Horas depois do retorno ao trabalho, os servidores do INSS voltaram hoje a intensificar a ameaça de retomar a greve alegando quebra no acordo que encerrou a paralisação de mais de cem dias. "Não houve quebra de acordo. Ao contrário, a criação da carreira previdenciária e a introdução de uma gratificação representam conquistas históricas", disseram os ministros da Previdência, Roberto Brant e do Planejamento, Martus Tavares, em nota oficial. O governo afirma que as reduções no porcentual de reajustes aos servidores reclamadas pelos sindicalistas, já estavam previstas desde às alterações no texto do acordo solicitadas pelos próprios grevistas. Os ministros ressaltaram que os representantes do comando de greve foram informados da diminuição nos porcentuais da gratificação aos servidores da ativa quando exigiram índice maior para os aposentados e pensionistas. "O montante de recursos para pagar os reajustes foi acertado em R$ 186,6 milhões", informou o comunicado. Os sindicalistas contestam e afirmam que o governo está querendo economizar cerca de R$ 74 milhões. Eles incluem nessa suposta economia 5.600 trabalhadores em cargos extintos pelo plano de carreira que não teriam reajuste. Os funcionários nessa situação segundo a nota, não estavam contemplados pelo acordo. "Se o governo resolver fazer economia, vamos retomar a greve", disse o sindicalista Idel Profeta, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Seguridade Social (CNTSS). As divergências entre sindicalistas e governo serão discutidas nesta terça-feira. A reunião para acertar o texto final do projeto de reajuste salarial que será enviado ao Congresso estava prevista para hoje, mas acabou sendo remarcada. O ministério estima que cerca de 850 mil benefícios deixaram de ser concedidos nos mais de 100 dias de greve. Em meio à guerra de declarações, a empregada doméstica Marluce Aparecida, 25 anos, levantou hoje às 3 horas da manhã para não perder o lugar na fila da agência do INSS em Taguatinga cidade satélite de Brasília. Ao lado da filha de dois meses, ela passou a maior parte do dia aguardando atendimento para dar entrada no pedido de salário-maternidade. Enquanto isso, amamentou e trocou fralda no meio da calçada. "Desde que o INSS entrou em greve não recebo nada; estou vivendo de favor", disse. As agências do INSS reabriram hoje em todo o País depois de quase quatro meses de paralisação. E pouco adiantou o apelo do ministro da Previdência para que as pessoas fossem às agências somente em caso de emergência. Centenas de segurados formaram filas na tentativa de serem atendidos. A aposentada Maria Aleny Gomes Nunes, 53 anos, discutiu com os policiais que faziam a segurança da agência. Segundo ela, um dos PMs a empurrou e pediu para que retornasse na outra semana. "É um absurdo, sou deficiente física e meu caso também é urgente", ressaltou Maria que chegou às 5 horas da manhã. Ela também reclamou do atendimento dos funcionários do INSS que, segundo ela, não prestavam informações corretas e estavam "muito nervosos". O INSS também recomendou que as pessoas tirem dúvidas pelo telefone 0800-780-191 antes de ir aos postos. Isso porque a orientação dada pelo telefone poupa tempo de atendimento nos balcões. As Agências da Previdência Social do DF estão adotando o serviço Hora Marcada (0800 78 01 91), que permite agendar o atendimento nas Unidades do INSS. Os segurados também podem pedir o benefício por meio da Internet: www.previdenciasocial.gov.br.