BRASÍLIA – O presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que, se as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil forem “verdade”, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, “ultrapassou o limite ético” ao se relacionar com os procuradores da Lava Jato enquanto era juiz do caso em Curitiba. “Se fosse deputado ou senador, estava no Conselho de Ética, cassado ou preso. Nem precisava provar se tinha hacker”, comparou.
O site tem divulgado uma série de mensagens que atribui a Moro e a procuradores supostamente trocadas pelo aplicativo Telegram. Nos diálogos, não reconhecidos pelos envolvidos, há conversas sobre as investigações. A Polícia Federal apura ataque de hacker aos telefones das autoridades. O The Intercept Brasil alega que recebeu o material de fonte anônima.
“Em sendo verdade, são muito graves. Muito graves. Ultrapassou o limite ético. Não era para ter tido conversa naquele nível entre julgador e acusador. Se isso for verdade, terá um impacto grande em relação a procedimentos”, afirmou Alcolumbre durante jantar promovido na noite de segunda-feira, 24, pelo jornal digital Poder360 para executivos e jornalistas. O Estado participou como convidado.
O presidente do Senado observou, contudo, que não é possível dizer que o conteúdo das mensagens reveladas pelo site seja verdadeiro. E relatou experiência pessoal. Disse que recentemente foram atribuídas a ele declarações feitas por um perfil fake no Twitter, quando aprendeu que é preciso ter cautela no julgamento. O microblog já cancelou a conta falsa.
Apesar das observações, Alcolumbre afirmou que não vê motivos para anular a Lava Jato. A operação desbaratou um esquema de corrupção na Petrobrás envolvendo grandes empreiteiras, servidores públicos, doleiros e políticos. Entre os presos está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de receber da OAS um triplex em troca de favorecimento da empresa em contratos com a petroleira. A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu manter Lula preso até uma decisão sobre a suspeição de Moro.
Alcolumbre disse que trabalhou pessoalmente para convencer senadores a desistirem de propor uma CPI para investigar a conduta de Moro quando juiz. Argumentou que essa não é a agenda de um País que tem “desempregados, pessoas precisando de hospital, médico”. A prioridade do Congresso é a reforma da Previdência. “Convenci várias pessoas a não fazer isso.” Nessa empreitada, o senador contou com o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também contrário à comissão de inquérito.
A força-tarefa dos dois políticos deu resultado. A oposição tentou coletar assinaturas para apresentar um pedido de CPI, mas até hoje não conseguiu reunir as 171 necessárias na Câmara ou as 27 no Senado para propor a abertura da investigação.
‘Besteira’
Durante o jantar, Alcolumbre rebateu críticas do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, aos senadores que questionaram Moro de forma mais dura em audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na semana passada.
“O general Heleno falou besteira”, disse, complementando que foi Moro quem se ofereceu para ir ao Senado prestar esclarecimentos. Heleno afirmou, na ocasião, que “alguns protagonistas desse criminoso projeto de poder (desbaratado pela Lava Jato) e enriquecimento ilícito participaram, com a cara mais lavada do mundo, dessa inquisição ao ministro Moro”.
O ex-juiz tem recebido apoio de ministros militares e do próprio presidente Jair Bolsonaro, que disse confiar em Moro.
No encontro com os senadores, o ministro disse que não tem “apego ao cargo” e admitiu a possibilidade de deixar o governo caso seja constatada ilegalidade. Justificou que agiu de acordo com a lei e cobrou que o The Intercept Brasil divulgue de uma vez todo o conteúdo a que teve acesso. O site tem publicado as conversas em capítulos.
Dos 40 senadores que falaram na audiência pública, 27 evitaram polêmica – vários manifestaram apoio ao trabalho do ministro enquanto era juiz. Outros 13 concentraram seu discurso em críticas a Moro – entre eles, parlamentares de PT, PDT, Rede, PSB e MDB. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), sugeriu a Moro que tivesse a “humildade” de pedir demissão. O ministro disse que não responderia ao petista por considerar a pergunta ofensiva.