empresa recebeu mais R$ 100 milhões da Prefeitura.

Em 2022, realmente teve aquela operação da Polícia Civil. Não foi só na UpBus, foi em uma outra empresa, não vou citar o nome aqui e vou dizer o porquê: o sócio daquela empresa, que foi preso, ele foi liberado e foi absolvido. Por que eu estou contando isso?

Quando você tem uma investigação, uma pessoa tem uma prisão preventiva, é necessário que passe por todo esse processo de verificação das provas e condenação. O que eu fiz há dois anos atrás? Eu vou te dar aqui com toda a transparência o nome e todo o episódio.

Chamei a doutora Marina Magro, procuradora-geral do município, o Daniel Falcão, o controlador-geral, e falei o seguinte: ‘Tem essa situação aqui, nós precisamos resolver isso’. Eu não posso cancelar o contato porque se trata só de uma investigação. Não tem ali uma condenação. Nem tem até hoje, olha só como é complicado e demorado esse processo.

Não é uma crítica ao Judiciário ou ao Ministério Público, é só uma constatação. E aí, o que aconteceu? Eles [Magro e Falcão] foram lá, a meu pedido e falaram assim: ‘Nós estamos aqui à disposição e solicitamos que tenha celeridade’. Demorou dois anos.

Mas isso vale para a Transcap, eu falo o nome porque a gente publicou, ele foi absolvido de fato. No caso da UpBus, no entanto, Silvio Cebola era foragido, procurado pela Justiça. Outros integrantes da facção faziam parte da direção da UpBus. Foram encontrados até 500 quilos de drogas dentro das instalações da empresa. Mesmo assim, no caso da UpBus, por que demorou tanto? O que a Prefeitura poderia fazer, ou o senhor poderia fazer, para melhorar isso e evitar que situações como essa voltem a acontecer?

Precisamos colocar o seguinte: a licitação ocorreu em 2019. Já que você conhece bem o caso, fico muito mais confortável. Em 2019, a licitação foi regida pela Lei 8.666. Quando você tem a regra da licitação, portanto, a regra da legislação, são solicitados os documentos. Essa empresa apresentou, por exemplo, o atestado da Receita Federal, e estava tudo ok.

Ou seja, atendeu a todos os requisitos. Em uma licitação, pela impessoalidade, definem-se as empresas que conseguem atender aos critérios. O contrato foi assinado. Vamos lá para 2022, quando ocorreu a operação e o Silvio Cebola não aparecia no quadro societário.

Tem toda uma história, mas ele não aparecia no quadro de sócios. Quando chega 2022 e acontece a operação, eu pedi para agir. Aí, demorou dois anos para saírem as decisões judiciais. Quem estava envolvido? A Marina e o Daniel, de dois anos atrás. O próprio Lincoln [Gakiya], que é um grande promotor [sabia].

Mas só pra você ver, a gente precisa ter essa transparência. A Prefeitura ofereceu apoio ao MP, o Lincoln, que atuou dois anos atrás, e só depois de dois anos saiu a operação. Uma coisa importante: a questão judicial não era para fazer intervenção na UpBus.

Era para fazer intervenção na Transwolff. Como eu já conhecia essa história, eu disse: ‘Opa, quem decidiu fazer a intervenção na UpBus fui eu.’ Eu tomei a iniciativa e fiz a intervenção. Acho que isso é importante, porque mostra o quê? Coragem. A gente precisa remover a influência dessa organização criminosa.

Não tenha dúvida quanto a isso. Eu tenho coragem, determinação e comprometimento para fazer o que for necessário. Então, eu fiz a intervenção na UpBus. O que significa fazer intervenção? Você remove toda a diretoria e a Prefeitura assume. Não há mais a diretoria da administração da Prefeitura de São Paulo.

Teve mais coisas que eu fiz. Eu pedi que a Prefeitura fosse assistente de acusação. Nós somos assistentes de acusação nesse processo. Não há ninguém mais interessado nesse processo do que eu. Dá pra cancelar o contrato sem que haja uma condenação? Não tem como cancelar. Teve condenação? Não vai ser no dia seguinte, vai ser na hora.”

Falando um pouco sobre essa tentativa de infiltração do crime no serviço público, que a gente vê acontecer em vários lugares, o Gaeco chamou de milícia o grupo formado por guardas civis — e não só guardas civis, havia outras figuras também — que estavam cobrando de comerciantes no centro, segundo a operação recente do Ministério Público. O senhor evita falar em milícia…

Eu não evito, não. Eu afirmo categoricamente que não existe milícia e que, com todo o respeito à instituição do Ministério Público e aos promotores…

Você acha que não é milícia?

Eu tenho certeza. Achar é uma coisa, eu tenho certeza. Não existe milícia na nossa cidade. Milícia é uma coisa, que você está ali, as pessoas trabalhando na instituição, com cargo de chefia. Aqui não. Aqui a gente teve algumas pessoas, de uma forma errada, acabaram cometendo alguma ilegalidade.

Mas o senhor considera que foi um episódio grave?

Gravíssimo. Tanto é que esse GCM que foi preso agora nessa operação, eu já havia solicitado a prisão dele em junho do ano passado. Liguei para o Mario Sarrubbo, que era o Procurador-Geral de Justiça, e pedi ao Ministério Público que solicitasse a prisão desse GCM. Por quê? Porque há um áudio dele, em um grupo da organização, no qual ele admite ter feito uma cobrança de uma empresa dele. Ou seja, existia um fato concreto. Eu não seria leviano em fazer esse pedido sem fundamento. Em junho do ano passado, fui eu quem pediu. O Ministério Público não concedeu. E agora saiu a prisão dele.

Não existe milícia na nossa cidade. Milícia é uma coisa, que você está ali, as pessoas trabalhando na instituição, com cargo de chefia. Aqui não. Aqui a gente teve algumas pessoas, de uma forma errada, acabaram cometendo alguma ilegalidade.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

Só para você ver que estamos nos antecipando às ações. A minha Controladoria, que tem, inclusive, recebido vários prêmios pelo combate à corrupção e pela transparência, ampliou o quadro. Todos muito comprometidos em defender a nossa cidade contra a corrupção. Então, só para deixar claro: em junho do ano passado, fui eu quem pediu a prisão do GCM, mas o MP não a concedeu.

Talvez o MP fale isso porque essa ‘taxa de proteção’ é uma característica de organizações mafiosas, milícias, etc.

Mas não é a instituição, né? É um caso isolado. Eu já demiti aquele cara, já o afastei.

Um aspecto fundamental da zeladoria urbana são os fiscais da subprefeituras. Em 2013, eram 513 e agora em janeiro de 2024 eram 300, uma queda contínua ao longo dos últimos governos. Como fazer zeladoria urbana se não tem zelador?

Eu tenho orgulho de ter sido o prefeito que conseguiu ajustar as finanças da cidade. Só na área da educação, chamei mais de 15 mil professores, todos de concurso. Quanto aos fiscais de postura, chamei 200, acho que 230. Realmente, o número estava baixo. Lá atrás, tínhamos um déficit de funcionários. Chamei mais de 2.400 guardas civis metropolitanos. Para o SAMU, foram 862 profissionais. Você vê, o SAMU tinha 60 viaturas, hoje tem 140. Reduzi o tempo de atendimento em 8 minutos. Fiz a Operação Delegada com os bombeiros para apoiar o SAMU.

Por que estou te contando isso? Porque consegui ajustar as finanças e, com isso, ter a capacidade de me comprometer com o custeio, chamando novos profissionais. Isso demanda tempo. Quando chamei os fiscais este ano significa que há mais de um ano tive que abrir o concurso, realizar as provas e abrir recursos. Esse processo para convocar profissionais concursados leva tempo. A boa notícia é que já temos mais 200 fiscais trabalhando e a tendência é que esse quadro melhore.

Uma questão que chamou atenção no período de chuvas que tivemos é a poda de árvores. O site da Prefeitura diz o seguinte: ‘a poda de árvores está entre os serviços mais solicitados. No entanto, o serviço pode demorar, em média, de seis meses a um ano para ser executado. Em caso de risco iminente de queda, o serviço entra em uma lista de prioridade’. Seria razoável o cidadão esperar seis meses, ou até um ano, por uma poda de árvore?

Muito possivelmente estamos falando de casos que têm alguma conexão com a Enel, quando a árvore está encostada no fio. Quando isso acontece, eu preciso comunicar à Enel para que alguém desligue a energia, e eles cortam os galhos que estão encostados. Depois, fazemos o complemento da poda. Fora isso, em relação às equipes, hoje temos, em todas as subprefeituras, mais de oitenta equipes realizando esse serviço de poda na cidade de São Paulo. Temos melhorado bastante.

Agora, o que é positivo é que temos muitas árvores. Foram plantadas 600 mil árvores, plantadas apenas nas vias da cidade, sem contar os parques, no ano passado — o que já é um avanço. É claro que ainda há necessidade de melhorias. Tinha um caso sério da Enel, mas a equipe da Enel também está se aprimorando. Eles mandaram embora o (antigo presidente da companhia em SP) Max (Xavier Lins), que era muito ruim, e colocaram o Antônio Scala, com quem conseguimos dialogar melhor para melhorar a qualidade do serviço.

Se eu pudesse, tiraria a Enel daqui. Mas como não tenho essa possibilidade, pois é uma concessão federal, estou buscando dialogar e colaborar com eles. A boa notícia é que, até o presente momento, o Antônio Scala, que é o novo presidente, tem sido muito acessível. Quando houve aquela falta de energia, duas semanas atrás em São Paulo, nós conversamos rapidamente Temos uma comunicação direta entre o prefeito e o presidente. Não dá para o prefeito ficar falando como era antigamente ou ficar batendo boca com o Max. Então, apesar de todas as restrições que tenho em relação à Enel e achar que ela deveria sair daqui, hoje a situação melhorou.

O senhor tem sido questionado, inclusive, pelo Supremo Tribunal Federal , em relação ao aborto legal. O que o pretende fazer para que essa dificuldade que as mulheres encontraram nos hospitais da prefeitura não se repitam no seu segundo mandato?

Às vezes as pessoas têm esse questionamento porque, do meu ponto de vista, as informações acabaram sendo desviadas, desvirtuadas. Por quê? Porque eu sou católico praticante, sou pró-vida, defendo a vida desde a concepção. Agora, é óbvio que defendo o aborto legal, previsto em lei e por decisão judicial. Não houve, na minha gestão, e não haverá, nenhum tipo de descumprimento em relação a isso.

O que aconteceu foi uma ação do PSOL relacionada aos procedimentos realizados no Hospital da Cachoeirinha. O STF agora está querendo discutir até questões do cotidiano da saúde aqui, né? Está bastante... Bom, tudo bem. O que ocorreu foi que tínhamos uma fila de 1.200 mulheres aguardando cirurgia de endometriose, uma cirurgia muito necessária. Os médicos, que são as pessoas mais qualificadas para definir onde os procedimentos devem ser realizados, indicaram que o hospital da Cachoeirinha tinha melhores condições. Então, transferimos o aborto legal para outras unidades.

Ricardo Nunes, candidato do MDB à Prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

A ideia de que foi proibido realizar o aborto legal não é real, posso te garantir. Não é real. Agora, não quer dizer que algum funcionário, dentro de uma gestão com 118 mil colaboradores só na área da saúde, não possa ter agido de forma inadequada. Pode acontecer, por exemplo. Mas, via de regra, a gestão tem a orientação de realizar os procedimentos conforme a lei. Eu zerei a fila de cirurgias para endometriose.

Um funcionário que tentar de alguma forma dificultar a vida de uma mulher que já foi vítima de um monstro, o senhor vai punir?

Com certeza. E, por isso, temos a nossa Ouvidoria, a nossa Controladoria, e todos os mecanismos necessários para corrigir qualquer desvio de algum funcionário. O que há hoje na Prefeitura de São Paulo é uma adequação. Tenho falado isso com muita transparência: não é o prefeito, nem o ministro ou qualquer outro órgão que vai definir melhor onde os procedimentos podem ser realizados, senão aqueles que estão na linha de frente. Tenho dado bastante autonomia à minha equipe, mas, evidentemente, orientando sempre no cumprimento da legislação e das decisões judiciais.

O senhor sempre destaca o fato de ter 7 mil obras na cidade. Mas recebe críticas pelo fato de que uma grande parte dessas obras, ou uma parte importante, se dá por meio de contratos emergenciais. Por quê? Não parece que faltou planejamento em algum momento e foi preciso acelerar, ou eventualmente preciso terminar rápido porque vem a eleição?

Das 7 mil obras, eu fiz muito mais obras nos anos anteriores, em torno de 5 mil, e esse ano em 2 mil. Eu fiz mais obras antes do período eleitoral. O que é obra emergencial? O nome: emergência. Por exemplo, em 2019, na gestão do prefeito Bruno Covas, aquela ponte da Marginal colapsou e parou a cidade inteira. Por que foi uma obra emergencial? Não dá para esperar um ano, dois anos para fazer uma licitação. Você tem que resolver aquela situação.

Quando você tem uma casa que está na beira de um córrego com risco de vida das pessoas, você tem que fazer a obra emergencial. Quando você tem uma situação de uma de ponte, uma pista, e acontece muito de ela desmoronar, fazer um buraco, você precisa restabelecer. A obra emergencial tem um critério, tem uma legislação, a gente comunica antes ao Tribunal de Contas do Município. Quem faz a definição se é obra emergencial ou não são engenheiros da prefeitura, concursados, e a defesa civil.

[As pessoas falam que] aumentou [o número de obras emergenciais]. Eu saí de quase mil obras para sete mil. Tem que ter uma proporcionalidade nessa análise. Esse ano eu coloquei R$ 18 bilhões de investimentos. Ano passado foram R$ 14 bilhões. No ano retrasado, R$ 8,5 bilhões. Qual foi o maior investimento fora esses anos que eu sou prefeito? Foi em 2020, de R$ 4,1 bilhões. Olha o quanto a gente elevou a capacidade de investimento da cidade.

Agora tem uma coisa importante: quanto custa uma vida? Qual seria a posição da população se o prefeito tem uma situação de uma pessoa que está com risco de vida e não vai lá e não resolve? Não existe nenhum tipo de desvio, de malversação do dinheiro público. Existe um atendimento de uma necessidade numa cidade de 12 milhões de habitantes que tinha, até então, uma dificuldade de fazer investimentos de infraestrutura nessas questões das áreas de risco. Hoje ainda tem 14 mil casas em área de risco. Nos meus próximos quatro anos eu vou tirar todas essas 14 mil da área de risco.

O senhor tem um programa habitacional que o senhor diz que é o maior na história da cidade...

Eu disse, não. É.

Já não dava para ter tirado, então, essas pessoas. O senhor tem 72 mil unidades habitacionais [entre entregues, em obras e já contratadas]. Isso já não dava para ter sido feito então?

A gente tem hoje 21 mil famílias que estão no auxílio-aluguel. O gasto é R$110 milhões por ano

Mas a vida não está em risco.

Mas você tem uma ação de você ir resolvendo essa questão da fila que a gente tem do auxílio-aluguel. Por exemplo, as mulheres vítimas de violência com medida protetiva que estavam na fila, o que eu fiz? Eu dei a elas não a casa, porque elas inclusive não podem aparecer, mas a carta de crédito para elas comprarem as casas delas.

E nessas áreas de risco, não é só a moradia. Tem situações que você resolve. Se você está com uma casa na beira do córrego, que você faz a canalização, a contenção, ela deixa de ser área de risco. Se você está com uma casa numa encosta que você faz ali uma obra de contenção, ela sai da área de risco. Então tem casos que realmente você tem que remover. Por exemplo, Paraisópolis, Córrego do Antonico.

Tem 1.500 casas em cima do Córrego do Antonico. Teve um sábado à noite, me ligaram que tinham desabado casas lá. Eu fui lá para dentro. Inclusive uma pessoa foi soterrada. A gente já tirou 800, estamos tirando as outras 1.700.

Por exemplo, lá no Caboré, em São Mateus, onde alagava tudo, uma pessoa também morreu porque foi levada pela enchente. Já retiramos 600 casas. Temos programa habitacional e estamos fazendo. Pega no Grajaú, ali próximo da Vila Natal, da Chácara do Conde. Havia 900 casas na beira do córrego, contaminando uma área de manancial da represa Guarapiranga. Nós retiramos 899, porque tem uma casa...

Estou fazendo o maior programa habitacional do Brasil lá: 2.711 casas, estou fazendo um CEU, duas creches e UBS. Sete mil obras em todo canto da cidade. A gente está fazendo esse processo. Agora tem as casas R3, R2, R1.

Esse ‘R’ é de risco. O risco 1, 2, 3, 4, quando chega no 4 é o maior risco. Então, a gente já tirou bastante de área de risco. Todas essas que eu comentei com você e tantas outras casas que estavam em área de risco e que a gente está no processo de resolver.

Eu peguei 2021 inteiro de pandemia, parte de 2022, e eu consegui, mesmo assim, avançar. Imagina nos próximos 4 anos. Com as contas ajustadas, com a saúde financeira feita, a gente vai ter 4 anos fantásticos na cidade.

O senhor tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele esteve no lançamento da sua candidatura, o vice é do PL, mas de lá para cá ele não tem feito agendas com o senhor e não gravou ainda para o programa eleitoral. O senhor está satisfeito ou o cálculo era esse, de que ele não participaria mais diretamente da campanha?

Participa e deve participar, sim, com certeza. Nós temos lá no nosso banco de dados mais de 2 horas de gravação com o presidente Bolsonaro das ações que a gente teve junto. Agora, eu preciso, inclusive, tê-lo junto para até fazer um vídeo falando do acordo do Campo de Marte quando eu consegui, quando ele era presidente, resolver a dívida da cidade de 25 bilhões.

Ele vai gravar com o senhor?

Vai, vai, vai gravar. Agora, olha, ele está viajando...

Ele não tem agenda prevista para São Paulo. Fica parecendo que ele apoia o senhor, mas ao mesmo tempo não vem, demora a gravar....

Não, não. Ele ficou 3 horas e 40 minutos em cima do palco, ele e a Michelle Bolsonaro lá na minha convenção. Ele chegou antes do que eu. Quando eu cheguei, ele já estava lá no palco.

Ele ficou o tempo inteiro, discursou, falou, firmou o compromisso na convenção, que ali é um ato oficial público, né? O [governador] Tarcísio [de Freitas], ontem, a gente foi fazer uma visita lá em Perus, onde eu estou fazendo uma obra de quase R$ 200 milhões para resolver aquela enchente, com quatro piscinões, canalização do ribeirão Perus, e o Tarcísio comigo. Conjuntamente, ele está fazendo toda a ligação de captação e tratamento de esgoto.

Você acredita que Pirituba e Perus não têm tratamento de esgoto? Zero. E agora vai ser 100%.

O Tarcísio é visível que ele está efetivamente na campanha.

Fomos fazer uma caminhada, no comércio todinho ali de Perus, do começo ao fim o Tarcísio comigo. Semana passada a gente foi fazer caminhada em Itaquera.

O governador não há duvida, inclusive gravando...

Mas é o maior representante dele [Bolsonaro] aqui. Por isso que eu estou falando dele.

Há um tom muito agressivo entre os candidatos, nós vimos isso em vários debates. Em um eventual segundo turno, o senhor vai precisar de apoio. Se for contra o Marçal, dos eleitores do Boulos. E se for contra o Boulos, dos eleitores do Marçal. O senhor não deve espantar esses eleitores por causa desse tom agressivo? Uma hora o senhor diz que o Boulos é invasor, outra que o Marçal é ligado a facção. Essas coisas , não o prejudicam no segundo turno?

Todos sabem da forma como eu sou. Sempre fui uma pessoa muito ponderada, cristão, uma pessoa que tem bastante controle emocional. Mas quando você está na frente de um Guilherme Boulos, de um Pablo Marçal, que são pessoas muito difíceis, muito agressivas, eu também sou um ser humano. Quando você tem ali aquele Pablo Marçal falando tantas mentiras, ele me chama de comunista... Ele mente demais, é o tempo inteiro mentindo. E aí é muito ataque, né? Ele esteve aqui, ele fala um palavreado de organização criminosa. Eu não tenho medo de organização criminosa. Eu não tenho medo de Pablo Marçal.

Ele falou que vai prender o senhor.

Quem vai prender ele vou ser eu. Ele e o Avalanche, que é o presidente do diretório dele. Tem o áudio do [Leonardo] Avalanche onde fala que ele participou da soltura do André do Rap, que é um dos maiores traficantes do Brasil. Aí vamos para o nível estadual, que é o tal do [Tarcísio] Escobar, tem até uma coincidência ainda com o Pablo Escobar, que está investigado por trocar carro de luxo com cocaína. Aí vamos para o nível municipal, que é o tal do Maiquel, que estava ao lado dele na convenção, que foi condenado e cumpriu pena por sequestro. Olha a turma que nós estamos falando.

Quem vai prender ele [Marçal] vou ser eu. Ele e o Avalanche, que é o presidente do diretório dele.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

Você acha que eu vou deixar essa turma entrar na cidade de São Paulo? Eu, como prefeito, eu tenho informações privilegiadas de todos os contribuintes. Imagina um cara que mandava e-mail para as pessoas acessarem o e-mail e ele tirar o dinheiro das pessoas humildes e dos aposentados. A gente precisa também, uma certa hora, ter posicionamento para defender a nossa cidade.

Eu não vou deixar [vencer] uma pessoa que fez tantas invasões e que nega, fala “me prova a invasão que eu fiz”. Tem lá a nova Palestina, Copa do Povo, sabotou a nossa Copa [do Mundo], colocou pneu na rua e queimou. Eu tenho a função de continuar o meu trabalho, mas também tenho essa obrigação, como uma pessoa apaixonada pela cidade, de defender a cidade, de mostrar para as pessoas quem são esses candidatos. Nós estamos falando de um criminoso que foi condenado a 4 anos e 5 meses, que é envolvido com toda essa organização criminosa. Eu não vou deixar esse criminoso desse Pablo Marçal chegar perto da prefeitura.

Queria que o senhor me dissesse qual a diferença entre o PRTB e o que acontece em outros partidos. O União Brasil, que apoia o senhor, já teve candidato em Mogi com o mesmo problema de ligação com facção; PSD em Santo André, o Republicanos em Embu. Todos partidos que estão apoiando o senhor Qual a diferença?

A diferença é que eu não tenho nenhuma relação com nenhuma dessas pessoas, nunca ouvi qualquer coisa de errada. Tem 30 anos que estou atuando na política, nunca tive um indiciamento, uma condenação, e tem uma coisa fundamental: você participou do Roda Viva e viu o Pablo Marçal sentado naquela cadeira, falando o seguinte: que ele ia pedir o afastamento do Avalanche tendo em vista os fatos muito relevantes. É áudio, não é suspeita. É ele falando, é o áudio dele, é a voz dele, [ele falando] que participou da liberação do André do Rap.

E o que ele [Marçal] fez logo em seguida? Trouxe o Avalanche do lado e falou: eu vou honrar essa pessoa. Quem vai honrar vou ser eu a população de São Paulo. Ele deu um recado pra todo mundo, de que essa turma ele está junto. Nesse intervalo, essa turma do PCC deve ter pego ele, que é um ‘tchutchuca’ do PCC, e ter dado uma dura nele e falado: vai lá e corrija isso aí. Ele está dominado por essas pessoas, nós não podemos deixar essa turma assumir a prefeitura de São Paulo.

O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) negou, durante sabatina realizada pelo Estadão, que Jair Bolsonaro (PL) não participe de sua campanha à reeleição e afirmou que o ex-presidente vai gravar material ao lado dele para exibição na propaganda eleitoral na televisão. A íntegra da entrevista com o emedebista, gravada em vídeo, será publicada às 15h.

“[Bolsonaro] participa e deve participar, com certeza”, disse Nunes, que ponderou que o aliado viaja pelo País para fazer campanha em outras cidades. “Nós temos no nosso banco de dados mais de 2 horas de gravações com o presidente Bolsonaro das ações que a gente fez junto. Eu preciso, inclusive, tê-lo junto até para fazer um vídeo do acordo do Campo de Marte. Eu consegui, quando ele era presidente, resolver a dívida da cidade de R$ 25 bilhões [com a União]. Agora ele está viajando”, continuou.

O acordo pôs fim a uma disputa de décadas na Justiça. A Prefeitura concordou que o terreno pertence ao governo federal em troca do abatimento do débito bilionário.

A campanha eleitoral começou há quase um mês, mas Bolsonaro ainda não fez campanha ao lado do emedebista apesar de ter vindo a São Paulo para o ato do 7 de Setembro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) — agenda inicial de compromissos do ex-presidente em setembro não prevê outras presenças dele na capital paulista — e nem apareceu no horário eleitoral gratuito. Nas redes sociais, gravou um vídeo no início de agosto em que reafirma estar com Nunes em meio à migração do eleitorado bolsonarista para Pablo Marçal (PRTB).

O prefeito declarou também que, pelo histórico das eleições paulistanas, a existência de um eleitorado de esquerda na cidade e o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acredita que Guilherme Boulos (PSOL) irá para o segundo turno com ele. Pesquisa Quaest divulgada na quarta-feira, 12, coloca Nunes com 24%, Marçal com 23% e Boulos com 21%. O emedebista ganharia dos dois adversários em um eventual segundo turno.

Prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB) concede entrevista ao Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

“Eu ganho tanto do Boulos como do Pablo Marçal. Acho que é um reconhecimento da população, do trabalho que a gente desenvolveu e das nossas entregas.”, disse Nunes, que comemorou continuar na disputa pela liderança mesmo após a entrada e subida de Marçal, com quem reconhece dividir o eleitorado.

“Mesmo tendo uma pessoa com essa forte atuação na rede social, mesmo com os métodos que ele utiliza, mente bastante. Mesmo assim eu tenho conseguido manter a liderança e uma baixíssima rejeição”, analisou.

O prefeito disse que sua intenção é manter a tarifa de ônibus baixa em um eventual segundo mandato, mas evitou cravar que manterá o valor congelado em R$ 4,40 como ocorreu nos últimos quatro anos. “Não vou cometer nenhuma irresponsabilidade. Se tiver uma guerra e explode o diesel?”, argumentou.

Ele também afirmou que não há uma milícia formada por guardas civis metropolitanos e policiais na Cracolândia. A declaração vai na contramão do que diz o Ministério Público, que aponta a existência de um grupo organizado para extorquir comerciantes na região.

“Não existe milícia na nossa cidade. A gente teve algumas pessoas de uma forma errada, acabaram cometer alguma ilegalidade”, justificou.

Confira a íntegra da entrevista:

As pesquisas mostram, com algumas diferenças nos números, o senhor, Guilherme Boulos e Pablo Marçal brigando pela ponta. Considerando que o senhor acredita ir ao segundo turno, quem o senhor acha que provavelmente vai com o senhor?

Eu tenho impressão, pelo histórico das eleições da cidade, de que possivelmente vá comigo para o segundo turno Guilherme Boulos. Ele tem um eleitor de esquerda na cidade, o apoio do presidente Lula, isso deve ter um peso. Imagino que seja ele.

Mas tanto faz. Se vier ele, vier o Marçal, eu ganho dos dois. Tem um dado muito importante que é a rejeição. Nesse momento, você ter a rejeição baixa é o fundamental. Não é nem quem está primeiro, segundo, terceiro. Eu fico feliz de estar ali em primeiro, mas o fundamental é rejeição baixa.

E essa questão do segundo turno é aonde eu ganho tanto do Boulos como do Pablo Marçal, por uma margem bastante distante. Bem tranquilo, acho que é um reconhecimento da população, do trabalho que a gente desenvolveu, das entregas que a gente colocou.

Eu tenho impressão, pelo histórico das eleições da cidade, de que possivelmente vá comigo para o segundo turno Guilherme Boulos. Ele tem um eleitor de esquerda na cidade, o apoio do presidente Lula, isso deve ter um peso.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

E do cenário geral teve essa entrada por último do Pablo Marçal dentro do processo eleitoral, que basicamente era o eleitor que vinha comigo. Você vê o quanto eu estava bem, estou bem, que mesmo tendo uma pessoa com essa forte atuação na rede social, mesmo com os métodos que ele utiliza, mente bastante, eu tenho conseguido manter a liderança e uma baixíssima rejeição.

E os outros candidatos, tanto o Boulos quanto o Pablo Marçal, uma rejeição altíssima. Eu vi agora uma pesquisa que saiu ontem, a rejeição do Datena perto dos 60 pontos (na pesquisa Quaest). Rejeição baixa é algo importante no processo eleitoral.

O senhor pretende reajustar a tarifa de ônibus se o senhor ganhar um segundo mandato?

A gente não pode ver essa questão da tarifa de ônibus só dentro do contexto de planilha tarifária. Precisamos ver no contexto de mobilidade e de políticas públicas outras. Por exemplo, o ‘Mamãe Tarifa Zero’ que eu vou fazer. A gente tem uma alegria enorme de pelo quarto ano consecutivo ter vaga de creche para todas as crianças.

E isso quer dizer o quê? A mãe poder trabalhar no momento que a gente está batendo recorde de geração de emprego e renda. Estou com o menor índice de desemprego desde 2015. E tem algo fundamental nesse processo todo: a criança que passa pela creche vai ter 25% a mais de capacidade de assimilar o aprendizado.

Lá ela tem as professoras, as pedagogas, as cinco alimentações [diárias], que são nutricionistas que fazem o cardápio. A criança, desde que está um dia na barriga da mamãezinha até os sete anos é o momento onde vai se desenvolver o cérebro melhor por conta da plasticidade, inclusive das reações cognitivas.

Então a gente não pode perder essa etapa. Se perder....

Mas em relação à tarifa, você vai ter um custo maior para a prefeitura também. E cada real que você coloca a mais no subsídio para as empresas de ônibus é um real a menos para obras e outras áreas da Prefeitura, como aumentar salário dos professores. São escolhas. O senhor pretende ou não reajustar a tarifa se ampliar a tarifa zero como está prometendo?

Eu sou o prefeito que manteve a tarifa congelada pelo maior tempo. É o quarto ano consecutivo que a gente manteve a tarifa em R$ 4,40. Agora, esse investimento, não é só questão do transporte. Quando eu mantive a tarifa, eu estava pensando em uma política pública maior.

Qual era? Nós temos hoje um problema sério de trânsito na cidade. Eu preciso incentivar o transporte coletivo e desincentivar o transporte individual. Eu precisava recuperar a economia da cidade. Lembrando que 2021 e 2022 foram anos de pandemia e retomar a economia fundamental, já que isso representa emprego e renda.

No ano passado, entre admissões e demissões, nosso saldo foi positivo de 129 mil empregos. Esse ano, só até junho, o saldo positivo foi de 107 mil empregos na cidade de São Paulo.

Até tem um candidato aí, que passou aqui, falou de uma coisa mirabolante de criar 2 milhões de empregos. Não existe isso, até porque a gente nem tem isso de desempregados na cidade de São Paulo. Não chega a 500 mil desempregados.

Ricardo Nunes, candidato a prefeito de São Paulo pelo MDB, participa de entrevista do Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

A questão da tarifa a minha intenção é continuar nos próximos 4 anos reduzindo impostos, eliminando taxas e mantendo a tarifa baixa. Agora, não vou cometer nenhuma irresponsabilidade de cravar alguma coisa. Por quê? Se tiver uma guerra, explode o diesel... Eu nunca vou atuar com irresponsabilidade.

Vocês não vão achar em nenhuma parte da minha história uma afirmação irresponsável. O meu desejo é esse. Agora, o que eu não vou fazer nunca? Tirar dinheiro da educação e da saúde. O que eu fiz de manter a tarifa? Criei o Domingão Tarifa Zero porque eu consegui melhorar a receita da cidade.

Eu trouxe uma saúde financeira para a cidade que foi importante. Só uma coisa importante do Domingão Tarifa Zero, isso não é só a questão de não pagar a tarifa. Tem questões como, por exemplo, a saúde mental. O pessoal da saúde, hoje, nos traz uma informação importante da grande maioria das pessoas que trabalham a semana inteira e que ficam o final de semana em casa, onde ele pode sair no domingo com a sua família ir no parque.

Nossos parques aumentaram a movimentação de domingo. Eu fui outro dia no parque do Carmo em Itaquera, havia 300 mil pessoas no domingo. Aumentou a participação nas missas, nos cultos, nos equipamentos públicos. A tarifa zero fez com que as pessoas pudessem sair.

Nós já transportamos mais de 100 milhões de passageiros do dia 17 de dezembro, quando foi instituída, até a semana retrasada. O dado atual eu não tenho. Mas eram 102 milhões de pessoas que utilizaram nesse período.

Havia uma meta de substituir 20% da frota em 2024 por ônibus elétricos. Mas hoje, de 12 mil ônibus, 180 são elétricos à bateria e mais 200 e poucos são trólebus. O que a Prefeitura propõe para acelerar essa transformação?

Essa é uma das coisas fundamentais dentro do contexto que a gente tem de proteção do meio ambiente, das questões de mudanças climáticas. Eu já tenho aprovado os recursos, mais de R$ 2 bilhões para fazer a substituição. Era nossa meta.

A indústria não havia produzido e não havia saído com os financiamentos. Por que o financiamento? Como a gente tem concessão, eu optei em não permitir que as empresas concessionárias fizessem a aquisição. Eu preferi que a Prefeitura faça a aquisição.

Só para as pessoas entenderem como eu governo: o nosso TIR [Taxa Interna de Retorno, indicador da viabilidade econômica de um projeto ou investimento] da concessão é de 9%. Caso eles fizessem essa aquisição do ônibus elétrico, eu teria que remunerar, pelo contrato, um ativo de 9%.

Eu consigo esse valor muito mais baixo no mercado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, com o Banco Mundial, com o BNDES. Acabei de liberar agora mais de R$ 1 bilhão do BNDES. Então, eu trago economia para a cidade. E essa substituição dos ônibus, além de trazer esse benefício do meio ambiente, a gente vai conseguir trazer um benefício financeiro para a cidade.

Nosso tempo é curto, mas acho que é bacana as pessoas entenderem como é que eu penso. Um ônibus a diesel custa em torno de R$ 700 mil. O elétrico, R$ 2,4 milhões. ‘Nossa, mas o prefeito vai trocar R$ 700 mil por R$ 2,4 milhões?’. Sim, porque a gente vai deixar de emitir dióxido de carbono para o meio ambiente. E o que acontece? Quando a gente pega o custo mensal, no ônibus a diesel gastamos mais ou menos R$ 25 mil por mês. O elétrico será R$ 5 mil.

Ricardo Nunes, candidato a prefeito de São Paulo pelo MDB, participa de sabatina do Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

Eu vou ter uma economia de R$ 20 mil. Em um ano, R$ 240 mil. Em dez anos, R$ 2,4 milhões. Ou seja, basicamente, a gente paga o valor de investimento no decorrer do tempo. A gente consegue melhorar o meio ambiente, a qualidade do ar, a poluição sonora e, mesmo assim, ainda ter economia.

Queria tocar num ponto muito polêmico, que é a cooptação de partes do sistema público de transporte pelo PCC. A primeira operação policial, que é a Ataraxia, do Denarc, em julho de 2022, que pega a UpBus já mostrava que toda a direção da empresa estava entregue à facção. Com tudo que já se sabia em julho de 2022, a UpBus continuou operando as linhas de ônibus até vir a Operação Fim da Linha em abril de 2024. Sabendo-se que a cúpula da facção era acionista dessa empresa, por que a Prefeitura já não interveio? Nesse período a empresa recebeu mais R$ 100 milhões da Prefeitura.

Em 2022, realmente teve aquela operação da Polícia Civil. Não foi só na UpBus, foi em uma outra empresa, não vou citar o nome aqui e vou dizer o porquê: o sócio daquela empresa, que foi preso, ele foi liberado e foi absolvido. Por que eu estou contando isso?

Quando você tem uma investigação, uma pessoa tem uma prisão preventiva, é necessário que passe por todo esse processo de verificação das provas e condenação. O que eu fiz há dois anos atrás? Eu vou te dar aqui com toda a transparência o nome e todo o episódio.

Chamei a doutora Marina Magro, procuradora-geral do município, o Daniel Falcão, o controlador-geral, e falei o seguinte: ‘Tem essa situação aqui, nós precisamos resolver isso’. Eu não posso cancelar o contato porque se trata só de uma investigação. Não tem ali uma condenação. Nem tem até hoje, olha só como é complicado e demorado esse processo.

Não é uma crítica ao Judiciário ou ao Ministério Público, é só uma constatação. E aí, o que aconteceu? Eles [Magro e Falcão] foram lá, a meu pedido e falaram assim: ‘Nós estamos aqui à disposição e solicitamos que tenha celeridade’. Demorou dois anos.

Mas isso vale para a Transcap, eu falo o nome porque a gente publicou, ele foi absolvido de fato. No caso da UpBus, no entanto, Silvio Cebola era foragido, procurado pela Justiça. Outros integrantes da facção faziam parte da direção da UpBus. Foram encontrados até 500 quilos de drogas dentro das instalações da empresa. Mesmo assim, no caso da UpBus, por que demorou tanto? O que a Prefeitura poderia fazer, ou o senhor poderia fazer, para melhorar isso e evitar que situações como essa voltem a acontecer?

Precisamos colocar o seguinte: a licitação ocorreu em 2019. Já que você conhece bem o caso, fico muito mais confortável. Em 2019, a licitação foi regida pela Lei 8.666. Quando você tem a regra da licitação, portanto, a regra da legislação, são solicitados os documentos. Essa empresa apresentou, por exemplo, o atestado da Receita Federal, e estava tudo ok.

Ou seja, atendeu a todos os requisitos. Em uma licitação, pela impessoalidade, definem-se as empresas que conseguem atender aos critérios. O contrato foi assinado. Vamos lá para 2022, quando ocorreu a operação e o Silvio Cebola não aparecia no quadro societário.

Tem toda uma história, mas ele não aparecia no quadro de sócios. Quando chega 2022 e acontece a operação, eu pedi para agir. Aí, demorou dois anos para saírem as decisões judiciais. Quem estava envolvido? A Marina e o Daniel, de dois anos atrás. O próprio Lincoln [Gakiya], que é um grande promotor [sabia].

Mas só pra você ver, a gente precisa ter essa transparência. A Prefeitura ofereceu apoio ao MP, o Lincoln, que atuou dois anos atrás, e só depois de dois anos saiu a operação. Uma coisa importante: a questão judicial não era para fazer intervenção na UpBus.

Era para fazer intervenção na Transwolff. Como eu já conhecia essa história, eu disse: ‘Opa, quem decidiu fazer a intervenção na UpBus fui eu.’ Eu tomei a iniciativa e fiz a intervenção. Acho que isso é importante, porque mostra o quê? Coragem. A gente precisa remover a influência dessa organização criminosa.

Não tenha dúvida quanto a isso. Eu tenho coragem, determinação e comprometimento para fazer o que for necessário. Então, eu fiz a intervenção na UpBus. O que significa fazer intervenção? Você remove toda a diretoria e a Prefeitura assume. Não há mais a diretoria da administração da Prefeitura de São Paulo.

Teve mais coisas que eu fiz. Eu pedi que a Prefeitura fosse assistente de acusação. Nós somos assistentes de acusação nesse processo. Não há ninguém mais interessado nesse processo do que eu. Dá pra cancelar o contrato sem que haja uma condenação? Não tem como cancelar. Teve condenação? Não vai ser no dia seguinte, vai ser na hora.”

Falando um pouco sobre essa tentativa de infiltração do crime no serviço público, que a gente vê acontecer em vários lugares, o Gaeco chamou de milícia o grupo formado por guardas civis — e não só guardas civis, havia outras figuras também — que estavam cobrando de comerciantes no centro, segundo a operação recente do Ministério Público. O senhor evita falar em milícia…

Eu não evito, não. Eu afirmo categoricamente que não existe milícia e que, com todo o respeito à instituição do Ministério Público e aos promotores…

Você acha que não é milícia?

Eu tenho certeza. Achar é uma coisa, eu tenho certeza. Não existe milícia na nossa cidade. Milícia é uma coisa, que você está ali, as pessoas trabalhando na instituição, com cargo de chefia. Aqui não. Aqui a gente teve algumas pessoas, de uma forma errada, acabaram cometendo alguma ilegalidade.

Mas o senhor considera que foi um episódio grave?

Gravíssimo. Tanto é que esse GCM que foi preso agora nessa operação, eu já havia solicitado a prisão dele em junho do ano passado. Liguei para o Mario Sarrubbo, que era o Procurador-Geral de Justiça, e pedi ao Ministério Público que solicitasse a prisão desse GCM. Por quê? Porque há um áudio dele, em um grupo da organização, no qual ele admite ter feito uma cobrança de uma empresa dele. Ou seja, existia um fato concreto. Eu não seria leviano em fazer esse pedido sem fundamento. Em junho do ano passado, fui eu quem pediu. O Ministério Público não concedeu. E agora saiu a prisão dele.

Não existe milícia na nossa cidade. Milícia é uma coisa, que você está ali, as pessoas trabalhando na instituição, com cargo de chefia. Aqui não. Aqui a gente teve algumas pessoas, de uma forma errada, acabaram cometendo alguma ilegalidade.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

Só para você ver que estamos nos antecipando às ações. A minha Controladoria, que tem, inclusive, recebido vários prêmios pelo combate à corrupção e pela transparência, ampliou o quadro. Todos muito comprometidos em defender a nossa cidade contra a corrupção. Então, só para deixar claro: em junho do ano passado, fui eu quem pediu a prisão do GCM, mas o MP não a concedeu.

Talvez o MP fale isso porque essa ‘taxa de proteção’ é uma característica de organizações mafiosas, milícias, etc.

Mas não é a instituição, né? É um caso isolado. Eu já demiti aquele cara, já o afastei.

Um aspecto fundamental da zeladoria urbana são os fiscais da subprefeituras. Em 2013, eram 513 e agora em janeiro de 2024 eram 300, uma queda contínua ao longo dos últimos governos. Como fazer zeladoria urbana se não tem zelador?

Eu tenho orgulho de ter sido o prefeito que conseguiu ajustar as finanças da cidade. Só na área da educação, chamei mais de 15 mil professores, todos de concurso. Quanto aos fiscais de postura, chamei 200, acho que 230. Realmente, o número estava baixo. Lá atrás, tínhamos um déficit de funcionários. Chamei mais de 2.400 guardas civis metropolitanos. Para o SAMU, foram 862 profissionais. Você vê, o SAMU tinha 60 viaturas, hoje tem 140. Reduzi o tempo de atendimento em 8 minutos. Fiz a Operação Delegada com os bombeiros para apoiar o SAMU.

Por que estou te contando isso? Porque consegui ajustar as finanças e, com isso, ter a capacidade de me comprometer com o custeio, chamando novos profissionais. Isso demanda tempo. Quando chamei os fiscais este ano significa que há mais de um ano tive que abrir o concurso, realizar as provas e abrir recursos. Esse processo para convocar profissionais concursados leva tempo. A boa notícia é que já temos mais 200 fiscais trabalhando e a tendência é que esse quadro melhore.

Uma questão que chamou atenção no período de chuvas que tivemos é a poda de árvores. O site da Prefeitura diz o seguinte: ‘a poda de árvores está entre os serviços mais solicitados. No entanto, o serviço pode demorar, em média, de seis meses a um ano para ser executado. Em caso de risco iminente de queda, o serviço entra em uma lista de prioridade’. Seria razoável o cidadão esperar seis meses, ou até um ano, por uma poda de árvore?

Muito possivelmente estamos falando de casos que têm alguma conexão com a Enel, quando a árvore está encostada no fio. Quando isso acontece, eu preciso comunicar à Enel para que alguém desligue a energia, e eles cortam os galhos que estão encostados. Depois, fazemos o complemento da poda. Fora isso, em relação às equipes, hoje temos, em todas as subprefeituras, mais de oitenta equipes realizando esse serviço de poda na cidade de São Paulo. Temos melhorado bastante.

Agora, o que é positivo é que temos muitas árvores. Foram plantadas 600 mil árvores, plantadas apenas nas vias da cidade, sem contar os parques, no ano passado — o que já é um avanço. É claro que ainda há necessidade de melhorias. Tinha um caso sério da Enel, mas a equipe da Enel também está se aprimorando. Eles mandaram embora o (antigo presidente da companhia em SP) Max (Xavier Lins), que era muito ruim, e colocaram o Antônio Scala, com quem conseguimos dialogar melhor para melhorar a qualidade do serviço.

Se eu pudesse, tiraria a Enel daqui. Mas como não tenho essa possibilidade, pois é uma concessão federal, estou buscando dialogar e colaborar com eles. A boa notícia é que, até o presente momento, o Antônio Scala, que é o novo presidente, tem sido muito acessível. Quando houve aquela falta de energia, duas semanas atrás em São Paulo, nós conversamos rapidamente Temos uma comunicação direta entre o prefeito e o presidente. Não dá para o prefeito ficar falando como era antigamente ou ficar batendo boca com o Max. Então, apesar de todas as restrições que tenho em relação à Enel e achar que ela deveria sair daqui, hoje a situação melhorou.

O senhor tem sido questionado, inclusive, pelo Supremo Tribunal Federal , em relação ao aborto legal. O que o pretende fazer para que essa dificuldade que as mulheres encontraram nos hospitais da prefeitura não se repitam no seu segundo mandato?

Às vezes as pessoas têm esse questionamento porque, do meu ponto de vista, as informações acabaram sendo desviadas, desvirtuadas. Por quê? Porque eu sou católico praticante, sou pró-vida, defendo a vida desde a concepção. Agora, é óbvio que defendo o aborto legal, previsto em lei e por decisão judicial. Não houve, na minha gestão, e não haverá, nenhum tipo de descumprimento em relação a isso.

O que aconteceu foi uma ação do PSOL relacionada aos procedimentos realizados no Hospital da Cachoeirinha. O STF agora está querendo discutir até questões do cotidiano da saúde aqui, né? Está bastante... Bom, tudo bem. O que ocorreu foi que tínhamos uma fila de 1.200 mulheres aguardando cirurgia de endometriose, uma cirurgia muito necessária. Os médicos, que são as pessoas mais qualificadas para definir onde os procedimentos devem ser realizados, indicaram que o hospital da Cachoeirinha tinha melhores condições. Então, transferimos o aborto legal para outras unidades.

Ricardo Nunes, candidato do MDB à Prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

A ideia de que foi proibido realizar o aborto legal não é real, posso te garantir. Não é real. Agora, não quer dizer que algum funcionário, dentro de uma gestão com 118 mil colaboradores só na área da saúde, não possa ter agido de forma inadequada. Pode acontecer, por exemplo. Mas, via de regra, a gestão tem a orientação de realizar os procedimentos conforme a lei. Eu zerei a fila de cirurgias para endometriose.

Um funcionário que tentar de alguma forma dificultar a vida de uma mulher que já foi vítima de um monstro, o senhor vai punir?

Com certeza. E, por isso, temos a nossa Ouvidoria, a nossa Controladoria, e todos os mecanismos necessários para corrigir qualquer desvio de algum funcionário. O que há hoje na Prefeitura de São Paulo é uma adequação. Tenho falado isso com muita transparência: não é o prefeito, nem o ministro ou qualquer outro órgão que vai definir melhor onde os procedimentos podem ser realizados, senão aqueles que estão na linha de frente. Tenho dado bastante autonomia à minha equipe, mas, evidentemente, orientando sempre no cumprimento da legislação e das decisões judiciais.

O senhor sempre destaca o fato de ter 7 mil obras na cidade. Mas recebe críticas pelo fato de que uma grande parte dessas obras, ou uma parte importante, se dá por meio de contratos emergenciais. Por quê? Não parece que faltou planejamento em algum momento e foi preciso acelerar, ou eventualmente preciso terminar rápido porque vem a eleição?

Das 7 mil obras, eu fiz muito mais obras nos anos anteriores, em torno de 5 mil, e esse ano em 2 mil. Eu fiz mais obras antes do período eleitoral. O que é obra emergencial? O nome: emergência. Por exemplo, em 2019, na gestão do prefeito Bruno Covas, aquela ponte da Marginal colapsou e parou a cidade inteira. Por que foi uma obra emergencial? Não dá para esperar um ano, dois anos para fazer uma licitação. Você tem que resolver aquela situação.

Quando você tem uma casa que está na beira de um córrego com risco de vida das pessoas, você tem que fazer a obra emergencial. Quando você tem uma situação de uma de ponte, uma pista, e acontece muito de ela desmoronar, fazer um buraco, você precisa restabelecer. A obra emergencial tem um critério, tem uma legislação, a gente comunica antes ao Tribunal de Contas do Município. Quem faz a definição se é obra emergencial ou não são engenheiros da prefeitura, concursados, e a defesa civil.

[As pessoas falam que] aumentou [o número de obras emergenciais]. Eu saí de quase mil obras para sete mil. Tem que ter uma proporcionalidade nessa análise. Esse ano eu coloquei R$ 18 bilhões de investimentos. Ano passado foram R$ 14 bilhões. No ano retrasado, R$ 8,5 bilhões. Qual foi o maior investimento fora esses anos que eu sou prefeito? Foi em 2020, de R$ 4,1 bilhões. Olha o quanto a gente elevou a capacidade de investimento da cidade.

Agora tem uma coisa importante: quanto custa uma vida? Qual seria a posição da população se o prefeito tem uma situação de uma pessoa que está com risco de vida e não vai lá e não resolve? Não existe nenhum tipo de desvio, de malversação do dinheiro público. Existe um atendimento de uma necessidade numa cidade de 12 milhões de habitantes que tinha, até então, uma dificuldade de fazer investimentos de infraestrutura nessas questões das áreas de risco. Hoje ainda tem 14 mil casas em área de risco. Nos meus próximos quatro anos eu vou tirar todas essas 14 mil da área de risco.

O senhor tem um programa habitacional que o senhor diz que é o maior na história da cidade...

Eu disse, não. É.

Já não dava para ter tirado, então, essas pessoas. O senhor tem 72 mil unidades habitacionais [entre entregues, em obras e já contratadas]. Isso já não dava para ter sido feito então?

A gente tem hoje 21 mil famílias que estão no auxílio-aluguel. O gasto é R$110 milhões por ano

Mas a vida não está em risco.

Mas você tem uma ação de você ir resolvendo essa questão da fila que a gente tem do auxílio-aluguel. Por exemplo, as mulheres vítimas de violência com medida protetiva que estavam na fila, o que eu fiz? Eu dei a elas não a casa, porque elas inclusive não podem aparecer, mas a carta de crédito para elas comprarem as casas delas.

E nessas áreas de risco, não é só a moradia. Tem situações que você resolve. Se você está com uma casa na beira do córrego, que você faz a canalização, a contenção, ela deixa de ser área de risco. Se você está com uma casa numa encosta que você faz ali uma obra de contenção, ela sai da área de risco. Então tem casos que realmente você tem que remover. Por exemplo, Paraisópolis, Córrego do Antonico.

Tem 1.500 casas em cima do Córrego do Antonico. Teve um sábado à noite, me ligaram que tinham desabado casas lá. Eu fui lá para dentro. Inclusive uma pessoa foi soterrada. A gente já tirou 800, estamos tirando as outras 1.700.

Por exemplo, lá no Caboré, em São Mateus, onde alagava tudo, uma pessoa também morreu porque foi levada pela enchente. Já retiramos 600 casas. Temos programa habitacional e estamos fazendo. Pega no Grajaú, ali próximo da Vila Natal, da Chácara do Conde. Havia 900 casas na beira do córrego, contaminando uma área de manancial da represa Guarapiranga. Nós retiramos 899, porque tem uma casa...

Estou fazendo o maior programa habitacional do Brasil lá: 2.711 casas, estou fazendo um CEU, duas creches e UBS. Sete mil obras em todo canto da cidade. A gente está fazendo esse processo. Agora tem as casas R3, R2, R1.

Esse ‘R’ é de risco. O risco 1, 2, 3, 4, quando chega no 4 é o maior risco. Então, a gente já tirou bastante de área de risco. Todas essas que eu comentei com você e tantas outras casas que estavam em área de risco e que a gente está no processo de resolver.

Eu peguei 2021 inteiro de pandemia, parte de 2022, e eu consegui, mesmo assim, avançar. Imagina nos próximos 4 anos. Com as contas ajustadas, com a saúde financeira feita, a gente vai ter 4 anos fantásticos na cidade.

O senhor tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele esteve no lançamento da sua candidatura, o vice é do PL, mas de lá para cá ele não tem feito agendas com o senhor e não gravou ainda para o programa eleitoral. O senhor está satisfeito ou o cálculo era esse, de que ele não participaria mais diretamente da campanha?

Participa e deve participar, sim, com certeza. Nós temos lá no nosso banco de dados mais de 2 horas de gravação com o presidente Bolsonaro das ações que a gente teve junto. Agora, eu preciso, inclusive, tê-lo junto para até fazer um vídeo falando do acordo do Campo de Marte quando eu consegui, quando ele era presidente, resolver a dívida da cidade de 25 bilhões.

Ele vai gravar com o senhor?

Vai, vai, vai gravar. Agora, olha, ele está viajando...

Ele não tem agenda prevista para São Paulo. Fica parecendo que ele apoia o senhor, mas ao mesmo tempo não vem, demora a gravar....

Não, não. Ele ficou 3 horas e 40 minutos em cima do palco, ele e a Michelle Bolsonaro lá na minha convenção. Ele chegou antes do que eu. Quando eu cheguei, ele já estava lá no palco.

Ele ficou o tempo inteiro, discursou, falou, firmou o compromisso na convenção, que ali é um ato oficial público, né? O [governador] Tarcísio [de Freitas], ontem, a gente foi fazer uma visita lá em Perus, onde eu estou fazendo uma obra de quase R$ 200 milhões para resolver aquela enchente, com quatro piscinões, canalização do ribeirão Perus, e o Tarcísio comigo. Conjuntamente, ele está fazendo toda a ligação de captação e tratamento de esgoto.

Você acredita que Pirituba e Perus não têm tratamento de esgoto? Zero. E agora vai ser 100%.

O Tarcísio é visível que ele está efetivamente na campanha.

Fomos fazer uma caminhada, no comércio todinho ali de Perus, do começo ao fim o Tarcísio comigo. Semana passada a gente foi fazer caminhada em Itaquera.

O governador não há duvida, inclusive gravando...

Mas é o maior representante dele [Bolsonaro] aqui. Por isso que eu estou falando dele.

Há um tom muito agressivo entre os candidatos, nós vimos isso em vários debates. Em um eventual segundo turno, o senhor vai precisar de apoio. Se for contra o Marçal, dos eleitores do Boulos. E se for contra o Boulos, dos eleitores do Marçal. O senhor não deve espantar esses eleitores por causa desse tom agressivo? Uma hora o senhor diz que o Boulos é invasor, outra que o Marçal é ligado a facção. Essas coisas , não o prejudicam no segundo turno?

Todos sabem da forma como eu sou. Sempre fui uma pessoa muito ponderada, cristão, uma pessoa que tem bastante controle emocional. Mas quando você está na frente de um Guilherme Boulos, de um Pablo Marçal, que são pessoas muito difíceis, muito agressivas, eu também sou um ser humano. Quando você tem ali aquele Pablo Marçal falando tantas mentiras, ele me chama de comunista... Ele mente demais, é o tempo inteiro mentindo. E aí é muito ataque, né? Ele esteve aqui, ele fala um palavreado de organização criminosa. Eu não tenho medo de organização criminosa. Eu não tenho medo de Pablo Marçal.

Ele falou que vai prender o senhor.

Quem vai prender ele vou ser eu. Ele e o Avalanche, que é o presidente do diretório dele. Tem o áudio do [Leonardo] Avalanche onde fala que ele participou da soltura do André do Rap, que é um dos maiores traficantes do Brasil. Aí vamos para o nível estadual, que é o tal do [Tarcísio] Escobar, tem até uma coincidência ainda com o Pablo Escobar, que está investigado por trocar carro de luxo com cocaína. Aí vamos para o nível municipal, que é o tal do Maiquel, que estava ao lado dele na convenção, que foi condenado e cumpriu pena por sequestro. Olha a turma que nós estamos falando.

Quem vai prender ele [Marçal] vou ser eu. Ele e o Avalanche, que é o presidente do diretório dele.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

Você acha que eu vou deixar essa turma entrar na cidade de São Paulo? Eu, como prefeito, eu tenho informações privilegiadas de todos os contribuintes. Imagina um cara que mandava e-mail para as pessoas acessarem o e-mail e ele tirar o dinheiro das pessoas humildes e dos aposentados. A gente precisa também, uma certa hora, ter posicionamento para defender a nossa cidade.

Eu não vou deixar [vencer] uma pessoa que fez tantas invasões e que nega, fala “me prova a invasão que eu fiz”. Tem lá a nova Palestina, Copa do Povo, sabotou a nossa Copa [do Mundo], colocou pneu na rua e queimou. Eu tenho a função de continuar o meu trabalho, mas também tenho essa obrigação, como uma pessoa apaixonada pela cidade, de defender a cidade, de mostrar para as pessoas quem são esses candidatos. Nós estamos falando de um criminoso que foi condenado a 4 anos e 5 meses, que é envolvido com toda essa organização criminosa. Eu não vou deixar esse criminoso desse Pablo Marçal chegar perto da prefeitura.

Queria que o senhor me dissesse qual a diferença entre o PRTB e o que acontece em outros partidos. O União Brasil, que apoia o senhor, já teve candidato em Mogi com o mesmo problema de ligação com facção; PSD em Santo André, o Republicanos em Embu. Todos partidos que estão apoiando o senhor Qual a diferença?

A diferença é que eu não tenho nenhuma relação com nenhuma dessas pessoas, nunca ouvi qualquer coisa de errada. Tem 30 anos que estou atuando na política, nunca tive um indiciamento, uma condenação, e tem uma coisa fundamental: você participou do Roda Viva e viu o Pablo Marçal sentado naquela cadeira, falando o seguinte: que ele ia pedir o afastamento do Avalanche tendo em vista os fatos muito relevantes. É áudio, não é suspeita. É ele falando, é o áudio dele, é a voz dele, [ele falando] que participou da liberação do André do Rap.

E o que ele [Marçal] fez logo em seguida? Trouxe o Avalanche do lado e falou: eu vou honrar essa pessoa. Quem vai honrar vou ser eu a população de São Paulo. Ele deu um recado pra todo mundo, de que essa turma ele está junto. Nesse intervalo, essa turma do PCC deve ter pego ele, que é um ‘tchutchuca’ do PCC, e ter dado uma dura nele e falado: vai lá e corrija isso aí. Ele está dominado por essas pessoas, nós não podemos deixar essa turma assumir a prefeitura de São Paulo.

O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) negou, durante sabatina realizada pelo Estadão, que Jair Bolsonaro (PL) não participe de sua campanha à reeleição e afirmou que o ex-presidente vai gravar material ao lado dele para exibição na propaganda eleitoral na televisão. A íntegra da entrevista com o emedebista, gravada em vídeo, será publicada às 15h.

“[Bolsonaro] participa e deve participar, com certeza”, disse Nunes, que ponderou que o aliado viaja pelo País para fazer campanha em outras cidades. “Nós temos no nosso banco de dados mais de 2 horas de gravações com o presidente Bolsonaro das ações que a gente fez junto. Eu preciso, inclusive, tê-lo junto até para fazer um vídeo do acordo do Campo de Marte. Eu consegui, quando ele era presidente, resolver a dívida da cidade de R$ 25 bilhões [com a União]. Agora ele está viajando”, continuou.

O acordo pôs fim a uma disputa de décadas na Justiça. A Prefeitura concordou que o terreno pertence ao governo federal em troca do abatimento do débito bilionário.

A campanha eleitoral começou há quase um mês, mas Bolsonaro ainda não fez campanha ao lado do emedebista apesar de ter vindo a São Paulo para o ato do 7 de Setembro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) — agenda inicial de compromissos do ex-presidente em setembro não prevê outras presenças dele na capital paulista — e nem apareceu no horário eleitoral gratuito. Nas redes sociais, gravou um vídeo no início de agosto em que reafirma estar com Nunes em meio à migração do eleitorado bolsonarista para Pablo Marçal (PRTB).

O prefeito declarou também que, pelo histórico das eleições paulistanas, a existência de um eleitorado de esquerda na cidade e o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acredita que Guilherme Boulos (PSOL) irá para o segundo turno com ele. Pesquisa Quaest divulgada na quarta-feira, 12, coloca Nunes com 24%, Marçal com 23% e Boulos com 21%. O emedebista ganharia dos dois adversários em um eventual segundo turno.

Prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB) concede entrevista ao Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

“Eu ganho tanto do Boulos como do Pablo Marçal. Acho que é um reconhecimento da população, do trabalho que a gente desenvolveu e das nossas entregas.”, disse Nunes, que comemorou continuar na disputa pela liderança mesmo após a entrada e subida de Marçal, com quem reconhece dividir o eleitorado.

“Mesmo tendo uma pessoa com essa forte atuação na rede social, mesmo com os métodos que ele utiliza, mente bastante. Mesmo assim eu tenho conseguido manter a liderança e uma baixíssima rejeição”, analisou.

O prefeito disse que sua intenção é manter a tarifa de ônibus baixa em um eventual segundo mandato, mas evitou cravar que manterá o valor congelado em R$ 4,40 como ocorreu nos últimos quatro anos. “Não vou cometer nenhuma irresponsabilidade. Se tiver uma guerra e explode o diesel?”, argumentou.

Ele também afirmou que não há uma milícia formada por guardas civis metropolitanos e policiais na Cracolândia. A declaração vai na contramão do que diz o Ministério Público, que aponta a existência de um grupo organizado para extorquir comerciantes na região.

“Não existe milícia na nossa cidade. A gente teve algumas pessoas de uma forma errada, acabaram cometer alguma ilegalidade”, justificou.

Confira a íntegra da entrevista:

As pesquisas mostram, com algumas diferenças nos números, o senhor, Guilherme Boulos e Pablo Marçal brigando pela ponta. Considerando que o senhor acredita ir ao segundo turno, quem o senhor acha que provavelmente vai com o senhor?

Eu tenho impressão, pelo histórico das eleições da cidade, de que possivelmente vá comigo para o segundo turno Guilherme Boulos. Ele tem um eleitor de esquerda na cidade, o apoio do presidente Lula, isso deve ter um peso. Imagino que seja ele.

Mas tanto faz. Se vier ele, vier o Marçal, eu ganho dos dois. Tem um dado muito importante que é a rejeição. Nesse momento, você ter a rejeição baixa é o fundamental. Não é nem quem está primeiro, segundo, terceiro. Eu fico feliz de estar ali em primeiro, mas o fundamental é rejeição baixa.

E essa questão do segundo turno é aonde eu ganho tanto do Boulos como do Pablo Marçal, por uma margem bastante distante. Bem tranquilo, acho que é um reconhecimento da população, do trabalho que a gente desenvolveu, das entregas que a gente colocou.

Eu tenho impressão, pelo histórico das eleições da cidade, de que possivelmente vá comigo para o segundo turno Guilherme Boulos. Ele tem um eleitor de esquerda na cidade, o apoio do presidente Lula, isso deve ter um peso.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

E do cenário geral teve essa entrada por último do Pablo Marçal dentro do processo eleitoral, que basicamente era o eleitor que vinha comigo. Você vê o quanto eu estava bem, estou bem, que mesmo tendo uma pessoa com essa forte atuação na rede social, mesmo com os métodos que ele utiliza, mente bastante, eu tenho conseguido manter a liderança e uma baixíssima rejeição.

E os outros candidatos, tanto o Boulos quanto o Pablo Marçal, uma rejeição altíssima. Eu vi agora uma pesquisa que saiu ontem, a rejeição do Datena perto dos 60 pontos (na pesquisa Quaest). Rejeição baixa é algo importante no processo eleitoral.

O senhor pretende reajustar a tarifa de ônibus se o senhor ganhar um segundo mandato?

A gente não pode ver essa questão da tarifa de ônibus só dentro do contexto de planilha tarifária. Precisamos ver no contexto de mobilidade e de políticas públicas outras. Por exemplo, o ‘Mamãe Tarifa Zero’ que eu vou fazer. A gente tem uma alegria enorme de pelo quarto ano consecutivo ter vaga de creche para todas as crianças.

E isso quer dizer o quê? A mãe poder trabalhar no momento que a gente está batendo recorde de geração de emprego e renda. Estou com o menor índice de desemprego desde 2015. E tem algo fundamental nesse processo todo: a criança que passa pela creche vai ter 25% a mais de capacidade de assimilar o aprendizado.

Lá ela tem as professoras, as pedagogas, as cinco alimentações [diárias], que são nutricionistas que fazem o cardápio. A criança, desde que está um dia na barriga da mamãezinha até os sete anos é o momento onde vai se desenvolver o cérebro melhor por conta da plasticidade, inclusive das reações cognitivas.

Então a gente não pode perder essa etapa. Se perder....

Mas em relação à tarifa, você vai ter um custo maior para a prefeitura também. E cada real que você coloca a mais no subsídio para as empresas de ônibus é um real a menos para obras e outras áreas da Prefeitura, como aumentar salário dos professores. São escolhas. O senhor pretende ou não reajustar a tarifa se ampliar a tarifa zero como está prometendo?

Eu sou o prefeito que manteve a tarifa congelada pelo maior tempo. É o quarto ano consecutivo que a gente manteve a tarifa em R$ 4,40. Agora, esse investimento, não é só questão do transporte. Quando eu mantive a tarifa, eu estava pensando em uma política pública maior.

Qual era? Nós temos hoje um problema sério de trânsito na cidade. Eu preciso incentivar o transporte coletivo e desincentivar o transporte individual. Eu precisava recuperar a economia da cidade. Lembrando que 2021 e 2022 foram anos de pandemia e retomar a economia fundamental, já que isso representa emprego e renda.

No ano passado, entre admissões e demissões, nosso saldo foi positivo de 129 mil empregos. Esse ano, só até junho, o saldo positivo foi de 107 mil empregos na cidade de São Paulo.

Até tem um candidato aí, que passou aqui, falou de uma coisa mirabolante de criar 2 milhões de empregos. Não existe isso, até porque a gente nem tem isso de desempregados na cidade de São Paulo. Não chega a 500 mil desempregados.

Ricardo Nunes, candidato a prefeito de São Paulo pelo MDB, participa de entrevista do Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

A questão da tarifa a minha intenção é continuar nos próximos 4 anos reduzindo impostos, eliminando taxas e mantendo a tarifa baixa. Agora, não vou cometer nenhuma irresponsabilidade de cravar alguma coisa. Por quê? Se tiver uma guerra, explode o diesel... Eu nunca vou atuar com irresponsabilidade.

Vocês não vão achar em nenhuma parte da minha história uma afirmação irresponsável. O meu desejo é esse. Agora, o que eu não vou fazer nunca? Tirar dinheiro da educação e da saúde. O que eu fiz de manter a tarifa? Criei o Domingão Tarifa Zero porque eu consegui melhorar a receita da cidade.

Eu trouxe uma saúde financeira para a cidade que foi importante. Só uma coisa importante do Domingão Tarifa Zero, isso não é só a questão de não pagar a tarifa. Tem questões como, por exemplo, a saúde mental. O pessoal da saúde, hoje, nos traz uma informação importante da grande maioria das pessoas que trabalham a semana inteira e que ficam o final de semana em casa, onde ele pode sair no domingo com a sua família ir no parque.

Nossos parques aumentaram a movimentação de domingo. Eu fui outro dia no parque do Carmo em Itaquera, havia 300 mil pessoas no domingo. Aumentou a participação nas missas, nos cultos, nos equipamentos públicos. A tarifa zero fez com que as pessoas pudessem sair.

Nós já transportamos mais de 100 milhões de passageiros do dia 17 de dezembro, quando foi instituída, até a semana retrasada. O dado atual eu não tenho. Mas eram 102 milhões de pessoas que utilizaram nesse período.

Havia uma meta de substituir 20% da frota em 2024 por ônibus elétricos. Mas hoje, de 12 mil ônibus, 180 são elétricos à bateria e mais 200 e poucos são trólebus. O que a Prefeitura propõe para acelerar essa transformação?

Essa é uma das coisas fundamentais dentro do contexto que a gente tem de proteção do meio ambiente, das questões de mudanças climáticas. Eu já tenho aprovado os recursos, mais de R$ 2 bilhões para fazer a substituição. Era nossa meta.

A indústria não havia produzido e não havia saído com os financiamentos. Por que o financiamento? Como a gente tem concessão, eu optei em não permitir que as empresas concessionárias fizessem a aquisição. Eu preferi que a Prefeitura faça a aquisição.

Só para as pessoas entenderem como eu governo: o nosso TIR [Taxa Interna de Retorno, indicador da viabilidade econômica de um projeto ou investimento] da concessão é de 9%. Caso eles fizessem essa aquisição do ônibus elétrico, eu teria que remunerar, pelo contrato, um ativo de 9%.

Eu consigo esse valor muito mais baixo no mercado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, com o Banco Mundial, com o BNDES. Acabei de liberar agora mais de R$ 1 bilhão do BNDES. Então, eu trago economia para a cidade. E essa substituição dos ônibus, além de trazer esse benefício do meio ambiente, a gente vai conseguir trazer um benefício financeiro para a cidade.

Nosso tempo é curto, mas acho que é bacana as pessoas entenderem como é que eu penso. Um ônibus a diesel custa em torno de R$ 700 mil. O elétrico, R$ 2,4 milhões. ‘Nossa, mas o prefeito vai trocar R$ 700 mil por R$ 2,4 milhões?’. Sim, porque a gente vai deixar de emitir dióxido de carbono para o meio ambiente. E o que acontece? Quando a gente pega o custo mensal, no ônibus a diesel gastamos mais ou menos R$ 25 mil por mês. O elétrico será R$ 5 mil.

Ricardo Nunes, candidato a prefeito de São Paulo pelo MDB, participa de sabatina do Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

Eu vou ter uma economia de R$ 20 mil. Em um ano, R$ 240 mil. Em dez anos, R$ 2,4 milhões. Ou seja, basicamente, a gente paga o valor de investimento no decorrer do tempo. A gente consegue melhorar o meio ambiente, a qualidade do ar, a poluição sonora e, mesmo assim, ainda ter economia.

Queria tocar num ponto muito polêmico, que é a cooptação de partes do sistema público de transporte pelo PCC. A primeira operação policial, que é a Ataraxia, do Denarc, em julho de 2022, que pega a UpBus já mostrava que toda a direção da empresa estava entregue à facção. Com tudo que já se sabia em julho de 2022, a UpBus continuou operando as linhas de ônibus até vir a Operação Fim da Linha em abril de 2024. Sabendo-se que a cúpula da facção era acionista dessa empresa, por que a Prefeitura já não interveio? Nesse período a empresa recebeu mais R$ 100 milhões da Prefeitura.

Em 2022, realmente teve aquela operação da Polícia Civil. Não foi só na UpBus, foi em uma outra empresa, não vou citar o nome aqui e vou dizer o porquê: o sócio daquela empresa, que foi preso, ele foi liberado e foi absolvido. Por que eu estou contando isso?

Quando você tem uma investigação, uma pessoa tem uma prisão preventiva, é necessário que passe por todo esse processo de verificação das provas e condenação. O que eu fiz há dois anos atrás? Eu vou te dar aqui com toda a transparência o nome e todo o episódio.

Chamei a doutora Marina Magro, procuradora-geral do município, o Daniel Falcão, o controlador-geral, e falei o seguinte: ‘Tem essa situação aqui, nós precisamos resolver isso’. Eu não posso cancelar o contato porque se trata só de uma investigação. Não tem ali uma condenação. Nem tem até hoje, olha só como é complicado e demorado esse processo.

Não é uma crítica ao Judiciário ou ao Ministério Público, é só uma constatação. E aí, o que aconteceu? Eles [Magro e Falcão] foram lá, a meu pedido e falaram assim: ‘Nós estamos aqui à disposição e solicitamos que tenha celeridade’. Demorou dois anos.

Mas isso vale para a Transcap, eu falo o nome porque a gente publicou, ele foi absolvido de fato. No caso da UpBus, no entanto, Silvio Cebola era foragido, procurado pela Justiça. Outros integrantes da facção faziam parte da direção da UpBus. Foram encontrados até 500 quilos de drogas dentro das instalações da empresa. Mesmo assim, no caso da UpBus, por que demorou tanto? O que a Prefeitura poderia fazer, ou o senhor poderia fazer, para melhorar isso e evitar que situações como essa voltem a acontecer?

Precisamos colocar o seguinte: a licitação ocorreu em 2019. Já que você conhece bem o caso, fico muito mais confortável. Em 2019, a licitação foi regida pela Lei 8.666. Quando você tem a regra da licitação, portanto, a regra da legislação, são solicitados os documentos. Essa empresa apresentou, por exemplo, o atestado da Receita Federal, e estava tudo ok.

Ou seja, atendeu a todos os requisitos. Em uma licitação, pela impessoalidade, definem-se as empresas que conseguem atender aos critérios. O contrato foi assinado. Vamos lá para 2022, quando ocorreu a operação e o Silvio Cebola não aparecia no quadro societário.

Tem toda uma história, mas ele não aparecia no quadro de sócios. Quando chega 2022 e acontece a operação, eu pedi para agir. Aí, demorou dois anos para saírem as decisões judiciais. Quem estava envolvido? A Marina e o Daniel, de dois anos atrás. O próprio Lincoln [Gakiya], que é um grande promotor [sabia].

Mas só pra você ver, a gente precisa ter essa transparência. A Prefeitura ofereceu apoio ao MP, o Lincoln, que atuou dois anos atrás, e só depois de dois anos saiu a operação. Uma coisa importante: a questão judicial não era para fazer intervenção na UpBus.

Era para fazer intervenção na Transwolff. Como eu já conhecia essa história, eu disse: ‘Opa, quem decidiu fazer a intervenção na UpBus fui eu.’ Eu tomei a iniciativa e fiz a intervenção. Acho que isso é importante, porque mostra o quê? Coragem. A gente precisa remover a influência dessa organização criminosa.

Não tenha dúvida quanto a isso. Eu tenho coragem, determinação e comprometimento para fazer o que for necessário. Então, eu fiz a intervenção na UpBus. O que significa fazer intervenção? Você remove toda a diretoria e a Prefeitura assume. Não há mais a diretoria da administração da Prefeitura de São Paulo.

Teve mais coisas que eu fiz. Eu pedi que a Prefeitura fosse assistente de acusação. Nós somos assistentes de acusação nesse processo. Não há ninguém mais interessado nesse processo do que eu. Dá pra cancelar o contrato sem que haja uma condenação? Não tem como cancelar. Teve condenação? Não vai ser no dia seguinte, vai ser na hora.”

Falando um pouco sobre essa tentativa de infiltração do crime no serviço público, que a gente vê acontecer em vários lugares, o Gaeco chamou de milícia o grupo formado por guardas civis — e não só guardas civis, havia outras figuras também — que estavam cobrando de comerciantes no centro, segundo a operação recente do Ministério Público. O senhor evita falar em milícia…

Eu não evito, não. Eu afirmo categoricamente que não existe milícia e que, com todo o respeito à instituição do Ministério Público e aos promotores…

Você acha que não é milícia?

Eu tenho certeza. Achar é uma coisa, eu tenho certeza. Não existe milícia na nossa cidade. Milícia é uma coisa, que você está ali, as pessoas trabalhando na instituição, com cargo de chefia. Aqui não. Aqui a gente teve algumas pessoas, de uma forma errada, acabaram cometendo alguma ilegalidade.

Mas o senhor considera que foi um episódio grave?

Gravíssimo. Tanto é que esse GCM que foi preso agora nessa operação, eu já havia solicitado a prisão dele em junho do ano passado. Liguei para o Mario Sarrubbo, que era o Procurador-Geral de Justiça, e pedi ao Ministério Público que solicitasse a prisão desse GCM. Por quê? Porque há um áudio dele, em um grupo da organização, no qual ele admite ter feito uma cobrança de uma empresa dele. Ou seja, existia um fato concreto. Eu não seria leviano em fazer esse pedido sem fundamento. Em junho do ano passado, fui eu quem pediu. O Ministério Público não concedeu. E agora saiu a prisão dele.

Não existe milícia na nossa cidade. Milícia é uma coisa, que você está ali, as pessoas trabalhando na instituição, com cargo de chefia. Aqui não. Aqui a gente teve algumas pessoas, de uma forma errada, acabaram cometendo alguma ilegalidade.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

Só para você ver que estamos nos antecipando às ações. A minha Controladoria, que tem, inclusive, recebido vários prêmios pelo combate à corrupção e pela transparência, ampliou o quadro. Todos muito comprometidos em defender a nossa cidade contra a corrupção. Então, só para deixar claro: em junho do ano passado, fui eu quem pediu a prisão do GCM, mas o MP não a concedeu.

Talvez o MP fale isso porque essa ‘taxa de proteção’ é uma característica de organizações mafiosas, milícias, etc.

Mas não é a instituição, né? É um caso isolado. Eu já demiti aquele cara, já o afastei.

Um aspecto fundamental da zeladoria urbana são os fiscais da subprefeituras. Em 2013, eram 513 e agora em janeiro de 2024 eram 300, uma queda contínua ao longo dos últimos governos. Como fazer zeladoria urbana se não tem zelador?

Eu tenho orgulho de ter sido o prefeito que conseguiu ajustar as finanças da cidade. Só na área da educação, chamei mais de 15 mil professores, todos de concurso. Quanto aos fiscais de postura, chamei 200, acho que 230. Realmente, o número estava baixo. Lá atrás, tínhamos um déficit de funcionários. Chamei mais de 2.400 guardas civis metropolitanos. Para o SAMU, foram 862 profissionais. Você vê, o SAMU tinha 60 viaturas, hoje tem 140. Reduzi o tempo de atendimento em 8 minutos. Fiz a Operação Delegada com os bombeiros para apoiar o SAMU.

Por que estou te contando isso? Porque consegui ajustar as finanças e, com isso, ter a capacidade de me comprometer com o custeio, chamando novos profissionais. Isso demanda tempo. Quando chamei os fiscais este ano significa que há mais de um ano tive que abrir o concurso, realizar as provas e abrir recursos. Esse processo para convocar profissionais concursados leva tempo. A boa notícia é que já temos mais 200 fiscais trabalhando e a tendência é que esse quadro melhore.

Uma questão que chamou atenção no período de chuvas que tivemos é a poda de árvores. O site da Prefeitura diz o seguinte: ‘a poda de árvores está entre os serviços mais solicitados. No entanto, o serviço pode demorar, em média, de seis meses a um ano para ser executado. Em caso de risco iminente de queda, o serviço entra em uma lista de prioridade’. Seria razoável o cidadão esperar seis meses, ou até um ano, por uma poda de árvore?

Muito possivelmente estamos falando de casos que têm alguma conexão com a Enel, quando a árvore está encostada no fio. Quando isso acontece, eu preciso comunicar à Enel para que alguém desligue a energia, e eles cortam os galhos que estão encostados. Depois, fazemos o complemento da poda. Fora isso, em relação às equipes, hoje temos, em todas as subprefeituras, mais de oitenta equipes realizando esse serviço de poda na cidade de São Paulo. Temos melhorado bastante.

Agora, o que é positivo é que temos muitas árvores. Foram plantadas 600 mil árvores, plantadas apenas nas vias da cidade, sem contar os parques, no ano passado — o que já é um avanço. É claro que ainda há necessidade de melhorias. Tinha um caso sério da Enel, mas a equipe da Enel também está se aprimorando. Eles mandaram embora o (antigo presidente da companhia em SP) Max (Xavier Lins), que era muito ruim, e colocaram o Antônio Scala, com quem conseguimos dialogar melhor para melhorar a qualidade do serviço.

Se eu pudesse, tiraria a Enel daqui. Mas como não tenho essa possibilidade, pois é uma concessão federal, estou buscando dialogar e colaborar com eles. A boa notícia é que, até o presente momento, o Antônio Scala, que é o novo presidente, tem sido muito acessível. Quando houve aquela falta de energia, duas semanas atrás em São Paulo, nós conversamos rapidamente Temos uma comunicação direta entre o prefeito e o presidente. Não dá para o prefeito ficar falando como era antigamente ou ficar batendo boca com o Max. Então, apesar de todas as restrições que tenho em relação à Enel e achar que ela deveria sair daqui, hoje a situação melhorou.

O senhor tem sido questionado, inclusive, pelo Supremo Tribunal Federal , em relação ao aborto legal. O que o pretende fazer para que essa dificuldade que as mulheres encontraram nos hospitais da prefeitura não se repitam no seu segundo mandato?

Às vezes as pessoas têm esse questionamento porque, do meu ponto de vista, as informações acabaram sendo desviadas, desvirtuadas. Por quê? Porque eu sou católico praticante, sou pró-vida, defendo a vida desde a concepção. Agora, é óbvio que defendo o aborto legal, previsto em lei e por decisão judicial. Não houve, na minha gestão, e não haverá, nenhum tipo de descumprimento em relação a isso.

O que aconteceu foi uma ação do PSOL relacionada aos procedimentos realizados no Hospital da Cachoeirinha. O STF agora está querendo discutir até questões do cotidiano da saúde aqui, né? Está bastante... Bom, tudo bem. O que ocorreu foi que tínhamos uma fila de 1.200 mulheres aguardando cirurgia de endometriose, uma cirurgia muito necessária. Os médicos, que são as pessoas mais qualificadas para definir onde os procedimentos devem ser realizados, indicaram que o hospital da Cachoeirinha tinha melhores condições. Então, transferimos o aborto legal para outras unidades.

Ricardo Nunes, candidato do MDB à Prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

A ideia de que foi proibido realizar o aborto legal não é real, posso te garantir. Não é real. Agora, não quer dizer que algum funcionário, dentro de uma gestão com 118 mil colaboradores só na área da saúde, não possa ter agido de forma inadequada. Pode acontecer, por exemplo. Mas, via de regra, a gestão tem a orientação de realizar os procedimentos conforme a lei. Eu zerei a fila de cirurgias para endometriose.

Um funcionário que tentar de alguma forma dificultar a vida de uma mulher que já foi vítima de um monstro, o senhor vai punir?

Com certeza. E, por isso, temos a nossa Ouvidoria, a nossa Controladoria, e todos os mecanismos necessários para corrigir qualquer desvio de algum funcionário. O que há hoje na Prefeitura de São Paulo é uma adequação. Tenho falado isso com muita transparência: não é o prefeito, nem o ministro ou qualquer outro órgão que vai definir melhor onde os procedimentos podem ser realizados, senão aqueles que estão na linha de frente. Tenho dado bastante autonomia à minha equipe, mas, evidentemente, orientando sempre no cumprimento da legislação e das decisões judiciais.

O senhor sempre destaca o fato de ter 7 mil obras na cidade. Mas recebe críticas pelo fato de que uma grande parte dessas obras, ou uma parte importante, se dá por meio de contratos emergenciais. Por quê? Não parece que faltou planejamento em algum momento e foi preciso acelerar, ou eventualmente preciso terminar rápido porque vem a eleição?

Das 7 mil obras, eu fiz muito mais obras nos anos anteriores, em torno de 5 mil, e esse ano em 2 mil. Eu fiz mais obras antes do período eleitoral. O que é obra emergencial? O nome: emergência. Por exemplo, em 2019, na gestão do prefeito Bruno Covas, aquela ponte da Marginal colapsou e parou a cidade inteira. Por que foi uma obra emergencial? Não dá para esperar um ano, dois anos para fazer uma licitação. Você tem que resolver aquela situação.

Quando você tem uma casa que está na beira de um córrego com risco de vida das pessoas, você tem que fazer a obra emergencial. Quando você tem uma situação de uma de ponte, uma pista, e acontece muito de ela desmoronar, fazer um buraco, você precisa restabelecer. A obra emergencial tem um critério, tem uma legislação, a gente comunica antes ao Tribunal de Contas do Município. Quem faz a definição se é obra emergencial ou não são engenheiros da prefeitura, concursados, e a defesa civil.

[As pessoas falam que] aumentou [o número de obras emergenciais]. Eu saí de quase mil obras para sete mil. Tem que ter uma proporcionalidade nessa análise. Esse ano eu coloquei R$ 18 bilhões de investimentos. Ano passado foram R$ 14 bilhões. No ano retrasado, R$ 8,5 bilhões. Qual foi o maior investimento fora esses anos que eu sou prefeito? Foi em 2020, de R$ 4,1 bilhões. Olha o quanto a gente elevou a capacidade de investimento da cidade.

Agora tem uma coisa importante: quanto custa uma vida? Qual seria a posição da população se o prefeito tem uma situação de uma pessoa que está com risco de vida e não vai lá e não resolve? Não existe nenhum tipo de desvio, de malversação do dinheiro público. Existe um atendimento de uma necessidade numa cidade de 12 milhões de habitantes que tinha, até então, uma dificuldade de fazer investimentos de infraestrutura nessas questões das áreas de risco. Hoje ainda tem 14 mil casas em área de risco. Nos meus próximos quatro anos eu vou tirar todas essas 14 mil da área de risco.

O senhor tem um programa habitacional que o senhor diz que é o maior na história da cidade...

Eu disse, não. É.

Já não dava para ter tirado, então, essas pessoas. O senhor tem 72 mil unidades habitacionais [entre entregues, em obras e já contratadas]. Isso já não dava para ter sido feito então?

A gente tem hoje 21 mil famílias que estão no auxílio-aluguel. O gasto é R$110 milhões por ano

Mas a vida não está em risco.

Mas você tem uma ação de você ir resolvendo essa questão da fila que a gente tem do auxílio-aluguel. Por exemplo, as mulheres vítimas de violência com medida protetiva que estavam na fila, o que eu fiz? Eu dei a elas não a casa, porque elas inclusive não podem aparecer, mas a carta de crédito para elas comprarem as casas delas.

E nessas áreas de risco, não é só a moradia. Tem situações que você resolve. Se você está com uma casa na beira do córrego, que você faz a canalização, a contenção, ela deixa de ser área de risco. Se você está com uma casa numa encosta que você faz ali uma obra de contenção, ela sai da área de risco. Então tem casos que realmente você tem que remover. Por exemplo, Paraisópolis, Córrego do Antonico.

Tem 1.500 casas em cima do Córrego do Antonico. Teve um sábado à noite, me ligaram que tinham desabado casas lá. Eu fui lá para dentro. Inclusive uma pessoa foi soterrada. A gente já tirou 800, estamos tirando as outras 1.700.

Por exemplo, lá no Caboré, em São Mateus, onde alagava tudo, uma pessoa também morreu porque foi levada pela enchente. Já retiramos 600 casas. Temos programa habitacional e estamos fazendo. Pega no Grajaú, ali próximo da Vila Natal, da Chácara do Conde. Havia 900 casas na beira do córrego, contaminando uma área de manancial da represa Guarapiranga. Nós retiramos 899, porque tem uma casa...

Estou fazendo o maior programa habitacional do Brasil lá: 2.711 casas, estou fazendo um CEU, duas creches e UBS. Sete mil obras em todo canto da cidade. A gente está fazendo esse processo. Agora tem as casas R3, R2, R1.

Esse ‘R’ é de risco. O risco 1, 2, 3, 4, quando chega no 4 é o maior risco. Então, a gente já tirou bastante de área de risco. Todas essas que eu comentei com você e tantas outras casas que estavam em área de risco e que a gente está no processo de resolver.

Eu peguei 2021 inteiro de pandemia, parte de 2022, e eu consegui, mesmo assim, avançar. Imagina nos próximos 4 anos. Com as contas ajustadas, com a saúde financeira feita, a gente vai ter 4 anos fantásticos na cidade.

O senhor tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele esteve no lançamento da sua candidatura, o vice é do PL, mas de lá para cá ele não tem feito agendas com o senhor e não gravou ainda para o programa eleitoral. O senhor está satisfeito ou o cálculo era esse, de que ele não participaria mais diretamente da campanha?

Participa e deve participar, sim, com certeza. Nós temos lá no nosso banco de dados mais de 2 horas de gravação com o presidente Bolsonaro das ações que a gente teve junto. Agora, eu preciso, inclusive, tê-lo junto para até fazer um vídeo falando do acordo do Campo de Marte quando eu consegui, quando ele era presidente, resolver a dívida da cidade de 25 bilhões.

Ele vai gravar com o senhor?

Vai, vai, vai gravar. Agora, olha, ele está viajando...

Ele não tem agenda prevista para São Paulo. Fica parecendo que ele apoia o senhor, mas ao mesmo tempo não vem, demora a gravar....

Não, não. Ele ficou 3 horas e 40 minutos em cima do palco, ele e a Michelle Bolsonaro lá na minha convenção. Ele chegou antes do que eu. Quando eu cheguei, ele já estava lá no palco.

Ele ficou o tempo inteiro, discursou, falou, firmou o compromisso na convenção, que ali é um ato oficial público, né? O [governador] Tarcísio [de Freitas], ontem, a gente foi fazer uma visita lá em Perus, onde eu estou fazendo uma obra de quase R$ 200 milhões para resolver aquela enchente, com quatro piscinões, canalização do ribeirão Perus, e o Tarcísio comigo. Conjuntamente, ele está fazendo toda a ligação de captação e tratamento de esgoto.

Você acredita que Pirituba e Perus não têm tratamento de esgoto? Zero. E agora vai ser 100%.

O Tarcísio é visível que ele está efetivamente na campanha.

Fomos fazer uma caminhada, no comércio todinho ali de Perus, do começo ao fim o Tarcísio comigo. Semana passada a gente foi fazer caminhada em Itaquera.

O governador não há duvida, inclusive gravando...

Mas é o maior representante dele [Bolsonaro] aqui. Por isso que eu estou falando dele.

Há um tom muito agressivo entre os candidatos, nós vimos isso em vários debates. Em um eventual segundo turno, o senhor vai precisar de apoio. Se for contra o Marçal, dos eleitores do Boulos. E se for contra o Boulos, dos eleitores do Marçal. O senhor não deve espantar esses eleitores por causa desse tom agressivo? Uma hora o senhor diz que o Boulos é invasor, outra que o Marçal é ligado a facção. Essas coisas , não o prejudicam no segundo turno?

Todos sabem da forma como eu sou. Sempre fui uma pessoa muito ponderada, cristão, uma pessoa que tem bastante controle emocional. Mas quando você está na frente de um Guilherme Boulos, de um Pablo Marçal, que são pessoas muito difíceis, muito agressivas, eu também sou um ser humano. Quando você tem ali aquele Pablo Marçal falando tantas mentiras, ele me chama de comunista... Ele mente demais, é o tempo inteiro mentindo. E aí é muito ataque, né? Ele esteve aqui, ele fala um palavreado de organização criminosa. Eu não tenho medo de organização criminosa. Eu não tenho medo de Pablo Marçal.

Ele falou que vai prender o senhor.

Quem vai prender ele vou ser eu. Ele e o Avalanche, que é o presidente do diretório dele. Tem o áudio do [Leonardo] Avalanche onde fala que ele participou da soltura do André do Rap, que é um dos maiores traficantes do Brasil. Aí vamos para o nível estadual, que é o tal do [Tarcísio] Escobar, tem até uma coincidência ainda com o Pablo Escobar, que está investigado por trocar carro de luxo com cocaína. Aí vamos para o nível municipal, que é o tal do Maiquel, que estava ao lado dele na convenção, que foi condenado e cumpriu pena por sequestro. Olha a turma que nós estamos falando.

Quem vai prender ele [Marçal] vou ser eu. Ele e o Avalanche, que é o presidente do diretório dele.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

Você acha que eu vou deixar essa turma entrar na cidade de São Paulo? Eu, como prefeito, eu tenho informações privilegiadas de todos os contribuintes. Imagina um cara que mandava e-mail para as pessoas acessarem o e-mail e ele tirar o dinheiro das pessoas humildes e dos aposentados. A gente precisa também, uma certa hora, ter posicionamento para defender a nossa cidade.

Eu não vou deixar [vencer] uma pessoa que fez tantas invasões e que nega, fala “me prova a invasão que eu fiz”. Tem lá a nova Palestina, Copa do Povo, sabotou a nossa Copa [do Mundo], colocou pneu na rua e queimou. Eu tenho a função de continuar o meu trabalho, mas também tenho essa obrigação, como uma pessoa apaixonada pela cidade, de defender a cidade, de mostrar para as pessoas quem são esses candidatos. Nós estamos falando de um criminoso que foi condenado a 4 anos e 5 meses, que é envolvido com toda essa organização criminosa. Eu não vou deixar esse criminoso desse Pablo Marçal chegar perto da prefeitura.

Queria que o senhor me dissesse qual a diferença entre o PRTB e o que acontece em outros partidos. O União Brasil, que apoia o senhor, já teve candidato em Mogi com o mesmo problema de ligação com facção; PSD em Santo André, o Republicanos em Embu. Todos partidos que estão apoiando o senhor Qual a diferença?

A diferença é que eu não tenho nenhuma relação com nenhuma dessas pessoas, nunca ouvi qualquer coisa de errada. Tem 30 anos que estou atuando na política, nunca tive um indiciamento, uma condenação, e tem uma coisa fundamental: você participou do Roda Viva e viu o Pablo Marçal sentado naquela cadeira, falando o seguinte: que ele ia pedir o afastamento do Avalanche tendo em vista os fatos muito relevantes. É áudio, não é suspeita. É ele falando, é o áudio dele, é a voz dele, [ele falando] que participou da liberação do André do Rap.

E o que ele [Marçal] fez logo em seguida? Trouxe o Avalanche do lado e falou: eu vou honrar essa pessoa. Quem vai honrar vou ser eu a população de São Paulo. Ele deu um recado pra todo mundo, de que essa turma ele está junto. Nesse intervalo, essa turma do PCC deve ter pego ele, que é um ‘tchutchuca’ do PCC, e ter dado uma dura nele e falado: vai lá e corrija isso aí. Ele está dominado por essas pessoas, nós não podemos deixar essa turma assumir a prefeitura de São Paulo.

O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) negou, durante sabatina realizada pelo Estadão, que Jair Bolsonaro (PL) não participe de sua campanha à reeleição e afirmou que o ex-presidente vai gravar material ao lado dele para exibição na propaganda eleitoral na televisão. A íntegra da entrevista com o emedebista, gravada em vídeo, será publicada às 15h.

“[Bolsonaro] participa e deve participar, com certeza”, disse Nunes, que ponderou que o aliado viaja pelo País para fazer campanha em outras cidades. “Nós temos no nosso banco de dados mais de 2 horas de gravações com o presidente Bolsonaro das ações que a gente fez junto. Eu preciso, inclusive, tê-lo junto até para fazer um vídeo do acordo do Campo de Marte. Eu consegui, quando ele era presidente, resolver a dívida da cidade de R$ 25 bilhões [com a União]. Agora ele está viajando”, continuou.

O acordo pôs fim a uma disputa de décadas na Justiça. A Prefeitura concordou que o terreno pertence ao governo federal em troca do abatimento do débito bilionário.

A campanha eleitoral começou há quase um mês, mas Bolsonaro ainda não fez campanha ao lado do emedebista apesar de ter vindo a São Paulo para o ato do 7 de Setembro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) — agenda inicial de compromissos do ex-presidente em setembro não prevê outras presenças dele na capital paulista — e nem apareceu no horário eleitoral gratuito. Nas redes sociais, gravou um vídeo no início de agosto em que reafirma estar com Nunes em meio à migração do eleitorado bolsonarista para Pablo Marçal (PRTB).

O prefeito declarou também que, pelo histórico das eleições paulistanas, a existência de um eleitorado de esquerda na cidade e o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acredita que Guilherme Boulos (PSOL) irá para o segundo turno com ele. Pesquisa Quaest divulgada na quarta-feira, 12, coloca Nunes com 24%, Marçal com 23% e Boulos com 21%. O emedebista ganharia dos dois adversários em um eventual segundo turno.

Prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB) concede entrevista ao Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

“Eu ganho tanto do Boulos como do Pablo Marçal. Acho que é um reconhecimento da população, do trabalho que a gente desenvolveu e das nossas entregas.”, disse Nunes, que comemorou continuar na disputa pela liderança mesmo após a entrada e subida de Marçal, com quem reconhece dividir o eleitorado.

“Mesmo tendo uma pessoa com essa forte atuação na rede social, mesmo com os métodos que ele utiliza, mente bastante. Mesmo assim eu tenho conseguido manter a liderança e uma baixíssima rejeição”, analisou.

O prefeito disse que sua intenção é manter a tarifa de ônibus baixa em um eventual segundo mandato, mas evitou cravar que manterá o valor congelado em R$ 4,40 como ocorreu nos últimos quatro anos. “Não vou cometer nenhuma irresponsabilidade. Se tiver uma guerra e explode o diesel?”, argumentou.

Ele também afirmou que não há uma milícia formada por guardas civis metropolitanos e policiais na Cracolândia. A declaração vai na contramão do que diz o Ministério Público, que aponta a existência de um grupo organizado para extorquir comerciantes na região.

“Não existe milícia na nossa cidade. A gente teve algumas pessoas de uma forma errada, acabaram cometer alguma ilegalidade”, justificou.

Confira a íntegra da entrevista:

As pesquisas mostram, com algumas diferenças nos números, o senhor, Guilherme Boulos e Pablo Marçal brigando pela ponta. Considerando que o senhor acredita ir ao segundo turno, quem o senhor acha que provavelmente vai com o senhor?

Eu tenho impressão, pelo histórico das eleições da cidade, de que possivelmente vá comigo para o segundo turno Guilherme Boulos. Ele tem um eleitor de esquerda na cidade, o apoio do presidente Lula, isso deve ter um peso. Imagino que seja ele.

Mas tanto faz. Se vier ele, vier o Marçal, eu ganho dos dois. Tem um dado muito importante que é a rejeição. Nesse momento, você ter a rejeição baixa é o fundamental. Não é nem quem está primeiro, segundo, terceiro. Eu fico feliz de estar ali em primeiro, mas o fundamental é rejeição baixa.

E essa questão do segundo turno é aonde eu ganho tanto do Boulos como do Pablo Marçal, por uma margem bastante distante. Bem tranquilo, acho que é um reconhecimento da população, do trabalho que a gente desenvolveu, das entregas que a gente colocou.

Eu tenho impressão, pelo histórico das eleições da cidade, de que possivelmente vá comigo para o segundo turno Guilherme Boulos. Ele tem um eleitor de esquerda na cidade, o apoio do presidente Lula, isso deve ter um peso.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

E do cenário geral teve essa entrada por último do Pablo Marçal dentro do processo eleitoral, que basicamente era o eleitor que vinha comigo. Você vê o quanto eu estava bem, estou bem, que mesmo tendo uma pessoa com essa forte atuação na rede social, mesmo com os métodos que ele utiliza, mente bastante, eu tenho conseguido manter a liderança e uma baixíssima rejeição.

E os outros candidatos, tanto o Boulos quanto o Pablo Marçal, uma rejeição altíssima. Eu vi agora uma pesquisa que saiu ontem, a rejeição do Datena perto dos 60 pontos (na pesquisa Quaest). Rejeição baixa é algo importante no processo eleitoral.

O senhor pretende reajustar a tarifa de ônibus se o senhor ganhar um segundo mandato?

A gente não pode ver essa questão da tarifa de ônibus só dentro do contexto de planilha tarifária. Precisamos ver no contexto de mobilidade e de políticas públicas outras. Por exemplo, o ‘Mamãe Tarifa Zero’ que eu vou fazer. A gente tem uma alegria enorme de pelo quarto ano consecutivo ter vaga de creche para todas as crianças.

E isso quer dizer o quê? A mãe poder trabalhar no momento que a gente está batendo recorde de geração de emprego e renda. Estou com o menor índice de desemprego desde 2015. E tem algo fundamental nesse processo todo: a criança que passa pela creche vai ter 25% a mais de capacidade de assimilar o aprendizado.

Lá ela tem as professoras, as pedagogas, as cinco alimentações [diárias], que são nutricionistas que fazem o cardápio. A criança, desde que está um dia na barriga da mamãezinha até os sete anos é o momento onde vai se desenvolver o cérebro melhor por conta da plasticidade, inclusive das reações cognitivas.

Então a gente não pode perder essa etapa. Se perder....

Mas em relação à tarifa, você vai ter um custo maior para a prefeitura também. E cada real que você coloca a mais no subsídio para as empresas de ônibus é um real a menos para obras e outras áreas da Prefeitura, como aumentar salário dos professores. São escolhas. O senhor pretende ou não reajustar a tarifa se ampliar a tarifa zero como está prometendo?

Eu sou o prefeito que manteve a tarifa congelada pelo maior tempo. É o quarto ano consecutivo que a gente manteve a tarifa em R$ 4,40. Agora, esse investimento, não é só questão do transporte. Quando eu mantive a tarifa, eu estava pensando em uma política pública maior.

Qual era? Nós temos hoje um problema sério de trânsito na cidade. Eu preciso incentivar o transporte coletivo e desincentivar o transporte individual. Eu precisava recuperar a economia da cidade. Lembrando que 2021 e 2022 foram anos de pandemia e retomar a economia fundamental, já que isso representa emprego e renda.

No ano passado, entre admissões e demissões, nosso saldo foi positivo de 129 mil empregos. Esse ano, só até junho, o saldo positivo foi de 107 mil empregos na cidade de São Paulo.

Até tem um candidato aí, que passou aqui, falou de uma coisa mirabolante de criar 2 milhões de empregos. Não existe isso, até porque a gente nem tem isso de desempregados na cidade de São Paulo. Não chega a 500 mil desempregados.

Ricardo Nunes, candidato a prefeito de São Paulo pelo MDB, participa de entrevista do Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

A questão da tarifa a minha intenção é continuar nos próximos 4 anos reduzindo impostos, eliminando taxas e mantendo a tarifa baixa. Agora, não vou cometer nenhuma irresponsabilidade de cravar alguma coisa. Por quê? Se tiver uma guerra, explode o diesel... Eu nunca vou atuar com irresponsabilidade.

Vocês não vão achar em nenhuma parte da minha história uma afirmação irresponsável. O meu desejo é esse. Agora, o que eu não vou fazer nunca? Tirar dinheiro da educação e da saúde. O que eu fiz de manter a tarifa? Criei o Domingão Tarifa Zero porque eu consegui melhorar a receita da cidade.

Eu trouxe uma saúde financeira para a cidade que foi importante. Só uma coisa importante do Domingão Tarifa Zero, isso não é só a questão de não pagar a tarifa. Tem questões como, por exemplo, a saúde mental. O pessoal da saúde, hoje, nos traz uma informação importante da grande maioria das pessoas que trabalham a semana inteira e que ficam o final de semana em casa, onde ele pode sair no domingo com a sua família ir no parque.

Nossos parques aumentaram a movimentação de domingo. Eu fui outro dia no parque do Carmo em Itaquera, havia 300 mil pessoas no domingo. Aumentou a participação nas missas, nos cultos, nos equipamentos públicos. A tarifa zero fez com que as pessoas pudessem sair.

Nós já transportamos mais de 100 milhões de passageiros do dia 17 de dezembro, quando foi instituída, até a semana retrasada. O dado atual eu não tenho. Mas eram 102 milhões de pessoas que utilizaram nesse período.

Havia uma meta de substituir 20% da frota em 2024 por ônibus elétricos. Mas hoje, de 12 mil ônibus, 180 são elétricos à bateria e mais 200 e poucos são trólebus. O que a Prefeitura propõe para acelerar essa transformação?

Essa é uma das coisas fundamentais dentro do contexto que a gente tem de proteção do meio ambiente, das questões de mudanças climáticas. Eu já tenho aprovado os recursos, mais de R$ 2 bilhões para fazer a substituição. Era nossa meta.

A indústria não havia produzido e não havia saído com os financiamentos. Por que o financiamento? Como a gente tem concessão, eu optei em não permitir que as empresas concessionárias fizessem a aquisição. Eu preferi que a Prefeitura faça a aquisição.

Só para as pessoas entenderem como eu governo: o nosso TIR [Taxa Interna de Retorno, indicador da viabilidade econômica de um projeto ou investimento] da concessão é de 9%. Caso eles fizessem essa aquisição do ônibus elétrico, eu teria que remunerar, pelo contrato, um ativo de 9%.

Eu consigo esse valor muito mais baixo no mercado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, com o Banco Mundial, com o BNDES. Acabei de liberar agora mais de R$ 1 bilhão do BNDES. Então, eu trago economia para a cidade. E essa substituição dos ônibus, além de trazer esse benefício do meio ambiente, a gente vai conseguir trazer um benefício financeiro para a cidade.

Nosso tempo é curto, mas acho que é bacana as pessoas entenderem como é que eu penso. Um ônibus a diesel custa em torno de R$ 700 mil. O elétrico, R$ 2,4 milhões. ‘Nossa, mas o prefeito vai trocar R$ 700 mil por R$ 2,4 milhões?’. Sim, porque a gente vai deixar de emitir dióxido de carbono para o meio ambiente. E o que acontece? Quando a gente pega o custo mensal, no ônibus a diesel gastamos mais ou menos R$ 25 mil por mês. O elétrico será R$ 5 mil.

Ricardo Nunes, candidato a prefeito de São Paulo pelo MDB, participa de sabatina do Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

Eu vou ter uma economia de R$ 20 mil. Em um ano, R$ 240 mil. Em dez anos, R$ 2,4 milhões. Ou seja, basicamente, a gente paga o valor de investimento no decorrer do tempo. A gente consegue melhorar o meio ambiente, a qualidade do ar, a poluição sonora e, mesmo assim, ainda ter economia.

Queria tocar num ponto muito polêmico, que é a cooptação de partes do sistema público de transporte pelo PCC. A primeira operação policial, que é a Ataraxia, do Denarc, em julho de 2022, que pega a UpBus já mostrava que toda a direção da empresa estava entregue à facção. Com tudo que já se sabia em julho de 2022, a UpBus continuou operando as linhas de ônibus até vir a Operação Fim da Linha em abril de 2024. Sabendo-se que a cúpula da facção era acionista dessa empresa, por que a Prefeitura já não interveio? Nesse período a empresa recebeu mais R$ 100 milhões da Prefeitura.

Em 2022, realmente teve aquela operação da Polícia Civil. Não foi só na UpBus, foi em uma outra empresa, não vou citar o nome aqui e vou dizer o porquê: o sócio daquela empresa, que foi preso, ele foi liberado e foi absolvido. Por que eu estou contando isso?

Quando você tem uma investigação, uma pessoa tem uma prisão preventiva, é necessário que passe por todo esse processo de verificação das provas e condenação. O que eu fiz há dois anos atrás? Eu vou te dar aqui com toda a transparência o nome e todo o episódio.

Chamei a doutora Marina Magro, procuradora-geral do município, o Daniel Falcão, o controlador-geral, e falei o seguinte: ‘Tem essa situação aqui, nós precisamos resolver isso’. Eu não posso cancelar o contato porque se trata só de uma investigação. Não tem ali uma condenação. Nem tem até hoje, olha só como é complicado e demorado esse processo.

Não é uma crítica ao Judiciário ou ao Ministério Público, é só uma constatação. E aí, o que aconteceu? Eles [Magro e Falcão] foram lá, a meu pedido e falaram assim: ‘Nós estamos aqui à disposição e solicitamos que tenha celeridade’. Demorou dois anos.

Mas isso vale para a Transcap, eu falo o nome porque a gente publicou, ele foi absolvido de fato. No caso da UpBus, no entanto, Silvio Cebola era foragido, procurado pela Justiça. Outros integrantes da facção faziam parte da direção da UpBus. Foram encontrados até 500 quilos de drogas dentro das instalações da empresa. Mesmo assim, no caso da UpBus, por que demorou tanto? O que a Prefeitura poderia fazer, ou o senhor poderia fazer, para melhorar isso e evitar que situações como essa voltem a acontecer?

Precisamos colocar o seguinte: a licitação ocorreu em 2019. Já que você conhece bem o caso, fico muito mais confortável. Em 2019, a licitação foi regida pela Lei 8.666. Quando você tem a regra da licitação, portanto, a regra da legislação, são solicitados os documentos. Essa empresa apresentou, por exemplo, o atestado da Receita Federal, e estava tudo ok.

Ou seja, atendeu a todos os requisitos. Em uma licitação, pela impessoalidade, definem-se as empresas que conseguem atender aos critérios. O contrato foi assinado. Vamos lá para 2022, quando ocorreu a operação e o Silvio Cebola não aparecia no quadro societário.

Tem toda uma história, mas ele não aparecia no quadro de sócios. Quando chega 2022 e acontece a operação, eu pedi para agir. Aí, demorou dois anos para saírem as decisões judiciais. Quem estava envolvido? A Marina e o Daniel, de dois anos atrás. O próprio Lincoln [Gakiya], que é um grande promotor [sabia].

Mas só pra você ver, a gente precisa ter essa transparência. A Prefeitura ofereceu apoio ao MP, o Lincoln, que atuou dois anos atrás, e só depois de dois anos saiu a operação. Uma coisa importante: a questão judicial não era para fazer intervenção na UpBus.

Era para fazer intervenção na Transwolff. Como eu já conhecia essa história, eu disse: ‘Opa, quem decidiu fazer a intervenção na UpBus fui eu.’ Eu tomei a iniciativa e fiz a intervenção. Acho que isso é importante, porque mostra o quê? Coragem. A gente precisa remover a influência dessa organização criminosa.

Não tenha dúvida quanto a isso. Eu tenho coragem, determinação e comprometimento para fazer o que for necessário. Então, eu fiz a intervenção na UpBus. O que significa fazer intervenção? Você remove toda a diretoria e a Prefeitura assume. Não há mais a diretoria da administração da Prefeitura de São Paulo.

Teve mais coisas que eu fiz. Eu pedi que a Prefeitura fosse assistente de acusação. Nós somos assistentes de acusação nesse processo. Não há ninguém mais interessado nesse processo do que eu. Dá pra cancelar o contrato sem que haja uma condenação? Não tem como cancelar. Teve condenação? Não vai ser no dia seguinte, vai ser na hora.”

Falando um pouco sobre essa tentativa de infiltração do crime no serviço público, que a gente vê acontecer em vários lugares, o Gaeco chamou de milícia o grupo formado por guardas civis — e não só guardas civis, havia outras figuras também — que estavam cobrando de comerciantes no centro, segundo a operação recente do Ministério Público. O senhor evita falar em milícia…

Eu não evito, não. Eu afirmo categoricamente que não existe milícia e que, com todo o respeito à instituição do Ministério Público e aos promotores…

Você acha que não é milícia?

Eu tenho certeza. Achar é uma coisa, eu tenho certeza. Não existe milícia na nossa cidade. Milícia é uma coisa, que você está ali, as pessoas trabalhando na instituição, com cargo de chefia. Aqui não. Aqui a gente teve algumas pessoas, de uma forma errada, acabaram cometendo alguma ilegalidade.

Mas o senhor considera que foi um episódio grave?

Gravíssimo. Tanto é que esse GCM que foi preso agora nessa operação, eu já havia solicitado a prisão dele em junho do ano passado. Liguei para o Mario Sarrubbo, que era o Procurador-Geral de Justiça, e pedi ao Ministério Público que solicitasse a prisão desse GCM. Por quê? Porque há um áudio dele, em um grupo da organização, no qual ele admite ter feito uma cobrança de uma empresa dele. Ou seja, existia um fato concreto. Eu não seria leviano em fazer esse pedido sem fundamento. Em junho do ano passado, fui eu quem pediu. O Ministério Público não concedeu. E agora saiu a prisão dele.

Não existe milícia na nossa cidade. Milícia é uma coisa, que você está ali, as pessoas trabalhando na instituição, com cargo de chefia. Aqui não. Aqui a gente teve algumas pessoas, de uma forma errada, acabaram cometendo alguma ilegalidade.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

Só para você ver que estamos nos antecipando às ações. A minha Controladoria, que tem, inclusive, recebido vários prêmios pelo combate à corrupção e pela transparência, ampliou o quadro. Todos muito comprometidos em defender a nossa cidade contra a corrupção. Então, só para deixar claro: em junho do ano passado, fui eu quem pediu a prisão do GCM, mas o MP não a concedeu.

Talvez o MP fale isso porque essa ‘taxa de proteção’ é uma característica de organizações mafiosas, milícias, etc.

Mas não é a instituição, né? É um caso isolado. Eu já demiti aquele cara, já o afastei.

Um aspecto fundamental da zeladoria urbana são os fiscais da subprefeituras. Em 2013, eram 513 e agora em janeiro de 2024 eram 300, uma queda contínua ao longo dos últimos governos. Como fazer zeladoria urbana se não tem zelador?

Eu tenho orgulho de ter sido o prefeito que conseguiu ajustar as finanças da cidade. Só na área da educação, chamei mais de 15 mil professores, todos de concurso. Quanto aos fiscais de postura, chamei 200, acho que 230. Realmente, o número estava baixo. Lá atrás, tínhamos um déficit de funcionários. Chamei mais de 2.400 guardas civis metropolitanos. Para o SAMU, foram 862 profissionais. Você vê, o SAMU tinha 60 viaturas, hoje tem 140. Reduzi o tempo de atendimento em 8 minutos. Fiz a Operação Delegada com os bombeiros para apoiar o SAMU.

Por que estou te contando isso? Porque consegui ajustar as finanças e, com isso, ter a capacidade de me comprometer com o custeio, chamando novos profissionais. Isso demanda tempo. Quando chamei os fiscais este ano significa que há mais de um ano tive que abrir o concurso, realizar as provas e abrir recursos. Esse processo para convocar profissionais concursados leva tempo. A boa notícia é que já temos mais 200 fiscais trabalhando e a tendência é que esse quadro melhore.

Uma questão que chamou atenção no período de chuvas que tivemos é a poda de árvores. O site da Prefeitura diz o seguinte: ‘a poda de árvores está entre os serviços mais solicitados. No entanto, o serviço pode demorar, em média, de seis meses a um ano para ser executado. Em caso de risco iminente de queda, o serviço entra em uma lista de prioridade’. Seria razoável o cidadão esperar seis meses, ou até um ano, por uma poda de árvore?

Muito possivelmente estamos falando de casos que têm alguma conexão com a Enel, quando a árvore está encostada no fio. Quando isso acontece, eu preciso comunicar à Enel para que alguém desligue a energia, e eles cortam os galhos que estão encostados. Depois, fazemos o complemento da poda. Fora isso, em relação às equipes, hoje temos, em todas as subprefeituras, mais de oitenta equipes realizando esse serviço de poda na cidade de São Paulo. Temos melhorado bastante.

Agora, o que é positivo é que temos muitas árvores. Foram plantadas 600 mil árvores, plantadas apenas nas vias da cidade, sem contar os parques, no ano passado — o que já é um avanço. É claro que ainda há necessidade de melhorias. Tinha um caso sério da Enel, mas a equipe da Enel também está se aprimorando. Eles mandaram embora o (antigo presidente da companhia em SP) Max (Xavier Lins), que era muito ruim, e colocaram o Antônio Scala, com quem conseguimos dialogar melhor para melhorar a qualidade do serviço.

Se eu pudesse, tiraria a Enel daqui. Mas como não tenho essa possibilidade, pois é uma concessão federal, estou buscando dialogar e colaborar com eles. A boa notícia é que, até o presente momento, o Antônio Scala, que é o novo presidente, tem sido muito acessível. Quando houve aquela falta de energia, duas semanas atrás em São Paulo, nós conversamos rapidamente Temos uma comunicação direta entre o prefeito e o presidente. Não dá para o prefeito ficar falando como era antigamente ou ficar batendo boca com o Max. Então, apesar de todas as restrições que tenho em relação à Enel e achar que ela deveria sair daqui, hoje a situação melhorou.

O senhor tem sido questionado, inclusive, pelo Supremo Tribunal Federal , em relação ao aborto legal. O que o pretende fazer para que essa dificuldade que as mulheres encontraram nos hospitais da prefeitura não se repitam no seu segundo mandato?

Às vezes as pessoas têm esse questionamento porque, do meu ponto de vista, as informações acabaram sendo desviadas, desvirtuadas. Por quê? Porque eu sou católico praticante, sou pró-vida, defendo a vida desde a concepção. Agora, é óbvio que defendo o aborto legal, previsto em lei e por decisão judicial. Não houve, na minha gestão, e não haverá, nenhum tipo de descumprimento em relação a isso.

O que aconteceu foi uma ação do PSOL relacionada aos procedimentos realizados no Hospital da Cachoeirinha. O STF agora está querendo discutir até questões do cotidiano da saúde aqui, né? Está bastante... Bom, tudo bem. O que ocorreu foi que tínhamos uma fila de 1.200 mulheres aguardando cirurgia de endometriose, uma cirurgia muito necessária. Os médicos, que são as pessoas mais qualificadas para definir onde os procedimentos devem ser realizados, indicaram que o hospital da Cachoeirinha tinha melhores condições. Então, transferimos o aborto legal para outras unidades.

Ricardo Nunes, candidato do MDB à Prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

A ideia de que foi proibido realizar o aborto legal não é real, posso te garantir. Não é real. Agora, não quer dizer que algum funcionário, dentro de uma gestão com 118 mil colaboradores só na área da saúde, não possa ter agido de forma inadequada. Pode acontecer, por exemplo. Mas, via de regra, a gestão tem a orientação de realizar os procedimentos conforme a lei. Eu zerei a fila de cirurgias para endometriose.

Um funcionário que tentar de alguma forma dificultar a vida de uma mulher que já foi vítima de um monstro, o senhor vai punir?

Com certeza. E, por isso, temos a nossa Ouvidoria, a nossa Controladoria, e todos os mecanismos necessários para corrigir qualquer desvio de algum funcionário. O que há hoje na Prefeitura de São Paulo é uma adequação. Tenho falado isso com muita transparência: não é o prefeito, nem o ministro ou qualquer outro órgão que vai definir melhor onde os procedimentos podem ser realizados, senão aqueles que estão na linha de frente. Tenho dado bastante autonomia à minha equipe, mas, evidentemente, orientando sempre no cumprimento da legislação e das decisões judiciais.

O senhor sempre destaca o fato de ter 7 mil obras na cidade. Mas recebe críticas pelo fato de que uma grande parte dessas obras, ou uma parte importante, se dá por meio de contratos emergenciais. Por quê? Não parece que faltou planejamento em algum momento e foi preciso acelerar, ou eventualmente preciso terminar rápido porque vem a eleição?

Das 7 mil obras, eu fiz muito mais obras nos anos anteriores, em torno de 5 mil, e esse ano em 2 mil. Eu fiz mais obras antes do período eleitoral. O que é obra emergencial? O nome: emergência. Por exemplo, em 2019, na gestão do prefeito Bruno Covas, aquela ponte da Marginal colapsou e parou a cidade inteira. Por que foi uma obra emergencial? Não dá para esperar um ano, dois anos para fazer uma licitação. Você tem que resolver aquela situação.

Quando você tem uma casa que está na beira de um córrego com risco de vida das pessoas, você tem que fazer a obra emergencial. Quando você tem uma situação de uma de ponte, uma pista, e acontece muito de ela desmoronar, fazer um buraco, você precisa restabelecer. A obra emergencial tem um critério, tem uma legislação, a gente comunica antes ao Tribunal de Contas do Município. Quem faz a definição se é obra emergencial ou não são engenheiros da prefeitura, concursados, e a defesa civil.

[As pessoas falam que] aumentou [o número de obras emergenciais]. Eu saí de quase mil obras para sete mil. Tem que ter uma proporcionalidade nessa análise. Esse ano eu coloquei R$ 18 bilhões de investimentos. Ano passado foram R$ 14 bilhões. No ano retrasado, R$ 8,5 bilhões. Qual foi o maior investimento fora esses anos que eu sou prefeito? Foi em 2020, de R$ 4,1 bilhões. Olha o quanto a gente elevou a capacidade de investimento da cidade.

Agora tem uma coisa importante: quanto custa uma vida? Qual seria a posição da população se o prefeito tem uma situação de uma pessoa que está com risco de vida e não vai lá e não resolve? Não existe nenhum tipo de desvio, de malversação do dinheiro público. Existe um atendimento de uma necessidade numa cidade de 12 milhões de habitantes que tinha, até então, uma dificuldade de fazer investimentos de infraestrutura nessas questões das áreas de risco. Hoje ainda tem 14 mil casas em área de risco. Nos meus próximos quatro anos eu vou tirar todas essas 14 mil da área de risco.

O senhor tem um programa habitacional que o senhor diz que é o maior na história da cidade...

Eu disse, não. É.

Já não dava para ter tirado, então, essas pessoas. O senhor tem 72 mil unidades habitacionais [entre entregues, em obras e já contratadas]. Isso já não dava para ter sido feito então?

A gente tem hoje 21 mil famílias que estão no auxílio-aluguel. O gasto é R$110 milhões por ano

Mas a vida não está em risco.

Mas você tem uma ação de você ir resolvendo essa questão da fila que a gente tem do auxílio-aluguel. Por exemplo, as mulheres vítimas de violência com medida protetiva que estavam na fila, o que eu fiz? Eu dei a elas não a casa, porque elas inclusive não podem aparecer, mas a carta de crédito para elas comprarem as casas delas.

E nessas áreas de risco, não é só a moradia. Tem situações que você resolve. Se você está com uma casa na beira do córrego, que você faz a canalização, a contenção, ela deixa de ser área de risco. Se você está com uma casa numa encosta que você faz ali uma obra de contenção, ela sai da área de risco. Então tem casos que realmente você tem que remover. Por exemplo, Paraisópolis, Córrego do Antonico.

Tem 1.500 casas em cima do Córrego do Antonico. Teve um sábado à noite, me ligaram que tinham desabado casas lá. Eu fui lá para dentro. Inclusive uma pessoa foi soterrada. A gente já tirou 800, estamos tirando as outras 1.700.

Por exemplo, lá no Caboré, em São Mateus, onde alagava tudo, uma pessoa também morreu porque foi levada pela enchente. Já retiramos 600 casas. Temos programa habitacional e estamos fazendo. Pega no Grajaú, ali próximo da Vila Natal, da Chácara do Conde. Havia 900 casas na beira do córrego, contaminando uma área de manancial da represa Guarapiranga. Nós retiramos 899, porque tem uma casa...

Estou fazendo o maior programa habitacional do Brasil lá: 2.711 casas, estou fazendo um CEU, duas creches e UBS. Sete mil obras em todo canto da cidade. A gente está fazendo esse processo. Agora tem as casas R3, R2, R1.

Esse ‘R’ é de risco. O risco 1, 2, 3, 4, quando chega no 4 é o maior risco. Então, a gente já tirou bastante de área de risco. Todas essas que eu comentei com você e tantas outras casas que estavam em área de risco e que a gente está no processo de resolver.

Eu peguei 2021 inteiro de pandemia, parte de 2022, e eu consegui, mesmo assim, avançar. Imagina nos próximos 4 anos. Com as contas ajustadas, com a saúde financeira feita, a gente vai ter 4 anos fantásticos na cidade.

O senhor tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele esteve no lançamento da sua candidatura, o vice é do PL, mas de lá para cá ele não tem feito agendas com o senhor e não gravou ainda para o programa eleitoral. O senhor está satisfeito ou o cálculo era esse, de que ele não participaria mais diretamente da campanha?

Participa e deve participar, sim, com certeza. Nós temos lá no nosso banco de dados mais de 2 horas de gravação com o presidente Bolsonaro das ações que a gente teve junto. Agora, eu preciso, inclusive, tê-lo junto para até fazer um vídeo falando do acordo do Campo de Marte quando eu consegui, quando ele era presidente, resolver a dívida da cidade de 25 bilhões.

Ele vai gravar com o senhor?

Vai, vai, vai gravar. Agora, olha, ele está viajando...

Ele não tem agenda prevista para São Paulo. Fica parecendo que ele apoia o senhor, mas ao mesmo tempo não vem, demora a gravar....

Não, não. Ele ficou 3 horas e 40 minutos em cima do palco, ele e a Michelle Bolsonaro lá na minha convenção. Ele chegou antes do que eu. Quando eu cheguei, ele já estava lá no palco.

Ele ficou o tempo inteiro, discursou, falou, firmou o compromisso na convenção, que ali é um ato oficial público, né? O [governador] Tarcísio [de Freitas], ontem, a gente foi fazer uma visita lá em Perus, onde eu estou fazendo uma obra de quase R$ 200 milhões para resolver aquela enchente, com quatro piscinões, canalização do ribeirão Perus, e o Tarcísio comigo. Conjuntamente, ele está fazendo toda a ligação de captação e tratamento de esgoto.

Você acredita que Pirituba e Perus não têm tratamento de esgoto? Zero. E agora vai ser 100%.

O Tarcísio é visível que ele está efetivamente na campanha.

Fomos fazer uma caminhada, no comércio todinho ali de Perus, do começo ao fim o Tarcísio comigo. Semana passada a gente foi fazer caminhada em Itaquera.

O governador não há duvida, inclusive gravando...

Mas é o maior representante dele [Bolsonaro] aqui. Por isso que eu estou falando dele.

Há um tom muito agressivo entre os candidatos, nós vimos isso em vários debates. Em um eventual segundo turno, o senhor vai precisar de apoio. Se for contra o Marçal, dos eleitores do Boulos. E se for contra o Boulos, dos eleitores do Marçal. O senhor não deve espantar esses eleitores por causa desse tom agressivo? Uma hora o senhor diz que o Boulos é invasor, outra que o Marçal é ligado a facção. Essas coisas , não o prejudicam no segundo turno?

Todos sabem da forma como eu sou. Sempre fui uma pessoa muito ponderada, cristão, uma pessoa que tem bastante controle emocional. Mas quando você está na frente de um Guilherme Boulos, de um Pablo Marçal, que são pessoas muito difíceis, muito agressivas, eu também sou um ser humano. Quando você tem ali aquele Pablo Marçal falando tantas mentiras, ele me chama de comunista... Ele mente demais, é o tempo inteiro mentindo. E aí é muito ataque, né? Ele esteve aqui, ele fala um palavreado de organização criminosa. Eu não tenho medo de organização criminosa. Eu não tenho medo de Pablo Marçal.

Ele falou que vai prender o senhor.

Quem vai prender ele vou ser eu. Ele e o Avalanche, que é o presidente do diretório dele. Tem o áudio do [Leonardo] Avalanche onde fala que ele participou da soltura do André do Rap, que é um dos maiores traficantes do Brasil. Aí vamos para o nível estadual, que é o tal do [Tarcísio] Escobar, tem até uma coincidência ainda com o Pablo Escobar, que está investigado por trocar carro de luxo com cocaína. Aí vamos para o nível municipal, que é o tal do Maiquel, que estava ao lado dele na convenção, que foi condenado e cumpriu pena por sequestro. Olha a turma que nós estamos falando.

Quem vai prender ele [Marçal] vou ser eu. Ele e o Avalanche, que é o presidente do diretório dele.

Ricardo Nunes, candidato do MDB

Você acha que eu vou deixar essa turma entrar na cidade de São Paulo? Eu, como prefeito, eu tenho informações privilegiadas de todos os contribuintes. Imagina um cara que mandava e-mail para as pessoas acessarem o e-mail e ele tirar o dinheiro das pessoas humildes e dos aposentados. A gente precisa também, uma certa hora, ter posicionamento para defender a nossa cidade.

Eu não vou deixar [vencer] uma pessoa que fez tantas invasões e que nega, fala “me prova a invasão que eu fiz”. Tem lá a nova Palestina, Copa do Povo, sabotou a nossa Copa [do Mundo], colocou pneu na rua e queimou. Eu tenho a função de continuar o meu trabalho, mas também tenho essa obrigação, como uma pessoa apaixonada pela cidade, de defender a cidade, de mostrar para as pessoas quem são esses candidatos. Nós estamos falando de um criminoso que foi condenado a 4 anos e 5 meses, que é envolvido com toda essa organização criminosa. Eu não vou deixar esse criminoso desse Pablo Marçal chegar perto da prefeitura.

Queria que o senhor me dissesse qual a diferença entre o PRTB e o que acontece em outros partidos. O União Brasil, que apoia o senhor, já teve candidato em Mogi com o mesmo problema de ligação com facção; PSD em Santo André, o Republicanos em Embu. Todos partidos que estão apoiando o senhor Qual a diferença?

A diferença é que eu não tenho nenhuma relação com nenhuma dessas pessoas, nunca ouvi qualquer coisa de errada. Tem 30 anos que estou atuando na política, nunca tive um indiciamento, uma condenação, e tem uma coisa fundamental: você participou do Roda Viva e viu o Pablo Marçal sentado naquela cadeira, falando o seguinte: que ele ia pedir o afastamento do Avalanche tendo em vista os fatos muito relevantes. É áudio, não é suspeita. É ele falando, é o áudio dele, é a voz dele, [ele falando] que participou da liberação do André do Rap.

E o que ele [Marçal] fez logo em seguida? Trouxe o Avalanche do lado e falou: eu vou honrar essa pessoa. Quem vai honrar vou ser eu a população de São Paulo. Ele deu um recado pra todo mundo, de que essa turma ele está junto. Nesse intervalo, essa turma do PCC deve ter pego ele, que é um ‘tchutchuca’ do PCC, e ter dado uma dura nele e falado: vai lá e corrija isso aí. Ele está dominado por essas pessoas, nós não podemos deixar essa turma assumir a prefeitura de São Paulo.

Entrevista por Pedro Augusto Figueiredo

Repórter de Política em São Paulo. Formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), tem passagens pelo jornal O Tempo e pela rádio Itatiaia, ambos em Belo Horizonte (MG).

Bianca Gomes

Repórter de Política em São Paulo. Antes, foi estagiária e trainee do Estadão e trabalhou por três anos na sucursal do Jornal O Globo em São Paulo, escrevendo sobre política e cidades. Formada pela ESPM.

Hugo Henud

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