Governo Tarcísio: Secretária da Mulher tentou barrar vacinação de crianças e vetar trans em esportes


Sonaira Fernandes, nomeada para nova pasta do governo de São Paulo, é apoiadora fiel do ex-presidente Bolsonaro e filiada ao Republicanos; escolha é criticada por parlamentares ligadas ao governo Lula, que dizem temer ‘nova Damares’

Por Adriana Ferraz
Atualização:

Empossada secretária de Políticas para Mulheres pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a vereadora paulistana Sonaira Fernandes, do mesmo partido, tem como bandeira política a luta contra o feminismo, a chamada ideologia de gênero, o aborto legal e o protagonismo de pessoas LGBT. Eleita com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem é fiel seguidora, a nova secretária tem 32 anos, é negra, evangélica e formada em Direito. Desde 2021, quando chegou à Câmara Municipal, apresentou 38 projetos de lei, a grande maioria da chamada pauta de costumes.

Nova secretária da Mulher, a vereadora Sonaira Fernandes foi eleita na capital paulista com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Facebook

Segundo a vereadora, o feminismo promove a desagregação familiar, a libertinagem sexual e a deterioração da dignidade feminina. Em um vídeo divulgado em suas redes sociais, a vereadora afirma que é incoerente ser cristã e feminista. “Precisamos estar atentos ao movimento feminista porque ele é inteiramente ameaçador à fé cristã e à moral.”

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A indicação para compor o primeiro escalão do governo Tarcísio, feita pelo Republicanos, repercutiu negativamente entre ativistas das causas femininas e colegas de esquerda da Câmara. Além de se considerar abertamente antifeminista, Sonaira combateu as vacinas durante a pandemia de covid-19 e apresentou uma série de propostas de lei consideradas negacionistas.

Perfil da vereadora Sonaira Fernandes no Instagram tem alerta de fake news Foto: Reprodução

As repetidas fake news e mensagens de cunho preconceituoso postadas em redes sociais levaram o Instagram a alertar novos seguidores de que a conta da vereadora publica repetidamente informações falsas, segundo verificadores de fatos independentes, o que contraria sua política interna.

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Foi dela, por exemplo, a postagem de um vídeo que mostra o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebendo um banho de pipoca de uma mulher vestida de baiana. Compartilhado pela então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, durante a campanha, a mensagem gerou a apresentação de uma queixa-crime contra ambas por intolerância religiosa. Na época, Sonaira afirmou que “Lula havia entregue sua alma” para vencer a eleição.

Para a vereadora Silvia Ferraro, da Bancada Feminista do PSOL, a secretária não atende os critérios para o cargo. “Será a nova Damares”, disse, em referência à ex-ministra Damares Alves, do governo Bolsonaro.

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Já o deputado estadual Gil Diniz (PL-SP) celebrou a indicação e esteve no Palácio dos Bandeirantes durante a sua posse. “Sonaira Fernandes tem como principais bandeiras na Câmara Municipal a defesa da vida e o fortalecimento das famílias em nosso município. Tenho certeza que fará um ótimo trabalho ao lado do governador Tarcísio de Freitas”, afirmou em suas redes sociais.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também defendeu Sonaira. Segundo o parlamentar, o nome da vereadora, que já trabalhou em campanhas eleitorais dele e em seu gabinete em Brasília, é contestado porque ela é negra, nordestina e evangélica.

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Ao responder às críticas sofridas após o anúncio de seu nome, Sonaira escreveu: “Não estou aqui para agradar quem quer me enfiar em uma carapuça ideológica porque sou mulher ou porque sou negra. Eu já me libertei de todos os cativeiros que, muitas vezes, progressistas de classe média querem me impor”. Procurada, a secretária não atendeu o pedido de entrevista feito pela reportagem.

Defesa da família

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Na linha adotada por Damares Alves durante sua gestão à frente do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos - reformulado na gestão Lula -, a vereadora Sonaira tentou aprovar propostas que, segundo ela, reforçam “políticas pró-vida”. Uma delas incentiva a divulgação para mulheres que buscam o aborto previsto em lei - nas condições de estupro, risco à vida da gestante ou anencefalia do feto - da possibilidade do que chama de “entrega legal”.

“Com o acesso à informação sobre esse direito, muitas mães poderão usar a estrutura legal já existente e evitar métodos reprováveis, como a prática do aborto ou mesmo abandono ou adoções irregulares”, explicou, em suas redes sociais. No ano passado, Sonaira participou de um protesto religioso contra o aborto legal fazendo vigília em frente ao Hospital Pérola Byington, referência no Estado.

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A defesa da família, aliás, deveria compor o nome da secretaria, mas, segundo o Estadão apurou, a expressão foi vetada pelo governo Tarcísio ainda na transição. A vereadora gostaria que a pasta se chamasse Política para Mulheres e Família, em uma espécie de réplica da pasta que foi comandada por Damares, que ainda abarcava Direitos Humanos.

Para a ex-secretária nacional da Família no governo Bolsonaro, Angela Vidal Martins, a vereadora não deve ser comparada com Damares Alves. “Cada pessoa tem o seu estilo de trabalho, mas vejo na Sonaira uma perspectiva humana importante para o cargo”, disse. Angela, no entanto, alerta para as características de uma função de governo: “O ativismo não cabe ao Poder Executivo. Sonaira precisará desenvolver um trabalho focado na tecnicidade”.

LGBT

Em março de 2022, Sonaira e o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), também bolsonarista, apresentaram um projeto de lei com o objetivo de vetar a participação de pessoas transsexuais em competições esportivas na capital.

A vereadora e deputada federal eleita Erika Hilton (PSOL), que é uma mulher trans, logo reagiu. “A indicação de uma mulher que diz que feminismo é morte e destruição barbariza e ‘damariza’ o pouco de estrutura que o Estado de SP tinha para as populações marginalizadas da política”, afirmou nas redes.

Assim como Damares, a secretária paulista também combate o suposto ensino da “ideologia de gênero” nas escolas e o destaque de pessoas LGBT na mídia, a exemplo do último filme da Disney. A vereadora ainda trabalha para vetar oficialmente banheiros unissex na cidade.

Cotas e vacinas

Ao longo da pandemia de covid-19, Sonaira replicou comportamentos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tentou, por exemplo, derrubar decreto que estabeleceu o passaporte da vacina na capital paulista e também outro que prevê a obrigatoriedade de servidores públicos municipais se vacinarem. Ela própria não apresentou comprovante de vacinação à Câmara - na época, disse que era recomendação de sua médica porque estava grávida. A vacinação de grávidas, no entanto, sempre foi incentivada por médicos de todo o mundo.

Para tentar dificultar a vacinação de menores de idade, a parlamentar ainda apresentou um projeto de lei que prevê a obrigatoriedade de se apresentar autorização por escrito nas unidades de saúde no momento da vacinação de menores, caso os responsáveis não estejam presentes.

Da mesma forma, Sonaira, que é negra, é contra as cotas. A secretária chegou a apresentar uma proposta para derrubar a regra atual da Prefeitura que reserva vagas em seus concursos de acordo com a raça. Durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura, a Câmara aprovou uma lei que prevê no mínimo 20% das vagas e/ou cargos públicos para negros, negras ou afrodescendentes.

Empossada secretária de Políticas para Mulheres pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a vereadora paulistana Sonaira Fernandes, do mesmo partido, tem como bandeira política a luta contra o feminismo, a chamada ideologia de gênero, o aborto legal e o protagonismo de pessoas LGBT. Eleita com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem é fiel seguidora, a nova secretária tem 32 anos, é negra, evangélica e formada em Direito. Desde 2021, quando chegou à Câmara Municipal, apresentou 38 projetos de lei, a grande maioria da chamada pauta de costumes.

Nova secretária da Mulher, a vereadora Sonaira Fernandes foi eleita na capital paulista com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Facebook

Segundo a vereadora, o feminismo promove a desagregação familiar, a libertinagem sexual e a deterioração da dignidade feminina. Em um vídeo divulgado em suas redes sociais, a vereadora afirma que é incoerente ser cristã e feminista. “Precisamos estar atentos ao movimento feminista porque ele é inteiramente ameaçador à fé cristã e à moral.”

A indicação para compor o primeiro escalão do governo Tarcísio, feita pelo Republicanos, repercutiu negativamente entre ativistas das causas femininas e colegas de esquerda da Câmara. Além de se considerar abertamente antifeminista, Sonaira combateu as vacinas durante a pandemia de covid-19 e apresentou uma série de propostas de lei consideradas negacionistas.

Perfil da vereadora Sonaira Fernandes no Instagram tem alerta de fake news Foto: Reprodução

As repetidas fake news e mensagens de cunho preconceituoso postadas em redes sociais levaram o Instagram a alertar novos seguidores de que a conta da vereadora publica repetidamente informações falsas, segundo verificadores de fatos independentes, o que contraria sua política interna.

Foi dela, por exemplo, a postagem de um vídeo que mostra o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebendo um banho de pipoca de uma mulher vestida de baiana. Compartilhado pela então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, durante a campanha, a mensagem gerou a apresentação de uma queixa-crime contra ambas por intolerância religiosa. Na época, Sonaira afirmou que “Lula havia entregue sua alma” para vencer a eleição.

Para a vereadora Silvia Ferraro, da Bancada Feminista do PSOL, a secretária não atende os critérios para o cargo. “Será a nova Damares”, disse, em referência à ex-ministra Damares Alves, do governo Bolsonaro.

Já o deputado estadual Gil Diniz (PL-SP) celebrou a indicação e esteve no Palácio dos Bandeirantes durante a sua posse. “Sonaira Fernandes tem como principais bandeiras na Câmara Municipal a defesa da vida e o fortalecimento das famílias em nosso município. Tenho certeza que fará um ótimo trabalho ao lado do governador Tarcísio de Freitas”, afirmou em suas redes sociais.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também defendeu Sonaira. Segundo o parlamentar, o nome da vereadora, que já trabalhou em campanhas eleitorais dele e em seu gabinete em Brasília, é contestado porque ela é negra, nordestina e evangélica.

Ao responder às críticas sofridas após o anúncio de seu nome, Sonaira escreveu: “Não estou aqui para agradar quem quer me enfiar em uma carapuça ideológica porque sou mulher ou porque sou negra. Eu já me libertei de todos os cativeiros que, muitas vezes, progressistas de classe média querem me impor”. Procurada, a secretária não atendeu o pedido de entrevista feito pela reportagem.

Defesa da família

Na linha adotada por Damares Alves durante sua gestão à frente do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos - reformulado na gestão Lula -, a vereadora Sonaira tentou aprovar propostas que, segundo ela, reforçam “políticas pró-vida”. Uma delas incentiva a divulgação para mulheres que buscam o aborto previsto em lei - nas condições de estupro, risco à vida da gestante ou anencefalia do feto - da possibilidade do que chama de “entrega legal”.

“Com o acesso à informação sobre esse direito, muitas mães poderão usar a estrutura legal já existente e evitar métodos reprováveis, como a prática do aborto ou mesmo abandono ou adoções irregulares”, explicou, em suas redes sociais. No ano passado, Sonaira participou de um protesto religioso contra o aborto legal fazendo vigília em frente ao Hospital Pérola Byington, referência no Estado.

A defesa da família, aliás, deveria compor o nome da secretaria, mas, segundo o Estadão apurou, a expressão foi vetada pelo governo Tarcísio ainda na transição. A vereadora gostaria que a pasta se chamasse Política para Mulheres e Família, em uma espécie de réplica da pasta que foi comandada por Damares, que ainda abarcava Direitos Humanos.

Para a ex-secretária nacional da Família no governo Bolsonaro, Angela Vidal Martins, a vereadora não deve ser comparada com Damares Alves. “Cada pessoa tem o seu estilo de trabalho, mas vejo na Sonaira uma perspectiva humana importante para o cargo”, disse. Angela, no entanto, alerta para as características de uma função de governo: “O ativismo não cabe ao Poder Executivo. Sonaira precisará desenvolver um trabalho focado na tecnicidade”.

LGBT

Em março de 2022, Sonaira e o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), também bolsonarista, apresentaram um projeto de lei com o objetivo de vetar a participação de pessoas transsexuais em competições esportivas na capital.

A vereadora e deputada federal eleita Erika Hilton (PSOL), que é uma mulher trans, logo reagiu. “A indicação de uma mulher que diz que feminismo é morte e destruição barbariza e ‘damariza’ o pouco de estrutura que o Estado de SP tinha para as populações marginalizadas da política”, afirmou nas redes.

Assim como Damares, a secretária paulista também combate o suposto ensino da “ideologia de gênero” nas escolas e o destaque de pessoas LGBT na mídia, a exemplo do último filme da Disney. A vereadora ainda trabalha para vetar oficialmente banheiros unissex na cidade.

Cotas e vacinas

Ao longo da pandemia de covid-19, Sonaira replicou comportamentos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tentou, por exemplo, derrubar decreto que estabeleceu o passaporte da vacina na capital paulista e também outro que prevê a obrigatoriedade de servidores públicos municipais se vacinarem. Ela própria não apresentou comprovante de vacinação à Câmara - na época, disse que era recomendação de sua médica porque estava grávida. A vacinação de grávidas, no entanto, sempre foi incentivada por médicos de todo o mundo.

Para tentar dificultar a vacinação de menores de idade, a parlamentar ainda apresentou um projeto de lei que prevê a obrigatoriedade de se apresentar autorização por escrito nas unidades de saúde no momento da vacinação de menores, caso os responsáveis não estejam presentes.

Da mesma forma, Sonaira, que é negra, é contra as cotas. A secretária chegou a apresentar uma proposta para derrubar a regra atual da Prefeitura que reserva vagas em seus concursos de acordo com a raça. Durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura, a Câmara aprovou uma lei que prevê no mínimo 20% das vagas e/ou cargos públicos para negros, negras ou afrodescendentes.

Empossada secretária de Políticas para Mulheres pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a vereadora paulistana Sonaira Fernandes, do mesmo partido, tem como bandeira política a luta contra o feminismo, a chamada ideologia de gênero, o aborto legal e o protagonismo de pessoas LGBT. Eleita com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem é fiel seguidora, a nova secretária tem 32 anos, é negra, evangélica e formada em Direito. Desde 2021, quando chegou à Câmara Municipal, apresentou 38 projetos de lei, a grande maioria da chamada pauta de costumes.

Nova secretária da Mulher, a vereadora Sonaira Fernandes foi eleita na capital paulista com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Facebook

Segundo a vereadora, o feminismo promove a desagregação familiar, a libertinagem sexual e a deterioração da dignidade feminina. Em um vídeo divulgado em suas redes sociais, a vereadora afirma que é incoerente ser cristã e feminista. “Precisamos estar atentos ao movimento feminista porque ele é inteiramente ameaçador à fé cristã e à moral.”

A indicação para compor o primeiro escalão do governo Tarcísio, feita pelo Republicanos, repercutiu negativamente entre ativistas das causas femininas e colegas de esquerda da Câmara. Além de se considerar abertamente antifeminista, Sonaira combateu as vacinas durante a pandemia de covid-19 e apresentou uma série de propostas de lei consideradas negacionistas.

Perfil da vereadora Sonaira Fernandes no Instagram tem alerta de fake news Foto: Reprodução

As repetidas fake news e mensagens de cunho preconceituoso postadas em redes sociais levaram o Instagram a alertar novos seguidores de que a conta da vereadora publica repetidamente informações falsas, segundo verificadores de fatos independentes, o que contraria sua política interna.

Foi dela, por exemplo, a postagem de um vídeo que mostra o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebendo um banho de pipoca de uma mulher vestida de baiana. Compartilhado pela então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, durante a campanha, a mensagem gerou a apresentação de uma queixa-crime contra ambas por intolerância religiosa. Na época, Sonaira afirmou que “Lula havia entregue sua alma” para vencer a eleição.

Para a vereadora Silvia Ferraro, da Bancada Feminista do PSOL, a secretária não atende os critérios para o cargo. “Será a nova Damares”, disse, em referência à ex-ministra Damares Alves, do governo Bolsonaro.

Já o deputado estadual Gil Diniz (PL-SP) celebrou a indicação e esteve no Palácio dos Bandeirantes durante a sua posse. “Sonaira Fernandes tem como principais bandeiras na Câmara Municipal a defesa da vida e o fortalecimento das famílias em nosso município. Tenho certeza que fará um ótimo trabalho ao lado do governador Tarcísio de Freitas”, afirmou em suas redes sociais.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também defendeu Sonaira. Segundo o parlamentar, o nome da vereadora, que já trabalhou em campanhas eleitorais dele e em seu gabinete em Brasília, é contestado porque ela é negra, nordestina e evangélica.

Ao responder às críticas sofridas após o anúncio de seu nome, Sonaira escreveu: “Não estou aqui para agradar quem quer me enfiar em uma carapuça ideológica porque sou mulher ou porque sou negra. Eu já me libertei de todos os cativeiros que, muitas vezes, progressistas de classe média querem me impor”. Procurada, a secretária não atendeu o pedido de entrevista feito pela reportagem.

Defesa da família

Na linha adotada por Damares Alves durante sua gestão à frente do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos - reformulado na gestão Lula -, a vereadora Sonaira tentou aprovar propostas que, segundo ela, reforçam “políticas pró-vida”. Uma delas incentiva a divulgação para mulheres que buscam o aborto previsto em lei - nas condições de estupro, risco à vida da gestante ou anencefalia do feto - da possibilidade do que chama de “entrega legal”.

“Com o acesso à informação sobre esse direito, muitas mães poderão usar a estrutura legal já existente e evitar métodos reprováveis, como a prática do aborto ou mesmo abandono ou adoções irregulares”, explicou, em suas redes sociais. No ano passado, Sonaira participou de um protesto religioso contra o aborto legal fazendo vigília em frente ao Hospital Pérola Byington, referência no Estado.

A defesa da família, aliás, deveria compor o nome da secretaria, mas, segundo o Estadão apurou, a expressão foi vetada pelo governo Tarcísio ainda na transição. A vereadora gostaria que a pasta se chamasse Política para Mulheres e Família, em uma espécie de réplica da pasta que foi comandada por Damares, que ainda abarcava Direitos Humanos.

Para a ex-secretária nacional da Família no governo Bolsonaro, Angela Vidal Martins, a vereadora não deve ser comparada com Damares Alves. “Cada pessoa tem o seu estilo de trabalho, mas vejo na Sonaira uma perspectiva humana importante para o cargo”, disse. Angela, no entanto, alerta para as características de uma função de governo: “O ativismo não cabe ao Poder Executivo. Sonaira precisará desenvolver um trabalho focado na tecnicidade”.

LGBT

Em março de 2022, Sonaira e o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), também bolsonarista, apresentaram um projeto de lei com o objetivo de vetar a participação de pessoas transsexuais em competições esportivas na capital.

A vereadora e deputada federal eleita Erika Hilton (PSOL), que é uma mulher trans, logo reagiu. “A indicação de uma mulher que diz que feminismo é morte e destruição barbariza e ‘damariza’ o pouco de estrutura que o Estado de SP tinha para as populações marginalizadas da política”, afirmou nas redes.

Assim como Damares, a secretária paulista também combate o suposto ensino da “ideologia de gênero” nas escolas e o destaque de pessoas LGBT na mídia, a exemplo do último filme da Disney. A vereadora ainda trabalha para vetar oficialmente banheiros unissex na cidade.

Cotas e vacinas

Ao longo da pandemia de covid-19, Sonaira replicou comportamentos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tentou, por exemplo, derrubar decreto que estabeleceu o passaporte da vacina na capital paulista e também outro que prevê a obrigatoriedade de servidores públicos municipais se vacinarem. Ela própria não apresentou comprovante de vacinação à Câmara - na época, disse que era recomendação de sua médica porque estava grávida. A vacinação de grávidas, no entanto, sempre foi incentivada por médicos de todo o mundo.

Para tentar dificultar a vacinação de menores de idade, a parlamentar ainda apresentou um projeto de lei que prevê a obrigatoriedade de se apresentar autorização por escrito nas unidades de saúde no momento da vacinação de menores, caso os responsáveis não estejam presentes.

Da mesma forma, Sonaira, que é negra, é contra as cotas. A secretária chegou a apresentar uma proposta para derrubar a regra atual da Prefeitura que reserva vagas em seus concursos de acordo com a raça. Durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura, a Câmara aprovou uma lei que prevê no mínimo 20% das vagas e/ou cargos públicos para negros, negras ou afrodescendentes.

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