BRASÍLIA - Aliado do vice-presidente Michel Temer, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) defendeu nesta segunda-feira, 4, a realização de novas eleições presidenciais em outubro deste ano. Pela proposta, o pleito ocorreria simultaneamente com as eleições municipais.
Em discurso no plenário do Senado nesta segunda-feira, o senador afirmou que o vice-presidente Michel Temer revelou a ele, antes do desembarque do PMDB do governo, que não gostaria de assumir o governo na atual conjuntura política e econômica.
“Michel Temer me ligou há uma semana dizendo ‘Raupp, eu não quero ser presidente da República em uma situação dessas’. Repito, ele disse ‘Raupp, eu não quero ser presidente numa situação dessas porque, com impeachment ou sem impeachment, isso não vai acabar bem’”.
O senador peemedebista relatou o diálogo na tribuna e afirmou que se tratava de um “testemunho” sobre o pensamento do vice-presidente Michel Temer. Segundo ele, o telefonema aconteceu antes do dia 29.
“Michel estava em São Paulo e eu estava aqui (em Brasília), reunido com meia dúzia de senadores do PMDB.” Ele afirmou, ainda, que o vice está recolhido porque tem recebido muitas críticas.
O senador, que integra a direção nacional do PMDB e foi vice-presidente do partido, defende a criação de uma proposta de emenda constitucional (PEC) para realizar as eleições presidenciais em outubro deste ano. “Acho difícil o impeachment passar na Câmara e a presidente não irá renunciar. Com eleições gerais, as ruas seriam pacificadas”, diz ele. A tese do peemedebista é de que as eleições seriam uma alternativa ao impeachment e também à renúncia.
Raupp sugeriu ainda que a presidente se reunisse com os presidentes do Senado, da Câmara e do Supremo Tribunal Federal para buscar soluções para a crise e declarou que Temer participaria de bom grado dessa conversa. Procurada pela reportagem, a assessoria do vice-presidente informou que “Michel Temer desconhece este telefonema e este diálogo”.
Reações. Líder da oposição no Congresso, o deputado Mendonça Filho (DEM-PE) classificou como “casuística e inoportuna” a proposta do senador peemedebista. “Essa medida agravaria a crise institucional. Seria uma PEC casuística e inoportuna. É um golpe petista para tentar viabilizar a volta de Lula”, afirmou Mendonça.
Principal partido de oposição no Congresso, o PSDB foi surpreendido com as declarações de Raupp. Os tucanos defendiam até recentemente que a melhor solução para a crise seria a realização de novas eleições gerais. Agora, porém, o foco está totalmente no impedimento de Dilma.
No dia 3 de março, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, fez um pronunciamento nesse sentido. Ele é o tucano mais bem posicionado neste momento em uma eventual disputa devido ao recall conquistado em 2014, quando disputou o 2.º turno contra a presidente Dilma Rousseff.
Mesmo assim, os dirigentes do PSDB enxergam com reservas a proposta. “Tudo o que está sendo feito pelo PMDB é para fazer o Michel Temer presidente. Essa proposta contradiz o que o partido está fazendo”, pontuou o deputado Silvio Torres (SP), secretário-geral do diretório nacional do PSDB.
A avaliação da maioria da bancada tucana é de que não há clima neste momento para que seja votada uma PEC pela realização de eleições gerais.
“A expectativa agora no PSDB é de que seja aprovado o impeachment. Se não passar, nós veremos que caminho tomar. Mas, faltando 10 dias para a votação do impeachment, não existe a menor possibilidade de uma PEC ser aprovada”, concluiu Silvio Torres. Estratégia. O deputado Orlando Silva (PC do B-SP), um dos vice-líderes do governo Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, classificou a proposta do senador Valdir Raupp como um “factoide” do PMDB.
“Isso é um factoide político para tirar o Michel Temer do alvo. O vice-presidente se expôs muito ao comandar o desembarque do PMDB do governo, o que não se realizou”, diz o deputado. Apesar dessa avaliação, setores do PT e do governo consideram que a convocação de novas eleições gerais para presidente, senadores e deputados pode ser a melhor saída para a crise.
A presidente Dilma Rousseff rechaça a proposta sob o argumento de que essa ideia equivale à renúncia de seu mandato.
A sugestão chegou a ser discutida por ministros e líderes do PT, mas não prosperou no Palácio do Planalto.
Aliados da presidente tem demonstrado, reservadamente, preocupação com o cenário político caso o impeachment seja barrado. Petistas consideram que Dilma terá dificuldade para compor uma maioria que garanta governabilidade durante o restante do mandato, que termina em 2018.
Na mesma linha de Raupp, a Rede Sustentabilidade, partido da ex-ministra Marina Silva, lançou a campanha “Nem Dilma, nem Temer: Nova eleição é a solução”. / COLABORARAM TÂNIA MONTEIRO e VERA ROSA