Demissão de general Santos Cruz pode gerar insatisfação entre militares, dizem analistas


Terceiro ministro a deixar o governo, general é um dos quadros mais respeitados das Forças Armadas; em seu lugar assume o general Luiz Eduardo Ramos

Por Paulo Beraldo e Vinícius Passarelli

Um dia após a demissão do general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, analistas ouvidos pelo Estado avaliam que a saída indica uma vitória da ala ideológica do governo do presidente Jair Bolsonaro e pode prejudicar a relação do Planalto com os militares, já que Santos Cruz é um dos quadros mais respeitados das Forças Armadas no País. Ele foi o terceiro ministro a deixar a equipe de Bolsonaro após polêmicas com a ala ideológica do governo - os outros dois foram Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, e Vélez Rodriguez, da Educação. Nesta sexta-feira, 14, durante café da manhã com jornalistas, Bolsonaro qualificou a demissão como uma "separação amigável".

Para o filósofo Luiz Bueno, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), a demissão pode causar algum mal-estar na relação entre os militares e o presidente. "O general era um dos (ministros) mais respeitados, tinha uma grande capacidade técnica para o cargo, mas nem sempre a capacitação técnica é acompanhada pela força política. Precisamos ver se não haverá nenhuma reação de insatisfação do grupo militar, uma das principais bases de apoio do governo". 

Em seu currículo, Santos Cruz tem a experiência de ter chefiado uma das missões de paz mais importantes da história recente da Organização das Nações Unidas (ONU), na guerra do Congo, onde liderou um grupo de 22 mil pessoas. Ele também atuou nas missões de pacificação no Haiti. Bolsonaro chegou a convidar o ministro para continuar no governo, como presidente dos Correios, mas Santos Cruz teria recusado. 

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O general Carlos Alberto Santos Cruz em cerimônia no Palácio do Planalto enquanto ainda era ministro Foto: Adriano Machado/Reuters

Para o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Santos Cruz representava uma linha disposta ao diálogo e sua saída é uma perda para o governo. "Mas, mais importante do que a queda, é a substituição. O fato de ter trocado um militar da reserva por um da ativa puxa as Forças Armadas da ativa para o núcleo do governo. Colocar um general da ativa em um órgão de articulação política politiza e partidariza ainda mais as Forças Armadas", avalia. 

Em seu lugar assume o general Luiz Eduardo Ramos, amigo pessoal do presidente Bolsonaro desde os anos 1970 e chefe do Comando Militar do Sudeste (CMSE)

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Disputas nos bastidores

Na opinião de Luiz Bueno, a saída mostra que as disputas por porder nos bastidores continuam fortes. "Ele estava em conflito com os filhos do presidente há algum tempo, vinha havendo troca de críticas públicas e, como o cenário permitiu que se olhasse para outros lados, me parece que foi uma solução encontrada fora dos holofotes", avalia. Para ele, é um sinal de que a força da ala mais próxima dos filhos é muito grande e continua "exercendo grande influência". 

A pesquisadora Carolina de Paula, doutora em ciência política pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), concorda: "Por mais que tenham colocado outro militar no lugar, era um nome que já vinham tentando tirar há algum tempo", diz. Para ela, devido às poucas informações sobre a demissão, trata-se de uma questão interna. "Mas acredito que seja uma articulação entre olavistas (seguidores do escritor Olavo de Carvalho) e as vontades de Carlos Bolsonaro (filho do presidente)". 

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O presidente Jair Bolsonaro e o então ministro Santos Cruz em evento com militares Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República

Repercussão

Reportagem do Estado desta quinta mostra que, apesar de ser visto com ressalva por parlamentares por ser pouco afeito à articulação política, as circunstâncias que levaram à saída preocuparam parte do Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou a aliados que a demissão demonstra um fortalecimento da ala conhecida como “ideológica” da administração Bolsonaro, classificada por ele como mais radical e mais reativa ao Legislativo.

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Deputados ouvidos pela reportagem atribuíram a demissão a Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que vinha fazendo críticas à condução da área de comunicação do governo, subordinada à Secretaria de Governo. A avaliação é de que os ideólogos podem até não nomear ninguém, mas deixaram claro ter força para derrubar ministros. Além de Santos Cruz, Gustavo Bebianno foi outro a cair após trombar com Carlos.

O temperamento do general contribuiu para que ele entrasse em atrito com representantes da equipe econômica e da ala ideológica ou anti-establishment, como o grupo se classifica. Houve disputas em torno, por exemplo, de temas do no Ministério da Educação, de cargos na Apex, e de verbas para a campanha publicitária da reforma da Previdência. / COLABORARAM RENATO ONOFRE E DANIEL WETERMAN

Um dia após a demissão do general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, analistas ouvidos pelo Estado avaliam que a saída indica uma vitória da ala ideológica do governo do presidente Jair Bolsonaro e pode prejudicar a relação do Planalto com os militares, já que Santos Cruz é um dos quadros mais respeitados das Forças Armadas no País. Ele foi o terceiro ministro a deixar a equipe de Bolsonaro após polêmicas com a ala ideológica do governo - os outros dois foram Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, e Vélez Rodriguez, da Educação. Nesta sexta-feira, 14, durante café da manhã com jornalistas, Bolsonaro qualificou a demissão como uma "separação amigável".

Para o filósofo Luiz Bueno, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), a demissão pode causar algum mal-estar na relação entre os militares e o presidente. "O general era um dos (ministros) mais respeitados, tinha uma grande capacidade técnica para o cargo, mas nem sempre a capacitação técnica é acompanhada pela força política. Precisamos ver se não haverá nenhuma reação de insatisfação do grupo militar, uma das principais bases de apoio do governo". 

Em seu currículo, Santos Cruz tem a experiência de ter chefiado uma das missões de paz mais importantes da história recente da Organização das Nações Unidas (ONU), na guerra do Congo, onde liderou um grupo de 22 mil pessoas. Ele também atuou nas missões de pacificação no Haiti. Bolsonaro chegou a convidar o ministro para continuar no governo, como presidente dos Correios, mas Santos Cruz teria recusado. 

O general Carlos Alberto Santos Cruz em cerimônia no Palácio do Planalto enquanto ainda era ministro Foto: Adriano Machado/Reuters

Para o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Santos Cruz representava uma linha disposta ao diálogo e sua saída é uma perda para o governo. "Mas, mais importante do que a queda, é a substituição. O fato de ter trocado um militar da reserva por um da ativa puxa as Forças Armadas da ativa para o núcleo do governo. Colocar um general da ativa em um órgão de articulação política politiza e partidariza ainda mais as Forças Armadas", avalia. 

Em seu lugar assume o general Luiz Eduardo Ramos, amigo pessoal do presidente Bolsonaro desde os anos 1970 e chefe do Comando Militar do Sudeste (CMSE)

Disputas nos bastidores

Na opinião de Luiz Bueno, a saída mostra que as disputas por porder nos bastidores continuam fortes. "Ele estava em conflito com os filhos do presidente há algum tempo, vinha havendo troca de críticas públicas e, como o cenário permitiu que se olhasse para outros lados, me parece que foi uma solução encontrada fora dos holofotes", avalia. Para ele, é um sinal de que a força da ala mais próxima dos filhos é muito grande e continua "exercendo grande influência". 

A pesquisadora Carolina de Paula, doutora em ciência política pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), concorda: "Por mais que tenham colocado outro militar no lugar, era um nome que já vinham tentando tirar há algum tempo", diz. Para ela, devido às poucas informações sobre a demissão, trata-se de uma questão interna. "Mas acredito que seja uma articulação entre olavistas (seguidores do escritor Olavo de Carvalho) e as vontades de Carlos Bolsonaro (filho do presidente)". 

O presidente Jair Bolsonaro e o então ministro Santos Cruz em evento com militares Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República

Repercussão

Reportagem do Estado desta quinta mostra que, apesar de ser visto com ressalva por parlamentares por ser pouco afeito à articulação política, as circunstâncias que levaram à saída preocuparam parte do Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou a aliados que a demissão demonstra um fortalecimento da ala conhecida como “ideológica” da administração Bolsonaro, classificada por ele como mais radical e mais reativa ao Legislativo.

Deputados ouvidos pela reportagem atribuíram a demissão a Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que vinha fazendo críticas à condução da área de comunicação do governo, subordinada à Secretaria de Governo. A avaliação é de que os ideólogos podem até não nomear ninguém, mas deixaram claro ter força para derrubar ministros. Além de Santos Cruz, Gustavo Bebianno foi outro a cair após trombar com Carlos.

O temperamento do general contribuiu para que ele entrasse em atrito com representantes da equipe econômica e da ala ideológica ou anti-establishment, como o grupo se classifica. Houve disputas em torno, por exemplo, de temas do no Ministério da Educação, de cargos na Apex, e de verbas para a campanha publicitária da reforma da Previdência. / COLABORARAM RENATO ONOFRE E DANIEL WETERMAN

Um dia após a demissão do general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, analistas ouvidos pelo Estado avaliam que a saída indica uma vitória da ala ideológica do governo do presidente Jair Bolsonaro e pode prejudicar a relação do Planalto com os militares, já que Santos Cruz é um dos quadros mais respeitados das Forças Armadas no País. Ele foi o terceiro ministro a deixar a equipe de Bolsonaro após polêmicas com a ala ideológica do governo - os outros dois foram Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, e Vélez Rodriguez, da Educação. Nesta sexta-feira, 14, durante café da manhã com jornalistas, Bolsonaro qualificou a demissão como uma "separação amigável".

Para o filósofo Luiz Bueno, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), a demissão pode causar algum mal-estar na relação entre os militares e o presidente. "O general era um dos (ministros) mais respeitados, tinha uma grande capacidade técnica para o cargo, mas nem sempre a capacitação técnica é acompanhada pela força política. Precisamos ver se não haverá nenhuma reação de insatisfação do grupo militar, uma das principais bases de apoio do governo". 

Em seu currículo, Santos Cruz tem a experiência de ter chefiado uma das missões de paz mais importantes da história recente da Organização das Nações Unidas (ONU), na guerra do Congo, onde liderou um grupo de 22 mil pessoas. Ele também atuou nas missões de pacificação no Haiti. Bolsonaro chegou a convidar o ministro para continuar no governo, como presidente dos Correios, mas Santos Cruz teria recusado. 

O general Carlos Alberto Santos Cruz em cerimônia no Palácio do Planalto enquanto ainda era ministro Foto: Adriano Machado/Reuters

Para o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Santos Cruz representava uma linha disposta ao diálogo e sua saída é uma perda para o governo. "Mas, mais importante do que a queda, é a substituição. O fato de ter trocado um militar da reserva por um da ativa puxa as Forças Armadas da ativa para o núcleo do governo. Colocar um general da ativa em um órgão de articulação política politiza e partidariza ainda mais as Forças Armadas", avalia. 

Em seu lugar assume o general Luiz Eduardo Ramos, amigo pessoal do presidente Bolsonaro desde os anos 1970 e chefe do Comando Militar do Sudeste (CMSE)

Disputas nos bastidores

Na opinião de Luiz Bueno, a saída mostra que as disputas por porder nos bastidores continuam fortes. "Ele estava em conflito com os filhos do presidente há algum tempo, vinha havendo troca de críticas públicas e, como o cenário permitiu que se olhasse para outros lados, me parece que foi uma solução encontrada fora dos holofotes", avalia. Para ele, é um sinal de que a força da ala mais próxima dos filhos é muito grande e continua "exercendo grande influência". 

A pesquisadora Carolina de Paula, doutora em ciência política pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), concorda: "Por mais que tenham colocado outro militar no lugar, era um nome que já vinham tentando tirar há algum tempo", diz. Para ela, devido às poucas informações sobre a demissão, trata-se de uma questão interna. "Mas acredito que seja uma articulação entre olavistas (seguidores do escritor Olavo de Carvalho) e as vontades de Carlos Bolsonaro (filho do presidente)". 

O presidente Jair Bolsonaro e o então ministro Santos Cruz em evento com militares Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República

Repercussão

Reportagem do Estado desta quinta mostra que, apesar de ser visto com ressalva por parlamentares por ser pouco afeito à articulação política, as circunstâncias que levaram à saída preocuparam parte do Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou a aliados que a demissão demonstra um fortalecimento da ala conhecida como “ideológica” da administração Bolsonaro, classificada por ele como mais radical e mais reativa ao Legislativo.

Deputados ouvidos pela reportagem atribuíram a demissão a Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que vinha fazendo críticas à condução da área de comunicação do governo, subordinada à Secretaria de Governo. A avaliação é de que os ideólogos podem até não nomear ninguém, mas deixaram claro ter força para derrubar ministros. Além de Santos Cruz, Gustavo Bebianno foi outro a cair após trombar com Carlos.

O temperamento do general contribuiu para que ele entrasse em atrito com representantes da equipe econômica e da ala ideológica ou anti-establishment, como o grupo se classifica. Houve disputas em torno, por exemplo, de temas do no Ministério da Educação, de cargos na Apex, e de verbas para a campanha publicitária da reforma da Previdência. / COLABORARAM RENATO ONOFRE E DANIEL WETERMAN

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