BRASÍLIA - Uma festa com show sertanejo e leitão assado foi palco de um “climão” e um encontro inesperado na quarta-feira, 8, em Brasília. Um grupo de ruralistas e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, estiveram no mesmo lugar na noite de um impasse sobre os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao marco temporal.
A festa, batizada de “Leitão no Rolete”, foi organizada pelo governo de Mato Grosso do Sul, pela prefeitura de São Gabriel do Oeste (MS) e pela bancada sul-mato-grossense no Congresso Nacional, coordenada pelo deputado Vander Loubet (PT-MS). O parlamentar é do partido de Lula e ao mesmo tempo integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Passaram por lá os senadores Nelsinho Trad (PSD-MS) e Tereza Cristina (PP-MS), dois expoentes do agronegócio no Congresso, a ministra Sonia Guajajara, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, e até o embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vadell. Todos ouvindo o show da dupla sertaneja Brenno Reis e Marco Viola.
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Festa promovida pelo governo de Mato Grosso do Sul teve comemoração a acordo para derrubar veto de Lula ao marco temporal e gerou impasse para ministra dos Povo
O encontro ocorreu logo depois da aprovação da reforma tributária no Senado. O governo Lula fechou um acordo para aprovar a proposta e, em troca, concordou em pautar o veto de Lula ao marco temporal, causando insatisfação na base de apoio à causa indígena. A bancada do agronegócio se articula para derrubar o veto e confirmar a aprovação do projeto, que limita a demarcação de terras indígenas.
A ministra Sonia Guajajara defende com todas as letras o veto de Lula e é contra qualquer tentativa de aprovação do marco temporal, tese também já rejeitada no Supremo Tribunal Federal (STF). Ela sentou em uma mesa aos fundos do salão, na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), enquanto ouvia o show sertanejo e a movimentação dos ruralistas em volta.
Com leitão assado no prato e uísque no copo, parlamentares diziam uns aos outros que o governo vai deixar o próprio veto ser derrotado, e que isso faz parte de um acordo com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O governo não vai falar que é contra o veto, mas não vai se empenhar tanto pela derrubada, assim como foi na aprovação do projeto.
No começo do jantar, quando o leitão foi servido, os ruralistas comemoravam o anúncio de que o veto seria pautado já nesta quinta-feira, 9, furando a fila de 33 vetos anteriores que ainda não foram analisados. Logo depois, porém, a informação que chegou à churrasqueira foi outra: o veto será analisado daqui a duas semanas, depois do feriado da Proclamação da República, no dia 15 de novembro. Ainda assim, um prazo curto, pois há vetos ainda de 2021 que não foram votados.
As ministras Sonia e Cida conversaram juntas por um tempo, enquanto ruralistas do PT circulavam entre parlamentares oferecendo uísque e chamando os convidados para a pista de dança. Na mesma hora, o plenário da Câmara votava projetos sobre serviços postais, quitação de dívidas com a Receita Federal e a criação de espaço para ciclistas em empresas. Vez ou outra, os parlamentares eram interrompidos por assessores com celulares na mão para votarem no meio da festança. O voto remoto é autorizado pela Casa.