O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro (PL), ameaçou se desfiliar do Podemos se o partido apoiar o presidente nesta eleição. Demitido em junho de 2019, após cinco meses no cargo, Santos Cruz disse que o chefe do Executivo não cumpriu nada do que prometeu na campanha eleitoral.
A tendência da cúpula do Podemos é não fechar aliança nacional na disputa presidencial, mas a maioria dos deputados e senadores da legenda apoia Bolsonaro. “Se o partido decidir por isso, estou fora. Saio”, disse o general ao Estadão.
Amigo do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, Santos Cruz entrou com ele no Podemos, em novembro do ano passado. Desde que o ex-juiz da Lava Jato migrou para o União Brasil, há três meses, o militar foi sondado para concorrer ao Palácio do Planalto. Na sua avaliação, porém, os políticos do Podemos estão hoje mais preocupados com suas próprias candidaturas do que com a eleição presidencial.
Para cumprir as exigências da cláusula de desempenho, o Podemos terá de eleger uma bancada de pelo menos 11 deputados federais. Hoje, o partido tem oito. A meta é conquista ao menos 25 cadeiras na Câmara e quatro no Senado.
Responsável pela articulação política com o Congresso nos primeiros meses do mandato de Bolsonaro, o general virou alvo dos filhos do presidente e foi defenestrado. O maior embate ocorreu com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), responsável pelas redes sociais do pai.
Carlos Alberto dos Santos Cruz
Agora, Santos Cruz diz que Bolsonaro tem tentado usar as Forças Armadas como instrumento político para um projeto pessoal de poder e repudia os ataques feitos às urnas eletrônicas. O general avalia concorrer a um cargo eletivo pelo Distrito Federal, mas não anunciou qual seria. “Tem de definir isso, ver se o Podemos tem interesse ou não de lançar candidato próprio (a presidente)”, disse Santos Cruz.
A presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, disse que a definição sobre candidaturas ocorrerá “nas próximas semanas”. O Podemos deve liberar os diretórios regionais. Nos bastidores, no entanto, dirigentes do partido admitem que a preferência da maioria é por um segundo mandato do presidente.
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse que “muito provavelmente” estará com Bolsonaro. Já Deltan Dallagnol, ex-coordenador da Lava Jato no Paraná, declarou que, se houver um segundo turno entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apoiará o atual chefe do Executivo. Deltan vai concorrer a uma vaga de deputado federal pelo Podemos-PR.
Palanque
O líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), disse que o Podemos está no mesmo palanque de Bolsonaro em alguns Estados, como no Rio de Janeiro, onde o partido apoia a reeleição do governador Cláudio Castro (PL-RJ), e no Ceará. Lá, a sigla vai apoiar o Capitão Wagner (União Brasil) para governador. Tanto Castro quanto Wagner têm o aval de Bolsonaro. “Não há nenhuma manifestação do Podemos ainda em relação à eleição nacional, mas nos Estados há uma grande proximidade”, disse Portinho.
Mesmo assim, Renata e o líder do partido no Senado, Álvaro Dias (PR), rejeitam o apoio formal a Bolsonaro e, pessoalmente, indicam disposição de endossar um projeto de terceira via. Ao ser questionado sobre qual seria o melhor nome para a Presidência, Dias ironizou: “Barack Obama”.